A vida às vezes é tão monótona, ou será que era apenas a minha?
Muitas vezes, a rotina te aprisiona, deixando você ansiando por mudanças, talvez uma promoção no trabalho, um novo amor, ou qualquer coisa que transforme sua vida. Seja o que for, eu estava sentindo que algo faltava na minha vida. Acreditava ser uma realização profissional... Como eu estava enganada. O fato é que desde que me mudei para Albuquerque para estudar Jornalismo, sempre foi assim. Primeiramente, vieram os anos de faculdade, nos quais tive que lidar com a solidão e a saudade da vovó; em seguida, veio o trabalho, e aos poucos, criei raízes aqui. Apesar da saudade ainda persistir, aprendi a conviver com ela, tudo isso em busca de um sonho: ter minha própria coluna na revista Star Models. Essa revista foi uma companheira desde a infância, e foi por esse motivo que escolhi estudar jornalismo. Essa decisão se mostrou acertada, pois consegui um emprego como assistente de redação, ou seja, ainda não escrevia minhas próprias matérias, mas estava muito próxima disso. Em uma terça-feira, acordei cheia de esperança, já que havia feito um trabalho excelente no dia anterior, pelo qual meu editor-chefe me elogiou. Tinha certeza de que sairia da minha rotina com uma promoção, que aguardava há dois anos. Finalmente teria a oportunidade de realizar meu sonho... Levantei cantarolando naquela manhã; tudo parecia perfeito do meu ponto de vista. O sol estava revigorante, brilhando com todo o esplendor na minha janela, iluminando meu pequeno apartamento. Era como se o ar estivesse diferente, eu inspirava felicidade ansiosa por uma nova etapa da minha vida. Mudar de cargo para mim representava mais que um novo trabalho, era minha saída da rotina chata que marcaram esses últimos anos. Tomei um banho rápido e troquei de roupa, sentindo a ansiedade fluir dentro de mim, mas não daquela ruim que te deixa sem ar. Era mais alegria, ao esperar algo bom. Saí de casa mais cedo do que o habitual, com um sorriso amplo nos lábios, ainda refletindo as palavras do Senhor Williams no dia anterior, durante uma reunião na frente de todos. “Você fez um excelente trabalho, Kaya. Meus parabéns.” Após a reunião, ele teve outras, mas me avisou que gostaria de falar comigo. Por esse motivo, estava tão feliz; eu tinha tanta certeza de que viria uma boa notícia. É uma pena que eu estava enganada. Desci o elevador do meu prédio e cumprimentei o novo porteiro, sem tempo para aprender seu nome. Ao cruzar o portão do prédio, uma rajada de vento veio ao meu encontro. Parei quando uma voz, que parecia ser trazida com o vento, sussurrou meu nome como um assobio arrepiante. Eu sabia que isso era improvável, mas tinha certeza de que ouvi. Olhei para os lados buscando alguém que pudesse ter me chamado, mas não havia nenhum conhecido próximo. — Olá...— cumprimentei quem quer que tivesse me chamado. “Kaya” — sussurrou mais uma vez. Girei no mesmo lugar buscando a origem e mais uma vez nada. — Que estranho! — resmunguei baixinho, sentindo um arrepio subir pela minha coluna. Esfreguei meus braços afastando essa sensação estranha e entrei no meu carro, protegendo-me do vento. Dirigi até meu trabalho, e pouco a pouco tudo dentro de mim foi se acalmando, e minha alegria retornando. Convenci-me de que aquilo não era nada, e com o tempo até esqueci desse acontecimento. Ao chegar à revista, o Senhor Williams já estava no cubículo que era meu espaço de trabalho; achei isso estranho. Ele não era do tipo que ia atrás, muito pelo contrário, se acomodava em sua cadeira e de lá só saía se fosse realmente necessário. — Bom dia, Senhor Williams. — Cumprimentei ao passar pela porta e ao tirar minha bolsa transversal. — Bom dia. — respondeu de forma seca e diria até mal educada. Mais uma vez, estranhei o comportamento dele, que sempre foi um poço de simpatia e educação. — O senhor disse ontem que gostaria de me ver. — Dei um sorriso simpático. — Bom, aqui estou. — Está demitida! — disse de uma vez, e senti como se uma bomba tivesse sido jogada em minha cabeça, desmoronando meu mundo, meus sonhos e expectativas. — Mas... eu fiz algo errado? — questionei, com voz trêmula. — Muito pelo contrário, seu trabalho é excelente, porém sabe que o senhor Smith há tempos vem se recusando a modernizar a revista. Infelizmente, recebi um telefonema hoje cedo comunicando a falência. Ele respirou fundo antes de continuar. — Sendo claro. Estamos desempregados. — Ele falou de forma mais informal, ficando cabisbaixo. — Foi um golpe para mim também e será para todos os demais. Ele concluiu, e eu fiquei ali parada, sentindo as lágrimas querendo rolar, tendo que controlar. Não queria chorar perto do meu chefe, ou melhor, meu ex-chefe.Os dias passaram tão rapidamente desde que perdi meu trabalho, mas ainda é difícil acreditar que meu sonho tenha chegado ao fim. Tudo isso devido à má administração e à recusa dos proprietários em modernizar e transformar a revista em formato digital, levando eventualmente à falência, e junto com ela, a destruição dos meus sonhos de infância. Às vezes, ainda me recordo vividamente de como essa revista marcou minha infância, das vezes em que corria pela enorme sala da vovó ao ouvir o som do correio chegando. Minha avó costumava sentar comigo, e juntas folheávamos as páginas grossas com modelos de todo o mundo. Ela então me contava histórias sobre quando minha mãe trabalhava lá antes de se casar com meu pai, o que me fazia sentir mais próxima deles. Acho que me apeguei a esse sonho para manter viva uma parte da minha mãe junto a mim. Foi o jeito que uma criança de oito anos conseguiu lidar com o luto, e agora o vazio era ainda pior. Esse foi o verdadeir
Dias depois...Existe uma linha tênue na vida, um ponto onde tudo muda, sua história se transforma, e cruzar essa linha nunca é fácil; geralmente implica em rupturas, e era o momento que eu estava vivendo.Por que digo isso? É fácil responder... Eu havia acabado de virar as costas para minha vida para seguir minha intuição, uma sensação que não me abandonava desde que encontrei aquele cartaz. Eu não tinha muito a perder, talvez fosse esse o motivo pelo qual estava no meu Mustang 69 cruzando as estradas do Arizona, deixando para trás minha vida em Albuquerque.Há alguns meses, jamais imaginaria que faria algo assim, pois nada acontecia para mim, mas se aquele cartaz atravessou meu caminho, evitando um acidente, o mínimo que podia fazer era descobrir o que aquele lugar tinha reservado para mim.O mais estranho em toda essa história é que descobri que o mapa atrás do cartaz só era visível aos meus olhos. Ninguém mais o via, e acredite, tentei mostrar e pesqu
— Mas que droga! O que passou pela minha cabeça? — Amaldiçoei naquele momento a infeliz ideia de ter procurado esse lugar.Afinal, o que me levou a buscar trabalho em um local desconhecido, guiada por um mapa que apenas eu consegui visualizar?Hoje, vendo as coisas com clareza, compreendo aqueles que duvidavam da minha sanidade. Todavia, quando se vive em um mundo natural, é impossível acreditar no extraordinário.Mas naquele momento, mesmo amedrontada, reuni a pouca coragem que me restava para tentar fazer algo, mas o quê? Eu podia correr, mas qualquer coisa poderia me alcançar ao virar as costas.Na verdade, dar as costas ao perigo nunca parece ser uma boa opção. Eu havia aprendido isso com meu pai na infância, enquanto acampávamos no verão. — Nunca dê as costas, nunca dê as costas. — murmurei repetidamente para mim mesma, enquanto recuava vagarosamente.A saudade e a tristeza da lembrança do meu pai já falecido me fizeram esquecer por breves segundos onde eu estava e o suposto per
"Henry Wessex, até seu nome é atraente." — foi o que eu pensei quando ele estendeu a mão, e imagino que devam concordar comigo.Segurei a sua mão, e ele deu um aperto para me cumprimentar. Senti uma corrente de energia se estender junto ao meu corpo com o seu toque firme. Seus pares de olhos azuis escuros se fixaram nos meus, e somente a luz da lanterna iluminava nossos rostos.“Eu estou sonhando, não estou? Se for um delírio, por favor, não me internem, e também nem quero que me curem!” — pensei comigo mesma.Estava parecendo uma adolescente boba completamente a mercê da sedução, o simples aperto durou alguns segundos, mas a sensação que eu tinha era de ter parado no tempo com aquilo.— Eu... Prazer, Kaya Hilles! Mas... o que você faz aqui a essa hora? Acredito que tenho direito de fazer a mesma pergunta, não?Agora era minha vez de lançar um olhar de desconfiança na direção dele, guardando um pouco da minha fascinação por aqueles olhos azuis... Mesmo sendo atraente, ele ainda poderi
Desci do carro e segui até a janela de Henry, batendo no vidro do seu Impala 69 preto, era quase um sacrilégio tocar naquela belezinha, meu pai era um amante de carros antigos, logo aprendi a admirar mesmo não entendendo muito, coincidentemente, meu carro e o de Henry eram do mesmo ano.Henry abaixou o vidro e apoiei meus braços na janela sorrindo para ele, que escorou seus braços sobre o volante e me deu um sorriso fino.—Pois bem, Henry... Acho que devo a você um obrigado, foi muito gentil me acompanhar até a... —Virei olhando o nome da placa da pousada.— Essa ainda é uma das melhores pousadas da cidade, apesar dos pesares. Em quesito de conforto nenhuma supera suas acomodações, alguns dizem até que os colchões daqui são mágicos.— Uau! De detetive para um marketeiro de primeira! Eu estou impressionada. — brinquei.O sorriso dele ficou enorme com minha a resposta era como se os anjos aprovassem aquele sorriso, era muito fácil se sentir a vontade ao lado dele.Ele se inclinou em sen
O silêncio reinava naquela rua de tijolos. Alguns candeeiros piscavam suas luzes, enquanto outros nem mesmo se acendiam. Era só eu e o vento frio, acompanhados da minha indignação em relação ao comportamento de Henry. Minha mente girava tentando encontrar uma justificativa para a atitude dele, mas sem sucesso. Respirei fundo e retornei ao meu carro, pegando minha bolsa de viagem de camurça, uma relíquia antiga da minha mãe. Guardar itens da minha família era o que me fazia sentir mais conectada a eles. Havia poucas coisas, pois, ao contrário de mim, minha avó acreditava que manter objetos dos falecidos os reteria neste mundo. — Minha avó! — suspirei, com a saudade apertando meu peito enquanto seguia em direção à porta. Empurrei a pequena porta branca, que se abriu sob o lamento das dobradiças. Franzi o cenho ao ver minhas expectativas em relação ao local se desmoronando em fragmentos. Era frustrante. A beleza exterior
O corredor dos quartos era repleto de quadros e tapetes vermelhos. Não havia nenhuma réplica de obras famosas; eram apenas quadros com figuras estranhas. Entrei no quarto número quinze, deixei minha bolsa no chão e corri até a cama, jogando-me de costas. Meu corpo afundou e voltou sobre o edredom florido, cobrindo o colchão mais macio que já sentira na vida. Era como estar em uma nuvem. Sorri, observando atentamente os detalhes do quarto. Novamente, uma mudança abrupta na decoração, com tonalidades claras predominantes.Suspirei, com o perfume das flores da sacada impregnando o ambiente. Nesse ponto, Henry estava coberto de razão; o lugar era mágico. Virei de lado e abracei o travesseiro, meus olhos se renderam ao sono profundo…Ao me mexer na cama e abrir os olhos, sentei-me enquanto esfregava os olhos. Pisquei algumas vezes e percebi que tudo ao meu redor estava diferente.— Que brincadeira é essa? Não é neste quarto que eu estava. F
— Serviço de quarto! — uma voz feminina anunciou após dar batidinhas na porta, tirando-me dos meus pensamentos.Levantei com pressa, passando as mãos pelos cabelos e pelos olhos para afastar as ramelas. Odiava ser vista com cara de sono, mas suponho que ninguém goste. Era, sem dúvida, a parte do meu dia em que minha autoestima me abandonava; tinha a impressão constante de que meu rosto inchava mais do que o normal e meus olhos castanhos desapareciam. Enfim, bobagem, algo que muitas mulheres entendem.Girei a maçaneta e abri a porta, forçando um sorriso no rosto, mesmo não sendo muito sociável pelas manhãs. Uma mulher ruiva de olhos verdes e sardas ao redor do nariz me cumprimentou com um sorriso contagiante. Seu entusiasmo era o oposto por completo do meu, e ela conseguiu me deixar sem graça.— Bom dia, eu trouxe seu café. — disse ela, com seu sorriso ainda mais evidente, vestindo um macacão jeans e uma blusinha florida.— Ah, muito obrigada, mas acho que você se eng