Cap 02. Um grave acidente

Medson se despede dele, e vai para casa, andando feliz e sorridente pelas ruas pacatas do bairro, sua mochila pesada nas costas, e seu coração cheio de expectativa para contar sobre mais um dia de aula para seu pai. Ela é uma menina inteligente, dedicada e nunca se deixava abater pelas dificuldades que enfrentava por causa da sua convivência com sua mãe. A vida era uma constante luta para ela, mas Medson era forte e não permitia que isso a derrubasse.

Ao chegar em casa, Medson percebeu um estranho clima de tensão no ar. Sentiu o cheiro de café e cigarro, e ouviu vozes abafadas vindas da sala de estar. Curiosa, ele seguiu pelo corredor até a porta entreaberta.

O que Medson viu a deixou atônita. Sua mãe estava sentada no sofá ao lado de um homem que ela conhecia muito bem. Vladimir, o melhor amigo de seu pai. Eles conversavam em voz baixa, seus corpos se tocando, os risos, mas percebeu também o olhar preocupado da mãe e a expressão culpada de Vladimir.

Medson se aproximou devagar, tentando conter a avalanche de emoções que tomava conta de si. Com um nó na garganta, ela finalmente encontrou coragem para falar.

— Mãe! O que está acontecendo aqui?— ela perguntou, sua voz trêmula, seu coração estava disparado.

Sua mãe virou-se de repente, surpresa ao vê-la ali. Seu rosto ficou pálido. Ela claramente não esperava que Medson voltasse tão cedo para casa.

— Medson, meu amor.— disse ela, tentando encontrar as palavras certas para explicar a situação.

— Meu amor? Desde quando me chama de meu amor?

— Filha... agora não é hora. O que faz aqui? Eu não esperava que você nos visse assim...

Medson sentiu um misto de raiva e tristeza tomando conta de seu ser. Sua mãe e Vladimir, o homem em que seu pai confiava tanto, estão claramente tendo um caso diante dos seus olhos.

— O que está acontecendo, mãe? Por que Vladimir está aqui?— perguntou novamente, sua voz firme desta vez.— Cadê o papai? Ele está lá em cima?

Seus olhos fixaram-se em Vladimir, buscando respostas. O homem baixou a cabeça, incapaz de encarar Medson diretamente. Ela não queria acreditar que o que imaginava era verdade.

— Medson, é complicado...— Começou a mãe, hesitante. — Depois que seu pai... conseguiu o novo emprego eu e Vladimir nos aproximamos. Mas não é o que você está pensando, nós só... nos tornamos amigos, nada mais.

As palavras penetraram no coração de Medson como facas afiadas. Ela sentiu-se traída e abandonada. A imagem de seu pai feliz por ter conseguido um trabalho com um salário melhor, a dedicação que ele tem pela família. Ela não podia acreditar que sua mãe poderia fazer tamanha traição com quem tanto a ama.

— Como você pode, mãe? Como você pode fazer isso com ele? É como se todos esses anos não valessem de nada.— disse Medson, sentindo as lágrimas escorrerem de seus olhos.

A expressão de sua mãe mudou de falsa culpa para raiva. Ela se aproximou de Medson e colocou suas mãos em seu rosto segurando seu queixo com brutalidade.

— Escuta aqui menina mimada. Você vai entrar no seu quarto como se nada tivesse acontecido. Jamais falará o que você viu para o seu pai. — Cassandra sorri e olha para Vladmir e logo encontra os olhos da filha novamente.— E também, se você contar ele não vai acreditar, seu pai é muito burro e acha que nunca faria isso com ele. — Cassandra fala com confirmação.— Vladmir é um homem de verdade, me dá tudo o que eu quero. Eu mereço bem mais que viver nessa miséria que seu pai me proporciona.

Medson sentiu um turbilhão de emoções dentro de si. Ela amava sua mãe, mesmo com a agressividade que ela a tratava. Ver a mulher que seu pai ama cegamente e o até então melhor amigo dele traindo de baixo do seu próprio teto, foi um golpe entanto para doce Medson.

Ela retirou as mãos da mãe do seu rosto e afastou-se abrutalmente, ainda processando toda a revelação. Olhou para Vladimir, um homem que agora parecia completamente diferente aos seus olhos. Havia perdido a confiança nele.

— Meu pai não merecia isso. Você destruiu sua família por joias, roupas caras? Como você pode ser tão barata mãe!— Madson fala controlando a voz que oscilava pela decepção.— E você Vladimir? Como pode jogar anos de amizade por uma mulher que deixou claro que quer somente seu dinheiro?

— Madson, as coisas não são assim, deixe-me explicar por favor.— Vladimir tenta se aproximar, mas ela corre em direção à rua.

— Volta aqui Medson.— Cassandra grita.— Não ouse falar para seu pai.

Medson está arrasada. Descobrir a traição de sua mãe, foi algo que partiu seu coração em pedaços. As lágrimas corriam incessantemente em seu rosto enquanto ela corria pelas ruas do bairro. Sentindo-se perdida e traída, Medson decidiu que precisava sair de casa para poder processar tudo aquilo que acabara de descobrir.

Enquanto ela corria num destino incerto ela não percebia os riscos ao seu redor, seu foco estava no turbilhão de emoções que preenchia sua mente. Sem perceber, ela se aproximava de uma movimentada avenida. Do outro lado da rua, seu destino a esperava, ela apenas não sabia disso ainda.

Na outra ponta da avenida, estava uma motorista chamada Anastásia. Ela estava imersa em uma discussão acalorada pelo telefone, completamente alheia ao que acontecia ao seu redor. Sua atenção estava voltada para a briga e não notava que estava dirigindo em alta velocidade enquanto atravessava o semáforo. Anastásia não viu quando Medson, em uma decisão movida pela dor, corria atravessar a rua sem olhar para os lados, em um breve momento de distração, o destino se encarregou de mudar drasticamente a vida de ambos.

— Medson... não.—Vladimir grita desesperado.

O som do impacto foi ensurdecedor. Medson foi arremessada para o chão, sentindo uma dor aguda em todo o seu corpo. O mundo estava girando e ela não conseguia abrir os olhos. A voz da motorista ecoava ao longe, misturada com os gritos de preocupação de pedestres e o som da sirene da ambulância se aproximando.

Enquanto era levada às pressas para o hospital, Medson permaneceu inconsciente. A voz de sua mãe e a imagem de sua traição continuavam a rondar seus pensamentos enquanto seu corpo estava ensanguentado e seu coração dilacerado. Depois de dois dias quando ela acordou, Medson percebeu a escuridão que a envolvia, a escuridão que seria sua nova realidade.

No quarto do hospital, a jovem menina que falava pelo cotovelos, agora cega esperava silenciosamente. O cheiro de desinfetante era sufocante e o vazio em seu peito era imenso. Sua família estava reunida ao seu redor, tentando entender e lidar com a situação. Medson se sentia como um animal preso em uma jaula, encarando um mundo que ela nunca mais veria.

Sua mãe se aproximou, as palavras descendo com dificuldade de sua boca.

— Minha filha, me perdoe... eu falhei com você. Eu sinto muito.— Cassandra fala tentando agradar a filha, para não correr o risco dela contar o que viu. Medson virou o rosto, incapaz de emitir sequer qualquer som. O silêncio pairou no ar, uma tristeza profunda e indescritível envolvia o pai da menina.

— Minha filha, por que fez isso? Como pode correr para rua sem olhar?— O pai falava desesperado entre as lágrimas, sem entender como sua amada filha, tão responsável em seus atos, teve um ato tão inconsequente.— O que aconteceu filha, me fala, por favor.

— O senhor quer mesmo saber pai?

— Amor, vamos deixar ela descansar, a Medson está confusa, deve estar ainda com dor.

— Como se você se preocupasse né mamãe?— Ela fala com desdém.— Conta pra ele mãe, por que eu corri sem olhar para os lados.

— Do que ela está falando?— Mauro pergunta um uma certa desconfiança.

— Pai? Quem tanto está aqui?

Ela pergunta com certo desespero por não conseguir saber quem está a sua frente. Um toque quente segura suas pequenas mãos, ela recusa amedrontada.

— Sou eu filha. Todos que te amam estão aqui, sua mãe, seu padrinho Vlad e sua irmã Camila.

— Sai daqui padrinho, sai daqui.— Nesse momento ela se desespera, sentindo uma forte dor atingindo sua cabeça.— Ele tem um caso com sua mulher pai, ele estava com ela na sua casa. Sai daqui seu traidor.— Ela grita mais alto sentindo a dor aumentar.

— O que?— Mauro encara Cassandra e Vladmir, com os olhos surpresos e com uma dor imensurável por ouvir essas palavras.

— Vocês destruíram a nossa família, foi por sua causa mãe que os meus olhos perderam a luz. Mas eu não permitirei que você continue enganando meu pai.

— Ela está delirando amor, você sabe que jamais faria isso com a nossa família. Ela está confusa com tudo que aconteceu. Vlad e eu somos amigos a anos, jamais faríamos isso com você.

Cassandra leva as mãos no rosto e começa a chorar, ela estava com raiva por ter sido descoberta, eles tem um caso à mais de 24 anos e nunca ninguém desconfiou, Cassandra não queria por tudo a perder. Vladimir nunca quis assumir ela, por isso ela aceitou ser apenas a amante, que se contenta em ser procurada nos momentos de carência, receber em troca disso, muitas jóias e dinheiro.

— Calma filha, tudo ficará bem, eu prometo. —Seu pai segurou suas mãos trêmulas, compartilhando sua tristeza da filha. Mas incapaz de acreditar que seu melhor amigo e a mulher que ama trairiam sua confiança assim.

— Minha filha, nós estaremos ao seu lado em cada passo da sua recuperação. Superaremos isso juntos e encontraremos um novo caminho, vou estar com você filha.— Cassandra faz mais uma das suas atuações, perto de Mauro ela demonstra ser uma mãe amorosa e compreensiva. Nem sabe Mauro o inferno em que Medson cresceu.

Medson decidiu se calar diante a cegueira do pai. E ali ela compreendeu que a vida pode ser traumática e injusta.

Por outro lado, apesar da escuridão que a cercava e a apavorava, ela tentou acreditar que havia um propósito maior aguardando-a. A história de Medson estava apenas começando, e ela estava disposta a enfrentar as sombras mais profundas para encontrar a luz novamente.

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