— Acorde, Rick, estamos atrasados, temos que ir! — gritou um homenzinho, bem perto de meu rosto.
O susto foi tão grande que dei um salto para trás. Pensei estar sonhando, ou melhor, estar tendo um pesadelo!
—Quem é você? Como cheguei aqui? — as palavras saíam com dificuldade.
— Olá, sou Dindi, seu guia. E agora chega! Já me apresentei, siga-me!
— Como você sabe meu nome? Onde estamos? Meu guia? Como assim? Foi você que me deu aquela caixinha ontem, na rua, não foi? — as palavras saíam atropeladas, nada fazia sentido.
— Pare, pare! Você faz perguntas demais! Temos que nos apressar. Vou esclarecer suas dúvidas, mas agora temos que ir. Venha, Rick, não fique aí parado com essa cara de bobão.
Levantei-me e comecei a seguir o estranho homenzinho. Ainda me sentia tonto e perturbado com o que estava acontecendo. Observei que estava em um lugar totalmente estranho. O sol brilhava intensamente, a noite e a tempestade já não existiam mais. Estávamos em uma floresta com árvores gigantescas. Era surpreendentemente bonita. O caminho era todo circundado por flores coloridas e uma alta grama. Pequenos animais circulavam pelas redondezas sem se preocuparem com a nossa presença.
— Onde está a pedra? — perguntou o anãozinho, com cara de poucos amigos.
Aos poucos fui me lembrando de como cheguei àquele lugar magnífico. Apertei a misteriosa pedra em minha mão e novamente vislumbrei o seu brilho intenso.
— Ela está aqui. Se quiser a pedra, terá que me explicar o que está acontecendo!
— Muito bem, eu te contarei aos poucos o que está acontecendo. Mas muitas coisas você só saberá no devido tempo! Quanto à pedra, você ainda precisará dela.
Eu concordei com o misterioso anão. Saber alguma coisa já era melhor do que não saber de nada. Ele escolheu um grande carvalho e sentou-se à sua sombra, então ele começou a narrar uma fantástica história. A mais extraordinária que já tinha ouvido em toda a minha vida.
Assim ele falou:
— Quando a vida na Terra começou, muitas criaturas mágicas foram escolhidas pelo Criador para proteger a natureza e os homens. A magia era algo tão comum que as pessoas conviviam com ela sem problema algum. Fadas, gnomos, ninfas, anões, assim como eu, e também outras criaturas mágicas, viviam na Terra em paz com os homens. Cada um desempenhava seu papel para contribuir com o equilíbrio da natureza. Entretanto, com o passar dos tempos, os homens, com seu egoísmo e arrogância, decidiram dominar toda a Terra e se declararam os senhores absolutos de todo o planeta. Os seres mágicos foram ficando cada vez mais acuados. Sem credibilidade, esquecidos e perseguidos, tiveram que se esconder das maldades humanas. Nós anões também tivemos que fugir. Fomos para as terras altas e geladas, onde era difícil para os homens chegarem. Lá construímos nosso lar e assim ficamos por milhares de anos seguros. Um dia os homens deixaram meu povo em paz e, assim, novamente pudemos voltar a frequentar os bosques e as florestas, pois eram os lugares que mais amávamos.
Atentamente eu ouvia o anãozinho em sua narrativa. Ele continuou:
— Quando nós nos mudamos novamente para as florestas, percebemos que as fadas também as frequentavam. Elas apareciam por entre as flores, nos riachos, nas florestas. Seres lindos que ainda temem e não se mostram para qualquer mortal. Elas sempre usam disfarces para circularem livremente pela natureza, e assim evitam serem vistas. As fadas amam a natureza e tudo que ela oferece. São protetoras deste mundo e desempenham um papel muito importante no equilíbrio e na proteção da Terra. Nós, os anões, também somos seres mágicos e podemos vê-las e até conversar com elas.
— Isso é surpreendente! — falei admirado e ainda desconfiado da veracidade de tudo o que ouvia.
— Então, um dia meu povo fez uma parceria com as fadas. Os anões deveriam lapidar as lindíssimas pedras preciosas que elas encontram na natureza e levam para enfeitar seu reino, e em troca, elas nos abençoam com muita riqueza e fartura. A caça é abundante nesta floresta e sempre somos presenteados com as mais deliciosas guloseimas vindas direto do reino das fadas — ele parou um pouco, esfregou a barriga e deu um sorriso. — A gula sempre foi uma fraqueza dos anões — completou.
— Fadas! Elas existem? — perguntei atônito e incrédulo.
— Sim, claro que elas existem! Eu me tornei um servo fiel dessas lindas criaturas. Como meus ancestrais, continuo a servi-las e lhes serei fiel até os últimos dias de minha vida. Agora também sou o guardião chefe do portal para o reino das fadas! — ele falou com orgulho. — Infelizmente, nós anões não podemos entrar no reino das fadas. Apesar de sermos seres mágicos, somos também mortais.
— Inacreditável! — exclamei. Realmente era uma boa história aquela. Porém, ainda não estava convencido.
— Pois é, e é por isso que você está indo ao reino das fadas! Elas precisam de você! — falou o anãozinho com cara de mistério.
— O quê? Como assim? Você acabou de dizer que um mortal não pode entrar nesse mundo! Como eu posso ir até lá?
— Então! Essa é a parte da história que você só saberá quando estiver lá, ou seja, no momento certo.
— Ei, nem pensar! Pode continuar a contar essa história, ou eu não irei a lugar algum com você! — eu estava amedrontado e ao mesmo tempo curioso, não podia deixá-lo parar de narrar a mais incrível história que já havia ouvido em toda a minha vida.
— Rick, você precisa confiar em mim. O mundo que você conhece está correndo um grande perigo. Elas precisam de você. Não podemos mais ficar aqui. Você precisa atravessar o portal, pegue a pedra! Agora!
O pequeno homenzinho falou com tanta autoridade que não consegui mais discutir com ele. “O que acontecer daqui para frente não pode me surpreender mais”, pensei, depois de tudo que já tinha vivido e ouvido até então. Mais tarde descobri que estava redondamente enganado, as surpresas estavam apenas começando e, decididamente, eu não estava preparado para o que aquele dia maluco ainda me reservava.
Dindi se dirigiu até um velho e enorme carvalho, eu o segui em silêncio. Estava absorvendo tudo o que ele havia me revelado. Quando chegou bem perto do carvalho ele parou, me olhou, e assim falou:— Você tem a chave, o poder é todo seu. Sou um servo leal, mas não posso passar pelo portal. Siga sempre em frente e logo entre elas estará presente — Dindi recitou as palavras com muita formalidade.
— Há milhares de anos, nós, as fadas, nos retiramos do mundo dos humanos. Foi muito difícil nos adaptarmos ao nosso novo mundo, cheio de solidão. Algumas fadas não suportaram ficar longe dos campos, dos mares, dos bosques, dos animais, enfim, da vida terrena com todos os seus prazeres. E então voltaram, mas elas foram caçadas e exterminadas, como muitas outras criaturas mágicas que ousaram desafiar os tiranos que dominavam o mundo. Só nos restou então vivermos reclusas, bem longe da maldade daqueles que habitavam a Terra. Neste novo mundo, construímos nosso lar. Usamos toda nossa criatividade e sensibilidade para construí-lo. Você teve a chance de ver um pouco dele hoje, não foi?
Eu tinha muitas perguntas a fazer, mas vi que a fada não podia mais continuar sua narrativa. Ela se recostou nas almofadas e fechou os olhos. A grande porta dourada se abriu e a linda fada que me recebeu entrou. Trazia nas mãos uma taça. Ela se aproximou da rainha das fadas e com ternura fez que ela bebesse todo o líquido.— Venha, Rick, vamos deixá-la descansar
Nosso passeio continuou nas proximidades da árvore de pedras, Clara falou das outras pedras e de seus poderes mágicos. Eu estava fascinado. Ouvia atentamente cada palavra que ela dizia. Ficamos um bom tempo conversando, aos poucos ela parecia ficar mais empolgada e feliz.Voltamos ao palácio. Voando. Aquela experiência era incr&iac
O barulho do relógio me fez pular da cama. O dia havia amanhecido. A chuva continuava a castigar toda a cidade. Levantei e constatei que a caixinha estava na cabeceira da minha cama.“Tudo não passara de um sonho!”, pensei. “Mas pareceu tão real! Meu Deus, eu não posso ter sonhado!” Continuei a olhar para a caixinha, ela estava lacrada. A prova de que
Quando acordei ainda estava dentro do carro, que agora percorria as ruas de uma linda cidade bem devagar. Ouvi a voz de Dindi, que falava para Clara:— Vou estacionar mais perto do parque. Vocês entram e eu aguardo aqui do lado de fora. Tudo era tão belo e mágico que eu fiquei ali paralisado, apenas observando-as. Elas voavam por cima das flores. A comemoração do reencontro continuou por um longo tempo. De repente elas sumiram, fiquei procurando por entre as flores, mas foi em vão.Desci do moinho e caminhei até perto do lago. Procurava por elas, olhando para todos os lados, o parque estava vaCapítulo 9
Enquanto o carro deslizava vagarosamente pelas ruas da encantadora cidade, peguei o celular e liguei para mamãe. Ela fez muitas perguntas, parecia que desconfiava de que algo estava errado. Tentei tranquilizá-la e para isso tive que inventar mais algumas mentiras. Depois de muita conversa a convenci de que estava realmente viajando para conhecer uma proposta de emprego muito boa.—