Embora se sentisse invencível, Anna sabia que Sarah representava uma ameaça silenciosa. Não tinha certeza se a irmã sabia de seus planos, mas sua simples existência era um risco.— Eu a deixei isolada naquela casa de campo por uma razão, — refletiu. — Ela está frágil e sem forças. Não vai escapar até que eu decida o que fazer.Porém, algo a incomodava. Durante sua última visita, notou algo diferente em Sarah. Apesar da aparência debilitada, havia um brilho nos olhos dela, uma determinação inquietante.— Ela não pode estar planejando algo... pode?Para garantir que seus planos continuassem intactos, Anna decidiu intensificar o isolamento da irmã. Na próxima visita, encontrou Sarah sentada na janela contemplando o jardim com os olhos fixos no horizonte.— Você deveria descansar mais, Sarah, — disse Anna, em um tom casual, mas cheio de subtexto. — O bebê precisa de você saudável.Sarah ergueu o olhar lentamente, um sorriso leve, mas desafiador, brincando em seus lábios.— Não se preocupe
A infância de Sarah, para qualquer observador externo, parecia perfeita. Cresceu em uma família rica, com pais influentes e uma irmã mais velha que, à primeira vista, parecia adorá-la. No entanto, por trás das portas fechadas, sua vida era marcada por amor condicional, expectativas esmagadoras e uma solidão crescente que ela não conseguia explicar.Desde pequena, Sarah era a alegria da casa. Seus cabelos ruivos brilhantes e olhos verdes vivazes encantavam todos ao seu redor. Anna, sua irmã mais velha, a tratava como uma boneca viva.— “Minha bonequinha” — dizia Anna enquanto penteava os cabelos volumosos de Sarah e organizava brincadeiras e histórias. Mas essa adoração inicial começou a se transformar em algo mais sombrio à medida que Sarah crescia.Conforme suas habilidades naturais começaram a chamar atenção, os professores a elogiavam constantemente por sua inteligência excepcional. Ela aprendeu a ler sozinha antes dos quatro anos e resolvia problemas matemáticos avançados aos seis
A casa de campo, envolta em um silêncio sepulcral, parecia refletir o peso da angústia que tomava conta de Sarah. Os ventos suaves do lado de fora eram os únicos sons que quebravam a opressão daquele espaço. Confinada há meses naquele lugar isolado, cada dia parecia mais sufocante,Caminhando pelo quarto, a mão pousada sobre o ventre volumoso, ela sentia o peso da incerteza e, sua intuição a alertava de que algo estava terrivelmente errado. Cada dia passado ali a fazia questionar se seu bebê estava bem, se a vida que carregava ainda pulsava com força.Após uma noite agitada de pesadelos — imagens de fogo e de Anna levando algo precioso embora —, Sarah desceu com dificuldade até a cozinha. Encontrou Olívia mexendo distraidamente em algo no balcão. A jovem parecia desconfortável, como se soubesse que uma tempestade estava prestes a se formar.— Olívia, eu preciso de ajuda, — começou Sarah, com um tom que misturava exaustão e urgência. — Quero ir ao hospital. A data do parto está próxima
Poucas horas após a decisão fatídica, Anna chegou à casa de campo, descendo do carro com passos firmes e decididos. Sua expressão era um retrato de controle absoluto, mas por dentro, uma tempestade de fúria rugia contra a interferência indesejada de Sarah.Ao abrir a porta, encontrou Olívia à sua espera, nervosa e inquieta.— Obrigada por tudo, querida. Agora vou cuidar disso sozinha, — disse Anna, sua voz suave como uma lâmina afiada. — Você já fez o suficiente.Olívia hesitou, um misto de preocupação e alívio cruzando seu rosto antes de obedecer e sair rapidamente, aliviada por não estar mais envolvida em um drama que a deixava à beira do colapso.Anna subiu as escadas lentamente, os ecos dos seus saltos ressoando pelo corredor vazio como um prenúncio do que estava por vir. Ao abrir a porta do quarto, encontrou Sarah sentada na cama, os olhos fixos nela, como se esperasse um confronto inevitável.— Finalmente decidiu aparecer, — Sarah disse, sua voz carregada de frustração e desespe
Anna estacionou o carro em um local isolado, desligando o motor com um clique suave que ecoou na quietude da noite. Olhou pelo retrovisor para o bebê que dormia, envolto em um cobertor, e ajustou os pensamentos. Uma sombra de hesitação cruzou seu rosto, mas logo foi substituída por uma determinação fria e calculada.— O passado precisa ser apagado... completamente, — sussurrou para si mesma, a voz tremendo levemente enquanto pegava o galão de gasolina do porta-malas. O peso do que estava prestes a fazer pressionava seu peito como uma pedra.Com passos firmes e decididos, Anna retornou à casa de campo, cada passo um lembrete sombrio de que não poderia haver erros. A escuridão parecia se fechar ao seu redor, como se o próprio ambiente estivesse conspirando para intensificar sua ansiedade.— Desculpe, irmãzinha... — murmurou, a voz falhando por um instante, revelando uma fraqueza que ela rapidamente reprimiu. — Mas você não me deixou escolha.O plano estava claro em sua mente. Se Sarah d
O calor abrasador e o cheiro acre da fumaça despertaram Sarah em um pesadelo. Seus olhos se abriram lentamente, lutando contra a confusão que a envolvia como uma neblina opressiva. A cabeça latejava, e cada movimento enviava ondas de dor por todo o corpo, como se mil agulhas a atravessassem.— Fogo... — balbuciou, a realidade se desdobrando em horror à sua volta. — A casa está pegando fogo!A fumaça invadia seus pulmões, tornando a respiração difícil, quase impossível. O som das chamas crescendo ressoava ao seu redor, como uma sentença de morte ecoando em sua mente. O pânico começou a se instalar, e ela sabia que precisava agir rapidamente.— Preciso... sair daqui! — Sarah gritou, tentando se levantar, mas a fraqueza a mantinha presa ao chão, como se o próprio peso do desespero a segurasse.Seu coração disparou ao lembrar-se do bebê. Instintivamente, apertou a barriga com as mãos, sentindo um leve movimento.— Anna... ela levou meu bebê? Ou foi um sonho, uma alucinação?A confusão a
Anna segurava o bebê de Sarah em seus braços com um único objetivo: usá-lo como peça-chave em sua chantagem contra Thomas Lewantys e arrancar o máximo de dinheiro possível. O choro insistente da criança a irritava profundamente.— Bastardinho chorão... — murmurou, embalando-o com impaciência. — Se não fosse tão útil, você teria o mesmo destino da sua mãe.Embora já tivesse recebido uma compensação generosa no passado — fruto da confusão durante a cerimônia no cartório, onde Thomas acreditou estar se casando com Anna, mas, na verdade, era Sarah — Anna nunca se deu por satisfeita. Thomas foi claro naquela época: ele não queria vê-la novamente.Porém, tudo mudou quando Sarah reapareceu grávida. Para Anna, aquilo foi como ganhar na loteria. A irmã não só tinha voltado, como trazia consigo a prova de que o bebê era de Thomas. Agora, com Sarah fora de cena, Anna tinha em mãos a chance perfeita para consolidar seu plano.— Claro que vou "ajudar" minha irmãzinha... — sussurrou com sarcasmo.
Thomas entrou no hospital com passos rápidos e decididos, ainda processando os eventos recentes. Tudo o que ele queria era esclarecer suas dúvidas sobre o bebê entregue por Anna e realizar os exames de DNA o mais rápido possível. O peso das revelações pressionava seus ombros como uma carga quase insuportável.Ele seguiu direto para a sala de Arthur, esperando encurtar o processo com a ajuda do amigo. Ao abrir a porta, um som suave de choro preencheu a sala, o que o fez parar no mesmo instante.No centro da mesa, cuidadosamente envolta em trapos simples e gastos, estava um bebê recém-nascido. O coração de Thomas acelerou. Ele franziu o cenho e aproximou-se com passos cautelosos.— O que...? — murmurou, confuso.Sem saber o que esperar, Thomas pegou a criança nos braços com delicadeza. O choro cessou quase imediatamente, substituído por um pequeno suspiro, como se o bebê reconhecesse o conforto daquele toque.Ele a segurou mais tempo do que pretendia, sentindo algo diferente — uma mistu