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Capítulo 5 — A Recuperação de Sarah

Após os eventos traumáticos que marcaram seu "casamento", Sarah foi encontrada desmaiada em uma rua deserta, próxima a um hospital.

Estava à beira de um colapso, com o corpo frágil e ensanguentado mal reagindo aos estímulos. Ao ser levada às pressas para a emergência, os médicos logo perceberam que sua sobrevivência seria um verdadeiro milagre.

Sem documentos ou identificação, Sarah foi registrada como "Senhorita NoName".

Seu estado crítico exigia cuidados intensivos, mas a falta de um responsável para arcar com os custos fez com que fosse transferida para a Central Geral de Atendimento Voluntário — uma ala especial destinada a pacientes carentes, criada pelo próprio Dr. Thomas Lewantys.

A Central de Atendimento Voluntário era o projeto mais ambicioso de Thomas, fruto de sua paixão por ajudar quem não tinha recursos.

Ele idealizou a ala como uma forma de retribuir à sociedade, oferecendo tratamento digno a quem mais precisava. No entanto, apesar de ter salvado muitas vidas, a ala enfrentava dificuldades devido às limitações financeiras e às políticas administrativas.

Thomas não visitava a ala voluntária havia semanas, sobrecarregado pelas demandas administrativas e pelos dramas pessoais que a carreira lhe impunha.

A responsabilidade pela unidade estava sob os cuidados do Dr. Arthur, seu melhor amigo e colega desde a faculdade. Arthur era dedicado e meticuloso, mas sabia que o caso de Sarah era excepcionalmente delicado.

Após a noite conturbada, Thomas tentou sufocar suas angústias com trabalho.

Porém, ao voltar para casa e encarar a desordem que havia causado, a realidade o atingiu como um golpe.

O quarto devastado, o sangue nos lençóis e os vestígios de destruição pela casa eram provas silenciosas de sua culpa.

Por mais que tentasse racionalizar suas ações, ele sabia que havia cruzado todos os limites.

— “Eu preciso compensá-la de alguma maneira, não é como se eu pudesse apenas me desculpar”, pensou.

Mas a ideia parecia inútil; seria apenas um gesto vazio. Precisava focar no trabalho, algo que sempre o ajudava a manter a mente ocupada.

Com isso em mente, decidiu visitar a ala voluntária do hospital. Lá, poderia aliviar sua mente ajudando quem mais precisava e, quem sabe, encontrar um pouco de redenção.

No dia seguinte ao resgate de Sarah, Thomas decidiu ir à ala voluntária. Precisava desesperadamente de algo que distraísse sua mente dos eventos caóticos que o consumiam.

— Ora, ora quem é vivo sempre aparece! — exclamou o Dr. Arthur ao ver Thomas entrar, sua voz ressoando com uma energia acolhedora que se destacava em meio ao peso que Thomas carregava nos ombros.

— Olá, Arthur. O que temos para hoje? — respondeu Thomas, tentando soar animado, mas o sorriso forçado não conseguia esconder a inquietação que transbordava de seus olhos.

Arthur o conhecia bem demais para se deixar enganar por aquele disfarce frágil.

— Calma, amigo. Antes de mais nada, me conta: e a Dra. Kathalina? Você mencionou um plano para trazê-la de volta do exterior. Funcionou?

Thomas desviou o olhar, sua expressão endurecendo. O assunto era como uma ferida exposta que ele se recusava a tocar.

— Prefiro não falar sobre isso agora — Thomas disse, com a voz baixa, quase um sussurro.

Depois de um instante de silêncio constrangedor, ele respirou fundo, tentando retomar o controle. — Vamos ao trabalho.

Arthur hesitou, mas percebeu que insistir só ampliaria o desconforto. Com um aceno leve, guiou Thomas em direção às tarefas do dia, enquanto um silêncio carregado pairava entre eles.

Mudando de assunto, Thomas perguntou, com uma urgência que não conseguiu esconder.

— Qual é o caso mais crítico de hoje?

Arthur suspirou, relutante, mas cedeu à pressão do amigo.

— Temos muitos casos complicados, mas há uma paciente que tem chamado atenção de todos.

Arthur continuou, agora com um tom mais sério:

— É uma jovem... muito bonita, mas em estado crítico. Foi encontrada inconsciente perto do hospital, com uma hemorragia severa e sinais claros de violência.

Houve uma pausa breve, quase como se Arthur precisasse reunir forças para continuar.

— Uma das nossas colegas ficou tão sensibilizada que mobilizou doadores pelas redes sociais e conseguiu bolsas de sangue suficientes para estabilizá-la, ao menos por enquanto. Mas... a recuperação ainda é incerta.

Enquanto ouvia, um calafrio percorreu o corpo de Thomas. Algo nas palavras de Arthur o inquietava profundamente, como se uma sombra do passado o espreitasse naquele momento. Ele hesitou, o olhar distante, antes de dizer com determinação:

— Tudo bem. Vamos vê-la.

Enquanto seguiam pelo corredor, um pressentimento sombrio crescia dentro dele.

Quando entrou no quarto, Thomas parou abruptamente. O cabelo ruivo da mulher se espalhava pelo travesseiro, um contraste gritante contra sua pele pálida. Ele sentiu uma estranha mistura de alívio e apreensão.

— Ainda bem que não é a ‘aquela mulher’. Anna tem cabelos escuros.

Mesmo assim, algo o fez se aproximar. Observou os hematomas em seu rosto e corpo, e a ferida evidente em sua boca, que parecia ter sido mordida com violência.

— Alguém já veio procurá-la? A polícia foi informada? — perguntou Thomas, tentando manter o tom profissional.

— Sim. Mas, sem identificação ou familiares, o caso está estagnado,

Thomas passou a mão pela cabeça, frustrado. Fez um carinho hesitante na testa da mulher.

— “Como alguém pode chegar a esse ponto”? Pensou, sentindo um peso no peito.

As memórias da noite anterior vieram à tona, e ele lutou para afastá-las.

Não podia deixar de se perguntar:

— “O que fiz àquela mulher ontem... não foi algo semelhante? Não importa o que pensei dela ou o que me falaram sobre ela, eu cruzei a linha”.

Thomas ficou observando por mais alguns instantes, uma estranha inquietação tomando conta de si. Mas ele não permaneceu por muito tempo. Outras prioridades o chamavam, e ele deixou o caso aos cuidados de Arthur, confiante de que seu amigo faria o melhor.

— Arthur, faça o que puder por ela. Se houver alguma chance, mínima que seja, continue o tratamento — disse Thomas, antes de sair do quarto.

Na sala de Arthur, Thomas parecia alheio ao ambiente.

— Não sei se posso continuar vindo aqui, disse finalmente.

— Vou assumir o lugar do meu pai no hospital central em breve. Não terei tempo para me dedicar a este setor.

Arthur assentiu, compreendendo o peso da responsabilidade que recaía sobre o amigo.

— E quanto à Senhorita NoName? Deixa o caso em minhas mãos?

— Sim, siga o protocolo — respondeu Thomas. — Se for necessário transferi-la para o atendimento público, faça isso. Conhecemos as limitações do programa e os critérios de sobrevida. Apenas aja com justiça.

Enquanto saía, Thomas sabia que a visita à ala voluntária não havia trazido a paz que esperava. Pelo contrário, tinha apenas despertado ainda mais uma consciência que ele preferia enterrar.

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