O corredor dos quartos era repleto de quadros e tapetes vermelhos. Não havia nenhuma réplica de obras famosas; eram apenas quadros com figuras estranhas.
Entrei no quarto número quinze, deixei minha bolsa no chão e corri até a cama, jogando-me de costas. Meu corpo afundou e voltou sobre o edredom florido, cobrindo o colchão mais macio que já sentira na vida. Era como estar em uma nuvem. Sorri, observando atentamente os detalhes do quarto. Novamente, uma mudança abrupta na decoração, com tonalidades claras predominantes.Suspirei, com o perfume das flores da sacada impregnando o ambiente. Nesse ponto, Henry estava coberto de razão; o lugar era mágico. Virei de lado e abracei o travesseiro, meus olhos se renderam ao sono profundo…Ao me mexer na cama e abrir os olhos, sentei-me enquanto esfregava os olhos. Pisquei algumas vezes e percebi que tudo ao meu redor estava diferente.— Que brincadeira é essa? Não é neste quarto que eu estava. F— Serviço de quarto! — uma voz feminina anunciou após dar batidinhas na porta, tirando-me dos meus pensamentos.Levantei com pressa, passando as mãos pelos cabelos e pelos olhos para afastar as ramelas. Odiava ser vista com cara de sono, mas suponho que ninguém goste. Era, sem dúvida, a parte do meu dia em que minha autoestima me abandonava; tinha a impressão constante de que meu rosto inchava mais do que o normal e meus olhos castanhos desapareciam. Enfim, bobagem, algo que muitas mulheres entendem.Girei a maçaneta e abri a porta, forçando um sorriso no rosto, mesmo não sendo muito sociável pelas manhãs. Uma mulher ruiva de olhos verdes e sardas ao redor do nariz me cumprimentou com um sorriso contagiante. Seu entusiasmo era o oposto por completo do meu, e ela conseguiu me deixar sem graça.— Bom dia, eu trouxe seu café. — disse ela, com seu sorriso ainda mais evidente, vestindo um macacão jeans e uma blusinha florida.— Ah, muito obrigada, mas acho que você se eng
As ruas de Acies resplandeciam luz, com o dia ensolarado, algo comum para uma típica tarde de verão. Todas as ruas eram semelhantes e, ao mesmo tempo, me traziam uma sensação de familiaridade, sempre estreitas e pouco habitadas.Caminhei por algum tempo sem um destino certo, afinal não conhecia o lugar e apenas estava vagando sem rumo, justamente com o propósito de me ambientar.Após algumas horas, o sol escaldante insistia em queimar minha nuca enquanto caminhava, e eu não tinha pego um guarda-sol. Nunca costumava usar para me proteger do sol, achava um objeto inútil e odiava carregá-lo, mas naquele momento estava me arrependendo de pensar assim.Parei na calçada, incomodada com o calor e precisando de um pouco de sombra. Busquei com o olhar por alguma árvore ou lugar com sombra onde pudesse descansar. Mas tudo o que avistei foi um caminho estreito entre dois sobrados grandes. Olhei para os dois lados e atravessei rapidamente, buscando abrigo na sombra fresca. Minhas pernas tremiam e
— Que droga! — murmurei, sentindo-me atônita com o salto dele do terceiro andar.Entreolhamo-nos em silêncio, como se estivéssemos em um impasse no meio do beco escuro.Com a respiração acelerada e os sentidos em alerta máximo, reuni coragem para romper o silêncio que se instalara entre nós.Ele era um rapaz alto, de olhos azuis acinzentados e cabelos castanhos, exalando um ar de mistério e sedução. Seu estilo descolado e ao mesmo tempo misterioso me intrigava, e em outra situação, eu poderia ter me sentido completamente atraída por ele.Porém, ali o medo prevaleceu, pois estava diante de algo inacreditável. Ele era exatamente isso; seu pulo não era algo normal. Claro que, naquele momento, não analisei com essa frieza.— Já vai assim? Onde estão seus modos, princesa? Nem vai cumprimentar. Além do mais, se não está com medo, não precisa sair correndo. Sua voz, carregada de sarcasmo, ecoou no beco sombrio, criando uma atmosfera ainda mais enigmática.Engol
— Se afaste dela agora, Drake! — Henry gritou alterado, deixando claro seu nervosismo.Drake e eu nos viramos ao mesmo tempo em direção a Henry, soltando nossas mãos. Henry olhou para nós dois e aparentava estar transtornado, com os lábios contraídos e uma veia saltando em sua testa.Drake sorriu debochado, olhando ironicamente para Henry, e deu um passo largo para trás, erguendo os braços em rendição de forma irônica, divertindo-se com o estado emocional de Henry.— Ora, ora, se não é o grande detetive da cidade. — Ele estendeu os braços, agora de forma teatral, como se anunciasse um espetáculo, e eu apenas conseguia olhar de um para o outro, sem entender nada. — Anda se perdendo muito por aqui, detetive? Parece que se esqueceu de como as coisas funcionam nessa área.Henry fuzilou Drake com o olhar e apertou os punhos.— Ela não é de Acácias, então é melhor você manter distância. — Henry se aproximou de mim, segurou meu braço e me puxou para o lado, colocando-se
Paramos ao chegar em frente à pousada. Olhamos para a entrada ao mesmo tempo. Não sabia por que me sentia como em um fim de encontro naquele exato momento em que normalmente acontece um beijo. Acredito que nosso silêncio e o clima agradável tenham contribuído para criar essa atmosfera.Nos entreolhamos em um silêncio inquebrável, com sorrisos leves nos lábios. Ele abaixou a cabeça rapidamente, apoiando sua mão na linha abaixo do pescoço, onde provavelmente estaria o medalhão. Seus olhos ganharam um brilho triste e sombrio, e eu gostaria de entender o porquê disso.— Eu tenho que ir. Tenha uma boa noite. — Ele disse apressado, evitando um contato visual direto.Olhei para ele sem entender. Não que eu esperasse um beijo, mas simplesmente não compreendi a tristeza que vi. Apenas concordei com um balançar de cabeça e virei para entrar.— Kaya! — Henry chamou, e virei. Nossos olhares se encontraram novamente, e o silêncio retornou, junto com a hesitação dele. — Até amanhã
O rosto de Henry veio à minha mente e meu coração começou a bater mais forte. Conforme me peguei imaginando ele e eu no lugar daquele casal, abaixei a cabeça e balancei-a negativamente, tentando afastar essas ideias. Henry parecia ser muito problemático, e minha vida já estava em confusão; não havia espaço para mais complicações, embora sentisse que algo forte nos ligava. Decidi que deveria resistir a esse sentimento. Enquanto escutava os risos do casal, ergui a cabeça para vê-los. A chuva estava diminuindo, revelando-se apenas uma típica chuva de verão passageira. Eles correram para longe, sumindo da minha visão. Logo depois, Soya passou devagar, quase como um felino, caminhando sorrateiramente, quase como uma leoa a espreita de sua caça. — Que inconveniente. Ela pode acabar atrapalhando o casal. Ou será que eles se conhecem? — Dei de ombros e sorri. — Eles provavelmente são amigos e estão indo para uma balada. Falando nisso, preciso encontrar lugares legais par
Acordei com o som do alarme, sentindo uma mistura de euforia e nervosismo. Henry realmente mexia comigo de uma forma que eu não sabia lidar. Levantei-me rapidamente e fui até o banheiro, tentando focar na minha nova oportunidade de trabalho. Tinha que me concentrar no que importava agora: minha carreira. Vesti uma calça jeans com uma blusinha social, algo clássico para entrevista de emprego caso precisasse, embora nervosa para conhecer a pessoa que poderia me arrumar um emprego, a sensação nem se comparava ao frio na barriga por ver o Henry. Desci pegando com Belle uma maçã enquanto enviava mensagens a minha avó, ela me avisou que iria ao retiro que costumava fazer todos os anos. Era um retiro onde ela se desconectava totalmente de coisas eletrônicas e curtia a natureza, quando pequena sempre quis ir com ela e nunca me foi permitido. Continuei meu caminho da cozinha até o hall de entrada, a luz do sol atravessava o vidro iluminando parte da sala, algo b
O local era amplo, com algumas mesas de madeira, assim como o balcão, e paredes revestidas com tijolinhos laranjas. Haviam uma mesa de sinuca e uma escadaria que levava a uma área onde pendia a cabeça de um alce, tornando o ambiente extremamente rústico. Apesar de ainda ser cedo, um grupo de amigos já se encontrava no local, provavelmente prontos para passar a noite afogando as mágoas ou celebrando.— Então, por que estamos aqui? — perguntei, virando para ele.— Estamos aqui porque marquei um encontro com ele neste lugar. — Ele apontou para um sujeito sentado atrás do balcão do bar, degustando uma garrafa de uísque.Assim que Henry foi visto, o homem se levantou e fez um sinal para nos aproximarmos. Ele emanava uma aura extremamente masculina e atraente, aparentava confiança, com olhos verdes, cabelos castanhos na altura dos ombros com um penteado despojado, duas tatuagens nos braços e uma camiseta preta do Nirvana. Uma das vantagens de Acácias era a genética dos residen