Cap 04. A cruel realidade.

Com o acidente Medson saiu do colégio, sempre recusava visitas de amigos e até mesmo da pessoa que ama, Fabrício estava determinado a ver Medson. Ele sabia que algo estava errado desde o momento em que ela começou a recusar suas visitas. Seu coração doía ao pensar que ela estava se afastando por não gostar dele mais. Mas Fabrício não era alguém que desistia facilmente, e todos os dias ele ia até a casa dela, esperando vê-la, conversar com ela, mostrar o quanto a amava.

Um dia, ao bater na porta, Fabrício percebeu que a casa estava vazia. Ele ficou confuso e assustado ao pensar que Medson e sua família haviam partido para outra cidade. A ausência de contato com sua namorada era um golpe duro em seu coração, mas ele se recusou perder as esperanças. Ele precisava encontrá-la, saber o que havia acontecido, e falar o quanto o vazio deixado por sua ausência era insuportável.

Meses se passaram e Fabrício não encontrava nenhuma informação sobre Medson. Ele vasculhou as redes sociais, os registros de celular, perguntou aos amigos em comum, mas nada. A angústia só aumentava a cada dia que se passava.

Ele não sabia do acidente, não sabia que o telefone de Medson havia quebrado, deixando ela incomunicável. Ele se sentia impotente, sem saber por onde começar sua busca. Fabrício decidiu ir aos lugares onde Medson costumava frequentar. Ele visitou a escola, o antigo parque e a praça onde costumavam passar as tardes juntos, até mesmo a igreja que ela frequentava. Mas nada. As pessoas não tinham pistas sobre o paradeiro dela.

A ansiedade e a incerteza começaram a consumir Fabrício. Ele sentia uma mistura de tristeza e desespero, mas sabia que precisava encontra-la e que não podia desistir. Medson era seu porto seguro, seu motivo para sorrir, e ele não podia perdê-la assim, sem mais nem menos. Seu amor por ela era forte demais.

Deitado na cama ele vasculha as redes sociais dela, a última foto postada era dos dois, seus olhos inundam em lágrimas, ele já não sabe onde procurar.

— Onde está você amor? O que aconteceu? — Ele sussura.

Uma batida na porta o tira dos seus pensamentos, era sua mãe com um olhar preocupado.

— Filho, posso entrar?— Érica fala com a voz embargada pelo choro.

— Claro mãe, entra.— Ele levanta e fica de frente dela.— O que ouve? Você brigou novamente com seu marido?— Ele pergunta já sabendo a resposta.

— Filho... você e eu vamos embora para Espanha. Arrume suas coisas, leve só o indispensável, compramos o restante lá. Seu pai precisa de você. E agora não tenho motivos para ficar nessa casa.

Érica fala sem dar espaço para ele questionar, sai do quarto decidida a dar um novo rumo para sua vida. Desde de a separação com o pai de Fabrício, a vida dela é um verdadeiro pesadelo, única esperança de Érica é o filho que sempre se espelhou no pai, se tornando um homem de caráter apesar das obrigações que lhe foi imposta.

— Madson, cade você?— Fabrício senta na cama e as lágrimas que tanto segurou rolam dos seus olhos sem parar.— Eu volto te buscar amor... prometo.

Naquela mesma noite o pai de Fabrício manda seu jatinho para buscar o filho e a ex mulher. Ele vai com o coração partido por deixar a pessoa amada para trás.

Já com Medson as coisas não andam fáceis. Com os dias passando Mauro decidiu coloca-la numa Academia para Cegos, ela não queria aceitar, pois seria mais um gasto para o pai, mas ele estava decidido a ajudar a filha, de um jeito ou de outro.

Enquanto Medson tentava desesperadamente se adaptar à escuridão que envolvia seus olhos. Aos poucos, ela percebia que aprender a conviver com a cegueira não seria tão simples quanto imaginava.

Sentada na sala de aula, Medson tentava acompanhar o professor enquanto ele explicava os conceitos básicos para viver sem a visão. Sua mente estava confusa e seus dedos se enroscavam no braile em uma tentativa desajeitada de decifrar as letras.

— Medson, preste atenção! — exasperou-se o professor, sua paciência se esgotando. — Você precisa se esforçar mais, isso não pode ser apenas uma escolha sua, honra pelo menos os gastos que seu pai está tendo.

— Eu estou tentando, mas não consigo.— Ela fala já com lágrimas nos olhos.

— Não tente, consiga! Você está levando isso na brincadeira. Eu não estou disposto a aturar suas birras.

— Como pode dizer isso? Se tudo que faço é me esforçar o máximo.— Já esgotada do dia difícil, eles levam ela no quarto.— Meu Deus, me ajuda senhor. Me ensina a aprender caminhar com essa nova realidade.— Deitada na cama ela chora, sentindo sozinha, sentindo uma saudade imensa de Fabrício, arrependida por recusar suas visitas, ela tinha medo de que ele sinta pena dela estar assim, por medo e achando que ele merecia uma pessoa saudável abdicou do seu amor. Mas no fundo ela sabia que esse sentimento jamais apagaria por completo do seu coração.— Me perdoa Fabrício.

Nessa noite Medson chorou até adormecer. Não só pela saudade que aperta o peito, mas por medo de nunca ser capaz de conseguir aprender o mínimo para ter uma vida pelo menos suportável.

Seus colegas de classe pareciam progredir rapidamente, adaptando-se a uma vida sem luz, alguns tinham facilidade em conhecer até mesmo as coisas mais difíceis. Mas Medson mesmo com os esforços, ela estava presa em sua própria negação, se recusando a aceitar que não poderia mais enxergar. Cada dia era uma batalha constante entre sua resistência e a realidade.

A cada falha, Medson sentia o peso de sua frustração aumentar. Lágrimas de impotência começavam a rolar pelo seu rosto todos os dias. Vários professores passaram pela Medson, mas parecia que eles não faziam esforços como com os demais alunos.

— Ei, pessoal, olhem só a Medson tentando de novo.— zombou o professor em um tom sarcástico. — Será que ela vai conseguir dessa vez? — Os demais professores riram e Medson sentiu suas bochechas queimarem de vergonha. Ela queria desaparecer naquele momento, esconder-se do mundo cruel que parecia conspirar contra ela.— Sabem como a mãe chama ela? De inútil e realmente ela é uma cega inútil.

Desse dia em diante a situação piorava quando Medson confirmou que os professores não apenas ignoravam suas dificuldades, mas também começaram a humilhá-la. Em vez de oferecerem apoio e incentivo, eles a menosprezavam e a ridicularizavam na frente de seus colegas de classe.

Medson se encolhe triste por tudo que está acontecendo. Ela não sabia como responder taus insultos, com as palavras que a machucam ela começou a regredir, nem mesmo suas refeições fazia, pois sempre que tentava comer ou beber, esbarrava no copo e derramava todo o líquido, tudo que ela tentava fazer a fazia sentir-se realmente uma inútil.

Os professores continuaram a tratá-la com indiferença, evitando ensiná-la adequadamente. Medson sentia como se estivesse sendo punida por sua própria deficiência, como se sua cegueira fosse motivo suficiente para ser deixada de lado. Ela se perguntava por que ninguém parecia se importar com seu desejo genuíno de aprender e melhorar.

Os meses passavam e, apesar de sua determinação incansável, Medson não conseguia fazer nenhum progresso significativo. A cada dia, ela se frustrava ainda mais, sentindo-se impotente diante da falta de apoio e compreensão por parte dos professores.

— Sua imprestável.— grita uma professora ao ver ela caindo e derrubando o prato de comida.

— Desculpa, eu pego. Não sabia onde estava a cadeira.— Ela fala nervosa. A mulher gritava fazendo os outros alunos se encolherem em seus lugares.

Medson desesperada levantou-se abruptamente, batendo nas mesas e cadeiras ao seu redor antes de correr para fora da sala, desorientada.

No corredor, seu passo inseguro se transformou em tropeços e quedas. A cada colisão com as paredes e portas, a dor física parecia minúscula comparada à dor que consumia sua mente. Cada hematoma marcava seu corpo, uma lembrança dolorosa da sua luta contra a cegueira.

Finalmente, com dificuldade, Medson chegou ao seu quarto na residência estudantil. Trancando a porta atrás de si, ela sentou-se no chão, abraçando seus joelhos, e chorou. Lágrimas salgadas deixaram rastros em suas bochechas, enquanto um misto de raiva e tristeza aflorava em seu coração.

Os dias passaram sem que Medson saísse de seu quarto. O isolamento tornou-se seu refúgio, uma forma de se proteger das vozes incansáveis que ecoavam em sua mente. Ela mal pronunciava uma palavra, afundada em seu próprio silêncio, perdida em sua escuridão particular.

A solidão dentro daquele quarto se tornou quase insuportável. E, no fundo do coração de Medson, ela sabia que era hora de enfrentar a realidade. Erguendo-se lentamente do chão, ela destrancou a porta e decidiu que era hora de enfrentar suas limitações e buscar ajuda.

Passo a passo, Medson caminhou pelo corredor, auxiliada por sua mão em contato a parede. Mas para quando b**e em alguém.

— Minha nossa.— Ela fala sem jeito.— Desculpa não senti que tinha alguém aqui.

— Não se preocupe, está tudo bem. Fui eu quem não prestou atenção por onde estava andando.— respondeu o desconhecido sorrindo gentilmente. Sentindo a leveza na voz do desconhecido ela respira aliviada.— Sou Caio Cesarini. Se me permitir, serei seu novo professor daqui para frente.

Ao ouvir a voz que transmite tanto conforto e gentileza, Medson sentiu seu coração se acalmar, como se cada palavra pronunciada por Caio fosse um abraço reconfortante. Ela sentia que podia contar com ele em momentos de necessidade e sabia que ele sim iria se esforçar para ensina-la.

Caio estendeu a mão para Medson, oferecendo ajuda para se equilibrar. Com um misto de gratidão e medo, ela segurou a mão dele. O simples gesto fez com que uma onda de coragem a invadisse, diminuindo o medo e a incerteza que a havia mantido prisioneira por longos 3 anos.

— Professor Caio, eu estou pronta para enfrentar meus medos. Preciso superar minhas limitações e recuperar minha vida. Você realmente pode me ajudar?

Caio olhou para Medson com um brilho de admiração nos olhos e assentiu.

— Claro, Medson. Estou aqui para ajudá-la em tudo que precisar. Daqui pra frente você não estará mais sozinha.

Caio decidiu dar aulas para Medson com um único propósito: se vingar de Cassandra, a mãe que o abandonou assim que nasceu. No entanto, conforme o tempo passava, ele se encontrava cada vez mais dividido. O peso da vingança se tornava mais opressor a cada segundo, enquanto sua conexão com a irmã o levava a um lugar desconhecido dentro de si. Sentimentos conflitantes permeavam sua mente, colocando-o em uma encruzilhada emocional.

A casa onde Medson vivia representava o objetivo final de Caio, onde planejava acertar as contas com a mulher que tanto odiava. Por muitos anos, aquele lugar havia sido o foco de sua ira e ódio.

Tudo estaria indo bem se ele não tivesse cruzado o caminho de Medson e não tivesse testemunhado a fragilidade e medo presentes em seus olhos. Os encontros casuais, as conversas que compartilhavam, a ternura que ele sentia, tudo isso começava a transformar sua vingança em um tumulto interno, fazendo com que todas as suas certezas se desmoronassem.

Enquanto Caio via sua vida passar diante de seus olhos, desde o momento em que foi deixado em um orfanato até os traumas que carregava no coração devido aos abusos sofridos, descobriu que Cassandra também foi responsável pelo trágico acidente que tirou a vida de seus pais adotivos.

Ele já sabia da existência de Medson antes mesmo de ingressar naquela escola. Entretanto, ignorar seus sentimentos estava se tornando cada vez mais impossível. A forma como ela o fazia sorrir, como seus olhos transbordavam alegria sempre que o via, bagunçava sua mente e suas prioridades. Os encontros casuais, as conversas que compartilhavam, a ternura que ele sentia, tudo isso começava a transformar sua vingança em um conflito interno.

Em meio a isso, Caio se via questionando seus instintos e motivações. A vingança nunca havia parecido tão astuta e cruel como agora, principalmente porque ele precisava proteger Medson de qualquer pessoa que se aproximasse dela. Ele estava determinado a enfrentar qualquer ameaça, não importando quão perigosa ou ilegal fosse.

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