— Mas que droga! O que passou pela minha cabeça? — Amaldiçoei naquele momento a infeliz ideia de ter procurado esse lugar.
Afinal, o que me levou a buscar trabalho em um local desconhecido, guiada por um mapa que apenas eu consegui visualizar? Hoje, vendo as coisas com clareza, compreendo aqueles que duvidavam da minha sanidade. Todavia, quando se vive em um mundo natural, é impossível acreditar no extraordinário. Mas naquele momento, mesmo amedrontada, reuni a pouca coragem que me restava para tentar fazer algo, mas o quê? Eu podia correr, mas qualquer coisa poderia me alcançar ao virar as costas.Na verdade, dar as costas ao perigo nunca parece ser uma boa opção. Eu havia aprendido isso com meu pai na infância, enquanto acampávamos no verão. — Nunca dê as costas, nunca dê as costas. — murmurei repetidamente para mim mesma, enquanto recuava vagarosamente. A saudade e a tristeza da lembrança do meu pai já falecido me fizeram esquecer por breves segundos onde eu estava e o suposto perigo ao meu redor, de repente ouvi passos atrás de mim, isso me colocou em estado de alerta instantâneo, saindo completamente do mar de lembranças e trazendo de volta aquele medo reconhecível. Senti algo como uma mão grande tocando meu ombro e instintivamente dei um pulo acompanhado de um grito que ecoou pelo lugar. Me atrapalhei, pisando em falso, e meu pé deslizou, fazendo-me escorregar e derrubar minha lanterna. No entanto, as mãos ágeis do estranho deslizaram sobre meu corpo, percorrendo levemente minhas costas, num toque sutil porém impossível de passar despercebido. Enquanto sua outra mão encontrou minha cintura, impedindo minha queda. Eu estava amparada em seus braços e pude sentir um agradável perfume almiscarado invadir minhas narinas. Seus braços fortes me pressionaram contra um peitoral perfeitamente esculpido, e um calor percorreu meu corpo. Minhas bochechas estavam vermelhas, e para minha felicidade, meu salvador não notaria essa minha reação. Me senti estranhamente acolhida, sem nem ao menos entender o motivo para tal. Sua respiração quente tocou meu pescoço me causando um agradável arrepio, eu virei meu rosto causando o encontro entre nossas faces, sei disso pois pude sentir o aroma fresco dos seus lábios batendo próximo aos meus, e nisso, meu coração bateu tão forte que tenho certeza que ele era capaz de ouvi-lo, quase pude sentir o sabor dos lábios desse estranho misterioso, e por mais maluco que isso fosse o desejei com tanta intensidade naquele momento... Eu poderia dizer algo, mas naquele instante a minha capacidade de raciocinar havia me abandonado. O que predominou foi o desejo ardente de sentir o sabor da boca daquele que estava tão próximo de mim, me dando uma prévia do gosto dos seus lábios e me fazendo ansiar pelo seu beijo. Aquele provavelmente devia ser um dos momentos mais sexy que pude viver, que droga, isso só prova a quão patética foi a minha vida amorosa nos anos anteriores a esse encontro. — Você está bem? — A voz grossa e rouca do estranho misterioso me trazia alívio pela leveza do seu tom. Porém, ao mesmo tempo, fez meu estômago gelar. Eu estava completamente fascinada, a ponto de sentir que perdi o último pingo de juízo que possuía. Ele me levantou devagar e me soltou. Não vou negar que isso me encheu de frustração, pois desejava permanecer em seus braços fortes. Nesse momento, dei até graças por a lanterna ter caído, pois isso o impediu de perceber o efeito que ele causou em mim, que deveria estar estampado no meu rosto. Foi um alívio, pois ninguém deseja demonstrar a um estranho o quanto o deseja, e afirmo que nem mesmo eu, apesar das minhas atitudes naquele momento não serem muito coerentes. Já tinha ouvido falar que algumas pessoas sentem excitação com situações perigosas; no entanto, eu me recusava a acreditar que eu era um caso igual a delas. Ele se abaixou para pegar a lanterna que iluminou suas feições revelando plenamente o seu belo rosto, seus cabelos loiros caiam sobre a testa, seus olhos eram azuis escuro como o mar em dias de tempestade. E agora seus observavam atentamente os meus. Estava enfeitiçada pela beleza exuberante desse homem, que sem nenhuma explicação plausível me despertou as mais intensas sensações. Ele provavelmente era um dos homens mais bonitos que já olharam para mim ou que já me tocaram. Afinal, nunca fui do tipo que chamava a atenção de homens fortes e extremamente bonitos como ele. Minha avó costuma dizer que eu atraio, mas nunca percebi realmente por ser distraída. E também as avós sempre tendem a ter uma perspectiva melhor sobre os netos, principalmente aquelas que foram como mães. Ele se levantou passando as mãos no seu cabelo que caia em sua testa e me deu um sorriso largo, seus lábios carnudos e belos aumentaram minha frustração do afastamento anterior. Sei que é estranho, mas desejava um beijo desse desconhecido misterioso. Loucura? Possivelmente. — É... Eu... Estou... Obrigada. Só... — Interrompi o que dizia e virei rapidamente o rosto para olhar em direção às árvores. Até havia me esquecido do vulto. Hesitei em contar a ele, pois o que eu diria também não faria sentido algum, e o que estava lá provavelmente teria desaparecido. Além disso, não queria passar a impressão de uma lunática, e ultimamente era isso que todos pensavam a meu respeito, desde que encontrei aquele cartaz com o mapa. Meus amigos, minha terapeuta, vizinhos, enfim, todos ao meu redor sempre me olhavam como se eu fosse uma maluca quando tocava no assunto. E eu não precisava de um estranho com o mesmo pensamento, afinal, poderia ser apenas a minha imaginação pregando-me uma peça. — Algum problema? — perguntou ele direcionando a luz da lanterna na direção em que eu olhava. Não havia muito que dizer para provar o contrário, aquele ambiente continuava deserto e com apenas as árvores e a grama comum, não havia nem mesmo sinal de nenhum ser vivo. Nós dois olhamos em volta sem dizer nada um para o outro. Por fim, abaixei a cabeça de forma constrangida, observando-me e sentindo o rubor das minhas bochechas. — E então, o que faz a essa hora sozinha no meio do nada? — ele perguntou. — Estou procurando um lugar... Se chama Acácias, conhece? Isso era tudo o que podia dizer a ele, tudo o que o cartaz descrevia era vago, com apenas o bendito mapa atrás. Não sabia se era uma cidade, bairro ou sei lá o quê! Ele se mostrou confuso com minha pergunta e me olhou com desconfiança, era como se ele percebesse algo em minhas atitudes, buscando explicações no olhar que se manteve em mim sem nem ao menos dizer nada e esse comportamento me desconcertou ainda mais. — Escute, se for à árvore em si, você já está nela. — disse ele guiando a luz para a árvore enorme de flores amarelas. — Agora, se não for esse o caso, ao fim dessa estrada você poderá encontrar a região de Acácias com facilidade. Ele, por sua vez, iluminou a estrada por alguns segundos. Não era possível ver o fim da mesma, e parecia se estreitar mais ao fundo. Sua atenção voltou-se novamente para mim, abandonando aquela aura de desconfiança e substituindo-a por um sorriso largo e acolhedor, enquanto estendia sua mão. — Perdão, creio que não me apresentei corretamente. Me chamo Henry Wessex, ou melhor, Detetive Henry Wessex."Henry Wessex, até seu nome é atraente." — foi o que eu pensei quando ele estendeu a mão, e imagino que devam concordar comigo.Segurei a sua mão, e ele deu um aperto para me cumprimentar. Senti uma corrente de energia se estender junto ao meu corpo com o seu toque firme. Seus pares de olhos azuis escuros se fixaram nos meus, e somente a luz da lanterna iluminava nossos rostos.“Eu estou sonhando, não estou? Se for um delírio, por favor, não me internem, e também nem quero que me curem!” — pensei comigo mesma.Estava parecendo uma adolescente boba completamente a mercê da sedução, o simples aperto durou alguns segundos, mas a sensação que eu tinha era de ter parado no tempo com aquilo.— Eu... Prazer, Kaya Hilles! Mas... o que você faz aqui a essa hora? Acredito que tenho direito de fazer a mesma pergunta, não?Agora era minha vez de lançar um olhar de desconfiança na direção dele, guardando um pouco da minha fascinação por aqueles olhos azuis... Mesmo sendo atraente, ele ainda poderi
Desci do carro e segui até a janela de Henry, batendo no vidro do seu Impala 69 preto, era quase um sacrilégio tocar naquela belezinha, meu pai era um amante de carros antigos, logo aprendi a admirar mesmo não entendendo muito, coincidentemente, meu carro e o de Henry eram do mesmo ano.Henry abaixou o vidro e apoiei meus braços na janela sorrindo para ele, que escorou seus braços sobre o volante e me deu um sorriso fino.—Pois bem, Henry... Acho que devo a você um obrigado, foi muito gentil me acompanhar até a... —Virei olhando o nome da placa da pousada.— Essa ainda é uma das melhores pousadas da cidade, apesar dos pesares. Em quesito de conforto nenhuma supera suas acomodações, alguns dizem até que os colchões daqui são mágicos.— Uau! De detetive para um marketeiro de primeira! Eu estou impressionada. — brinquei.O sorriso dele ficou enorme com minha a resposta era como se os anjos aprovassem aquele sorriso, era muito fácil se sentir a vontade ao lado dele.Ele se inclinou em sen
O silêncio reinava naquela rua de tijolos. Alguns candeeiros piscavam suas luzes, enquanto outros nem mesmo se acendiam. Era só eu e o vento frio, acompanhados da minha indignação em relação ao comportamento de Henry. Minha mente girava tentando encontrar uma justificativa para a atitude dele, mas sem sucesso. Respirei fundo e retornei ao meu carro, pegando minha bolsa de viagem de camurça, uma relíquia antiga da minha mãe. Guardar itens da minha família era o que me fazia sentir mais conectada a eles. Havia poucas coisas, pois, ao contrário de mim, minha avó acreditava que manter objetos dos falecidos os reteria neste mundo. — Minha avó! — suspirei, com a saudade apertando meu peito enquanto seguia em direção à porta. Empurrei a pequena porta branca, que se abriu sob o lamento das dobradiças. Franzi o cenho ao ver minhas expectativas em relação ao local se desmoronando em fragmentos. Era frustrante. A beleza exterior
O corredor dos quartos era repleto de quadros e tapetes vermelhos. Não havia nenhuma réplica de obras famosas; eram apenas quadros com figuras estranhas. Entrei no quarto número quinze, deixei minha bolsa no chão e corri até a cama, jogando-me de costas. Meu corpo afundou e voltou sobre o edredom florido, cobrindo o colchão mais macio que já sentira na vida. Era como estar em uma nuvem. Sorri, observando atentamente os detalhes do quarto. Novamente, uma mudança abrupta na decoração, com tonalidades claras predominantes.Suspirei, com o perfume das flores da sacada impregnando o ambiente. Nesse ponto, Henry estava coberto de razão; o lugar era mágico. Virei de lado e abracei o travesseiro, meus olhos se renderam ao sono profundo…Ao me mexer na cama e abrir os olhos, sentei-me enquanto esfregava os olhos. Pisquei algumas vezes e percebi que tudo ao meu redor estava diferente.— Que brincadeira é essa? Não é neste quarto que eu estava. F
— Serviço de quarto! — uma voz feminina anunciou após dar batidinhas na porta, tirando-me dos meus pensamentos.Levantei com pressa, passando as mãos pelos cabelos e pelos olhos para afastar as ramelas. Odiava ser vista com cara de sono, mas suponho que ninguém goste. Era, sem dúvida, a parte do meu dia em que minha autoestima me abandonava; tinha a impressão constante de que meu rosto inchava mais do que o normal e meus olhos castanhos desapareciam. Enfim, bobagem, algo que muitas mulheres entendem.Girei a maçaneta e abri a porta, forçando um sorriso no rosto, mesmo não sendo muito sociável pelas manhãs. Uma mulher ruiva de olhos verdes e sardas ao redor do nariz me cumprimentou com um sorriso contagiante. Seu entusiasmo era o oposto por completo do meu, e ela conseguiu me deixar sem graça.— Bom dia, eu trouxe seu café. — disse ela, com seu sorriso ainda mais evidente, vestindo um macacão jeans e uma blusinha florida.— Ah, muito obrigada, mas acho que você se eng
As ruas de Acies resplandeciam luz, com o dia ensolarado, algo comum para uma típica tarde de verão. Todas as ruas eram semelhantes e, ao mesmo tempo, me traziam uma sensação de familiaridade, sempre estreitas e pouco habitadas.Caminhei por algum tempo sem um destino certo, afinal não conhecia o lugar e apenas estava vagando sem rumo, justamente com o propósito de me ambientar.Após algumas horas, o sol escaldante insistia em queimar minha nuca enquanto caminhava, e eu não tinha pego um guarda-sol. Nunca costumava usar para me proteger do sol, achava um objeto inútil e odiava carregá-lo, mas naquele momento estava me arrependendo de pensar assim.Parei na calçada, incomodada com o calor e precisando de um pouco de sombra. Busquei com o olhar por alguma árvore ou lugar com sombra onde pudesse descansar. Mas tudo o que avistei foi um caminho estreito entre dois sobrados grandes. Olhei para os dois lados e atravessei rapidamente, buscando abrigo na sombra fresca. Minhas pernas tremiam e
— Que droga! — murmurei, sentindo-me atônita com o salto dele do terceiro andar.Entreolhamo-nos em silêncio, como se estivéssemos em um impasse no meio do beco escuro.Com a respiração acelerada e os sentidos em alerta máximo, reuni coragem para romper o silêncio que se instalara entre nós.Ele era um rapaz alto, de olhos azuis acinzentados e cabelos castanhos, exalando um ar de mistério e sedução. Seu estilo descolado e ao mesmo tempo misterioso me intrigava, e em outra situação, eu poderia ter me sentido completamente atraída por ele.Porém, ali o medo prevaleceu, pois estava diante de algo inacreditável. Ele era exatamente isso; seu pulo não era algo normal. Claro que, naquele momento, não analisei com essa frieza.— Já vai assim? Onde estão seus modos, princesa? Nem vai cumprimentar. Além do mais, se não está com medo, não precisa sair correndo. Sua voz, carregada de sarcasmo, ecoou no beco sombrio, criando uma atmosfera ainda mais enigmática.Engol
— Se afaste dela agora, Drake! — Henry gritou alterado, deixando claro seu nervosismo.Drake e eu nos viramos ao mesmo tempo em direção a Henry, soltando nossas mãos. Henry olhou para nós dois e aparentava estar transtornado, com os lábios contraídos e uma veia saltando em sua testa.Drake sorriu debochado, olhando ironicamente para Henry, e deu um passo largo para trás, erguendo os braços em rendição de forma irônica, divertindo-se com o estado emocional de Henry.— Ora, ora, se não é o grande detetive da cidade. — Ele estendeu os braços, agora de forma teatral, como se anunciasse um espetáculo, e eu apenas conseguia olhar de um para o outro, sem entender nada. — Anda se perdendo muito por aqui, detetive? Parece que se esqueceu de como as coisas funcionam nessa área.Henry fuzilou Drake com o olhar e apertou os punhos.— Ela não é de Acácias, então é melhor você manter distância. — Henry se aproximou de mim, segurou meu braço e me puxou para o lado, colocando-se