Estava um dia extremamente ensolarado e nós três estávamos parados em frente à entrada do evento esperando o tal primo chegar. Sendo que ele que morava mais perto do local, não eu nem Lia. Eu não estava acostumada a esperar pessoas, eram as pessoas que me esperavam. Esse é o problema de estar sempre atrasada, você acostuma a fazer os outros de otário. Ah meu Deus! Eu sou uma pessoa horrível!
Os dois estavam esperando pacientemente sentados no chão perto de uma grade que nos separava do pessoal que estava entrando, enquanto eu estava em pé olhando ao redor, não sei por qual motivo porque eu nem sabia como era a aparência do homem. Minha cabeça começava a latejar devido ao calor e meus olhos estavam quase se fechando por conta da luminosidade do sol. Eu só queria entrar e procurar alguma sombra em que eu pudesse me esconder do inferno que havia se tornando o mundo.
Depois de quase meia hora o homem apareceu se desculpando imediatamente pelo atraso. Ele era bem diferente do que eu havia imaginado. Não havia herdado o cabelo loiro de Isa, assim como sua pele mais pálida. Pelo contrário. Ele era alto e seus cabelos escuros caiam suavemente pela testa. Sua pele era mais morena também. Na verdade, o cara era realmente muito bonito e sua forma de andar era confiante e relaxada. Aquele tipo de pessoa que devia ter muita atitude porque tinha certeza que era lindo e que sempre impactaria as pessoas ao seu redor. O homem usava uma calça jeans e uma camisa escura que deixava evidente o contorno de seus braços definidos...
Que braços!
Mas, me lembrava um personagem saído de séries de riquinhos estadunidenses, tipo Gossip Girl ou algo assim.
Isa rapidamente levantou-se dizendo que não tinha problema, pois nós três tínhamos aproveitado o solzinho enquanto colocávamos o papo em dia. Fiquei me perguntando em que mundo diferente essa mulher estava porque ela distorceu completamente o que eu estava achando de tudo aquilo.
— Esse aqui é minha namorada, Lia. – Apresentou Isa.
— Oi, Lia. Isa me falou muito de você, já estava curioso. – Respondeu o homem educadamente.
— E o que ela falou, hein? Porque essa garota só fala minhas desgraças. – Questionou Lia brincando, ao mesmo tempo preocupada sobre seu incidente com altura.
O rapaz imediatamente riu, dando a entender que ele também ficara sabendo sobre o momento embaraçoso de Júlia, provocando o riso da garota.
— Relaxa, meu amor. – Isa se aproximou da namorada, que estava transpirando devido ao calor, e beijou-lhe rapidamente os lábios. – E essa aqui é Belle, nossa amiga.
— Prazer, Belle. – Cumprimentou-me o recém-chegado enquanto levantava suas mãos gentilmente para mim.
Como resposta estendi minha mão no intuito de bater nas suas, mas o garoto pretendia apertá-las, desse modo nosso aperto/batida de mão saiu um tanto desajeitado, fazendo nós dois rirmos constrangidos.
— Prazer. – Respondi-lhe educada. O homem que acabara de se juntar ao grupo sorriu em resposta. Seus olhos eram intensos e em momento algum deixou os meus enquanto nos apresentávamos. Na realidade, isso era um pouco assustador e estava me deixando constrangida de novo. Era como se ele olhasse mais do que a superfície do meu rosto estava mostrando. Como se ele fosse capaz de olhar mais fundo, na minha alma.
Vamos? – Interrompeu Lia.
Nós nos direcionamos a abertura da grade e seguimos ao portão onde alguns seguranças revistavam os indivíduos.
— Modos. – Alertou Lia.
— Não prometo nada.
Entramos no espaço onde estava sendo organizado o evento e para a minha tristeza não avistei nada que pudesse me ajudar a fugir do calor. Ao contrário do que esperava, só havia uma quantidade enorme de corpos se esbarrando cada vez mais um no outro conforme seguíamos em direção ao palco.
Aceitei a derrota enquanto caminhava ao lado dos três e nos enfiamos em um lugar que nos possibilitasse uma boa visão do palco, ao mesmo tempo em que nos dava espaço suficiente para não morrer de falta de ar. Posicionei-me junto a eles arrependida por não ter trazido um óculos de sol, da mesma maneira como Lia trouxe o seu. Ela sempre pensava em tudo, era como se fosse a irmã mais velha da nossa relação. Olhei para o grupo um por um. Isa desfazia seu rabo de cavalo para dar lugar a um coque que deixasse seu pescoço a mostra e o primo balançava sua camisa com suas mãos. O porquê daquele homem usar uma camisa daquelas naquele inferno já era outra questão.
— De onde esse aí surgiu? – Perguntei a Lia baixo o suficiente para que os outros dois não escutassem
— Ele é filho da tia da Isa. Acho que é o primo mais próximo, pelo que me contara.
— Olha a camisa dele...
— Não começa, Belle. – Já dizia antes de eu conseguir terminar a frase.
— O que? – Me defendi indignada. – Não disse nada.
Ela esperou sabendo que eu continuaria. Continuei calada esperando que ela desistisse. Como eu não falei nada, Lia levantou a sobrancelha direita e quando ia retomar sua atenção a namorada, rapidamente respondi.
— Esquisito.
Minha amiga revirou os olhos e disse algo para a Isa que eu não pude distinguir. Posteriormente as duas se aproximaram mais de nós para que pudéssemos ouvi-las melhor e disseram:
— Nós vamos comprar alguma coisa para bebermos, ok? - Avisou Isa. - Fiquem aqui guardando nosso lugar.
— Comporte-se – Falou Lia diretamente para mim.
— Espere! – Puxei-a. – Não me deixe aqui sozinha com ele. A gente nem se falou direito ainda, vai ficar aquela situação chata que cada um diz uma frase qualquer para tentar diminuir a tensão.
— É rapidinho, relaxa. Faz companhia a ele.
— E se eu precisar mijar?
Lia já se afastava e puxava gentilmente Isa para as barracas próximas a entrada, me deixando sozinha com primo bonito, que até aquele momento pareceu me ignorar.
— Então, Luan. – Comecei tentando parecer amigável. — Nathan. – Corrigiu. — Que? — Meu nome é Nathan. — Ah claro. – Não foi o que eu disse? – Nathan. Você é parente próximo da Isa? — Sim. Ok... bom... esclarecedor. — Hum entendi. E o que você faz? – Tentei novamente. — Bom, eu trabalho no setor administrativo. — Que legal, parece até importante. — Sorri simpática. — Não é nada demais. É uma coisa da minha família – Respondeu o homem enquanto olhava impacientemente ao redor, procurando o que eu imaginava ser sua prima. — Ah... sim. – Respondi meio espantada com a grosseria do moreno que parecera na porta tão gentil. Agora ele parecia entediado e sem um pingo de vontade de conversar comigo. Olhei ao redor também esperando que os dois retornassem para que eu pudesse dar um chute em Lia por me deixar sozinha com aquela espécie de Nate Archibald pirata. Ele não parecia estar animado. Talvez fosse o calor, não culparia se fosse. Ou talvez ele não tenha ido muito com minha cara.
Eu não via sentindo em contornar uma escada por medo de passar por debaixo dela, também não acreditava que teria sete anos de azar ao quebrar um espelho ou que algo ruim fosse me acontecer por ver um gato preto na rua. Inclusive amo gatos pretos e quando encontrei um, o adotei. O que eu acreditava era que se uma pessoa é considerada maluca por todos os moradores de um prédio, é porque algum motivo tem. Marquei uma consulta com o clínico no dia seguinte que a senhora Lee foi me visitar. Consegui agendar para uma semana depois disso. Já havia me consultado com esse doutor diversas vezes e me sentia mais aliviada por estar ali. Não ignorei as marcas depois que vi que elas tinham se multiplicado. Não achava que era apenas algo sem importância, embora também não achasse que eram marcas resultantes das unhas de um ser do mal. Um pouco mais de 30 minutos depois meu nome foi chamado pelo doutor. Levantei-me da cadeira depressa e caminhei até a pequena e aconchegante sala sentindo minhas m
— É o que? – Gritou Lia. — Eu sei que parece loucura, mas você tem que me escutar de coração aberto. — Como a senhora maluca do prédio sabe disso? — Eu não sei. Talvez ela não seja maluca, talvez nós que não conseguimos acompanhá-la. Lia continuou me observando em silêncio. O que será que ela estava pensando? Que eu sou maluca também? Não, ele não acharia isso. Talvez achasse que eu estou assustada o suficiente para encontrar sentido nisso tudo. Talvez fosse isso mesmo, eu não sei. No entanto, ao contrário do que eu esperava, ela sentou-se ao meu lado e disse: — Posso ver? Demorei uns segundos para entender sobre o que ela estava falando até me dar conta de que ela se referia as cicatrizes. Feliz por não a ter espantado, levantei minha blusa e mostrei as três marcas em meu peito. Elas não haviam piorado desde que mostrei ao médico e ainda não doíam, então imagino que era um bom sinal. Lia aproximou-se analisando com curiosidade. Pela sua expressão, ela estava levando a sério tu
Errado. Assim que chegamos ao local que Lucas pretendia, ele me aproximou da parede e colou seus lábios novamente nos meus. Coloquei minhas mãos em seu pescoço enquanto abria minha boca e deixava que sua língua viesse em encontro da minha. O cheiro do álcool não parecia ter muita importância agora. Suas mãos se moviam lentamente da minha cintura para meu quadril, ele me pressionava na parede e sua boca descia por meu queixo e posteriormente ao meu pescoço. Sua mão se entrelaçou nas minhas puxando-as para seu corpo em seguida descendo por sua barriga. Foi nesse momento que percebi que ele havia desabotoado seu jeans. — O que você está fazendo? – Perguntei enojada. — O que foi, linda? Vai dizer que você não quer também. — Que? Ai meu Deus! Bastante indignada e constrangida com a situação eu me afastei do homem e caminhei em direção ao bar. Embora já tivesse vindo algumas vezes e beijado homens aleatórios com bastante frequência, não gostava de ir tão rápido assim. Eu gostava de faze
Faltavam apenas uma semana para as férias da Isa acabar, logo ela já estava sofrendo antecipadamente pelos próximos meses de aula. Eu a entendo perfeitamente porque eu fazia a mesma coisa. A faculdade foi a pior fase da minha vida. Os alunos eram na maioria ricos, vindo de escolas caras, que sempre falavam palavras como execrável para mostrar quão inteligentes eram. Eu, por outro lado, cresci em um bairro simples, com pessoas simples e não consegui me adaptar muito bem. Na maior parte do tempo ficava sozinha. Devido ao fim das férias, Isa queria aproveitar os últimos dias intensamente, então ela teve a ideia de nos convidar para uma viagem na casa de praia de sua tia. Pelo que entendi, a casa tinha espaço suficiente para convidar a mim, Lia, seus amigos, Nicolas e Luíz, uma amiga dela, Anne, e obviamente o filho da dona, ou seja, seu primo mal educado. No momento que ela me disse que ele ia, um desânimo muito forte caiu em cima de mim. Eu não sei explicar o porquê, mas aquele garoto
— E aí, Belle, como conseguiu uma folga de uma semana? – Perguntou-me Nicolas. — Eu combinei com a minha chefe que tiraria uma semana das minhas férias. Acho que ela queria se livrar de mim um pouco, então concordou. Nathan puxou uma cadeira, logo após pegando uma garrafa de cerveja e sentou-se conosco. Todos os outros três estavam bebendo, mas eu não gosto muito de cerveja então fiquei ali apenas fazendo companhia. —Você não bebe? – Questionou-me o gostoso, digo, Nathan. — Não gosto. – Disse secamente. — Hmm. – Respondeu-me. Isso me lembrou nossa primeira conversa no evento, quando eu ainda estava tentando ser uma pessoa gentil. Mas ao contrário de mim, o homem não tentou novamente e aproximou-se de Lia para fazer parte da conversa. — A Isa disse que seu pai é muito rico. – Mencionou Lia levemente alterada. — A Isa sempre falando demais. - Ele tentou não transparecer, mas deu uma olhada rígida para a menina que se encolheu tímida ao lado de Lia. - Não é muito rico. É um pouco
Seus lábios estavam cada vez mais próximos aos meus, assim como suas mãos estavam no elástico da minha calça. Podia sentir cada vez mais sua respiração, apenas um pequeno fio de ar separava sua boca da minha. Isso ia acontecer. Eu ia beijar um cara que eu achava que nem gostava de mim e jogar fora todo drama que tinha feito na minha mente até então. Ninguém precisava saber... O barulho do celular me assustou fazendo-me levantar depressa. Minha mente estava confusa e rodando devido a velocidade com a qual sentei. Pisquei algumas vezes no intuito de colocar minha cabeça do lugar. O ambiente estava mais escuro agora. Olhei ao redor à procura de um alguém especifico, mas eu estava sozinha. Eu havia sonhado. O celular tocou novamente. — Alô. – Atendi ainda meio sonolenta. — Finalmente. O que você prefere comer? Pode ser pizza? – Perguntou Lia. — Pode ser qualquer coisa comestível. — Ok, pizza. Desliguei o telefone tentando pensar o que tinha acabado de acontecer. Me sentia patética
Todos já estavam dormindo, mas eu não conseguia devido ao fato de ter dormido mais cedo. Pretendia assistir alguns vídeos no Youtube ou saber da vida das pessoas do Twitter enquanto o sono não vinha. No entanto, minha cabeça estava doendo mais e eu não conseguia ficar olhando para a tela do celular. Por que diabos minha cabeça tem doido tanto? Eu devia ter falado isso com o médico também. Peguei um analgésico. O que restava era ficar ali deitada olhando para o teto enquanto ouvia Anne roncar e esperava o remédio fazer efeito. Estava demorando bem mais do que havia imaginado. Fiquei dessa forma por umas duas horas e a dor não passou. Eu devia estar muito estressada por conta dos desentendimentos com a Sabrina e com essa doideira de alma gêmea. Tinha muita coisa na minha cabeça e não podia julgá-la por não aguentar sem nenhum problema. De tantas pessoas do mundo, talvez até de fora dele, um homem louco decide jogar uma maldição em mim. Logo eu que não faço nada com ninguém. Por que n