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Capítulo 4 - Ponto de Vista de Thomas Lewantys

No hotel onde passei a noite, fiquei horas encarando o teto, incapaz de dormir. Meus pensamentos estavam presos aos acontecimentos da noite anterior.

Não havia como escapar da verdade: eu havia ultrapassado todos os limites.

O arrependimento queimava em meu peito. Descontei minha frustração, minha raiva e meus ressentimentos naquela mulher — uma completa estranha que não fazia ideia da extensão dos meus problemas.

Deixei o álcool comandar minhas ações, entorpecendo minha mente e destruindo qualquer resquício de racionalidade.

Levantei-me com um suspiro pesado e decidi voltar para casa. Não era apenas para verificar se o portão estava destravado — o que de repente passou a me incomodar — mas para confrontar as consequências das minhas ações.

Sabia que precisava pedir desculpas; meu comportamento havia sido inaceitável, mesmo que eu quisesse justificar para mim mesmo que ela era parte de um jogo que nunca pedi para jogar.

Quando estacionei, algo estranho chamou minha atenção: uma corda improvisada feita de lençóis pendia da sacada do meu quarto.

— "O que essa mulher louca fez?" — pensei, franzindo a testa.

Entrei na sala, e o caos me atingiu como um soco. Louças quebradas cobriam o chão, cacos de vidro se espalhavam pela cozinha e havia manchas de sangue... Um arrepio percorreu minha espinha.

Determinado, avancei em direção ao quarto.

Parei por um momento, tentando organizar meus pensamentos.

— “Será que ela está tão machucada assim? Eu... Não fui tão agressivo, ou fui”? — a ideia me atingiu como um golpe.

— “Não, isso deve ser alguma armação daquela mulher”— meus pensamentos tentavam justificar o injustificável.

— “Ela deve estar fingindo. Querendo passar por virgenzinha” — mas uma parte de mim, uma que eu relutava em ouvir, murmurava outra coisa.

— “Você perdeu o controle. Você não sabe exatamente o que fez”.

Enquanto observava o estrago ao meu redor, uma onda de desespero me envolveu, minha mente se perdeu nos motivos que me levaram até ali.

Tudo começou com aquele contrato insensato — uma decisão que eu jamais teria tomado, mas que meu pai fez questão de impor. Eu não queria esse compromisso.

Estava noivo de Kathalina Dias, meu amor de infância. Nosso plano era simples: íamos casar assim que eu conquistasse o cargo de Médico-Chefe na rede hospitalar da minha família, uma posição que meu pai prometeu me ajudar a conseguir, desde que eu aceitasse me casar com Anna Campbell.

Quando revelei o acordo a Kathalina, ela não conteve sua fúria. Entre gritos e acusações, disse que não suportaria esperar mais três anos e que eu havia destruído tudo o que sonhávamos juntos.

Com o coração partido, ela partiu para o exterior com a família, deixando-me arrasado.

Perdi não apenas minha noiva, mas também minha melhor amiga e confidente.

Consumido por uma raiva ardente e um desespero profundo, fui até Anna Campbell, minha voz tremia enquanto eu implorava para que ela desistisse do acordo e seguisse seu próprio caminho, que deixássemos essa união forçada para trás.

Ela apenas sorriu com desdém, seus olhos brilhando com uma satisfação gelada.

— Meu pai me prometeu uma vida de princesa — declarou, com uma convicção implacável.

— Este casamento é a chave para os meus sonhos. Não vou desistir. Se quiser, quebre o contrato você mesmo e enfrente as consequências... com seu pai.

A ironia cortava fundo, como um golpe certeiro: tudo o que eu desejava parecia escorrer por entre meus dedos, enquanto um futuro imposto se erguia diante de mim como uma prisão inescapável.

A sensação de impotência era avassaladora, como se um peso invisível comprimisse meu peito, dificultando até mesmo o ato de respirar.

Lembrei-me de nossa discussão. Em um momento de fúria, eu a ameacei, afirmando que, se ela ousasse aparecer no cartório, faria da vida dela um inferno. Não imaginei que ela teria coragem de me desafiar.

Mas ela enfrentou meu olhar com firmeza e, em tom glacial, respondeu:

— Se você não quer isso, desista você mesmo. Dê o primeiro passo para recuar.

Eu não recuei. Não podia abrir mão do cargo que esperei por tanto tempo. O cargo que me daria, finalmente, a chance de sair da sombra do meu pai e ser reconhecido pelo meu próprio mérito.

Assim, ali estava eu, enredado em escolhas erradas, com a raiva, o álcool e a frustração como minhas únicas companhias — deixei que tudo desmoronasse.

Olhei mais uma vez para o quarto devastado. O sangue na cama e no chão era um lembrete cruel das consequências da minha impulsividade.

— "Se ela ainda estiver por perto, preciso garantir que receba ajuda" — pensei, tentando me convencer de que eu não era um monstro.

Mas ela não estava mais. Não havia sinal algum. E, no fundo, isso me trouxe um alívio perturbador.

Eu não queria olhar nos olhos dela novamente, não naquele momento. Precisava de tempo para lidar com o que eu havia feito — e com a pessoa que eu estava me tornando.

Enquanto o caos ao meu redor se tornava um eco das minhas ações, a realidade se impôs de forma brutal. O sangue no chão era um lembrete constante do que eu havia perdido, não apenas em termos físicos, mas também da minha própria humanidade. A sensação de alívio perturbador que me invadia ao perceber que ela não estava mais presente não era um consolo, mas uma condenação ao meu caráter.

A cada passo que dava no quarto, a dúvida se instalava: como eu poderia ter chegado a esse ponto? O peso do arrependimento se tornava insuportável, e eu sabia que precisava enfrentar as consequências da minha impulsividade. O que eu havia feito não poderia ser simplesmente esquecido ou ignorado; era um marco em minha vida que exigiria uma resposta.

Com a mente turva e o coração pesado, percebi que o caminho à frente seria repleto de desafios. Eu havia cruzado uma linha que não poderia ser desfeita, e as repercussões de minhas escolhas começavam a se desenhar no horizonte. Precisava encontrar uma maneira de lidar com isso, de buscar redenção ou, pelo menos, compreensão.

Enquanto deixava o apartamento em ruínas para trás, uma pergunta persistia: seria possível reconstruir o que havia sido destruído? O próximo capítulo da minha vida estava prestes a começar, mas ele seria marcado por sombras e incertezas. As decisões que tomasse agora moldariam não apenas meu futuro, mas também o destino daqueles que me cercavam.

Assim, com um último olhar para o caos que deixei para trás, preparei-me para enfrentar as consequências. O próximo passo seria crucial — não apenas para mim, mas para todos os envolvidos na trama que eu mesmo ajudei a criar.

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