— Que droga! — murmurei, sentindo-me atônita com o salto dele do terceiro andar.
Entreolhamo-nos em silêncio, como se estivéssemos em um impasse no meio do beco escuro.Com a respiração acelerada e os sentidos em alerta máximo, reuni coragem para romper o silêncio que se instalara entre nós.Ele era um rapaz alto, de olhos azuis acinzentados e cabelos castanhos, exalando um ar de mistério e sedução. Seu estilo descolado e ao mesmo tempo misterioso me intrigava, e em outra situação, eu poderia ter me sentido completamente atraída por ele.Porém, ali o medo prevaleceu, pois estava diante de algo inacreditável. Ele era exatamente isso; seu pulo não era algo normal. Claro que, naquele momento, não analisei com essa frieza.— Já vai assim? Onde estão seus modos, princesa? Nem vai cumprimentar. Além do mais, se não está com medo, não precisa sair correndo.Sua voz, carregada de sarcasmo, ecoou no beco sombrio, criando uma atmosfera ainda mais enigmática.Engol— Se afaste dela agora, Drake! — Henry gritou alterado, deixando claro seu nervosismo.Drake e eu nos viramos ao mesmo tempo em direção a Henry, soltando nossas mãos. Henry olhou para nós dois e aparentava estar transtornado, com os lábios contraídos e uma veia saltando em sua testa.Drake sorriu debochado, olhando ironicamente para Henry, e deu um passo largo para trás, erguendo os braços em rendição de forma irônica, divertindo-se com o estado emocional de Henry.— Ora, ora, se não é o grande detetive da cidade. — Ele estendeu os braços, agora de forma teatral, como se anunciasse um espetáculo, e eu apenas conseguia olhar de um para o outro, sem entender nada. — Anda se perdendo muito por aqui, detetive? Parece que se esqueceu de como as coisas funcionam nessa área.Henry fuzilou Drake com o olhar e apertou os punhos.— Ela não é de Acácias, então é melhor você manter distância. — Henry se aproximou de mim, segurou meu braço e me puxou para o lado, colocando-se
Paramos ao chegar em frente à pousada. Olhamos para a entrada ao mesmo tempo. Não sabia por que me sentia como em um fim de encontro naquele exato momento em que normalmente acontece um beijo. Acredito que nosso silêncio e o clima agradável tenham contribuído para criar essa atmosfera.Nos entreolhamos em um silêncio inquebrável, com sorrisos leves nos lábios. Ele abaixou a cabeça rapidamente, apoiando sua mão na linha abaixo do pescoço, onde provavelmente estaria o medalhão. Seus olhos ganharam um brilho triste e sombrio, e eu gostaria de entender o porquê disso.— Eu tenho que ir. Tenha uma boa noite. — Ele disse apressado, evitando um contato visual direto.Olhei para ele sem entender. Não que eu esperasse um beijo, mas simplesmente não compreendi a tristeza que vi. Apenas concordei com um balançar de cabeça e virei para entrar.— Kaya! — Henry chamou, e virei. Nossos olhares se encontraram novamente, e o silêncio retornou, junto com a hesitação dele. — Até amanhã
O rosto de Henry veio à minha mente e meu coração começou a bater mais forte. Conforme me peguei imaginando ele e eu no lugar daquele casal, abaixei a cabeça e balancei-a negativamente, tentando afastar essas ideias. Henry parecia ser muito problemático, e minha vida já estava em confusão; não havia espaço para mais complicações, embora sentisse que algo forte nos ligava. Decidi que deveria resistir a esse sentimento. Enquanto escutava os risos do casal, ergui a cabeça para vê-los. A chuva estava diminuindo, revelando-se apenas uma típica chuva de verão passageira. Eles correram para longe, sumindo da minha visão. Logo depois, Soya passou devagar, quase como um felino, caminhando sorrateiramente, quase como uma leoa a espreita de sua caça. — Que inconveniente. Ela pode acabar atrapalhando o casal. Ou será que eles se conhecem? — Dei de ombros e sorri. — Eles provavelmente são amigos e estão indo para uma balada. Falando nisso, preciso encontrar lugares legais par
Acordei com o som do alarme, sentindo uma mistura de euforia e nervosismo. Henry realmente mexia comigo de uma forma que eu não sabia lidar. Levantei-me rapidamente e fui até o banheiro, tentando focar na minha nova oportunidade de trabalho. Tinha que me concentrar no que importava agora: minha carreira. Vesti uma calça jeans com uma blusinha social, algo clássico para entrevista de emprego caso precisasse, embora nervosa para conhecer a pessoa que poderia me arrumar um emprego, a sensação nem se comparava ao frio na barriga por ver o Henry. Desci pegando com Belle uma maçã enquanto enviava mensagens a minha avó, ela me avisou que iria ao retiro que costumava fazer todos os anos. Era um retiro onde ela se desconectava totalmente de coisas eletrônicas e curtia a natureza, quando pequena sempre quis ir com ela e nunca me foi permitido. Continuei meu caminho da cozinha até o hall de entrada, a luz do sol atravessava o vidro iluminando parte da sala, algo b
O local era amplo, com algumas mesas de madeira, assim como o balcão, e paredes revestidas com tijolinhos laranjas. Haviam uma mesa de sinuca e uma escadaria que levava a uma área onde pendia a cabeça de um alce, tornando o ambiente extremamente rústico. Apesar de ainda ser cedo, um grupo de amigos já se encontrava no local, provavelmente prontos para passar a noite afogando as mágoas ou celebrando.— Então, por que estamos aqui? — perguntei, virando para ele.— Estamos aqui porque marquei um encontro com ele neste lugar. — Ele apontou para um sujeito sentado atrás do balcão do bar, degustando uma garrafa de uísque.Assim que Henry foi visto, o homem se levantou e fez um sinal para nos aproximarmos. Ele emanava uma aura extremamente masculina e atraente, aparentava confiança, com olhos verdes, cabelos castanhos na altura dos ombros com um penteado despojado, duas tatuagens nos braços e uma camiseta preta do Nirvana. Uma das vantagens de Acácias era a genética dos residen
O caminho parecia mais longo do que o normal, e cada sombra parecia esconder um novo perigo. Finalmente, cheguei à pensão e, com um suspiro de alívio, entrei no meu quarto, trancando a porta atrás de mim. O silêncio do quarto me envolveu, proporcionando um breve momento de calma. Comecei a relembrar como cheguei a Acácias e as estranhas sensações que me envolviam desde minha chegada. Estava diante de um local misterioso, e eu relutava em aceitar.Tinha medo de encarar a verdade e, por isso, havia me vendado para permanecer dentro da minha zona de conforto. Aproveitei o momento de silêncio para refletir sobre o que realmente sabia sobre Drake. Ele não era alguém comum; as coisas que ele fazia eram sobre-humanas. Esse pensamento me levou a questionamentos inevitáveis: O que mais Acácias escondia? E porque algo me atraiu para esse lugar? Levantei e sai do quarto para pegar um copo de água e ao adentrar a sala deparei-me com Soya. Seu olhar sobre mim transmitia uma s
O local era pequeno e com um ar masculino, ao contrário do restante do lugar; esta sala estava uma bagunça, com uma pilha imensa de papel sobre a mesa, contendo notícias já antigas que nunca foram publicadas.O computador era simplesmente da idade da pedra, provavelmente com um dos processadores mais lentos. Acácias, no ponto de vista tecnológico, era como suas ruas, que pareciam ter parado no tempo, o que explicava a quantidade de papel.Por incrível que parecesse, o trabalho manual até parecia mais rápido do que esperar aquela máquina velha ligar.Sentei na cadeira e comecei a folhear as folhas na mesa, ficando perplexa com a qualidade duvidosa das notícias ali apresentadas. As "notícias" mal poderiam ser consideradas relevantes, incluindo cobertura de simples inaugurações e até um relato sobre um cão perdido tornando-se matéria principal. Questionei-me se os jornalistas desse veículo de comunicação possuíam alguma formação ou experiência real na área. Embora
A porta se abriu e Belle entrou, trazendo um copo de água. Agradeci, tomando pequenos goles para tentar acalmar meus nervos.— Belle, o que você sabe sobre Henry Wessex, Drake e este lugar? — perguntei diretamente, querendo respostas.— Ah, amiga... — Ela se sentou calmamente, apoiando as mãos no colo, com os ombros encolhidos. — Não sei muito. Fiz perguntas semelhantes sobre todos aqui quando cheguei à cidade e...— E então? — interrompi ansiosa. — Desculpe, por favor, continue.— Cheguei aqui com uma amiga, nos perdemos na Route Nationale 104, uma estrada francesa na Llê de France, e então encontramos o caminho para Acácias e...— Espera! O quê? — interrompi novamente. — Desculpe, mas você encontrou o caminho para Acácias por uma estrada na França?— Sim, exatamente, não foi o mesmo lugar que o seu, não é?Concordei com a cabeça e me levantei, dirigindo-me para a janela daquela pequena sala, onde o ar era escasso naquele momento.— Como isso é possí