Conversa

— Senhora, Lee. Como vai?

— Muito bem, e você?

— Ah, bem, é... posso ajudar? – Adicionei enquanto o casal nos observava curioso.

— Na verdade, eu vim ajudar você. Podemos conversar a sós?

Não, não e não.

— Claro. - Forcei um sorriso. 

Olhei para as duas novamente. Elas pareciam estar achando aquilo instigante, mas na mesma hora levantaram depressa explicando que estavam indo dar uma volta e logo em seguida sumiram pelo corredor do prédio.

Voltem aqui!

Sentei-me ao lado da senhora, em uma direção que dava para chegar correndo a porta caso algo acontecesse. Felizmente Lia havia a deixado aberta.

— Não precisa ficar assustada. – Informou Lee notando minha inquietação ao observar a porta. – Eu sou apenas uma mulher.

— Foi mal, é que eu realmente acho um pouco estranho... Não a senhora, quer dizer, isso aqui, a senhora aqui. É que não nos falamos muito e...a senhora mencionou uma cicatriz. – Meu Deus alguém cala minha boca.

— É exatamente por isso que estou aqui. Eu não vou te fazer mal, criança. Fique tranquila.

Aquilo não me deixou tranquila.

— Nós precisamos conversar sobre isso. No entanto, precisa me prometer que me ouvirá com a mente aberta. Vocês, jovens são muito cheios de si e acham sempre que são donos da razão, que a ciência explica isso e aquilo e o que nós, mais velhos, falamos não passam de superstições antigas. Em parte, eu até concordo, mas você precisa tentar compreender sem julgar logo de início. Tudo bem?

Balancei a cabeça em sinal de positivo. A senhora se ajeitou no sofá, suspirou e começou a falar:

— Há muitos anos, durante a Idade Média, deu-se início a lenda de Elisabeth e Frederick, já ouviu falar? - Neguei com a cabeça. - Não? Imaginei. Dizem que quando o casal tentou fugir da cidade onde eles moravam, o noivo da mulher, Augustus, os encontrou e os amaldiçoou por toda eternidade. Ele invocou uma criatura sombria denominada Dorger, um espírito maligno que se alimenta da alma daqueles que um dia o chama. Sim, Augustus vendeu sua alma ao amaldiçoar os dois, um destino pior que o do casal, eu suponho.

Ela contou sobre a maldição, que Dorger matou o casal enfiando suas unhas e rasgando seus corações e que eles haviam sido condenados em todas as suas vidas a se encontrarem, mas que em todas até então fracassaram. Ouvi tudo atentamente, parecia interessante.

— Mas por que a senhora acha que eu deveria saber disso? – Questionei ainda sem compreender onde ela queria chegar.

— O espírito de Elisabeth continua por aí em busca de sua alma gêmea, Isabelle. E se ela não conseguir encontrá-la nessa vida, eles continuarão fracassando.

Maluca.

— E...?

Ela me olhou como se fosse óbvio, mas não, não era. Percebendo isso a senhora continuou:

— Você não consegue compreender? As marcas das unhas da criatura no peito do casal, os sinais no corpo de quem guarda o espírito de Elisabeth. Isabelle, você é Elisabeth. E você tem até o seu vigésimo quinto aniversário para encontrar Frederick.

— Ok. – Respondi depois de alguns minutos. – A senhora acha que eu sou um espírito amaldiçoado?

Maluca, maluca, maluca!

— Sim.

— Ok.

Ela continuou me observando com cautela enquanto eu absorvia suas palavras.

— Ok. Entendi. Por favor, pode sair da minha casa?

Lee não pareceu surpresa com minha resposta, então adicionou calmamente.

— Os sinais serão cada vez mais evidentes. Suas marcas serão ao total cinco, cada vez elas serão mais profundas e dolorosas.

— Já chega! A senhora é maluca. – Despejei enquanto levava a mulher para fora.

Lembranças surgirão, sonhos virão assombrá-la durante à noite. – Continuou gritando a medida que eu a expulsava. – As marcas ficarão cada vez piores até que o ferimento chegue em seu coração e te faça sangrar até a mor...

Bati a porta na cara da senhora, tranquei-a imediatamente e voltei para meu quarto no intuito de deitar, relaxar e esquecer essa conversa.

Eu procurarei um médico o mais depressa possível.

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