O som da tempestade que se aproximava causava um grande reboliço pelas ruas. Portas do comércio eram fechadas, pessoas passavam apressadas demonstrando o quanto queriam estar seguras em suas casas. A correria fazia com que os esbarrões e os pedidos de desculpas fossem constantes.
Abotoei o casaco, o frio estava cortante. Tratei de apertar o passo, não queria me atrasar para o jantar, mamãe ficava muito irritada quando isso acontecia. Além do mais, não queria terminar meu dia ensopado. Estava cansado e frustrado por novamente não ter conseguido o emprego.
Um relâmpago cortou o céu, as nuvens escuras ameaçavam desabar a qualquer momento. Tratei de caminhar mais rápido. De repente, como por encanto, um facho de luz apareceu bem na minha frente. O clarão me cegou um pouco. O vulto de um homenzinho logo tomou forma.
— Pegue! Não a entregue para ninguém. Prometa! Vamos, prometa logo! Você não pode entregá-la para ninguém! — falou o pequeno homem.
Sem entender o que acontecia, olhei em volta e parecia não haver ninguém por perto. Onde estava a multidão apressada? Ele estava falando comigo?
— Você deve estar enganado, senhor, não sei do que está falando!
— Preste bem atenção. Você é o filho perdido e por elas é o escolhido, não as desaponte!
O clarão novamente se formou, em uma fração de segundos uma caixa foi posta em minhas mãos e o homenzinho desapareceu. Atordoado com o que havia acabado de acontecer, olhei à minha volta e constatei que o pandemônio nas ruas ainda era grande, mas parecia que mais ninguém havia presenciado aquela estranha cena.
Os primeiros pingos da chuva caiam com força. Em minhas mãos uma pequena caixa havia sido deixada. Coloquei-a no bolso do meu casaco e continuei a caminhar rapidamente para casa.
— Meu Deus, querido, você está ensopado! Vá logo se trocar, o jantar já está pronto — mamãe me entregou uma toalha.
— Obrigado, mamãe, não vou demorar.
Não conseguia acreditar no que havia acontecido. Retirei a roupa toda molhada e, do bolso de meu casaco, tirei a pequena caixa. Observei-a mais de perto, ela era toda decorada, os desenhos eram diferentes de tudo que eu já havia visto. Pareciam símbolos ou brasões de alguma família real. Tentei abri-la, em vão, coloquei mais força e nada. Mamãe gritou da cozinha:
— Vamos, Rick, se apresse, a comida vai esfriar!
— Já estou indo, mamãe — guardei a misteriosa caixinha em meu armário. Mais tarde tentaria abri-la.
Nosso apartamento era bem pequeno, estava velho e necessitava de reformas. Mamãe trabalhava muito e eu procurava desesperadamente por um novo emprego, ela precisava de minha ajuda.
— Nada de novo, Rick? — ela perguntou ansiosa.
— Não se preocupe, mamãe, logo eu vou encontrar algo.
— Não é justo. Você deveria estar na faculdade! Sei que posso arranjar mais um trabalho e assim teremos o suficiente para bancar seus estudos.
— Nem pense nisso, vamos ficar bem. A faculdade pode ser adiada! Além do mais, ainda preciso terminar os consertos do apartamento, olha só essas novas infiltrações!
Com ternura mamãe me olhou, com um aceno de cabeça concordou com minha decisão. Ela me amava e sempre ficava triste em me ver procurando novamente um novo emprego.
Mamãe é uma mulher muito bonita, não sei por que sempre ficou sozinha, pretendentes nunca lhe faltaram, mas ela sempre se manteve focada em minha educação, me cobrindo de carinho e amor. Ela trabalha como costureira em uma grande fábrica de roupas femininas. Seu salário não é dos melhores, mas nunca nos faltou nada.
Meu pai eu nunca conheci, mamãe sempre desconversa quando pergunto sobre o meu nascimento. Quando era mais jovem eu ficava muito chateado com sua postura, entretanto, com o passar dos anos parei de dar tanta importância para esse assunto.
Tenho procurado ajudar mamãe como posso, desde garoto trabalho nos mais diversos empregos, e apesar de amar os estudos nunca tive muito tempo para me dedicar a eles. Sempre sonhei em ser um grande médico, a medicina era um sonho que acalentava desde muito jovem. Agora, no auge dos meus vinte anos, sabia que era um sonho que estava ficando cada vez mais distante de ser realizado.
Nosso jantar estava delicioso, mamãe é também uma ótima cozinheira, não sei onde aprendeu a cozinhar tão bem. Durante a refeição conversamos bastante, ela me contou sobre seu dia. Eu tentava dar-lhe atenção, porém não conseguia deixar de pensar no que havia me acontecido.
— Você está bem, Rick? Parece distante e preocupado.
— Desculpe, é só cansaço — alguma coisa me impediu de contar-lhe sobre a caixinha misteriosa.
Lá fora a tempestade caía ferozmente. O barulho dos trovões era ensurdecedor.
— Meu Deus, faz tempo que não vejo uma tempestade desta! Os noticiários daquela noite alertavam sobre as mudanças do clima em todo o mundo. Tempestades, furacões, nevascas, incêndios, entre outros desastres naturais, eram relatados pelos repórteres nas mais diversas regiões do planeta. Mamãe comentou que tudo isso acontecia por nossa causa:
— Está vendo, meu filho? Isso é o que acontece quando maltratamos a natureza e não a preservamos como ela merece! Concordei com ela. Ajudei-a com as louças, dei-lhe um beijo de boa-noite e voltei para o meu quarto. Estava ansioso para tentar abrir aquela caixinha misteriosa. Coloquei-a sobre a cama e com cuidado a examinei. Depois de muitas tentativas frustradas concluí que não tinha como ser aberta. Aquele anão devia ser algum louco tentando me pregar uma peça. O clarão, com certeza, foi um raio que caiu tão perto de mim que me deixou confuso. Bom, essa foi a melhor explicação que encontrei. Deixei a pequena caixa sobre a mesinha de cabeceira, coloquei meu pijama e me atirei na cama, estava exausto.
O barulho da chuva foi ficando cada vez mais fraco, meus olhos estavam pesados e então adormeci. O barulho do trovão foi tão grande que me fez despertar assustado, dei um pulo na cama. Levantei e fui até o quarto de mamãe, ela dormia profundamente. Tomei um copo d’água e voltei para o meu quarto. Lá fora parecia que o mundo desabava. A combinação de raios, trovões e ventania era realmente assustadora.
Olhei para a mesinha de cabeceira e espantado vi que a caixinha estava brilhando. Cheguei mais perto e fiquei observando-a sem tocá-la.
— Mas o que é isso agora?!
Encorajado pela curiosidade, segurei a caixinha em minhas mãos e sem esforço algum consegui abri-la. Lá dentro uma enorme pedra, extremamente bela, brilhava. Não me contive. Tomei-a em minhas mãos e por alguns segundos fiquei a contemplar aquela joia rara.
Foi então que algo impossível de acontecer aconteceu: a joia criou um brilho tão intenso que meu quarto ficou totalmente iluminado. Senti algo me puxando, e sem nenhuma explicação aquela luz me absorveu.
— Acorde, Rick, estamos atrasados, temos que ir! — gritou um homenzinho, bem perto de meu rosto.O susto foi tão grande que dei um salto para trás. Pensei estar sonhando, ou melhor, estar tendo um pesadelo!—Quem é você? Como chegue
Dindi se dirigiu até um velho e enorme carvalho, eu o segui em silêncio. Estava absorvendo tudo o que ele havia me revelado. Quando chegou bem perto do carvalho ele parou, me olhou, e assim falou:— Você tem a chave, o poder é todo seu. Sou um servo leal, mas não posso passar pelo portal. Siga sempre em frente e logo entre elas estará presente — Dindi recitou as palavras com muita formalidade.
— Há milhares de anos, nós, as fadas, nos retiramos do mundo dos humanos. Foi muito difícil nos adaptarmos ao nosso novo mundo, cheio de solidão. Algumas fadas não suportaram ficar longe dos campos, dos mares, dos bosques, dos animais, enfim, da vida terrena com todos os seus prazeres. E então voltaram, mas elas foram caçadas e exterminadas, como muitas outras criaturas mágicas que ousaram desafiar os tiranos que dominavam o mundo. Só nos restou então vivermos reclusas, bem longe da maldade daqueles que habitavam a Terra. Neste novo mundo, construímos nosso lar. Usamos toda nossa criatividade e sensibilidade para construí-lo. Você teve a chance de ver um pouco dele hoje, não foi?
Eu tinha muitas perguntas a fazer, mas vi que a fada não podia mais continuar sua narrativa. Ela se recostou nas almofadas e fechou os olhos. A grande porta dourada se abriu e a linda fada que me recebeu entrou. Trazia nas mãos uma taça. Ela se aproximou da rainha das fadas e com ternura fez que ela bebesse todo o líquido.— Venha, Rick, vamos deixá-la descansar
Nosso passeio continuou nas proximidades da árvore de pedras, Clara falou das outras pedras e de seus poderes mágicos. Eu estava fascinado. Ouvia atentamente cada palavra que ela dizia. Ficamos um bom tempo conversando, aos poucos ela parecia ficar mais empolgada e feliz.Voltamos ao palácio. Voando. Aquela experiência era incr&iac
O barulho do relógio me fez pular da cama. O dia havia amanhecido. A chuva continuava a castigar toda a cidade. Levantei e constatei que a caixinha estava na cabeceira da minha cama.“Tudo não passara de um sonho!”, pensei. “Mas pareceu tão real! Meu Deus, eu não posso ter sonhado!” Continuei a olhar para a caixinha, ela estava lacrada. A prova de que
Quando acordei ainda estava dentro do carro, que agora percorria as ruas de uma linda cidade bem devagar. Ouvi a voz de Dindi, que falava para Clara:— Vou estacionar mais perto do parque. Vocês entram e eu aguardo aqui do lado de fora. Tudo era tão belo e mágico que eu fiquei ali paralisado, apenas observando-as. Elas voavam por cima das flores. A comemoração do reencontro continuou por um longo tempo. De repente elas sumiram, fiquei procurando por entre as flores, mas foi em vão.Desci do moinho e caminhei até perto do lago. Procurava por elas, olhando para todos os lados, o parque estava vaCapítulo 9