Preparei a janta de Helena com Caled sem desgrudar um minuto de mim.
- O que eles pensam sobre a gente? Tipo, eles não têm sentimentos então não entendem o que sentimos, como podem aceitar?
- Nem todos aceitam a verdade é que a maioria iria querer que isso acabasse, mas eles sabem que é impossível dissolver o que existe entre nós...
- E eles não pretendem fazer nada, não é?
- Acho que não, Caliel teria me contado se eles estivessem pensando em fazer algo.
- Confia mesmo nesse tal de Caliel néh?
- É sei lá estranho, ele tem sido um bom amigo, por mais que eu saiba que ele não me vê dessa forma, como um amigo, ainda assim eu o vejo. Ninguém queria me treinar, me ajudar, muitos viraram a cara para mim e foram contra a ideia de me salvar, mesmo eu tendo salvado você, ainda assim eles não me aceitaram e Caliel aceitou a missão e está calando a boca de todos.
- Espero que com o tempo eu também possa ver nele um amigo.
- Tenho certeza de que verá, eu sei que não teve uma boa experiência com o último que conheceu, mas acredite Caliel é diferente, ele não é haziel.
- É eu sei...
Nessa hora ouvimos um barulho na porta, Helena tinha chegado.
- O cheiro está muito bom...
Disse ela invadindo a cozinha e me dando um beijo na testa, depois cumprimentou Caled.
- Caled, que bom vê-lo, então quando fará uma visita a Wellyn?
Olhei para minha tia.
- Ela também pediu a você que ele fosse?
- Sim, hoje pela manhã, me pediu para que não esquecesse de falar com ele.
Caled sorriu.
- Diga a ela que amanhã mesmo irei vê-la.
Depois ele me observou.
- O que foi algum problema Alicia?
- Não, nenhum, só não sabia que ela gostava tanto assim de você.
Me virei novamente para o fogão eu devia estar imaginando coisas mesmo, só podia ser isso.
Depois que minha tia terminou de jantar e se retirou Caled segurou minha mão brincando um pouco com os meus dedos.
-Que tal darmos uma volta?
- Onde quer ir?
- Faz tempo que você não vem a minha casa...
- É, é verdade faz algum tempo.
- Então?
Subi para pega um casaco enquanto ele me aguardava do lado de fora, avisei tia Helena que iria sair com ele para que ela não se preocupasse, afinal das últimas vezes que eu saíra com ele eu dificilmente voltava cedo.
- Então o que tem a dizer?
- Do que está falando?
- Eu percebi o seu olhar Alicia, não quer que eu vá ver Wellyn?
- Não, não é isso é que sei lá acho estranho ela ter se apegado tanto a você lhe viu só algumas vezes.
- Ela ainda tem falado sozinha e andado doente?
- Não, ela está bem melhor agora, faz tempo que não adoece e também não teve mais aqueles pesadelos estranhos, aliás desde que Haziel partiu isso vem acontecendo, acha que era dele que ela se referia?
- Talvez, ele estava aqui para lhe fazer mal ela queria alerta você, é mais do que justo que agora ela estava bem.
- Mesmo assim, ainda acho estranho esse apego todo.
- Não vai me dizer que está com ciúmes de uma criança.
Cruzei os braços e fiz bico, ciúmes eu? Ele devia ter ficado louco só pode.
- Eu Caled? Logo eu? Sabe que não tenho ciúmes...
Dei uns passos na frente deixando ele para trás.
- E aquela vez em Vancouver?
- Não foi ciúmes, foi.... Foi um mal-entendido, você é que não compreendeu.
- Aham... E por que está andando na minha frente sem olhar para mim agora?
Me virei o encarando.
- E por que você está tão insuportavelmente insuportável hoje?
Ele sorriu de um jeito que só eu poderia entender, e então segurou meu rosto com as mãos.
- Por que estava com saudade de ver você irritada comigo, não tem ideia como isso me faz falta.
- Me ver irritada?
- É, tenho saudade do tempo que você não gostava de mim, que ficava implicando, aliás tenho saudade de tudo...
- Sua nova vida não tem sido boa?
- Não é isso, eu gosto de saber que agora eu estou tendo uma segunda chance e que estou perdoado de tudo que fiz, por que tenho consciência de que fiz coisas horríveis, horríveis demais, coisas que nem mesmo um par de asas brancas poderá amenizar, mas sinto saudade do tempo em que eu podia ser livre, ir e vir sem dar explicações, sem me importar com as pessoas, sinto falta de ser o irritante insuportável que eu era...
- Acho que nem todos te viam dessa forma, as garotas do meu colégio não tinham esse tipo de pensamento sobre você.
- As garotas do seu colégio me viam como o bad boy com o qual toda menininha sonha, eu não sei por que as mulheres têm desses sonhos bestas de transformar as pessoas, pode me explicar por que toda mulher quer ver o bad boy como um mocinho nos fins das contas? A maioria delas quebra a cara com isso, já percebeu?
- Sim percebi, acho que é por que elas querem se sentir importantes para a pessoa que elas amam, elas querem se sentirem uteis de alguma forma, como se sei lá, tivessem feito parte da melhoria, saber que alguém mudou por você é sem dúvidas uma coisa muito fofa, exige sacrifício e nós mulheres gostamos disso, atitude, coragem sacrifício...
- Vocês querem é nos ver arrastando um bonde por vocês, isso sim...
- Não vou negar que sim, gostamos de ver que somos importantes para alguém, faz parte da nossa vaidade.
Mais uma vez ele sorriu.
- Foi estranho sabe, imaginar que eles não sintam o que a gente sente, sei lá não sei como podem se sentirem completos, não que eu ou você não sejamos dois seres completos, porém antes de você aparecer essa parte completa em mim era apenas metade...
Não consegui não sorrir, Caled era o tipo errado de romântico no ponto exato, ele sabia como me ganhar com duas palavras.
-Eu te amo.
Disse apenas selando minha frase com um beijo, como eu poderia um dia deixar de amá-lo?
Caminhamos até a casa dela, aquele lugar estava um tanto quanto abandonado, Caled não passava muito tempo em casa ultimamente e isso tinha deixado tudo meio mórbido.
- Vai ter que chamar alguém para limpar.
- Por que acha que eu trouxe você aqui?
Olhei para ele sem dizer uma palavra, acho que ele entendeu o recado pelos meus olhos que faiscaram na direção dos dele, por que disparou para longe no seguinte segundo.
- Brincadeirinha.... Já chamei alguém, a mulher vem amanhã.
- Sério?
- Sim. Aliás que horas quer que eu vá ao abrigo?
- Tenho aula amanhã só estarei lá pela tarde.
- Tudo bem, a tarde então.
Subimos até o quarto e deitamos na cama dele observando o céu, era incrível como aquilo podia acalmar, ver aqueles inúmeros pontos brancos que brilhavam tão distantes, trazia uma imensa paz.
Quando voltei para casa já estava bem tarde, Helena dormira no sofá me esperando e eu tive que a colocar na cama, depois de deitá-la com cuidado fui até meu quarto, me olhei no espelho por alguns segundos até que finalmente percebi o que estava diferente, eu esquecera meu casaco na casa de Caled, droga teria que ligar para ele amanhã para que ele levasse até o abrigo para mim, era meu casaco preferido, como eu podia ter esquecido dele lá? O dia amanheceu radiante, com o sol batendo forte em minha janela, peguei minha mochila e desci as escadas correndo, estava atrasada... De novo... - Perdeu a hora querida? - Fiquei com Caled até tarde.... – Disse colocando meio pãozinho na boca e tomando três goles de café ao mesmo tempo. – Tenho que ir tia, nos vemos a tarde! Gritei quando sai batendo a porta, agora eu tinha que correr até a estrada e pegar o transporte, seria mais fácil de Helena me levasse ao colégio, mas ela tinha uma reunião impor
Caliel não pareceu levar a sério a minha colocação. - São apenas quatro garotas mortas, acha mesmo que existe algo demoníaco nisso? -Colocando dessa forma, parece idiotice eu sei, mas pense comigo Caliel, todas as meninas mortas tinham 16 anos, todas as meninas mortas tiveram seu sangue totalmente drenado, uma quinta vítima que foi apanhada, não, eles devolveram a menina de 15, morta também é claro, mas por que o corpo dela não foi levado assim como o das outras, por que o sangue dela não foi drenado? Pela primeira vez os olhos de Caliel encararam os meus como se ele de fato prestasse atenção em mim. -Existe algum outro motivo para você estar tão preocupada Alicia? Sim existia, não era apenas por causa de um serial Killer, tinha algo mais. -Bom... Na verdade, todas as garotas eram daqui de Toronto, mais especificamente da minha escola, eu tenho 16 anos... Sophia tem 16 anos, poderia ser uma de nós, e se eles estiverem procurando por al
Depois sai da sala, eu devia parar de me preocupar tanto com isso, mas infelizmente aquilo parecia estar me perseguindo. Quando deitei na cama naquela noite Caled passou o braço sobre mim e me puxou para perto. -Terra chamando Alicia, o que está acontecendo? -Estou preocupado que talvez Sophia possa ser a próxima, ela é inteligente, fez 16 anos... -Faz tempo que ela fez 16 anos, se não me falha a memória daqui dois meses ela vai fazer 17... então precisa se preocupar em mantê-la vida por dois meses e somos capazes de fazer isso. - Mas e as outras meninas? Quem vai protege-las? E por que estão sendo mortas? -Não sei, talvez seja mesmo um serial Killer, mas confesso que estou começando a acreditar na sua versão dos fatos. -Finalmente alguém que está começando a acreditar em mim... Disse me levantando da cama e caminhando até a janela para fechar as cortinas a luz da lua estava me incomodando. -Que lua estamos?
-Eu só não entendo, há princípio achei que estivessem a minha procura, que quisessem sei lá, me matar e sem saber quem eu era estavam matando uma garota após a outra até me encontrarem, era essa a minha ideia por isso estavam matando as garotas nascidas no mesmo ano que eu e do meu colégio, mas pelo que Asmodeus disse, não é isso, eles sabem quem eu sou, então por que mataram tantas outras meninas?-Talvez estejam criando demônios e precisem de corpos...-Não sei, por que escolheriam justamente meninas de 16 anos? Por que não optar por homens e de preferência fortes?-É sem dúvidas uma escolha bizarra.Daniel entrou logo em seguida no quarto.- Alicia, eu vim assim que soube, o que houve?Caled me olhou fazendo um sinal positivo.-Eles estão atrás de mim, estas mortes são por minha causa, eles me qu
A reação foi bem pior do que eu esperava, tia Helena desceu do carro aos prantos caindo no chão em seguida e chorando feito criança ao localizar apenas as cinzas do que um dia tinha sido seu lar, nem mesmo as escadas estavam no lugar, apenas uma mancha negra de fuligem, pedaços de madeira destroçados e alguns moveis totalmente destruídos e sem identificação, minha tia caminhou até as cinzas e caminhou pelo lugar, pegou um pouco de cinzas na mão e os deixou cair. -Ainda não acredito, como pude ser tão tola, tão distraída, como pude esquecer o gás aberto, como... Eu sabia que nenhuma daquelas acusações que ela estava fazendo era verdadeira, porém, era mais fácil se ela acreditasse nisso. Em meio as cinzas, meio negras, meio claras, logo escuras horas grossas horas finas, estava um pequeno detalhe dourado que minha tia localizou, segurando entre os dedos a pequena corrente de ouro ela se ergueu do chão. -Foi o primeiro presente do pai de Sophia, ele me d
O pai de Daniel não tinha muito contato com a família, depois que se casara de novo quando Daniel tinha 12 anos ele parou de fazer contato com o restante da família. -Quantos anos você está fazendo? -Quatro, estou fazendo quatro, minha mãe está contente e me abraçando muito, meus primos estão todos aqui. -Ok, Daniel, agora preciso que volte, volte um pouco mais... Daniel assentiu e logo seu rosto de tornou triste como se ele não gostasse do que estava vendo. -Onde você está? -Eu não sei, é muito escuro, eu não sei onde estou, mas é molhado, minha mãe está chorando, muito triste, estou triste por isso também. -Tente se lembrar por que sua mãe está triste. -Meu pai, ela brigou com meu pai, ele não gosta de mim, quer.... Quer... – Daniel estava em lágrima, mas. – Ele quer que eu morra. Toquei o ombro de Caled. -Acho que ele está no útero, ele se lembra das discussões da mãe dele com o pai quando ainda não t
- Alicia, o que está havendo? -Eu não sei, eu acho que.... Acho que estou nascendo, dói, é frio... -Onde você está? -Estou nos braços de uma mulher ruiva, ela me olha e sorri para mim. -Com quem essa mulher se parece? -Não se parece com ninguém que eu conheça. -E sua mãe, onde está sua mãe? -Morta, mamãe está morta, sinto fome, tem alguma coisa acontecendo, ouço um barulho forte. -Barulho? -Sim, estão tentando derrubar a porta. -Onde está a mulher que lhe segurava? -Fugindo, ela está fugindo, quer me proteger, ela está preocupada com minha segurança. De repente tudo voltou a ficar escuro, eu não conseguia identificar mais nada, a mulher corria em uma velocidade muito grande em meio a mata fechada, comecei a chorar. -Para onde estão indo? -Não sei, eu não sei. -Concentre-se Alicia, concentre-se! -Aí! -O que houve? -Ela caiu, e me deixou cair,
Daniel soltou um grito e colocou a cabeça entre as pernas, sentindo a cabeça estourar, seus olhos eram vermelhos e sua pele suava, ele tentava controlar a respiração, mas naquele momento ele já não era mais ele. -O que está havendo com ele? Eiael se levantou e correu para longe colocando o braço sobre a boca como se tentasse se proteger de algo. -Não é mais ele, sintam o cheiro, é enxofre puro. -Enxofre? Caliel se ergueu e respirou fundo. -Isso era o que eu temia, temia que se despertassem as memórias dele, ele pudesse voltar, agora é tarde. – Parou em frente a Daniel e lhe estendeu a mão. – Seja bem-vindo Joseph, ao mundo dos vivos! Daniel ou Joseph ergueu a cabeça e olhou para Caliel. -Caliel, então nos encontramos de novo. Olhei para Caliel atônita. -Disse que não sabia de nada, que não fazia ideia do que tinha acontecido. -E eu não sabia Alicia! Joseph se ergueu. -Como pode nã