Quando voltei para casa já estava bem tarde, Helena dormira no sofá me esperando e eu tive que a colocar na cama, depois de deitá-la com cuidado fui até meu quarto, me olhei no espelho por alguns segundos até que finalmente percebi o que estava diferente, eu esquecera meu casaco na casa de Caled, droga teria que ligar para ele amanhã para que ele levasse até o abrigo para mim, era meu casaco preferido, como eu podia ter esquecido dele lá?
O dia amanheceu radiante, com o sol batendo forte em minha janela, peguei minha mochila e desci as escadas correndo, estava atrasada... De novo...
- Perdeu a hora querida?
- Fiquei com Caled até tarde.... – Disse colocando meio pãozinho na boca e tomando três goles de café ao mesmo tempo. – Tenho que ir tia, nos vemos a tarde!
Gritei quando sai batendo a porta, agora eu tinha que correr até a estrada e pegar o transporte, seria mais fácil de Helena me levasse ao colégio, mas ela tinha uma reunião importante hoje, ela ia se reunir com alguns chefes de estado para tentar conseguir recursos para o abrigo, ainda estávamos com bastante despesas por causa do incêndio.
Sophia me esperava impaciente em frente à escola.
- Ainda bem que chegou, pensei que não fosse vir, sua sorte é que não teremos a primeiro período.
- Não teremos? Mas e o trabalho de sociologia?
- A professora transferiu para amanhã, é que uma das meninas que morreu era filha dela.
- Qual? Daquelas da semana passada?
- Não! Aquelas duas de ontem à noite, não ficou sabendo?
- Não, não estou sabendo de nada, passei a noite toda com Caled.
- Não falam de outra coisa na tv, as duas tinham ido juntas para o cinema e quando saíram foram abordadas por três caras que as colocaram em uma vã preta, Stephanie de 15 foi estrangulada e o corpo dela deixado na rua, mas a outra menina a filha da professora, ainda não encontraram.
-Meu Deus!
-Pois é, não consigo nem mesmo me colocar no lugar da prof. Marie, ela deve estar inconsolável, a polícia acha que a mesma gang que matou aquelas três da semana passada e descarta a possibilidade de encontrar Julie viva.
-Você não acha estranho todas essas mortes?
-Como assim Alicia?
-Sei lá, um serial Killer que só pega meninas de 16 anos?
- Bom é disso que seriais Killer são feitos eu acho de uma preferência, isso me dá arrepios, eu tenho 16 anos.
Foi então que eu me lembrei que ela tinha razão Sophia tinha completado 16 anos a pouco tempo, aliás eu também, mesmo que ela não visse as coisas do meu ponto de vista era preciso conversar com Caled, ver o que ele pensava sobre o assunto.
Eu não via a hora de terminar a aula, sai quase correndo para o estacionamento Caled não estava me esperando como ele tinha dito que faria, foi quando eu vi Sophia acenando, ela tinha tirado a carta a pouco tempo e dirigia feito uma louca, mas é claro eu não poderia negar a carona dela, eu precisava muito falar com Caled então quanto mais rápido eu chegasse na reserva, melhor seria.
Ela nem mesmo precisou dizer para que eu colocasse o sinto eu já tinha feito isso muito antes dela pensar em me lembrar, não que eu não confiasse em Sophia, mas toda vez que eu a virar dirigir algo eu tinha a ligeira impressão que até mesmo as formigas desistiam de sair de casa.
Quando finalmente chegamos saltei o mais rápido possível de dentro do carro e tentei correr até o casarão, mas minhas pernas ainda estavam bambas, Helena abriu a porta antes que eu girasse a maçaneta.
- Não me diga que teve coragem de vir com ela, se eu soubesse teria ido busca-la.
-Quieta tia, ela vai te ouvir.
-Tudo bem, ah Caled chegou a pouco disse que esperaria você nos balanços no jardim junto de Wellyn.
-Que estranho ele falou que viria de tarde, que me esperaria chegar...
-Não sei querida, está ali faz algum tempo.
Bom Caled também tinha dito que me esperaria no colégio e não tinha ido, será que tinha acontecido alguma coisa? Será que eu estava atrasada e ele já tinha descoberto quem era o serial Killer?
Caminhei até o jardim o vi de longe sentado nos balanços, ele tinha o rosto calmo, porém triste, parecia distante.
-Oi... – Me arrisquei a dizer.
-Oi.
Me aproximei dele sentado no balanço ao lado.
-Aconteceu alguma coisa?
-Algo, umas coisas.
-Tipo?
-Caliel descobriu quem estava impedindo sua comunicação com os outros anjos.
-Como assim? Quem era?
-Wellyn.
-O que? Não pode, Caled ela é uma criança, humana, sem poder algum...
-Lembra ano passado quando algumas vezes ela te acordou com palavras sem sentido?
-Sim lembro, mas...
-Era um aviso, um aviso para que você tivesse cuidado com o Haziel, ela sabia que ele era igual a ela.
-Haziel era um caído, Wellyn é uma criança...
-Não Alicia, Wellyn também é uma caída, ela pertenceu a classe dos Querubins, motivo pelo qual tem a aparência de uma criança, ela jamais crescerá ou envelhecerá, por isso ela vai e vem de lugar em lugar, até que alguém perceba que tem algo errado, então ela parte sem deixar rastro.
Depois disso Caled me mostrou algumas fotografias, Wellyn aparecia em todas elas, porém as fotos eram de datas muito diferentes, ela tinha mantido a mesma aparência durante anos, décadas e até mesmo séculos.
-Seu nome verdadeiro é Yesalel, ela era o tipo de anjo que conciliava amizades e ajudava na compreensão das coisas, porém veio a terra com a missão de auxiliar uma família que tinha muitos conflitos, assim como você, ela veio no corpo de uma criança, seus pais não eram bons exemplos e coisas ruins aconteceram.
-Como assim?
-Yesalel mesmo estando na terra como humana tinha certos dons, dons esses que seus pais usavam para ganhar dinheiro, ela não teve a sua sorte, não ganhou amor ou compreensão mesmo que esse fosse seu maior dom.
-O que aconteceu com ela?
-Os pais espalharam um boato, que ela podia curar doentes, que tinha o dom da profecia, coisas que não eram verdades, Yesalel tinha sim muitos dons, mas nada como isso. – Ele fez uma pausa ainda de cabeça baixa. – Um dia eles estavam em uma feira, ela estava no centro os pais recolhiam dinheiro enquanto alguns crentes lhe tocavam para que encontrassem a cura para o seu mal.
- Mas ela não curava, curava?
-Não.
-Posso imaginar o que houve depois, acredito que tenham descoberto tudo.
-Sim, acharam que a menina assim como seus pais eram farsantes e então começaram a bater nela.
-E os pais dela?
-Fugiram com o dinheiro que tinham arrecadado e a deixaram para trás, ela gritou para eles, implorou que viessem ajuda-la, porém, a multidão que estava a sua volta não teve nenhuma piedade, assim como seus pais que se deixaram levar pela ganancia, pelo dinheiro e pelas joias, abandonando a filha a própria sorte.
-Eles a machucaram muito?
Caled soltou um sorriso falso.
-Eles a mataram, aos chutes e pontapés, bateram a cabeça dela com força no chão, por isso Wellyn sentia tantas dores pelo corpo, eram seus ossos fraturados.
-Espera, eu não entendo, ela era um anjo e eles apenas humanos como podem tê-la matado?
-Quando um anjo vem a terra com um corpo humano, ele é vulnerável, está entregue à própria sorte, por mais que seja forte não será tão forte quanto quando está nos céus.
-O que houve com sua alma de anjo?
-Quando um anjo morre na terra, ele também morre nos céus, como eu disse é tudo muito limitado, porém sua alma não consegue voltar e então fica vagando.
-E como podemos vê-la, toca-la senti-la?
-Essa é a parte estranha, eu e Caliel acreditamos que o ódio que ela sentia da família dela que a abandonou se materializou em seu antigo corpo, porém isso não era o suficiente para mantê-la então ela usava as pessoas como alimento.
-Alimento?
-Ela roubava suas forças, por isso sua tia ficava exausta quando cuidava dela, por isso você sentia sono quando cuidava dela, e por isso ela gostava tanto de estar próxima a você, como você é um anjo você é bem mais forte e ela podia roubar a sua energia com muita facilidade e isso a mantia bem por dias.
- Mas ela tentou me avisar sobre Haziel, ela me ajudou...
-Haziel também era da mesma classe dela, os Querubins possuem 4 faces, a do leão que representa sua coragem e domínio, a do Touro que representa sua força bruta, a águia com sua visão avançada e finalmente a do homem, normalmente representada pela figura de uma criança, Wellyn assumiu o perfil de criança para encantar com sua doçura, já Haziel era como um leão feroz.
- Sempre achei que Querubins eram anjinhos fofos e de fraldinhas.
- Essa é a versão “hollyudiana” que criaram deles, por causa da face de anjo, assim como criaram uma de Lúcifer que também era um Querubim.
- Lúcifer era um Querubim?
-Sim, espantoso não? Também não sabia disso, mas, sim ele foi um querubim que se rebelou contra as regras do altíssimo e arrastou com ele muitos anjos, ele assumiu as faces do Touro, acho que vem daí a ideia do “Belzebu” dos chifres e do rabo também.
Disse Caled começando a rir e a se soltar um pouco mais, o que me fez rir também já que aquela conversa vinha sendo bastante tensa.
-E o que aconteceu com Wellyn, onde ela está agora?
-Caliel invocou Azrael e ele a levou.
- Quem é Azrael?
Vi a tensão passar por seus olhos, Caled se ergueu em um rompante.
-Quando um anjo é mau ele é invocado por um superior.
-Vá direto ao assunto Caled.
Ele me olhou com seus olhos vagos novamente como se não estivesse me vendo.
-É o anjo da morte.
Não era necessário dizer mais nada, Wellyn enfim tinha partido, partido para outro lugar, sua alma finalmente descansaria, talvez isso fosse bom, talvez não fosse, mas, eu não tinha certeza se queria saber para onde ela tinha ido, e se tinha ido para algum lugar.
- O que vamos dizer a Helena?
- Caliel já cuidou disso, ela não se lembrará de Wellyn, suas coisas, brinquedos e pertences também foram retirados da cede, será como se ela nunca tivesse existido, até mesmo as fotografias dela desaparecerão com o tempo.
-Nossa, eles são bons no que fazem.
-Sim, eles são, e quando agem juntos são melhores ainda, sabia que tem um anjo para cada função? É até engraçado, tão organizado.
- Caliel ainda está na terra?
- Está, ele está lá em casa, por isso não precisa ir lá se não quiser.
-Não, na verdade gostaria de falar com ele.
-Sobre?
-São umas ideias que estão me atormentando.
Ele segurou minha mão me olhando como se tentasse passar algum tipo de apoio.
-E não quer dividir isso comigo?
-Também, mas quero ver o que Caliel tem a dizer.
-Certo.
Caliel não pareceu levar a sério a minha colocação. - São apenas quatro garotas mortas, acha mesmo que existe algo demoníaco nisso? -Colocando dessa forma, parece idiotice eu sei, mas pense comigo Caliel, todas as meninas mortas tinham 16 anos, todas as meninas mortas tiveram seu sangue totalmente drenado, uma quinta vítima que foi apanhada, não, eles devolveram a menina de 15, morta também é claro, mas por que o corpo dela não foi levado assim como o das outras, por que o sangue dela não foi drenado? Pela primeira vez os olhos de Caliel encararam os meus como se ele de fato prestasse atenção em mim. -Existe algum outro motivo para você estar tão preocupada Alicia? Sim existia, não era apenas por causa de um serial Killer, tinha algo mais. -Bom... Na verdade, todas as garotas eram daqui de Toronto, mais especificamente da minha escola, eu tenho 16 anos... Sophia tem 16 anos, poderia ser uma de nós, e se eles estiverem procurando por al
Depois sai da sala, eu devia parar de me preocupar tanto com isso, mas infelizmente aquilo parecia estar me perseguindo. Quando deitei na cama naquela noite Caled passou o braço sobre mim e me puxou para perto. -Terra chamando Alicia, o que está acontecendo? -Estou preocupado que talvez Sophia possa ser a próxima, ela é inteligente, fez 16 anos... -Faz tempo que ela fez 16 anos, se não me falha a memória daqui dois meses ela vai fazer 17... então precisa se preocupar em mantê-la vida por dois meses e somos capazes de fazer isso. - Mas e as outras meninas? Quem vai protege-las? E por que estão sendo mortas? -Não sei, talvez seja mesmo um serial Killer, mas confesso que estou começando a acreditar na sua versão dos fatos. -Finalmente alguém que está começando a acreditar em mim... Disse me levantando da cama e caminhando até a janela para fechar as cortinas a luz da lua estava me incomodando. -Que lua estamos?
-Eu só não entendo, há princípio achei que estivessem a minha procura, que quisessem sei lá, me matar e sem saber quem eu era estavam matando uma garota após a outra até me encontrarem, era essa a minha ideia por isso estavam matando as garotas nascidas no mesmo ano que eu e do meu colégio, mas pelo que Asmodeus disse, não é isso, eles sabem quem eu sou, então por que mataram tantas outras meninas?-Talvez estejam criando demônios e precisem de corpos...-Não sei, por que escolheriam justamente meninas de 16 anos? Por que não optar por homens e de preferência fortes?-É sem dúvidas uma escolha bizarra.Daniel entrou logo em seguida no quarto.- Alicia, eu vim assim que soube, o que houve?Caled me olhou fazendo um sinal positivo.-Eles estão atrás de mim, estas mortes são por minha causa, eles me qu
A reação foi bem pior do que eu esperava, tia Helena desceu do carro aos prantos caindo no chão em seguida e chorando feito criança ao localizar apenas as cinzas do que um dia tinha sido seu lar, nem mesmo as escadas estavam no lugar, apenas uma mancha negra de fuligem, pedaços de madeira destroçados e alguns moveis totalmente destruídos e sem identificação, minha tia caminhou até as cinzas e caminhou pelo lugar, pegou um pouco de cinzas na mão e os deixou cair. -Ainda não acredito, como pude ser tão tola, tão distraída, como pude esquecer o gás aberto, como... Eu sabia que nenhuma daquelas acusações que ela estava fazendo era verdadeira, porém, era mais fácil se ela acreditasse nisso. Em meio as cinzas, meio negras, meio claras, logo escuras horas grossas horas finas, estava um pequeno detalhe dourado que minha tia localizou, segurando entre os dedos a pequena corrente de ouro ela se ergueu do chão. -Foi o primeiro presente do pai de Sophia, ele me d
O pai de Daniel não tinha muito contato com a família, depois que se casara de novo quando Daniel tinha 12 anos ele parou de fazer contato com o restante da família. -Quantos anos você está fazendo? -Quatro, estou fazendo quatro, minha mãe está contente e me abraçando muito, meus primos estão todos aqui. -Ok, Daniel, agora preciso que volte, volte um pouco mais... Daniel assentiu e logo seu rosto de tornou triste como se ele não gostasse do que estava vendo. -Onde você está? -Eu não sei, é muito escuro, eu não sei onde estou, mas é molhado, minha mãe está chorando, muito triste, estou triste por isso também. -Tente se lembrar por que sua mãe está triste. -Meu pai, ela brigou com meu pai, ele não gosta de mim, quer.... Quer... – Daniel estava em lágrima, mas. – Ele quer que eu morra. Toquei o ombro de Caled. -Acho que ele está no útero, ele se lembra das discussões da mãe dele com o pai quando ainda não t
- Alicia, o que está havendo? -Eu não sei, eu acho que.... Acho que estou nascendo, dói, é frio... -Onde você está? -Estou nos braços de uma mulher ruiva, ela me olha e sorri para mim. -Com quem essa mulher se parece? -Não se parece com ninguém que eu conheça. -E sua mãe, onde está sua mãe? -Morta, mamãe está morta, sinto fome, tem alguma coisa acontecendo, ouço um barulho forte. -Barulho? -Sim, estão tentando derrubar a porta. -Onde está a mulher que lhe segurava? -Fugindo, ela está fugindo, quer me proteger, ela está preocupada com minha segurança. De repente tudo voltou a ficar escuro, eu não conseguia identificar mais nada, a mulher corria em uma velocidade muito grande em meio a mata fechada, comecei a chorar. -Para onde estão indo? -Não sei, eu não sei. -Concentre-se Alicia, concentre-se! -Aí! -O que houve? -Ela caiu, e me deixou cair,
Daniel soltou um grito e colocou a cabeça entre as pernas, sentindo a cabeça estourar, seus olhos eram vermelhos e sua pele suava, ele tentava controlar a respiração, mas naquele momento ele já não era mais ele. -O que está havendo com ele? Eiael se levantou e correu para longe colocando o braço sobre a boca como se tentasse se proteger de algo. -Não é mais ele, sintam o cheiro, é enxofre puro. -Enxofre? Caliel se ergueu e respirou fundo. -Isso era o que eu temia, temia que se despertassem as memórias dele, ele pudesse voltar, agora é tarde. – Parou em frente a Daniel e lhe estendeu a mão. – Seja bem-vindo Joseph, ao mundo dos vivos! Daniel ou Joseph ergueu a cabeça e olhou para Caliel. -Caliel, então nos encontramos de novo. Olhei para Caliel atônita. -Disse que não sabia de nada, que não fazia ideia do que tinha acontecido. -E eu não sabia Alicia! Joseph se ergueu. -Como pode nã
Caled me observou do outro lado da caverna e mais uma vez fez um sinal para que eu fosse até ele, mas abracei meus joelhos e ali fiquei. -Após a morte de Júlio, Fernanda se mudou com Asmodeus para as américas onde ele jurou protege-la, lá a corte francesa não poderia pegá-los era o que ele dizia a ela, durante toda a gravidez ele zelou pela saúde de sua mãe, fazendo a participar de diversos rituais que ele dizia serem para o bem estar do bebe, mal ela sabia que isso já estava corrompendo a sua alma, foi quando em intervi, me aproximei de Fernanda oferecendo ajuda a ela, no começo ela não acreditou em mim, , ,mas com o passar dos tempos as próprias atitudes de Asmodeus se tornaram um pouco brutas e a fizeram acreditar que tinha alguma coisa de errado, porém era tarde, ela estava prestes a dar à luz, nesse tia, um dia de noite chuvosa e fria, você viria ao mundo, pessoas de cidades vizinhas invadiram as terras onde sua mãe morava entre elas, haviam demônios, anjos, bruxos vind