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Capítulo 6 – A Revelação

Os meses seguintes foram uma verdadeira batalha para Sarah.

Seu corpo, enfraquecido pela violência e pela intensa hemorragia, reagia aos tratamentos de forma lenta e incerta.

Durante semanas, ela oscilou entre a vida e a morte, alternando pequenos progressos com retrocessos devastadores.

Arthur dedicou-se incansavelmente ao caso de Sarah, fazendo tudo ao seu alcance para estabilizá-la. Ele sabia que a recuperação não seria apenas física. Os traumas que ela carregava estavam marcados em sua alma, e a jornada rumo à cura completa seria longa e repleta de incertezas.

Nos raros momentos de lucidez, Sarah evitava qualquer interação.

Seu silêncio era como um grito sufocado, mas Arthur sabia que apressá-la seria um erro.

Cada pequeno avanço — um gesto tímido, um olhar perdido, uma resposta hesitante — era uma vitória significativa.

Com sua abordagem empática, ele se tornou a única figura de confiança para Sarah naquele ambiente frio e impessoal.

Quase três meses depois, Sarah começou a emergir do estado de letargia. Seu corpo permanecia frágil, mas ela se mostrava cada vez mais responsiva. Arthur celebrou cada pequena conquista — desde a primeira colherada de uma refeição sólida até as poucas palavras trocadas.

Foi durante um exame de rotina que a verdade emergiu: Sarah estava grávida.

Arthur hesitou antes de revelar a notícia. Sabia que a gravidez, possivelmente fruto de um ato brutal, poderia causar ainda mais sofrimento à jovem. Mas esconder algo assim seria impensável.

Quando Arthur finalmente contou a Sarah, o impacto foi devastador.

O olhar antes vazio ganhou um brilho trágico, uma mescla de choque e desespero. Sem emitir som, as lágrimas escorreram por seu rosto, um fluxo contínuo de dor.

— Um filho... — murmurou, a voz se esvaindo como um suspiro.

— Como isso é possível? — Sarah franziu a testa, tentando vasculhar a própria memória, mas a confusão era mais forte do que sua capacidade de organizar os pensamentos.

— Por que não consigo lembrar? Por que tudo dói tanto?

Arthur pousou a mão em seu ombro com um toque gentil, transmitindo empatia.

— Considerando as circunstâncias... existe a possibilidade de interromper a gravidez — disse Arthur com cuidado. Antes que ele pudesse continuar, Sarah levantou a mão em um gesto firme, interrompendo-o.

— Não. Não quero ouvir isso — respondeu ela com uma voz fraca, mas cheia de convicção.

Sarah hesitou... pensou... pensou, buscando cuidadosamente as palavras.

— Se há algo que ainda me pertence, é o direito de decidir sobre a minha vida — disse ela, com os olhos marejados.

— Essa é a minha escolha. Este bebê faz parte de mim... eu não posso simplesmente tirá-lo. Não sei se conseguiria.

Algo mudou em Sarah a partir daquele momento. O que antes era um sentimento de rejeição ao próprio corpo deu lugar a uma aceitação hesitante e cautelosa.

Nas noites silenciosas do hospital, Sarah repousava as mãos sobre o ventre, tentando imaginar o futuro.

Arthur observava a transformação com uma mistura de alívio e preocupação.

— Você é mais forte do que imagina. Não é todo mundo que enfrentaria o que você passou e ainda teria forças para lutar — disse Arthur durante uma consulta.

— Eu não sou forte — respondeu Sarah, desviando o olhar. — Eu só... preciso sobreviver. Não por mim, mas por ele.

Alguns dias após decidir manter a gravidez, Sarah começou a ter flashes de memória.

No início, eram imagens fragmentadas.

Essas lembranças a assombravam, invadindo seus sonhos e tornando as noites ainda mais difíceis de suportar.

Uma noite, enquanto Arthur fazia sua ronda, encontrou Sarah acordada, o olhar perdido no vazio.

— Não consigo parar de pensar nisso — murmurou ela, com a voz embargada.

— Tem algo que estou esquecendo... algo importante.

Arthur se sentou ao lado dela, deixando um silêncio confortável preencher o espaço antes de perguntar:

— Quer me contar o que lembra?

Ela hesitou, fechando os olhos como se tentasse forçar as imagens a se alinharem.

— Eu lembro de alguém me chamando pelo nome... ‘Anna’, mas a voz era fria, ameaçadora. Havia... uma discussão, e depois um impacto. Depois disso, tudo se apaga.

Arthur percebeu o peso que aquelas memórias começavam a exercer sobre ela, mas sabia que pressioná-la poderia ser prejudicial.

— A mente às vezes bloqueia aquilo que não estamos prontos para enfrentar — disse ele, com o tom sereno que lhe era característico.

— Mas essas memórias voltarão no momento certo. Até lá, concentre-se no presente, no que você pode controlar agora.

Sarah acenou com a cabeça, embora sua expressão continuasse tensa. A confusão das memórias fazia com que ela questionasse tudo — sua identidade, o motivo de estar ali, e até mesmo a segurança daquele lugar.

Arthur a observou, reconhecendo que aquele era apenas o começo de uma longa e árdua jornada — não apenas de recuperação física, mas de reconstrução de uma vida quebrada e cercada de mistérios.

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