Dindi se dirigiu até um velho e enorme carvalho, eu o segui em silêncio. Estava absorvendo tudo o que ele havia me revelado. Quando chegou bem perto do carvalho ele parou, me olhou, e assim falou:
— Você tem a chave, o poder é todo seu. Sou um servo leal, mas não posso passar pelo portal. Siga sempre em frente e logo entre elas estará presente — Dindi recitou as palavras com muita formalidade.
— O quê, hein? Não entendi — falei sem entender direito.
— Coloque a pedra mágica na árvore, seu bobalhão! Não acredito que você é o filho perdido! — ele exclamou com impaciência. Cheguei mais perto do carvalho e então eu vi. A pequena abertura encravada no tronco do carvalho tinha o mesmo formato da pedra. Coloquei-a na abertura e ela se encaixou perfeitamente. A mágica novamente aconteceu. Senti meu corpo ser puxado com tanta força que gritei, mas logo perdi os sentidos.
Abri os olhos com dificuldade, um brilho intenso ofuscou minha visão. Levantei-me rapidamente, sentia algo estranho dentro de mim, sentia-me vivo e feliz. Era uma sensação de euforia misturada com ansiedade. Sentia-me como um garotinho indo a um parque de diversões pela primeira vez.
Olhei à minha volta e não pude me conter. Suspirei de admiração.
— Uau! Que lugar é este?
Tudo era tão colorido e brilhante. O chão parecia ser feito de vidro. Pedras cintilantes estavam por toda parte e reluziam suas cores, produzindo efeitos que pareciam os de um arco-íris. Eu estava exultante. Não sabia de onde vinha tanta alegria, mas era uma sensação maravilhosa.
Ouvi algumas vozes melodiosas que me chamavam.
— Venha, Rick, venha, é por aqui!
Comecei a caminhar em direção às vozes. No primeiro passo pude sentir uma leveza inexplicável em todo o meu corpo, no segundo passo percebi que meus pés já não tocavam mais o chão, de repente senti que podia sair totalmente dele. Eu estava voando! Conduzido por aquelas vozes melodiosas que não paravam de me chamar eu continuei a voar. Então, eu avistei entre as brumas um esplendoroso palácio. Parecia que era todo feito de cristal. Já em suas portas gigantescas, pousei como um pássaro. Aquilo foi surreal!
— Olá, tem alguém aí? — gritei nos portões.
Os portões se abriram e a mais linda criatura que já vi na vida veio me receber. Seus cabelos eram longos e levemente ondulados, seus olhos eram grandes e pareciam duas esmeraldas, sua pele era alva, mas suas bochechas estavam rosadas. De suas costas saíam um grande par de asas totalmente coloridas eram parecidas com as asas de uma borboleta.
Entretanto, notei que havia algo estava errado, seu semblante era triste. Com a voz melodiosa ela falou:
— Olá, Rick, é bom que você tenha vindo, Dindi fez um ótimo trabalho.
Àquela altura já não me surpreendia o fato dela também saber meu nome.
— Pois é! Aquele anãozinho é mesmo competente! — exclamei. — Aqui estou!
— Dindi contou-lhe sobre nós e o nosso reino, Rick?
— Bom, na verdade ele fez um breve resumo, mas tem muito mais que quero saber. Por exemplo, por que estou aqui? Eu fui tele transportado por uma pedra mágica, estou em um mundo paralelo ao meu, acredito ser o mundo das fadas. Um anãozinho nervoso me disse que sou o filho perdido de alguém, eu voei e agora estou aqui, diante de uma criatura lindíssima com um par de asas. Na verdade, eu estou pirando!
A fada sorriu. Seus dentes eram tão brancos e seu sorriso tão encantador que quase desmaiei diante de tamanha beleza.
— Bem, acho que você tem razão! Mas muitos segredos de sua vida serão revelados agora. Venha, a rainha das fadas irá te receber.
— Que ótima notícia! Rainha das fadas? — sorri de volta para ela.
A coisa estava ficando cada vez melhor!
A bela fada me conduziu para dentro do palácio, a beleza do lugar condizia com a beleza da fada. Tudo parecia ser feito de cristal, era tudo tão lindo e tão brilhante.
Aos poucos outras fadas foram se revelando, lindas como anjos, elas voavam em minha volta, eu as contemplava fascinado. Entretanto, como a fada que havia me recebido, todas elas traziam em seus semblantes uma tristeza desconcertante.
Àquele sentimento de alegria que eu experimentara em meu peito quando ali cheguei aos poucos foi se dissipando.
A fada subiu uma escadaria que parecia não ter fim. Quando alcançamos o último degrau ela falou:
— A senhora de todas nós, a nossa rainha e mãe, está profundamente enferma. Ouça com atenção tudo que ela irá te revelar. Ela falará bem devagar, a tristeza em seu coração não permite que ela demonstre seus verdadeiros sentimentos. Ela ficará muito feliz em ver você, mas com certeza a melancolia não deixará que essa felicidade transpareça.
Dizendo isso, ela se dirigiu a uma porta que parecia ser feita toda de ouro. Abriu-a com cuidado e me deixou entrar. Bem devagar atravessei a rica porta, que se fechou às minhas costas. No centro do que parecia um grande salão, repousava uma fada encostada em grandes almofadas bordadas. Linda, jovem e extremamente triste, a fada parecia não perceber minha presença. Seu olhar parecia perdido, ela parecia estar fraca.
No começo não sabia o que fazer. Olhei para a porta em busca de ajuda da outra fada, mas ela já havia se retirado. No recinto só a rainha e eu. Então me aproximei e disse:
— Olá, eu sou Rick — que bobagem a minha, com certeza ela devia saber quem eu era, todas sabiam!
Ela então me fitou. Por uma fração de segundos pensei ter visto um sorriso em sua face, mas seu olhar era triste e nada mais foi revelado em sua expressão.
Quando ela falou, revelou uma linda voz, ainda mais linda e suave que a da primeira fada, mas ela falava muito baixo e devagar. Tive que me aproximar ainda mais do local onde estava recostada.
— Sente-se perto de mim, querido! Preciso te ver mais de perto. Sentei-me bem em frente à fada e ela então me olhou.
— Você é bonito, Rick, muito bonito. Lembra seu pai, mas se parece mais com sua mãe.
— Meu pai? Eu não conheci meu pai! — falei surpreso.
— Eu sei, ele teria muito orgulho de você.
— Por favor, me diga o que está acontecendo. Eu morri, é isso? Ou estou sonhando? — a impaciência em minha voz ficou transparente.
— Você não morreu, nem está sonhando, Rick. Vou contar-lhe tudo o que precisa saber sobre sua origem — ela falava pausadamente, mas com muita firmeza.
Então a fada rainha me revelou, através de outra história fantástica, a minha verdadeira origem.
— Há milhares de anos, nós, as fadas, nos retiramos do mundo dos humanos. Foi muito difícil nos adaptarmos ao nosso novo mundo, cheio de solidão. Algumas fadas não suportaram ficar longe dos campos, dos mares, dos bosques, dos animais, enfim, da vida terrena com todos os seus prazeres. E então voltaram, mas elas foram caçadas e exterminadas, como muitas outras criaturas mágicas que ousaram desafiar os tiranos que dominavam o mundo. Só nos restou então vivermos reclusas, bem longe da maldade daqueles que habitavam a Terra. Neste novo mundo, construímos nosso lar. Usamos toda nossa criatividade e sensibilidade para construí-lo. Você teve a chance de ver um pouco dele hoje, não foi?
Eu tinha muitas perguntas a fazer, mas vi que a fada não podia mais continuar sua narrativa. Ela se recostou nas almofadas e fechou os olhos. A grande porta dourada se abriu e a linda fada que me recebeu entrou. Trazia nas mãos uma taça. Ela se aproximou da rainha das fadas e com ternura fez que ela bebesse todo o líquido.— Venha, Rick, vamos deixá-la descansar
Nosso passeio continuou nas proximidades da árvore de pedras, Clara falou das outras pedras e de seus poderes mágicos. Eu estava fascinado. Ouvia atentamente cada palavra que ela dizia. Ficamos um bom tempo conversando, aos poucos ela parecia ficar mais empolgada e feliz.Voltamos ao palácio. Voando. Aquela experiência era incr&iac
O barulho do relógio me fez pular da cama. O dia havia amanhecido. A chuva continuava a castigar toda a cidade. Levantei e constatei que a caixinha estava na cabeceira da minha cama.“Tudo não passara de um sonho!”, pensei. “Mas pareceu tão real! Meu Deus, eu não posso ter sonhado!” Continuei a olhar para a caixinha, ela estava lacrada. A prova de que
Quando acordei ainda estava dentro do carro, que agora percorria as ruas de uma linda cidade bem devagar. Ouvi a voz de Dindi, que falava para Clara:— Vou estacionar mais perto do parque. Vocês entram e eu aguardo aqui do lado de fora. Tudo era tão belo e mágico que eu fiquei ali paralisado, apenas observando-as. Elas voavam por cima das flores. A comemoração do reencontro continuou por um longo tempo. De repente elas sumiram, fiquei procurando por entre as flores, mas foi em vão.Desci do moinho e caminhei até perto do lago. Procurava por elas, olhando para todos os lados, o parque estava vaCapítulo 9
Enquanto o carro deslizava vagarosamente pelas ruas da encantadora cidade, peguei o celular e liguei para mamãe. Ela fez muitas perguntas, parecia que desconfiava de que algo estava errado. Tentei tranquilizá-la e para isso tive que inventar mais algumas mentiras. Depois de muita conversa a convenci de que estava realmente viajando para conhecer uma proposta de emprego muito boa.—
A van continuou sua rota turística. Nós nos sentamos na frente com o motorista que falava fluentemente nossa língua. No veículo estavam mais seis pessoas, turistas que conversavam animadamente sobre as belezas que conseguiam registrar em seus celulares de última geração. Realmente a Capadócia era um lugar muito especial e misterioso. Mais de duzentas cidades subterrâneas haviam sido descobertas ali. Aproveitei para conversar com o guia e descobrir um pouco mais sobre o nosso destino
Último capítulo