Desci do carro e segui até a janela de Henry, batendo no vidro do seu Impala 69 preto, era quase um sacrilégio tocar naquela belezinha, meu pai era um amante de carros antigos, logo aprendi a admirar mesmo não entendendo muito, coincidentemente, meu carro e o de Henry eram do mesmo ano.Henry abaixou o vidro e apoiei meus braços na janela sorrindo para ele, que escorou seus braços sobre o volante e me deu um sorriso fino.—Pois bem, Henry... Acho que devo a você um obrigado, foi muito gentil me acompanhar até a... —Virei olhando o nome da placa da pousada.— Essa ainda é uma das melhores pousadas da cidade, apesar dos pesares. Em quesito de conforto nenhuma supera suas acomodações, alguns dizem até que os colchões daqui são mágicos.— Uau! De detetive para um marketeiro de primeira! Eu estou impressionada. — brinquei.O sorriso dele ficou enorme com minha a resposta era como se os anjos aprovassem aquele sorriso, era muito fácil se sentir a vontade ao lado dele.Ele se inclinou em sen
O silêncio reinava naquela rua de tijolos. Alguns candeeiros piscavam suas luzes, enquanto outros nem mesmo se acendiam. Era só eu e o vento frio, acompanhados da minha indignação em relação ao comportamento de Henry. Minha mente girava tentando encontrar uma justificativa para a atitude dele, mas sem sucesso. Respirei fundo e retornei ao meu carro, pegando minha bolsa de viagem de camurça, uma relíquia antiga da minha mãe. Guardar itens da minha família era o que me fazia sentir mais conectada a eles. Havia poucas coisas, pois, ao contrário de mim, minha avó acreditava que manter objetos dos falecidos os reteria neste mundo. — Minha avó! — suspirei, com a saudade apertando meu peito enquanto seguia em direção à porta. Empurrei a pequena porta branca, que se abriu sob o lamento das dobradiças. Franzi o cenho ao ver minhas expectativas em relação ao local se desmoronando em fragmentos. Era frustrante. A beleza exterior
O corredor dos quartos era repleto de quadros e tapetes vermelhos. Não havia nenhuma réplica de obras famosas; eram apenas quadros com figuras estranhas. Entrei no quarto número quinze, deixei minha bolsa no chão e corri até a cama, jogando-me de costas. Meu corpo afundou e voltou sobre o edredom florido, cobrindo o colchão mais macio que já sentira na vida. Era como estar em uma nuvem. Sorri, observando atentamente os detalhes do quarto. Novamente, uma mudança abrupta na decoração, com tonalidades claras predominantes.Suspirei, com o perfume das flores da sacada impregnando o ambiente. Nesse ponto, Henry estava coberto de razão; o lugar era mágico. Virei de lado e abracei o travesseiro, meus olhos se renderam ao sono profundo…Ao me mexer na cama e abrir os olhos, sentei-me enquanto esfregava os olhos. Pisquei algumas vezes e percebi que tudo ao meu redor estava diferente.— Que brincadeira é essa? Não é neste quarto que eu estava. F
— Serviço de quarto! — uma voz feminina anunciou após dar batidinhas na porta, tirando-me dos meus pensamentos.Levantei com pressa, passando as mãos pelos cabelos e pelos olhos para afastar as ramelas. Odiava ser vista com cara de sono, mas suponho que ninguém goste. Era, sem dúvida, a parte do meu dia em que minha autoestima me abandonava; tinha a impressão constante de que meu rosto inchava mais do que o normal e meus olhos castanhos desapareciam. Enfim, bobagem, algo que muitas mulheres entendem.Girei a maçaneta e abri a porta, forçando um sorriso no rosto, mesmo não sendo muito sociável pelas manhãs. Uma mulher ruiva de olhos verdes e sardas ao redor do nariz me cumprimentou com um sorriso contagiante. Seu entusiasmo era o oposto por completo do meu, e ela conseguiu me deixar sem graça.— Bom dia, eu trouxe seu café. — disse ela, com seu sorriso ainda mais evidente, vestindo um macacão jeans e uma blusinha florida.— Ah, muito obrigada, mas acho que você se eng
As ruas de Acies resplandeciam luz, com o dia ensolarado, algo comum para uma típica tarde de verão. Todas as ruas eram semelhantes e, ao mesmo tempo, me traziam uma sensação de familiaridade, sempre estreitas e pouco habitadas.Caminhei por algum tempo sem um destino certo, afinal não conhecia o lugar e apenas estava vagando sem rumo, justamente com o propósito de me ambientar.Após algumas horas, o sol escaldante insistia em queimar minha nuca enquanto caminhava, e eu não tinha pego um guarda-sol. Nunca costumava usar para me proteger do sol, achava um objeto inútil e odiava carregá-lo, mas naquele momento estava me arrependendo de pensar assim.Parei na calçada, incomodada com o calor e precisando de um pouco de sombra. Busquei com o olhar por alguma árvore ou lugar com sombra onde pudesse descansar. Mas tudo o que avistei foi um caminho estreito entre dois sobrados grandes. Olhei para os dois lados e atravessei rapidamente, buscando abrigo na sombra fresca. Minhas pernas tremiam e
— Que droga! — murmurei, sentindo-me atônita com o salto dele do terceiro andar.Entreolhamo-nos em silêncio, como se estivéssemos em um impasse no meio do beco escuro.Com a respiração acelerada e os sentidos em alerta máximo, reuni coragem para romper o silêncio que se instalara entre nós.Ele era um rapaz alto, de olhos azuis acinzentados e cabelos castanhos, exalando um ar de mistério e sedução. Seu estilo descolado e ao mesmo tempo misterioso me intrigava, e em outra situação, eu poderia ter me sentido completamente atraída por ele.Porém, ali o medo prevaleceu, pois estava diante de algo inacreditável. Ele era exatamente isso; seu pulo não era algo normal. Claro que, naquele momento, não analisei com essa frieza.— Já vai assim? Onde estão seus modos, princesa? Nem vai cumprimentar. Além do mais, se não está com medo, não precisa sair correndo. Sua voz, carregada de sarcasmo, ecoou no beco sombrio, criando uma atmosfera ainda mais enigmática.Engol
— Se afaste dela agora, Drake! — Henry gritou alterado, deixando claro seu nervosismo.Drake e eu nos viramos ao mesmo tempo em direção a Henry, soltando nossas mãos. Henry olhou para nós dois e aparentava estar transtornado, com os lábios contraídos e uma veia saltando em sua testa.Drake sorriu debochado, olhando ironicamente para Henry, e deu um passo largo para trás, erguendo os braços em rendição de forma irônica, divertindo-se com o estado emocional de Henry.— Ora, ora, se não é o grande detetive da cidade. — Ele estendeu os braços, agora de forma teatral, como se anunciasse um espetáculo, e eu apenas conseguia olhar de um para o outro, sem entender nada. — Anda se perdendo muito por aqui, detetive? Parece que se esqueceu de como as coisas funcionam nessa área.Henry fuzilou Drake com o olhar e apertou os punhos.— Ela não é de Acácias, então é melhor você manter distância. — Henry se aproximou de mim, segurou meu braço e me puxou para o lado, colocando-se
Paramos ao chegar em frente à pousada. Olhamos para a entrada ao mesmo tempo. Não sabia por que me sentia como em um fim de encontro naquele exato momento em que normalmente acontece um beijo. Acredito que nosso silêncio e o clima agradável tenham contribuído para criar essa atmosfera.Nos entreolhamos em um silêncio inquebrável, com sorrisos leves nos lábios. Ele abaixou a cabeça rapidamente, apoiando sua mão na linha abaixo do pescoço, onde provavelmente estaria o medalhão. Seus olhos ganharam um brilho triste e sombrio, e eu gostaria de entender o porquê disso.— Eu tenho que ir. Tenha uma boa noite. — Ele disse apressado, evitando um contato visual direto.Olhei para ele sem entender. Não que eu esperasse um beijo, mas simplesmente não compreendi a tristeza que vi. Apenas concordei com um balançar de cabeça e virei para entrar.— Kaya! — Henry chamou, e virei. Nossos olhares se encontraram novamente, e o silêncio retornou, junto com a hesitação dele. — Até amanhã