Medson estava em seu quarto, imersa na escuridão que sempre a acompanhava. Ela estava procurando seu vestido branco, apesar de não poder enxergar as cores. Com dedicação e paciência, ela tateava os cabides, suas mãos deslizando sobre as roupas em busca do vestido certo, seus dedos desliza com movimentos ágeis sobre as etiquetas que Caio colocou em cada peça. Desde que ele entrou em sua vida, Medson sentiu sua confiança e independência crescerem.
Depois de vestida ela vai para a penteadeira e com movimentos vagarosos encontra a escova de cabelo, os pentea arrumando por cima dos ombros, faz uma leve maquiagem e passa um batom nude.— Caio, pode entrar.— ela grita para ele. Caio entra e fica uns minutos em silêncio. Medson sente um perfume diferente, mas não fala nada.— Pronta?— Ele fala se aproximando da cama, seus olhos analisa cada detalhe do seu rosto e seu vestido.— Como estou? Tem algo fora do lugar?— ela fica parada segurando sua bengala, apertando-a de nervosismo.— Está linda, só deixa eu arrumar uma coisinha.Ele se aproxima e com o polegar limpa o canto da boca dela, que estava borrado de batom.— Borrou?— Só um pouquinho, está cada dia melhor. Logo você chega a perfeição.Caio sempre tenta mostrar a Medson que ela pode fazer tudo que quiser. A ensinou se maquiar com agilidade. No começo eles davam muitas risadas, pois ela se borrava toda, mas ele sempre teve um ensinamento leve, então ela aprende se divertindo.— Onde vai me levar?— ela pergunta com o olhar curioso.— A um parque muito bonito. Quando cheguei na cidade o que mais me encantou nela, foi ele.— Então vamos. — ela fala animada.— Mas não quero ir de bengala. Sabe, toda vez que saio com ela sinto que as pessoas me olham com pena. Você me ensinou muitas coisas e acho que já posso sair sem ela.— Podemos tentar. Vou leva-la dentro do carro, se caso não se sentir segura, me fala no mesmo instante, tudo bem?— ele fala um pouco preocupado.— Combinado. Apesar que seria impossível acontecer alguma coisa comigo. Você sempre estará do meu lado.— Sempre!— Antes de ir, posso fazer uma coisa que sempre quis fazer?— O que?— Queria conhecer seu rosto. Já faz 4 anos que você é meu professor e nunca deixou te tocar.Caio a encara por longos minutos, apesar de não ter luz nos olhos de Medson, ela tem um olhar que parece estar vendo sua alma.—Tudo bem, vem.— ele fala com um pouco de receio.Medson sorri e com passos cuidadosos ela se aproxima. Lentamente seus dedos tocam o rosto de Caio.— Nossa...— Ela fala ao sentir a barba bem feita roçar sobre seus dedos.— Caramba, você é alto, com barba feita, olha só, o cabelo está bem cortado. Braços largos...— Ele sorri com sua empolgação.— Que cor são seus olhos?— Azul.— Hum me parece que tem uma bebeza em tanto do meu lado.— Ela ri.— Se você for como imaginei, uau, você é lindo.Medson aprendeu que, embora não pudesse ver o mundo ao seu redor, ela era capaz de enxergar a beleza de Caio através dos seus outros sentidos. Ela sentia a força e a presença dele por meio do tato, do cheiro e do som da sua voz. Caio se tornara não apenas uma voz guia em sua vida, mas também uma inspiração para que ela explorasse o mundo além da escuridão.— Gentileza sua. Saiba que nada se compara com sua beleza, Medson.— Obrigada. Que perfume bom. Você troucou?— Sim. Gostou?— Sim... quase não te reconheci, só sabia que era você, pois sua presença sempre me trouxe segurança e tranquilidade.— Você também me trás uma paz que nunca achei que teria.— Muito obrigada, Caio. Obrigada por não desistir de mim, de não se cansar e ir embora como todos os outros.— Que isso... todos os dias estou aqui, e todos os dias você me agradece. Medson, jamais irei te deixar. Te prometi que iria te proteger e cuidar de você. E é exatamente isso que estou fazendo.Medson se sente protegida e acolhida perto de Caio. Ela sempre acreditou que havia algum tipo de ligação que uniu os dois.Caio vai leva-la para dar uma volta, faz muito tempo que Medson não tem vontade de sair, Caio sempre da um jeito de arrasta-la, levando -a nos parques, piscinas. Antes dela perder a visão, nadar era uma das coisas que Medson mais amava fazer, dentro da água ela se sentia tão livre, como se seus problemas fossem minúsculos. Agora ela mal consegue entrar na água sem dar crises de pânico.— É por que sou grata por tudo que já fez por mim.— ela responde com gratidão.— Vamos meu anjo, assim vai ficar tarde e a insuportável da Camila vai querer ir junto.— Haha, vamos então.Com um sorriso cheio de expectativa, Medson deixou seu quarto e caminhou do seu lado. De braços entrelaçados, mas param quando sentem a presença da pessoa que Medson tanto evita esbarrar.— Olha só quem vai sair, se não é minha querida filha cega com seu cão de guarda.— Mãe! Por favor, hoje não.— Vê se não vá se perder pelo caminho, tenho alguns planos em mente e você não pode estraga-los.— Cassandra fala com desdém, porém dando a entender que havia algo mais em sua fala.— Digo, não vejo mal se isso acontecer.— Não se preocupe, eu sei me cuidar.— Medson responde sem se importar com suas últimas palavras, mesmo Cassandra falando muito baixinho, com sua audição aguçada Medson ouve até uma agulha caindo no chão.— Qual é Medson, só por que consegue fazer meia dúzia de coisas sozinhas não quer dizer que deixou de ser uma cega inútil.— Se a senhora não for falar nada de útil, peço licença.— Caio diz controlando sua raiva.— Vamos Medson, logo o sol se põe.— Como se fizesse diferença para uma cega.Caio encara Cassandra com indignação e raiva, ele segura com delicadeza nos braços de Medson e vão em direção ao carro.— Você está bem?— Ele pergunta preocupado.— Ah, sim. Estou. Não se preocupe, já estou acostumada com as grosseiras da minha mãe.— ela fala sem demonstrar o quanto isso a afetou.— Vamos?— Vamos. Farei esquecer tudo isso. Prometo.Horas antes.Cassandra estava cansada dos problemas financeiros que a filha trouxe para a família depois que perdeu a visão. Até hoje, ela não se conforma em ter perdido a luxuosa casa em que viviam por causa de uma cirurgia fracassada.Seu relacionamento com a filha nunca foi bom. Desde a infância de Medson, Cassandra depositou toda a raiva e frustrações nela.E agora, ela estava decidida a dar um fim aos problemas que sempre a atormentaram de uma vez por todas, mesmo que isso significasse tomar medidas extremas.Já fazia um tempo que Cassandra tinha ouvido falar de um mafioso barra pesada chamado Miguel, que por coincidência estava no Texas cuidando de uma cobrança. Ele é conhecido por muitos e temido por todos. Entre inúmeros negócios sujos, ele aceita emprestar dinheiro em troca de favores ou algo que interesse a ele. Cassandra está determinada a conseguir o que quer, custe o que custar.Ela estava nervosa enquanto esperava por Miguel no local combinado. Cassandra sabia que estava
Não demorou muito para Medson e Caio chegarem à praça. Caio ajudou-a a sair do carro e caminhou lentamente ao seu lado, enquanto Medson sorria feliz por estar conhecendo um lugar novo. Ela suspirou fundo, sentindo o ar fresco tocar seu rosto, enquanto as pessoas passavam ao seu lado conversando e o som das risadas era agradável de se ouvir.— Nossa, isso é incrível, o que tem na minha frente? — Ela perguntou, parando na frente de um belo jardim.— Um jardim, repleto de rosas vermelhas e amarelas. É como se estivessem saudando o sol brilhante deste dia. E um caminho todo cercado de árvores, um pouco mais à frente, há várias crianças brincando.— Deve ser muito lindo poder ver tudo isso, não me lembro de ter vindo aqui, mas a imagem que formei na minha cabeça é perfeita...Sem perceber, Medson sentiu seus olhos se encherem de lágrimas. Caio virou-a para ele, limpando suas lágrimas com a mão em seu rosto. Ele a olhou por longos minutos, triste, pois sabia que tudo o que Medson queria era
O dia anterior passara tranquilamente, e Medson estava feliz por ter conhecido mais um lugar e ter desenhado cada detalhe em sua imaginação.Ao despertar naquela manhã, Medson estava mais animada que o normal, diferente dos outros dias. Caio observou sua animação com um sorriso e logo se sentou ao lado dela.— Teve bons sonhos? Por isso está com esse sorriso brilhante?— ele perguntou curioso.— Tive sim, mas não é isso que me deixa animada.— Ela respondeu fazendo um ar de mistério, sabendo o quanto Caio era curioso.— O que é?— Hoje é o aniversário do Vinícius, estou ansiosa para vê-lo. Esta semana quase não nos falamos. Estou com saudades.— Medson falou entre suspiros.— Ah, é hoje o aniversário desse cara. Bom, tem gosto para tudo, não é?— Caio resmungou revirando os olhos.— Pode parar com a implicância, Vinícius é um bom namorado. — Ela retrucou, fingindo estar brava, e logo começaram a rir juntos.Caio e Medson tinham uma conexão especial, ele dedicava praticamente cem por cento
Camila pega o lençol que jogou no chão e se enrola. — Pai, eu posso explicar. — Camila diz, desesperada por ter sido descoberta. — Por que está gritando? — Medson pergunta, surpresa.— Camila? O que você está fazendo aqui? — Medson está surpresa, sem nem imaginar o que estava acontecendo logo à sua frente. —Veio comemorar com a gente? — Medson, me ouça, por favor... — Vinícius tenta se justificar, mas Medson não consegue entender realmente do que está falando. — O que está acontecendo? Me explique o que? — Como você é ingênua, irmãzinha. — Camila provoca, ignorando os olhares de desapontamento do pai. — Cala a boca, Camila! — Caio grita, parando ao lado de Medson e tentando levá-la para fora do quarto. — Alguém pode me dizer por que vocês estão gritando? — Nada demais, eu estava apenas sentando gostoso no seu namorado e você interrompeu. — O quê? — Medson sente seu corpo tremer, como se tivessem lhe dado um forte soco no estômago.— Eu... eu não acredito... — ela murmur
Caio fica perdido em pensamentos. Quando alguém bate na porta, ele coloca Medson com todo cuidado na cama e vai abrir. Assim que ele vê de quem se trata, seu rosto fica tenso, e sua expressão serena e calma, é substituído por uma expressão de rancor e raiva.— O que aconteceu? Ouvi Medson chorando. — Cassandra pergunta ao se colocar dentro do quarto.— Como se importasse com o bem-estar dela. — Caio resmunga. Juntando todo seu autocontrole, ele responde calmamente. — Infelizmente, ela presenciou Camila e Vinícius juntos.— Para de bobagem, Vinícius é louco por ela.— Se não acredita, pergunte para seu marido, ele viu tudo.Cassandra sorri, imaginando tudo o que aconteceu.— Olha, bem que eu sabia que ele ia se cansar de namorar uma cega. Vinicius merece uma mulher completa como Camila, tomara que ela saiba segurar alguém tão rico quanto ele.— Como a senhora pode se referir assim da sua filha? Medson é uma garota incrível.— Incrível? Medson é um fardo para todos nós, ela sempre me de
Ao acordar, Medson senta em sua cama e ouve os pássaros cantar. Lentamente, ela sente Caio do seu lado, ela vira de frente para ele e toca em seu rosto. — Bom dia, dorminhoco. — Ela fala, dando um beijo no rosto dele. — Bom dia, carinho. — Ele responde ainda de olhos fechados. Medson levanta para tomar banho e fazer sua higiene pessoal. Em seguida, Caio fez o mesmo. Ficaram longos minutos conversando até que começaram suas tarefas diárias. Apesar de parecer bem, ela se forçava a não lembrar de tudo que foi obrigada a presenciar, das palavras que Camila disse, dos insultos da sua mãe, que, por mais que seja algo recorrente, a ferem como se fosse a primeira vez ouvindo. (...) Assim passaram 2 meses, nesse tempo ela se isolou um pouco. Caio sempre tentava animá-la, mas nada mudava seu astral. Parecia que uma parte dela havia se quebrado naquele dia. Por algumas vezes, Medson disse a si mesma que nunca mais irá confiar em ninguém. Ela sempre teve dúvidas do que sentia por Vinicius.
Medson Parker. Pedi para Caio me trazer em um bar bem conhecido na cidade, já tem um tempo que quero vir aqui. Algumas pessoas chegaram a me cumprimentar, outras me passaram uma cantada; é estranho, mas é uma experiência bem interessante. Parece que ninguém percebeu que sou cega. Pego meu copo de refrigerante e levo na boca, não demora muito e sinto a presença de alguém ao meu lado. Sua presença é marcante, mesmo com várias pessoas passando o tempo todo, consigo sentir seu perfume. É impossível não se embriagar com ele. — Olha o que temos aqui, uma bela dama sozinha — ele fala e sua voz me causa arrepios. Não sei de onde, mas já ouvi essa voz. — O...oi — falo um pouco nervosa, estendendo a mão em direção a ele. — Prazer, sou Medson. — Ele segura levemente na minha mão e aperta com delicadeza, sinto um pequeno tremor percorrer meu corpo ao sentir o toque quente de sua mão. — E agora não estou sozinha, estou com você. — Hun, direta. Gosto de pessoas diretas. O prazer é todo meu, Med
Depois do banho, Medson acaba dormindo, mas no meio da noite ela levanta assustada, pois acordou com gritos vindo do quarto dos pais.— O que está acontecendo? — Medson diz ao sair do seu quarto para ver o porquê da briga. Parando na porta, ela ouve seu pai aos gritos.— Até quando vai usar suas ofensas direcionadas à nossa filha? Você não cansa de colocar a menina para baixo? Camila passou de todos os limites.— Para de drama. Camila fez um favor para Vinícius. Ninguém suportaria as frescuras e a autopiedade que essa inútil tem de si mesma.— Para de dizer isso, Medson é uma mulher incrível.— Incrível aonde? Essa garota é insuportável. Não sei como você me convenceu de não abortá-la como eu queria desde o começo. Mas você ficou feliz em tê-la, até cheguei a acreditar que eu poderia amá-la, mas não consigo sequer ver essa cega. Você fica o tempo todo preocupado com ela, Medson é um fardo para você, para mim, para todo mundo, ninguém se aproxima dela a não ser por pena. Já não percebe