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Capítulo 2 – A vida de Julian

Eu me assusto um pouco com a ideia de tê-la por perto durante todo o meu dia. Realmente não me acostumo com isso. Ainda não é natural. Namoramos há pouco mais de um ano, mas acordar ao seu lado só passou a fazer parte da minha rotina há aproximadamente dois meses.

Acordei às nove horas e fui preparar a mesa para o café da manhã. Nesses momentos eu me lembro de sua insistência a respeito de termos uma empregada. Às vezes, eu até chego a concordar mentalmente, mas não externo para não dar corda às ideias de Samantha. Gosto de manter o controle sobre o meu espaço; cuidar das minhas coisas me faz bem. Na minha opinião, seria muita luxúria alguém arrumando o meu apartamento, já que eu sempre mantive tudo limpo e organizado, mesmo com a correria dos meus dias. As roupas, eu sempre levo para lavanderia do prédio e para mim é quase uma terapia. Um momento de ficar sozinho e de pensar na vida, sem ser interrompido por milhares de perguntas. E praticamente não paramos em casa, logo a única refeição que preciso preparar é o café, ou seja, não tem necessidade alguma termos uma empregada.

Para começar bem o dia, eu selecionei a playlist de um dos meus cantores preferidos, Amaury Gutierrez. Enquanto preparava a mesa, meus pensamentos pareciam fugir da minha mente. No momento, acabei de finalizar a gravação de um filme e estou prestes a assinar um outro contrato importante com a Telemont. Isso tem me tirado o sono. Eu estou no limite da data do contrato que vai impulsionar ainda mais a minha carreira e receio como isso vai impactar meu relacionamento. Não queria ter que causar problemas com Samantha e por isso adiei essa decisão por um tempo. Tenho certeza de que ela será contra, e eu inutilmente pensei que, aos poucos, iria conseguir fazer a sua cabeça e que ela acabaria cedendo e me incentivando a voltar a trabalhar, mas não tem sido assim.

 Sei que venho trabalhando muito na produção do meu DVD, e tenho recebido grandes propostas de trabalho, inclusive de outras emissoras, além dos habituais convites para muitas recepções, desfiles e outros grandes eventos que lotam a minha agenda, por isso entendo um pouco as reclamações. Pela vontade dela, eu largaria tudo para aproveitar a vida a seu lado. Viajar pelo mundo e fazer as coisas simples que antes faziam parte da minha rotina de vida. De fato, eu sinto saudades do litoral. Adorava passar meus finais de semana em alguma praia, sem a preocupação de estar sendo fotografado ou seguido por algum jornalista ou paparazzo, mas não me enxergo mais distante do meio artístico. Cresci sonhando com o dia que seria reconhecido pelo meu talento e, apesar de pertencer a uma família respeitável aqui no México, graças ao meu pai, um ilustre empresário, me orgulho de tudo que conquistei com o meu próprio esforço. Eu sinto falta de ter uma vida menos complicada, mas toda essa agitação é gratificante, e o carinho das fãs, é extremamente recompensador. 

Sempre que alguma produção que fiz é reprisada ou estreia em algum país da América Latina, meu número de seguidores nas redes sociais aumenta e isso a incomoda muito; mesmo com os pais de Samantha também sendo do meio artístico e que tenhamos nos conhecido em uma festa de inauguração de uma novela que sua mãe também fazia parte do elenco, ela ainda não sabe lidar bem com a situação da fama, pelo menos não com a minha notabilidade. Sempre se incomoda com o assédio que eu recebo e com o fato de eu me importar em querer sempre manter, de alguma forma, um elo com as minhas Julietes (apelido que elas mesmo se deram). Isso faz parte da minha profissão, me sinto grato e feliz por saber que toda manhã tenho inúmeras mensagens carinhosas em minhas redes sociais, e por ser especial não só em datas comemorativas. Graças a elas eu me sinto pleno em minha profissão, sinto orgulho de ser tão amado e essas são as pautas das nossas maiores discussões.

O fato era que, hoje, não poderia mais fugir nem adiar. De todas as propostas que recebi, essa foi a que mais me instigou. Primeiro porque veio de um grande amigo, Edgar Guzman, pois me sentia em dívida eterna com ele e por gostar da forma com que trabalhava. Além de ter me interessado muito pelo perfil do personagem e pelo roteiro da trama. O que ele fizera por mim é realmente impagável. Foi o primeiro a me dar uma oportunidade de mostrar quem eu era e para o que realmente nasci. Havia iniciado a minha carreira como locutor de uma rádio e recebi a proposta para um teste logo após uma entrevista com ele no estúdio onde eu trabalhava. Ele foi para ser entrevistado por mim, no entanto, acabou se identificando com o meu jeito e aproveitando, após a entrevista, para me entrevistar também. Comentei sobre o meu fascínio pela atuação e Edgar acreditou em mim e se arriscou me colocando como protagonista em um filme. Desde então não consegui mais voltar para o rádio. Encontrei-me profissionalmente e, graças ao seu pontapé inicial, me notaram. Agora recebo propostas de produtores e diretores que antes me viraram as costas e não acreditaram no meu talento. Alguns até tentam me subornar com altas quantias, mas essa é a menor das minhas preocupações. Não que o dinheiro não fosse importante, mas a minha realização profissional está em primeiro plano. Gosto de desafios e sou muito detalhista. Leio bem o roteiro antes e, por mais incrível que pareça, Edgar sempre me apresenta algo novo e surpreendente.

Enquanto milhares de pensamentos vinham a minha mente, percebi que Samantha me observava debruçada na bancada da cozinha.

— Bom dia, meu amor! Há quanto tempo está aí? — eu disse em um tom mais carinhoso possível.

— Bom dia, Julian! Tempo suficiente para perceber que você nem parecia estar aqui. Estava pensando em que para não me notar? Está escondendo alguma coisa?

— Nada, minha linda, só preocupações com o trabalho. Estava pensando sobre a proposta do Edgar. Preciso assinar o contrato ainda hoje. E você, dormiu bem? — falei, já tentando mudar de assunto.

— Dormi sim. Só não gostei de ter acordado sozinha, como sempre. Por que não me acordou quando se levantou? E sobre o roteiro, você já sabe a minha opinião. Nunca irei concordar com isso.

— Ah! Samantha. É que você parecia estar dormindo tão bem que acordá-la seria um crime. Sente-se aqui, meu amor. Então, falando no roteiro…

— A verdade é que eu não quero mais falar sobre isso. Faça o que você quiser, porém não conte com o meu apoio.

Esse foi o mais próximo da resposta que eu queria ouvir. Havia recebido a proposta antes mesmo de morarmos juntos. Estava acompanhando a pré-produção, mas não como eu gostaria. Desde que li o roteiro, fiz questão de conversar com ela sobre o papel, mas só recebi argumentos contra e por isso fui adiando a minha decisão. A verdade é que eu queria ter aceitado de imediato, só que tentei evitar brigas desnecessárias, achando que desta forma iria ganhar tempo e teria seu apoio. Felizmente, mesmo não concordando com a minha escolha, se rendeu e não se opôs mais. Foi o suficiente e fiquei satisfeito com isso.

Há algumas semanas, eu estava com as cenas dos vinte primeiros capítulos em mãos, procurava estudar o personagem e ensaiar enquanto ela estava na academia, mas Edgar tinha pressa em começar as gravações o quanto antes e eu não podia mais postergar minha decisão, apesar de ele ter a certeza de que eu aceitaria.

Samantha sempre acordava assim, exatamente como hoje. Não era o seu mau humor que me incomodava. Eu podia até conceder-lhe o benefício da dúvida e culpar o sono por isso. Mas todas aquelas interrogações e acusações, logo no primeiro horário do dia, isso sim me atormentava um pouco. Gostava de ficar calado com os meus pensamentos, falar logo de manhã não era meu forte, ao contrário dela, que acordava acelerada e gostava de reclamar e dizer tudo que não conseguiu durante as horas de sono. Mas possuía o poder de acordar linda, isso não tinha como contestar. Nunca vi nenhuma outra mulher no meu tempo de solteiro acordar assim. Qualquer homem no meu lugar se sentiria lisonjeado por tê-la ao seu lado. Ela tem um corpo que atrai olhares de qualquer um. Suas curvas sinuosas fazem um contraste com seu rosto angelical e seus lindos cabelos ruivos. Eu não sinto ciúmes por isso, ao contrário, me sinto privilegiado por saber que ela é só minha.

Durante o café, Samantha me contava sobre os treinos do dia anterior e as séries que estava realizando. Esse assunto também não é o meu forte e ela adora falar sobre isso. Eu até gosto de malhar, mas não com tanta obsessão quanto ela e, às vezes, sinto falta de novos temas. Parece que falta diálogo entre nós, mas me encanta vê-la feliz e não consigo parar de observar tanta beleza em uma só mulher. Apesar dos altos e baixos da nossa relação, muitas vezes me sinto dominado por ela; têm algumas coisas que eu realmente preferiria que não fizessem parte das suas características, porém eu também sou coberto de defeitos, então não posso reclamar.

Apesar de ter dito que não queria falar sobre a proposta de Edgar, ela não se conteve e discutimos um pouco sobre a minha decisão. Ele só estava aguardando minha ligação para assinarmos o contrato e iniciarmos as gravações. E o que mais incomodava Samantha era o meu personagem. Eu seria o coprotagonista da trama, apesar de não estar explícito no roteiro, e isso não a estimulava nem um pouco quanto a sua aceitação.

Enquanto terminava de enxugar a louça do café, minha linda namorada se sentou em cima da pia e eu não pude deixar de notar suas segundas intenções. Ela havia percebido o jeito que eu a olhei e usou tudo isso contra mim. Seus olhos azuis me fitavam enquanto lentamente desamarrou o hobby demonstrando que estava nua. Não consegui me controlar. Me pus em sua direção e rapidamente a ajudei a se livrar da pouca roupa que a cobria. Começamos a nos beijar; estava tocando Fascinación, ela começou a sussurrar a música em meu ouvido. Pude sentir seu corpo em chamas e isso me deixa louco. Não consegui parar de beijá-la e fizemos amor ali mesmo, na pia da cozinha.

Tudo com Samantha é assim, intenso demais. Vivemos o momento e ela sempre me surpreende. Nessas horas, qualquer sombra de dúvidas quanto ao nosso futuro desaparece e eu tenho a certeza de que quero passar o resto da minha vida ao lado dessa linda mulher.

Após o sexo, fomos tomar banho juntos e então me dei conta de todo o tempo que perdi ali e de tudo que precisava fazer ao longo do dia. Enquanto Samantha se arrumava, fui enrolado na toalha em busca do meu celular. Odiava quando o esquecia no vibracall e o perdia pela casa. Estava na mesa da sala. Liguei para o assessor de Edgar, agendando um almoço em um restaurante próximo à Telemont para assinarmos o contrato, e em seguida enviei uma mensagem pelo W******p para Rafael Aguilar, meu assessor. Ele está me ajudando há aproximadamente um ano e meio, pois comecei a notar que não conseguia mais dar conta de tudo sozinho e demorei bastante para aceitar isso. Devido a algumas gafes que cometi, esquecendo importantes eventos, percebi que era necessário.

— Julian, vou para a academia, nos vemos no almoço? — disse ela, enquanto amarrava o tênis.

— Hoje tenho um almoço importante com Edgar para verificarmos o contrato da novela e preciso ir à gravadora.

— Tudo bem, amor. Vou para academia e depois encontro com você.

Quando Samantha diz isso, me dá calafrios. Não que eu não goste de sua companhia, mas eu sinto falta de um pouco de privacidade, ainda mais se tratando do meu trabalho. Esse é o tipo de reunião que ela não precisava estar presente. Ela não é de se intrometer na conversa, só que sua presença me incomoda, fosse em alguma reunião, nas gravações ou quaisquer outro ambiente de trabalho. Fora que todos precisavam se acostumar, assim como eu, a tê-la por perto durante todo o dia, pois a única folga que eu possuo é o tempo da sua musculação e aeróbica, ou quando vai ao salão de beleza, ou quando eu decido ir à lavanderia. De resto, ela sempre está comigo.

— Julian, precisa contratar pelo menos uma diarista, esses troféus estão empoeirados.

— Não tive tempo de limpar essa semana, mas farei isso amanhã sem falta.

— Você é um grande teimoso. Eu ligo assim que sair da academia — falou, se esticando para me beijar.

Esse era o meu momento, me despedi e fechei a porta. Tinha pouco tempo sozinho então precisava aproveitar para fazer tudo que não conseguia enquanto estava com ela. Aproveitei a deixa para verificar minhas publicações nas redes sociais, responder e-mails de fãs e o e-mail pessoal. Isso era o tipo de coisa que eu jamais faria com ela por perto. Não que eu escondesse algo, mas sim porque isso a incomoda e geraria mais alguma briga sem sentido. Também decidi ligar para os meus pais enquanto me arrumava para sair. Eu estava em falta com eles, devia inúmeras visitas e fazia semanas que não nos falávamos.

No início do meu relacionamento, minha mãe endeusava Samantha e meu pai fazia muito gosto de me ver em um relacionamento sério pela primeira vez, mas aos poucos isso tudo virou aversão. Agora eles a culpavam pelo meu distanciamento e Heitor, meu melhor amigo, concordava com eles. Nós nos conhecemos anos atrás, na Faculdade de Administração e, assim como eu, usou a formação acadêmica como conhecimento para a vida e o diploma com uma espécie de troféu exposto na parede, pois nunca chegamos a trabalhar na área. Nós temos muito em comum. Após o término da faculdade, optamos por iniciarmos juntos o curso de teatro e ele foi o primeiro a engajar na carreira. Já contracenamos juntos em diversos filmes e até novelas; todos sempre dizem que temos muito entrosamento em cena. Só sei que eu realmente sinto falta dos meus pais e do meu irmão, porque é assim que nós nos consideramos. Antes de Samantha frequentar assiduamente o meu apartamento, Heitor tinha liberdade de me visitar e ocasionalmente fazíamos reuniões de amigos para uma jogatina. É dessa liberdade que eu sinto falta, mas agora namorando firme, uma reunião de amigos é praticamente impossível para mim, a não ser que fossem reuniões de casais, mas meus amigos não são do tipo de se apegar a ninguém. Por isso Samantha não gosta de Heitor. Acha que ele não é boa companhia para mim e me sinto mal por estar no meio desse conflito de interesses. Só queria que tudo se encaixasse e que minha família e amigos aceitassem bem minha companheira. Eu estou disposto a noivar em alguns meses, mas como farei isso se não conto com o apoio de ninguém, exceto dos meus sogros, Ramiro e Vera Salazar?. Eles me cobram bastante um passo maior no relacionamento. No início, isso me incomodava, mas agora acredito ser uma boa oportunidade de mostrar à Samantha que pode confiar plenamente em mim e no meu interesse de passar a vida inteira ao seu lado. Queria mostrar a ela que minha fama de garanhão morreu após tê-la conhecido. Sinto que parte do seu ciúme e desconfiança é devido ao meu posicionamento sobre o nosso relacionamento, mas preciso preparar melhor meus pais para um passo tão grande.

Depois de ter passado um tempo na internet, tomei coragem para ligar:

— Mas quem é vivo sempre aparece.

      — Oi, pai. Como o senhor está?

— Ainda estou vivo e obrigado por perguntar, Julian. Vou passar para sua mãe.

Esse tom de ironia e decepção em sua voz me faz muito mal. Sr. Octavio, sabe realmente como me deixar o dia todo pensativo. Por isso o meu medo de ligar. Eu evitava, exatamente por saber que estava errado com eles, mas não conseguia consertar isso. Não sei explicar. Como pude deixar as coisas ficarem desse jeito? Nós éramos tão próximos.

— Oi, meu amor! Como você está, meu filho? — se pronunciou, com toda a doçura do mundo.

— Estou bem, mãe. E a senhora, como está?

— Morrendo de saudade de você. Tem se alimentado bem? Essa garota está cuidando de você?

Minha mãe realmente me trata como um bebê e eu preciso confessar que sinto falta do seu cheiro, cafunés e principalmente dos seus abraços.

— Estou me alimentando bem sim, dona Clarice. Samantha saiu agora há pouco para ir à academia e antes preparou um delicioso café da manhã pra mim. Não se preocupe com isso, ela está cuidando muito bem do seu bebê.

Menti com a melhor das intenções. Não poderia colocar mais “lenha na fogueira”. Precisava acalmar os ânimos se quisesse que um dia ainda houvesse neles algum tipo de tolerância em relação a minha namorada.

— Ainda bem, meu lindo. Senão eu iria aí para ter uma conversa séria com essa garota.

Isso é o que preciso evitar, de qualquer forma. Como é difícil para mim toda essa situação. Ficamos alguns minutos no telefone. Aproveitei e contei a ela sobre o meu novo contrato com a emissora Telemont e sobre o andamento da gravação dos clips do DVD. Isso diminuía a quantidade de cobranças e a deixava radiante e, de qualquer forma, eu sabia que assim que ela transmitisse a informação ao meu pai, ele se alegraria também. Eles, diferentemente de Samantha, não se importavam que dessa vez eu não seria o protagonista. Ficavam felizes simplesmente por eu estar feliz com o personagem.

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A caminho do restaurante, percebi que o meu celular vibrava no porta luvas do carro. Não tinha o hábito de falar ao telefone dirigindo, mas quando consegui ver quem era, não pude deixar de atender.

— Eu juro que pensei em você hoje.

— Como você está, irmão? Finalmente vamos nos ver.

— Estou bem. Quanto tempo! Tenho que confessar que você me faz uma grande falta, Heitor. Vamos nos ver? Onde? — perguntei, sem realmente entender.

— Eu sei que é difícil viver sem mim, mas logo essa monotonia de vida vai passar, porque agora você terá que me ver todos os dias e sua namorada terá que aprender a conviver com isso.

— Não estou entendendo nada, como assim? Você se mudou para meu prédio e não me avisou? — falei, brincando.

— Adoro o seu senso de humor, Julian, mas não. Apenas vou ser seu concorrente. Vamos ver quem vai ficar com a mocinha na novela.

— Você está falando sério? Que notícia incrível! A melhor do dia! Eu li o roteiro, mas não estou ciente dos detalhes de nada ainda e não sabia que você estava no elenco. Se eu soubesse tinha aceitado antes mesmo de ler.

— Vai ser gratificante demais poder trabalhar mais uma vez com você. Sei que essa novela já será um grande sucesso. Nos vemos no restaurante! Edgar pediu que eu esperasse até você se decidir para que assinássemos o contrato juntos. Vou desligar, porque estou dirigindo.

— Tudo bem, amigo. Estou quase chegando.

Ao desligar, a primeira coisa que pensei foi em Samantha. Eu sabia o quanto ela iria reclamar por isso. Ela estava acostumada a me ver sempre como protagonista e não queria que eu tivesse aceitado o papel. Primeiramente por Daniel Hernandez, o meu personagem, ser um homem pobre e pelo fato de se tratar de um triângulo amoroso. Na predefinição do personagem, eu não ficaria com a mocinha no final da história e, apesar de toda a evidência na trama, ela só considera importante o papel do protagonista. Parece que mistura a ficção com a realidade, por isso, se interessou por outras propostas que recebi e cismou que esse papel iria me rebaixar. Só que eu encaro isso totalmente ao contrário, é uma oportunidade de me superar como ator. Gosto de ser desafiado e o anseio de experimentar algo novo sempre me impulsiona. Para minha carreira, é fundamental me mostrar como um ator completo, capaz de atuar em qualquer circunstância. E agora, sabendo que Heitor ficou com o papel de Carlos González, o que Samantha havia gostado mais, por se tratar de um ricaço e por ter mais destaque, já estou ciente dos problemas que surgirão.

Fui me preparando psicologicamente para a situação delicada que viria a seguir. Quando ela soubesse que eu passaria os próximos meses ao lado do meu amigo e que ele seria a outra ponta do triângulo amoroso da trama, não ficaria nada contente. Ela já não suportava o Heitor e agora tudo ficaria mais complicado.

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