Capítulo 4

— Mas que droga! O que passou pela minha cabeça? — Amaldiçoei naquele momento a infeliz ideia de ter procurado esse lugar.

Afinal, o que me levou a buscar trabalho em um local desconhecido, guiada por um mapa que apenas eu consegui visualizar?

Hoje, vendo as coisas com clareza, compreendo aqueles que duvidavam da minha sanidade. Todavia, quando se vive em um mundo natural, é impossível acreditar no extraordinário.

Mas naquele momento, mesmo amedrontada, reuni a pouca coragem que me restava para tentar fazer algo, mas o quê?

Eu podia correr, mas qualquer coisa poderia me alcançar ao virar as costas.Na verdade, dar as costas ao perigo nunca parece ser uma boa opção. Eu havia aprendido isso com meu pai na infância, enquanto acampávamos no verão.

— Nunca dê as costas, nunca dê as costas. — murmurei repetidamente para mim mesma, enquanto recuava vagarosamente.

A saudade e a tristeza da lembrança do meu pai já falecido me fizeram esquecer por breves segundos onde eu estava e o suposto perigo ao meu redor, de repente ouvi passos atrás de mim, isso me colocou em estado de alerta instantâneo, saindo completamente do mar de lembranças e trazendo de volta aquele medo reconhecível.

Senti algo como uma mão grande tocando meu ombro e instintivamente dei um pulo acompanhado de um grito que ecoou pelo lugar.

Me atrapalhei, pisando em falso, e meu pé deslizou, fazendo-me escorregar e derrubar minha lanterna. No entanto, as mãos ágeis do estranho deslizaram sobre meu corpo, percorrendo levemente minhas costas, num toque sutil porém impossível de passar despercebido. Enquanto sua outra mão encontrou minha cintura, impedindo minha queda.

Eu estava amparada em seus braços e pude sentir um agradável perfume almiscarado invadir minhas narinas. Seus braços fortes me pressionaram contra um peitoral perfeitamente esculpido, e um calor percorreu meu corpo.

Minhas bochechas estavam vermelhas, e para minha felicidade, meu salvador não notaria essa minha reação. Me senti estranhamente acolhida, sem nem ao menos entender o motivo para tal.

Sua respiração quente tocou meu pescoço me causando um agradável arrepio, eu virei meu rosto causando o encontro entre nossas faces, sei disso pois pude sentir o aroma fresco dos seus lábios batendo próximo aos meus, e nisso, meu coração bateu tão forte que tenho certeza que ele era capaz de ouvi-lo, quase pude sentir o sabor dos lábios desse estranho misterioso, e por mais maluco que isso fosse o desejei com tanta intensidade naquele momento...

Eu poderia dizer algo, mas naquele instante a minha capacidade de raciocinar havia me abandonado. O que predominou foi o desejo ardente de sentir o sabor da boca daquele que estava tão próximo de mim, me dando uma prévia do gosto dos seus lábios e me fazendo ansiar pelo seu beijo.

Aquele provavelmente devia ser um dos momentos mais sexy que pude viver, que droga, isso só prova a quão patética foi a minha vida amorosa nos anos anteriores a esse encontro.

— Você está bem? — A voz grossa e rouca do estranho misterioso me trazia alívio pela leveza do seu tom. Porém, ao mesmo tempo, fez meu estômago gelar.

Eu estava completamente fascinada, a ponto de sentir que perdi o último pingo de juízo que possuía. Ele me levantou devagar e me soltou. Não vou negar que isso me encheu de frustração, pois desejava permanecer em seus braços fortes.

Nesse momento, dei até graças por a lanterna ter caído, pois isso o impediu de perceber o efeito que ele causou em mim, que deveria estar estampado no meu rosto.

Foi um alívio, pois ninguém deseja demonstrar a um estranho o quanto o deseja, e afirmo que nem mesmo eu, apesar das minhas atitudes naquele momento não serem muito coerentes.

Já tinha ouvido falar que algumas pessoas sentem excitação com situações perigosas; no entanto, eu me recusava a acreditar que eu era um caso igual a delas.

Ele se abaixou para pegar a lanterna que iluminou suas feições revelando plenamente o seu belo rosto, seus cabelos loiros caiam sobre a testa, seus olhos eram azuis escuro como o mar em dias de tempestade. E agora seus observavam atentamente os meus.

Estava enfeitiçada pela beleza exuberante desse homem, que sem nenhuma explicação plausível me despertou as mais intensas sensações. Ele provavelmente era um dos homens mais bonitos que já olharam para mim ou que já me tocaram.

Afinal, nunca fui do tipo que chamava a atenção de homens fortes e extremamente bonitos como ele. Minha avó costuma dizer que eu atraio, mas nunca percebi realmente por ser distraída. E também as avós sempre tendem a ter uma perspectiva melhor sobre os netos, principalmente aquelas que foram como mães.

Ele se levantou passando as mãos no seu cabelo que caia em sua testa e me deu um sorriso largo, seus lábios carnudos e belos aumentaram minha frustração do afastamento anterior.

Sei que é estranho, mas desejava um beijo desse desconhecido misterioso. Loucura? Possivelmente.

— É... Eu... Estou... Obrigada. Só... — Interrompi o que dizia e virei rapidamente o rosto para olhar em direção às árvores. Até havia me esquecido do vulto.

Hesitei em contar a ele, pois o que eu diria também não faria sentido algum, e o que estava lá provavelmente teria desaparecido.

Além disso, não queria passar a impressão de uma lunática, e ultimamente era isso que todos pensavam a meu respeito, desde que encontrei aquele cartaz com o mapa. Meus amigos, minha terapeuta, vizinhos, enfim, todos ao meu redor sempre me olhavam como se eu fosse uma maluca quando tocava no assunto. E eu não precisava de um estranho com o mesmo pensamento, afinal, poderia ser apenas a minha imaginação pregando-me uma peça.

— Algum problema? — perguntou ele direcionando a luz da lanterna na direção em que eu olhava.

Não havia muito que dizer para provar o contrário, aquele ambiente continuava deserto e com apenas as árvores e a grama comum, não havia nem mesmo sinal de nenhum ser vivo.

Nós dois olhamos em volta sem dizer nada um para o outro. Por fim, abaixei a cabeça de forma constrangida, observando-me e sentindo o rubor das minhas bochechas.

— E então, o que faz a essa hora sozinha no meio do nada? — ele perguntou.

— Estou procurando um lugar... Se chama Acácias, conhece?

Isso era tudo o que podia dizer a ele, tudo o que o cartaz descrevia era vago, com apenas o bendito mapa atrás. Não sabia se era uma cidade, bairro ou sei lá o quê!

Ele se mostrou confuso com minha pergunta e me olhou com desconfiança, era como se ele percebesse algo em minhas atitudes, buscando explicações no olhar que se manteve em mim sem nem ao menos dizer nada e esse comportamento me desconcertou ainda mais.

— Escute, se for à árvore em si, você já está nela. — disse ele guiando a luz para a árvore enorme de flores amarelas. — Agora, se não for esse o caso, ao fim dessa estrada você poderá encontrar a região de Acácias com facilidade.

Ele, por sua vez, iluminou a estrada por alguns segundos. Não era possível ver o fim da mesma, e parecia se estreitar mais ao fundo. Sua atenção voltou-se novamente para mim, abandonando aquela aura de desconfiança e substituindo-a por um sorriso largo e acolhedor, enquanto estendia sua mão.

— Perdão, creio que não me apresentei corretamente. Me chamo Henry Wessex, ou melhor, Detetive Henry Wessex.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo