Capítulo 3

Dias depois...

Existe uma linha tênue na vida, um ponto onde tudo muda, sua história se transforma, e cruzar essa linha nunca é fácil; geralmente implica em rupturas, e era o momento que eu estava vivendo.

Por que digo isso? É fácil responder... Eu havia acabado de virar as costas para minha vida para seguir minha intuição, uma sensação que não me abandonava desde que encontrei aquele cartaz. Eu não tinha muito a perder, talvez fosse esse o motivo pelo qual estava no meu Mustang 69 cruzando as estradas do Arizona, deixando para trás minha vida em Albuquerque.

Há alguns meses, jamais imaginaria que faria algo assim, pois nada acontecia para mim, mas se aquele cartaz atravessou meu caminho, evitando um acidente, o mínimo que podia fazer era descobrir o que aquele lugar tinha reservado para mim.

O mais estranho em toda essa história é que descobri que o mapa atrás do cartaz só era visível aos meus olhos. Ninguém mais o via, e acredite, tentei mostrar e pesquisar a respeito, porém as reações eram sempre as mesmas; a incredulidade.

Confesso que cheguei a pensar que talvez fossem apenas delírios da minha mente após um fato traumático. Mas nem mesmo semanas de terapia foram capazes de tirar a ideia de que algo me chamava, muito menos de desacreditar no que meus olhos viam.

Parei de falar a respeito e tentei ignorar, mas algo parecia me chamar. Minha terapeuta provavelmente teria me trazido clareza sobre por que tudo isso seria loucura, embora ela nunca usasse esses termos. Psicólogos são ótimos, desde que você esteja disposto a se permitir ser ajudado, mas não podia ignorar o fato de que não era o meu caso. Eu tinha certeza do que via, e se estivesse errada, só pagando para ver.

A estrada era longa, com paisagens magníficas que apenas a Rota 66 pode proporcionar, um deserto que, à medida que o sol ameaçava se pôr, me deixava à beira de um breu perturbador.

Detesto filmes de terror, pois alimentam minha imaginação.

O sol se pôs completamente, e apenas meus faróis iluminavam o caminho. Desviei a atenção para o céu estrelado; quando se vive na cidade, não se tem muitas oportunidades de contemplar uma visão como aquela.

Reduzi gradualmente a velocidade, parando no acostamento, e peguei o mapa nas mãos, juntamente com minha lanterna no porta-luvas. Não havia mais nada a seguir; de acordo com o mapa, deveria haver uma entrada em algum lugar àquela altura, mas, em vez disso, havia apenas o deserto à minha frente e atrás de mim.

— Merda! — praguejei, batendo minhas mãos no volante e pressionando a buzina acidentalmente ao deitar minha cabeça sobre meus braços. — Que maravilha, dirigi horas para descobrir que é um delírio.

Levantei a cabeça chateada, sem muito o que fazer além de ir para casa ou tentar a vida em Los Angeles. Meu olhar se dividia entre a estrada à frente e o meu retrovisor, ainda inconformada.

— Apenas um delírio...

O silêncio dominou quando, pela terceira vez ao olhar pelo retrovisor, notei uma árvore que não estava lá minutos antes. Suas folhas eram de tamanho médio, bem verdes, com flores amarelas, indo de encontro a qualquer probabilidade de existir em um deserto.

Era intrigante, parecendo a verdadeira história de “Alice no país das Maravilhas,” onde ela era uma garotinha louca, e eu, naquele momento, estava prestes a adotar o papel da protagonista e buscar meu coelho branco.

Segurei a maçaneta do veículo e a abri lentamente, os sons semelhantes a uivos de coiotes me fizeram questionar a decisão de sair completamente, mas não recuei. Segui em passos lentos, enquanto o vento forte batia contra meu corpo, aparentando ser frágil e magro.

Eu sou uma mulher de cabelos castanhos, com vinte e cinco anos, mas na minha perspectiva, meu corpo aparentava ter dezesseis anos. Minha aparência, em particular, me incomodava, pois meus seios eram pequenos demais e eu tinha a sensação de que não eram simétricos. Minha avó dizia que isso era coisa da minha cabeça, mas ainda assim, minhas inseguranças predominavam.

Dei alguns passos em direção à árvore; ela era bem maior do que eu imaginava, dando a impressão de que estava crescendo cada vez mais... Talvez fosse apenas uma ilusão de ótica? Ainda assim, fascinante. A árvore tinha aproximadamente uns 30 metros de altura, com um tronco forte, grande e largo.

— Como eu não vi algo assim? — murmurei avançando alguns passos. — E como você pode estar aqui no meio do nada?

Minhas mãos suaram, tive a impressão de estarem frias, minhas pernas pararam no instante em que passei pela árvore, por ali me deparei com uma estrada estreita, pequena e repleta de outras árvores mais variadas, tentei ser a mais racional possível e buscar justificativas para ter passado por algo desse porte sem ter ao menos visto realmente, era isso, ou admitir que estar batendo nas portas da insanidade.

Avancei uns passos na estrada de terra estreita, as árvores gigantescas e amontoadas diminuíam a luminosidade que o luar proporcionava, vaguei pelo caminho onde conseguia ouvir sons de grilos, corujas e outros animais noturnos enquanto os coiotes do deserto já não se ouviam mais. Era como se eu estivesse num espaço coberto por uma barreira entre mundos, estes sendo completamente diferentes a sua maneira.

Com a lanterna em minhas mãos gélidas, mantive-me a caminhar iluminando o caminho escuro a cada passo que eu dava, havia até neblina em alguns trechos.

O vento assobiava entre as árvores, criando uma atmosfera mais aterrorizante. Um ruído vindo das árvores fez com que algumas corujas sobrevoassem minha cabeça. Surpresa pelo barulho, virei-me para os lados e, em seguida, na direção de onde as corujas saíram, tentando descobrir o que as afugentou.

Aproximei-me lentamente com passos de tartaruga, enquanto o vento forte sacudia as folhas, até mesmo meu cabelo, e envolvia minha pele em ondas de arrepios.

Olhei rapidamente para o céu e notei as nuvens escuras que começavam a encobrir uma enorme lua cheia. Tive a sensação de ver um vulto de olhos vermelhos na escuridão, o que me fez estremecer ainda mais, meu coração pareceu querer saltar pela boca completamente desordenado.

E meu corpo paralisou momentaneamente pelo total estado de pânico devido ao medo.

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