Eu estava ao lado de Caled, eu sabia que nada de ruim me aconteceria, eu sabia que ficaríamos juntos, porém quando ele insistiu por entrar pela porta da frente, minhas pernas bambearam e eu quis fugir do olhar severo que eu sabia que minha tia lançaria sobre mim, mas ainda assim entramos, e não foi diferente do que eu tinha imaginado, minha tia me olhou com raiva, mas logo o seu olhar se transformou e ela me abraçou com força.
-Oh menina o que tinha na cabeça quando saiu pela janela daquele jeito?
-Desculpe tia, precisava fazer algo.
Segurei com mais força a mão de Caled para ter certeza de que ele ainda estava ao meu lado e o olhar de minha tia também se voltou para ele.
-Sei, entendo bem isso.... Por onde andou Caled?
-Viajando, fiquei sabendo a pouco o que tinha acontecido, sinto muito não ter estado aqui para ajudar...
Como ele era modesto, tinha salvado a todos, mas é claro eu não podia dizer isso, somente Dan agora me olhava sabendo muito bem o que se passava ali.
- Certo, vamos almoçar então.
Sentamos a mesa e almoçamos em silêncio a paz tinha voltado a reinar e o ambiente estava calmo, percebi que Helena tinha ficado intima do médico que cuidava das crianças doentes, mas não fiz nenhum comentário tinha certeza de que ela me contaria tudo depois com direito aos detalhes mais sórdidos. Sai com Caled de mãos dadas e andamos até a ponte olhando o vapor que subia da cachoeira.
- Caled, você não vai mais partir?
- Há muito mais coisas a serem discutidas Alicia, a verdade é bem mais complexa do que você é capaz de imaginar, é muito complicado saber se eu vou ficar ou não, eu quero, quero muito ficar aqui, mas não é algo que eu posso escolher...
- Como assim?
- Alicia, talvez eu seja enviado a alguma missão e você precisa resolver a sua situação também...
- Minha situação? Que situação, eu estou bem.
- Sei disso, mas você foi enviada a terra com um propósito, me livrar da escuridão e me guiar e você conseguiu me salvou me livrou dos meus pecados com seu amor, cumpriu sua missão, precisa voltar para casa agora...
- Eu já estou em casa, Caled esse é o meu lar não posso deixar Helena, e não quero deixa-la...
Sei disso, Alicia, mas pense há algo incompleto na sua vida, não tem curiosidade para saber o que está reservado para você?
- E o que quer que eu diga a ela? Que eu sou um anjo e sei lá para onde eu estou indo agora, mas que eu preciso cumprir minha missão?
- Não precisa ser irônica. – Falou ele com desgosto. – Escute, precisa voltar para o seu lugar, tem pouco tempo para fazer isso, se não fizer ficará presa aqui e eu não sei se isso é bom ou não.
-Não posso, Caled, não quero partir, eu quero ficar, quero estar perto de você só de você...
- Alicia eu também não sei se vou ficar, não sei para onde eles vão me enviar em a que eu estou destinado, talvez eu simplesmente descanse ou talvez eu viaje para outra dimensão, mas a verdade é que eu não sei.
Abaixei a cabeça olhando para a ponte.
- O que foi Alicia?
-Não sei como voltar para casa.
- O que?
-Eu não sei como fazer para voltar para casa, não sei como faço para encontra-los, já tentei, enquanto dormia tentei mentaliza-los, mas há um bloqueio cada vez que chego perto é como se outras coisas me segurassem e não me deixassem partir, tenho medo Caled, medo do que não posso imaginar como será, tenho medo de partir.
- Alicia, não precisa ter medo de nada escute precisa seguir com a sua vida, escute vou continuar ao seu lado, não vou te abandonar, e mesmo que parta poderá voltar para ver Helena, claro talvez seja diferente, mas poderá vê-la.
- E o que acontece se eu não quiser voltar?
- Não sei o que acontece, mas acredito que sua alma vá ficar presa na terra até que seu corpo comece a definhar.
Definhar? Definhar era o mesmo que morrer aos poucos? Eu não queria morrer, mas também não estava mentindo não queria partir, tinha medo de partir, medo do sofrimento que causaria a Helena, ela iria sofrer sem mim, eu tinha que ficar com ela, tinha que ficar com Sophia e com os outros eu não queria uma nova missão, mas não queria morrer também, por que tudo tinha que ser tão complicado, seria tão mais fácil se eu fosse simplesmente normal...
Olhei para Caled que tinha o olhar fico nas árvores, então percebi a neblina negra que brotava meio as árvores e tomava conta da ponta, recuei um passo para trás e coloquei a mão sobre a boca, aquele queiro era pavoroso, parecia enxofre ou algo do gênero fazia com que meus olhos lacrimejassem e minhas narinas ardessem, foi então que dois olhos negros como a noite sem luar surgiram diante dos meus olhos entre as árvores e com eles um sorriso presunçoso e confiante, aquele rosto, eu já o tinha visto outras duas vezes e ainda me lembrava bem dele, a pele branca não parecia tão envelhecida quanto deveria parecer devido à idade, na verdade ele não parentava ter mais do que 40 anos, tinha um corpo jovem e bonito, aliás qual deles não era bonito? Eles pareciam ter sido criados com o intuito de atrair olhares, olhei para Caled que segurava minha mão com força, por alguns minutos acreditei que ele estivesse com medo e por que não? Quem não estaria, ele engoliu seco e eu pude ver quando sua mão se voltou da minha e ele deu um passo à frente se colocando diante de mim, sua boca se abriu sibilando uma palavra fria e dura demais para seu significado.
- Papai...
Asmodeus de aproximou de nós mais rápido do que eu pudesse ver seus pés a verdade é que ele se movia com tanta elegância que nem mesmo parecia que andava parecia que flutuava.
- Filhos queridos, quanta saudade, minha nora...
Ele se aproximou de mim como se quisesse me abraçar, mas Caled o impediu.
- Nos poupe de sua gentileza, o que deseja papai?
- Ora, por acaso isso é jeito de tratar um pai? Não acha que meu filho é muito mal-educado Alicia?
Olhei para Caled, mas não ousei abrir a boca, meu corpo inteiro tremia por um motivo desconhecido.
- Tudo bem... vamos deixar os cumprimentos de lado então, o que eu desejo, ora senti saudades... – ele se aproximou e estendeu os braços para Caled. – Dê-me pelo menos um abraço meu filho.
Caled me olhou e então deu mais um passo à frente abraçando o homem que esperava de braços abertos, a ação foi rápida demais, de repente percebi que ele segurava Caled pela nuca com força, os joelhos dele cederam e ele se curvou de dor, seus olhos tinham as pupilas dilatadas e ele gritava, tentei correr até ele porém uma barreira de vidro foi imposta entre mim e ele e eu não podia avançar, com uma mão ele me mantia presa enquanto com outra torturava Caled, cai de joelhos e comecei a gritar com todas minhas forças.
De repente percebi que ele perdia os sentidos, vi que Asmo falou algo em seu ouvido direito e logo o soltou o deixando cair no chão, eu fiquei livre no segundo seguinte e corri até ele, Asmodeus desapareceu diante dos meus olhos sob a nuvem negra na qual surgirá, sacudi Caled que ainda tinha os mesmos olhos fixos de pupilas dilatadas, era como se ele não estivesse me vendo, era como se ele não estivesse ali, apenas seu corpo, ele suava frio perdido em um mundo só dele...
- Caled, Caled responda...
Demorou um pouco para que finalmente ele voltasse a si e me olhasse, lentamente as pupilas antes dilatadas voltavam a sua forma normal, ele piscou algum, mas vezes e então uma lágrima rolou pelo seu rosto.
- O que aconteceu com você? O que aquele monstro fez a você...
- Ele me mostrou o que fez a ela...
- Ela?
- Minha mãe, ele me mostrou como a matou, como a destruiu, eu vi o sofrimento dela, vi quando ela implorou para que ele a deixasse viva, vi quando a perseguiu...
- Sinto muito Caled...
- Ele vai fazer o mesmo com todos que eu amar.
- Por que?
- Por que agora eu sou um de vocês, eu fui salvo, não estou mais do lado dele, então sou visto como um inimigo, mas ele sabe que se destruir a mim estará acabado, então ele prefere destruir as pessoas que eu amo, para assim me ver totalmente acabado.
- Deus, como ele pode ser seu pai...
- Ele nunca foi meu pai, ele apenas me trouxe ao mundo, mas nunca foi um pai.
Eu o abracei, então senti que ele afundou o rosto em meu ombro e como nunca o tinha visto antes ele chorou, Caled era mais frágil do que eu imaginava que ele pudesse ser, talvez eu tivesse subestimado a força dele, ele então não era indestrutível.
Os dias seguintes passaram lentos demais para o meu gosto, por que mais uma vez Caled estava distante, é claro que eu tinha muito serviço com as crianças, estava ajudando Helena com o abrigo e os assuntos da reserva que ficaram pendentes após a morte de Bill, eu não comentei, , ,mas Helena também herdou bastante coisa com a morte dele, e trabalho não faltava, Sophia também estava ajudando, ela tinha se enturmado com as crianças, ter ela do meu lado era uma benção pois fazia o dia passar mais rápido com a sua tagarelice as vezes eu até ria, Dan vinha ajudar as vezes, , ,mas não sempre, pois ultimamente ele estava um pouco distante, acho que toda essa história de anjos e demônios tinha sido demais para ele, ele tinha ficado assustado.Foi em uma manhã de Sexta-feira que a notícia chegou caindo como uma bomba em cima de mim.
- Como consegue ficar bem? - Já me acostumei, Caliel tem me acompanhado a algum tempo, no começo eu ficava como você, mas agora já passou. Ele sentou ao meu lado colocando a mão sobre minha perna, eu sabia o que aquilo queria significar. - Então quer conversar sobre isso? Olhei para ele sorrindo, sim eu queria, queria muito conversar. - Desculpe se eu não lhe falei que traria o Caliel aqui hoje, eu achei que poderia ser bom você ter contato com algum de nós e não há ninguém melhor que ele pode apostar. - O que quer dizer com isso, aliás o que ele quis dizer com classes de anjos e com trazer algum príncipe? - Não é príncipe, e sim principados, não que não haja príncipes por lá, na verdade cada classe de anjo possui o seu, porém os principados não são muito bem vistos pelos outros, por serem mais duros. - Como assim? - Eles são uma espécie de guarda, fazem as coisas prevalecerem a maneira deles, são uma espécie de
Preparei a janta de Helena com Caled sem desgrudar um minuto de mim. - O que eles pensam sobre a gente? Tipo, eles não têm sentimentos então não entendem o que sentimos, como podem aceitar? - Nem todos aceitam a verdade é que a maioria iria querer que isso acabasse, mas eles sabem que é impossível dissolver o que existe entre nós... - E eles não pretendem fazer nada, não é? - Acho que não, Caliel teria me contado se eles estivessem pensando em fazer algo. - Confia mesmo nesse tal de Caliel néh? - É sei lá estranho, ele tem sido um bom amigo, por mais que eu saiba que ele não me vê dessa forma, como um amigo, ainda assim eu o vejo. Ninguém queria me treinar, me ajudar, muitos viraram a cara para mim e foram contra a ideia de me salvar, mesmo eu tendo salvado você, ainda assim eles não me aceitaram e Caliel aceitou a missão e está calando a boca de todos. - Espero que com o tempo eu também possa ver nele um amigo.<
Quando voltei para casa já estava bem tarde, Helena dormira no sofá me esperando e eu tive que a colocar na cama, depois de deitá-la com cuidado fui até meu quarto, me olhei no espelho por alguns segundos até que finalmente percebi o que estava diferente, eu esquecera meu casaco na casa de Caled, droga teria que ligar para ele amanhã para que ele levasse até o abrigo para mim, era meu casaco preferido, como eu podia ter esquecido dele lá? O dia amanheceu radiante, com o sol batendo forte em minha janela, peguei minha mochila e desci as escadas correndo, estava atrasada... De novo... - Perdeu a hora querida? - Fiquei com Caled até tarde.... – Disse colocando meio pãozinho na boca e tomando três goles de café ao mesmo tempo. – Tenho que ir tia, nos vemos a tarde! Gritei quando sai batendo a porta, agora eu tinha que correr até a estrada e pegar o transporte, seria mais fácil de Helena me levasse ao colégio, mas ela tinha uma reunião impor
Caliel não pareceu levar a sério a minha colocação. - São apenas quatro garotas mortas, acha mesmo que existe algo demoníaco nisso? -Colocando dessa forma, parece idiotice eu sei, mas pense comigo Caliel, todas as meninas mortas tinham 16 anos, todas as meninas mortas tiveram seu sangue totalmente drenado, uma quinta vítima que foi apanhada, não, eles devolveram a menina de 15, morta também é claro, mas por que o corpo dela não foi levado assim como o das outras, por que o sangue dela não foi drenado? Pela primeira vez os olhos de Caliel encararam os meus como se ele de fato prestasse atenção em mim. -Existe algum outro motivo para você estar tão preocupada Alicia? Sim existia, não era apenas por causa de um serial Killer, tinha algo mais. -Bom... Na verdade, todas as garotas eram daqui de Toronto, mais especificamente da minha escola, eu tenho 16 anos... Sophia tem 16 anos, poderia ser uma de nós, e se eles estiverem procurando por al
Depois sai da sala, eu devia parar de me preocupar tanto com isso, mas infelizmente aquilo parecia estar me perseguindo. Quando deitei na cama naquela noite Caled passou o braço sobre mim e me puxou para perto. -Terra chamando Alicia, o que está acontecendo? -Estou preocupado que talvez Sophia possa ser a próxima, ela é inteligente, fez 16 anos... -Faz tempo que ela fez 16 anos, se não me falha a memória daqui dois meses ela vai fazer 17... então precisa se preocupar em mantê-la vida por dois meses e somos capazes de fazer isso. - Mas e as outras meninas? Quem vai protege-las? E por que estão sendo mortas? -Não sei, talvez seja mesmo um serial Killer, mas confesso que estou começando a acreditar na sua versão dos fatos. -Finalmente alguém que está começando a acreditar em mim... Disse me levantando da cama e caminhando até a janela para fechar as cortinas a luz da lua estava me incomodando. -Que lua estamos?
-Eu só não entendo, há princípio achei que estivessem a minha procura, que quisessem sei lá, me matar e sem saber quem eu era estavam matando uma garota após a outra até me encontrarem, era essa a minha ideia por isso estavam matando as garotas nascidas no mesmo ano que eu e do meu colégio, mas pelo que Asmodeus disse, não é isso, eles sabem quem eu sou, então por que mataram tantas outras meninas?-Talvez estejam criando demônios e precisem de corpos...-Não sei, por que escolheriam justamente meninas de 16 anos? Por que não optar por homens e de preferência fortes?-É sem dúvidas uma escolha bizarra.Daniel entrou logo em seguida no quarto.- Alicia, eu vim assim que soube, o que houve?Caled me olhou fazendo um sinal positivo.-Eles estão atrás de mim, estas mortes são por minha causa, eles me qu
A reação foi bem pior do que eu esperava, tia Helena desceu do carro aos prantos caindo no chão em seguida e chorando feito criança ao localizar apenas as cinzas do que um dia tinha sido seu lar, nem mesmo as escadas estavam no lugar, apenas uma mancha negra de fuligem, pedaços de madeira destroçados e alguns moveis totalmente destruídos e sem identificação, minha tia caminhou até as cinzas e caminhou pelo lugar, pegou um pouco de cinzas na mão e os deixou cair. -Ainda não acredito, como pude ser tão tola, tão distraída, como pude esquecer o gás aberto, como... Eu sabia que nenhuma daquelas acusações que ela estava fazendo era verdadeira, porém, era mais fácil se ela acreditasse nisso. Em meio as cinzas, meio negras, meio claras, logo escuras horas grossas horas finas, estava um pequeno detalhe dourado que minha tia localizou, segurando entre os dedos a pequena corrente de ouro ela se ergueu do chão. -Foi o primeiro presente do pai de Sophia, ele me d