- Como consegue ficar bem?
- Já me acostumei, Caliel tem me acompanhado a algum tempo, no começo eu ficava como você, mas agora já passou.
Ele sentou ao meu lado colocando a mão sobre minha perna, eu sabia o que aquilo queria significar.
- Então quer conversar sobre isso?
Olhei para ele sorrindo, sim eu queria, queria muito conversar.
- Desculpe se eu não lhe falei que traria o Caliel aqui hoje, eu achei que poderia ser bom você ter contato com algum de nós e não há ninguém melhor que ele pode apostar.
- O que quer dizer com isso, aliás o que ele quis dizer com classes de anjos e com trazer algum príncipe?
- Não é príncipe, e sim principados, não que não haja príncipes por lá, na verdade cada classe de anjo possui o seu, porém os principados não são muito bem vistos pelos outros, por serem mais duros.
- Como assim?
- Eles são uma espécie de guarda, fazem as coisas prevalecerem a maneira deles, são uma espécie de vingadores dos céus, são invocados quando as coisas saem dos limites.
- E isso acontece com frequência?
- Às vezes...
Eu o observei em silêncio aquele olhar dizia que ele já tinha visto eles agirem e parece que não era exatamente algo bom de se ver.
- E as outras classes? O que são?
- Bom, nós somos 9 no total... estamos divididos em três grupos de três cada, os três primeiros são os que ficam mais próximos a o divino.
- Você diz Deus?
- É, ou seja, lá o que ele é.
- Como assim?
- É complicado explicar, na verdade eu ainda não tenho a fé que os outros tem sobre ele, eu sei que é errado afinal agora sou um deles, mas é difícil aceitar que ele exista de fato, já que ninguém conhece seu rosto.
- Nem mesmo os da classe mais alta?
- Por respeito ao divino os Serafins protegem os olhos quando o encontram, eles não são dignos de olhar em seu rosto, então tudo o que sabemos é o que nos é contado.
- Estranho.
- Você não sabe da missa a metade.
- Fica pior?
- Bem pior... os anjos não são exatamente exemplos de amor aos humanos, como pode perceber Caliel não tem exatamente um carinho por vocês.
- Sempre achei que eles estivessem nisso para proteger os humanos.
- E estão, mas para eles é uma missão, nada além disso, não fazem isso por que amam os humanos, aliás, os anjos não amam.
- Como assim?
- Eles não possuem sentimentos Alicia, eles são neutros.
- Neutros?
- Os sentimentos atrapalhariam as missões, quando amamos alguém deixamos que esse sentimento nos torne um pouco tolos, nos tornamos vulneráveis, então eles foram criados sem eles.
- Então como eu...
- Você foi criada para os humanos, devia parecer uma humana para que passasse despercebida, era uma camuflagem.
- Então tudo está programado, não é? Não tem volta.
- Não. Eles têm um cronograma altamente cuidadoso onde tudo deve sair exatamente como está escrito, se algo sai fora dos planos... São enviados outros para resolver o problema.
- Resolver o problema?
- É... Nada pode interferir os planos divinos, é meio assustador.
- Bastante.
Ficamos um tempo em silêncio, aquilo tinha realmente me assustado, se tudo estava seguindo uma linha reta de planos já escritos o que estaria escrito então sobre mim? O que estava me aguardando, eles teriam uma segunda missão para mim, ou eles chamariam alguém para resolver o problema do anjo humano que tinham criado?
- E estas classes, quais são?
- Serafins, Querubins, Tronos, Dominações, Potestades ou Potências como preferir, Virtudes, Principados, Arcanjos e finalmente Anjos.
- E nós pertencemos a alguma delas?
- Na verdade sim, você pertence à classe das Virtudes e por esse motivo pode curar, realizar milagres... tem mais de você por lá...
- Sério? E eles são legais?
- Sim, as virtudes são bastante sociais Raphael é o príncipe deles e ele também é bem legal, aliás Veuliah lhe mandou um beijo e eu esqueci de entregar...
- Veuliah? Que nome estranho.
- Ela também não gosta dele, disse que você precisa ser forte, que já passou por uma situação parecida, falou que já foi enviada a terra, claro que em uma missão bem diferente da sua, ela também tem o dom de curar e prefere ser chamada de Liah...
- Liah é legal...
Funguei me sentindo um pouco para baixo. Caled me olhou puxando meu rosto para o lado dele fazendo eu pousar minha cabeça em seu colo.
- Não fique assim Alicia, vai dar tudo certo.
- Sim eu sei, mas tenho medo e se os planos que eles tiverem para mim não sejam bons?
- Eles serão...
- Mas e se não forem, eu fui criada para uma missão e agora ela chegou ao fim ninguém veio me buscar e se isso signifique que eles estejam pensando em se livrar de mim?
Caled fechou os olhos.
- Bom se isso for verdade, eles terão que passar por cima de mim primeiro, nenhum deles, entendeu? Nenhum deles vai tocar em um fio de cabelo seu, eu já quase te perdi uma vez e não vou permitir que isso aconteça de novo.
Levantei meu rosto olhando para ele.
- Promete?
- Claro que eu prometo.
Disse ele me dando um beijo leve nos lábios.
Preparei a janta de Helena com Caled sem desgrudar um minuto de mim. - O que eles pensam sobre a gente? Tipo, eles não têm sentimentos então não entendem o que sentimos, como podem aceitar? - Nem todos aceitam a verdade é que a maioria iria querer que isso acabasse, mas eles sabem que é impossível dissolver o que existe entre nós... - E eles não pretendem fazer nada, não é? - Acho que não, Caliel teria me contado se eles estivessem pensando em fazer algo. - Confia mesmo nesse tal de Caliel néh? - É sei lá estranho, ele tem sido um bom amigo, por mais que eu saiba que ele não me vê dessa forma, como um amigo, ainda assim eu o vejo. Ninguém queria me treinar, me ajudar, muitos viraram a cara para mim e foram contra a ideia de me salvar, mesmo eu tendo salvado você, ainda assim eles não me aceitaram e Caliel aceitou a missão e está calando a boca de todos. - Espero que com o tempo eu também possa ver nele um amigo.<
Quando voltei para casa já estava bem tarde, Helena dormira no sofá me esperando e eu tive que a colocar na cama, depois de deitá-la com cuidado fui até meu quarto, me olhei no espelho por alguns segundos até que finalmente percebi o que estava diferente, eu esquecera meu casaco na casa de Caled, droga teria que ligar para ele amanhã para que ele levasse até o abrigo para mim, era meu casaco preferido, como eu podia ter esquecido dele lá? O dia amanheceu radiante, com o sol batendo forte em minha janela, peguei minha mochila e desci as escadas correndo, estava atrasada... De novo... - Perdeu a hora querida? - Fiquei com Caled até tarde.... – Disse colocando meio pãozinho na boca e tomando três goles de café ao mesmo tempo. – Tenho que ir tia, nos vemos a tarde! Gritei quando sai batendo a porta, agora eu tinha que correr até a estrada e pegar o transporte, seria mais fácil de Helena me levasse ao colégio, mas ela tinha uma reunião impor
Caliel não pareceu levar a sério a minha colocação. - São apenas quatro garotas mortas, acha mesmo que existe algo demoníaco nisso? -Colocando dessa forma, parece idiotice eu sei, mas pense comigo Caliel, todas as meninas mortas tinham 16 anos, todas as meninas mortas tiveram seu sangue totalmente drenado, uma quinta vítima que foi apanhada, não, eles devolveram a menina de 15, morta também é claro, mas por que o corpo dela não foi levado assim como o das outras, por que o sangue dela não foi drenado? Pela primeira vez os olhos de Caliel encararam os meus como se ele de fato prestasse atenção em mim. -Existe algum outro motivo para você estar tão preocupada Alicia? Sim existia, não era apenas por causa de um serial Killer, tinha algo mais. -Bom... Na verdade, todas as garotas eram daqui de Toronto, mais especificamente da minha escola, eu tenho 16 anos... Sophia tem 16 anos, poderia ser uma de nós, e se eles estiverem procurando por al
Depois sai da sala, eu devia parar de me preocupar tanto com isso, mas infelizmente aquilo parecia estar me perseguindo. Quando deitei na cama naquela noite Caled passou o braço sobre mim e me puxou para perto. -Terra chamando Alicia, o que está acontecendo? -Estou preocupado que talvez Sophia possa ser a próxima, ela é inteligente, fez 16 anos... -Faz tempo que ela fez 16 anos, se não me falha a memória daqui dois meses ela vai fazer 17... então precisa se preocupar em mantê-la vida por dois meses e somos capazes de fazer isso. - Mas e as outras meninas? Quem vai protege-las? E por que estão sendo mortas? -Não sei, talvez seja mesmo um serial Killer, mas confesso que estou começando a acreditar na sua versão dos fatos. -Finalmente alguém que está começando a acreditar em mim... Disse me levantando da cama e caminhando até a janela para fechar as cortinas a luz da lua estava me incomodando. -Que lua estamos?
-Eu só não entendo, há princípio achei que estivessem a minha procura, que quisessem sei lá, me matar e sem saber quem eu era estavam matando uma garota após a outra até me encontrarem, era essa a minha ideia por isso estavam matando as garotas nascidas no mesmo ano que eu e do meu colégio, mas pelo que Asmodeus disse, não é isso, eles sabem quem eu sou, então por que mataram tantas outras meninas?-Talvez estejam criando demônios e precisem de corpos...-Não sei, por que escolheriam justamente meninas de 16 anos? Por que não optar por homens e de preferência fortes?-É sem dúvidas uma escolha bizarra.Daniel entrou logo em seguida no quarto.- Alicia, eu vim assim que soube, o que houve?Caled me olhou fazendo um sinal positivo.-Eles estão atrás de mim, estas mortes são por minha causa, eles me qu
A reação foi bem pior do que eu esperava, tia Helena desceu do carro aos prantos caindo no chão em seguida e chorando feito criança ao localizar apenas as cinzas do que um dia tinha sido seu lar, nem mesmo as escadas estavam no lugar, apenas uma mancha negra de fuligem, pedaços de madeira destroçados e alguns moveis totalmente destruídos e sem identificação, minha tia caminhou até as cinzas e caminhou pelo lugar, pegou um pouco de cinzas na mão e os deixou cair. -Ainda não acredito, como pude ser tão tola, tão distraída, como pude esquecer o gás aberto, como... Eu sabia que nenhuma daquelas acusações que ela estava fazendo era verdadeira, porém, era mais fácil se ela acreditasse nisso. Em meio as cinzas, meio negras, meio claras, logo escuras horas grossas horas finas, estava um pequeno detalhe dourado que minha tia localizou, segurando entre os dedos a pequena corrente de ouro ela se ergueu do chão. -Foi o primeiro presente do pai de Sophia, ele me d
O pai de Daniel não tinha muito contato com a família, depois que se casara de novo quando Daniel tinha 12 anos ele parou de fazer contato com o restante da família. -Quantos anos você está fazendo? -Quatro, estou fazendo quatro, minha mãe está contente e me abraçando muito, meus primos estão todos aqui. -Ok, Daniel, agora preciso que volte, volte um pouco mais... Daniel assentiu e logo seu rosto de tornou triste como se ele não gostasse do que estava vendo. -Onde você está? -Eu não sei, é muito escuro, eu não sei onde estou, mas é molhado, minha mãe está chorando, muito triste, estou triste por isso também. -Tente se lembrar por que sua mãe está triste. -Meu pai, ela brigou com meu pai, ele não gosta de mim, quer.... Quer... – Daniel estava em lágrima, mas. – Ele quer que eu morra. Toquei o ombro de Caled. -Acho que ele está no útero, ele se lembra das discussões da mãe dele com o pai quando ainda não t
- Alicia, o que está havendo? -Eu não sei, eu acho que.... Acho que estou nascendo, dói, é frio... -Onde você está? -Estou nos braços de uma mulher ruiva, ela me olha e sorri para mim. -Com quem essa mulher se parece? -Não se parece com ninguém que eu conheça. -E sua mãe, onde está sua mãe? -Morta, mamãe está morta, sinto fome, tem alguma coisa acontecendo, ouço um barulho forte. -Barulho? -Sim, estão tentando derrubar a porta. -Onde está a mulher que lhe segurava? -Fugindo, ela está fugindo, quer me proteger, ela está preocupada com minha segurança. De repente tudo voltou a ficar escuro, eu não conseguia identificar mais nada, a mulher corria em uma velocidade muito grande em meio a mata fechada, comecei a chorar. -Para onde estão indo? -Não sei, eu não sei. -Concentre-se Alicia, concentre-se! -Aí! -O que houve? -Ela caiu, e me deixou cair,