No dia seguinte, coloquei meu plano em prática. É, eu tinha um também! Desci as escadas feliz e cantarolando. Meu pai estava tomando o seu desjejum e até largou a xícara sobre o pires, surpreso. Ele me olhou sorrindo. — Bom dia, filha! Diante do olhar satisfeito do meu pai, eu surpreendi: — Bom dia, pai! Eu estava pensando, por que eu não posso me casar com o filho do seu sócio já? Por que eu tenho que esperar dois anos? Eu sabia que o meu pai só iria autorizar o meu casamento depois que eu fizesse dezoito anos, isso estava no acordo com o doutor Romeu. Ele ajeitou o seu guardanapo, expressando satisfação. — Fico feliz que esteja ansiosa, filha, mas teremos mesmo que esperar dois anos. O seu futuro marido está estudando fora. Romeu não gosta muito de mudanças, ele é rígido com essas coisas! Eu fiquei pensativa. Esse doutor Romeu devia ser tão mulherengo quanto o meu pai. Também devia ter-se casado contra a vontade. Lourença servia a mesa e me olhava desconfiada.
Minha mãe saiu com os olhos lacrimejando, e o diretor veio em seguida atrás falando: — Desculpe-me, Marlene, eu preferi falar com você, porque me pediu para não chamar o seu marido, mas isso pode ficar sem controle! Eu senti um ar de intimidade entre eles. Minha mãe devia estar sempre lá me monitorando através dele. Coisas piores estavam por vir. Levei um sermão da minha mãe, mas na mesma semana Tina teve outra ideia mais insana. Ela sempre teve, mas eu nunca compactuava com as suas loucuras. A coisa desandou mesmo depois da última conversa que tive com o meu pai. Eu estava numa revolta só! Tina descobriu uma parte do muro da escola que podíamos pular. Claro que Nina, por ser mais fortinha demorou para ter coragem. Todas nós do outro lado a esperando, e ela quase chorando. — Me esperem, eu vou tentar novamente, por favor me esperem!— ela suplicava. Eu estava impaciente. Os seguranças da escola iriam acabar por nos encontrar. — Vai logo, Nina!— eu quase gritei impaciente.
Tina suspirou longamente e me abraçou. Beijar e em seguida sentir remorso, já fazia parte da minha rotina. Foram tantas festas na casa da Tina! O ano acabou, nos formamos e o meu pai não falou mais de casamento. Eu nem comemorei quando fiz dezoito anos! Tina teve uma ideia audaciosa, que mudaria o meu destino para sempre. Ela estava no meu quarto, junto com Emília e Nina. Depois de terminado o ano letivo, ficamos só nós quatro, um grupo menor. — Um baile! Ficou louca?— eu achei um absurdo. — Um baile de máscara, amiga! Todos da escola vão participar, eu acho, mas vai ter muita gente bonita lá! Vamos rever todo mundo! Depois da formatura, o povo sumiu, vai ser um estouro rever todos aqueles gatos novamente! Eu olhei para as outras e vi um brilho nos olhos delas. — Como eu vou fazer para sair à noite daqui? — Torce para o seu pai sair também. Ele ainda dá as escapulidas dele, não dá? — Tina estava sempre atenta. Eu assenti apenas. — Eu já comprei nossas entradas! v
Eu respirava ofegante durante o sermão do padre, até que ficamos de frente um para o outro e veio o sim. Eu respondi emocionada, mas não sabia o que significava o brilho nos olhos dele quando chegou a sua vez. — Pode beijar a noiva!— O padre disse simpático. Romeu segurava as minhas mãos e eu sentia uma inquietação nele. — Claro!— ele disse formalmente. Eu lhe sorri e fechei os olhos, esperando sentir os seus lábios. Ele veio com um leve toque. Eu entreabri os meus lábios sutilmente, a fim de sentir o gosto do beijo dele, mas ele se afastou logo. Eu fiquei sem jeito. Os olhos dele eram penetrantes, de um azul não muito claro. A pele também não era muito alva, por isso parecia mais belo. Meu Deus, que homem lindo era aquele? Os cabelos bem penteados para trás, alguns fios caiam pelo seu rosto quando ele se movimentava. E o padre nos deu a sentença: — Eu vos declaro, marido e mulher! Aquela frase ecoou por alguns segundos e
Eu ergui as sobrancelhas e Romeu rebateu o filho, me puxando para perto do seu corpo. A essas alturas, já estávamos parados há alguns metros de Arthur. Romeu veio em minha defesa. — Você não se atreva a tratar mal a minha esposa, seu insolente! Eu só fiz o que você devia ter feito! Eu fiz a sua parte, devia me agradecer! — E pelo quê, hein pai? Eu não sou obrigado a casar com ninguém! O senhor se casou por vaidade! Vai me dizer que não gostou da ideia de ter uma esposa tão jovem? Como as pessoas já nos olhavam, Romeu me conduziu para um lugar mais sossegado, andando em passos largos, enquanto Arthur nos seguia, sem parar de atacar. — A vida dessa garota vai ser bem pior do que a da minha mãe! Ela é jovem e ingênua, vai poder usar bastante, e quando se cansar, vai deixá-la de lado!Não é assim que acontece nos casamentos arranjados? Eu estava boquiaberta e parei de andar. Os dois homens fizeram o mesmo. — Isso é verdade?— eu quis saber. — Ele só precis
Tina ficou boquiaberta com a beleza do meu enteado. Arthur era soberbo, não lhe dava atenção e falava olhando sempre para mim. — Viu só Rui, o meu pai se deu bem, casou com uma garota que podia ser sua filha!— ele comentou para um dos primos. Romeu o fuzilou com o olhar, ele percebeu que aquela conversa insistente do filho estava me incomodando. Tina se afastou, o que me deixou me sentindo solitária. Era como se a Juliette do passado fosse embora com ela. — Não está se sentindo bem, meu amor? Quer ir com a sua amiga? Eu olhei para Romeu, perplexa. Eu me perguntava se estava ouvindo bem. Ele, o Romeu, me chamando de meu amor com aquela voz doce. Eu apenas neguei com a cabeça. Eu percebi que Arthur desmoronou. A pose de sarcástico e de menino mimado foi ao chão. Os dois primos que também exibiam um sorriso malicioso e provocador, ficaram perplexos. Vendo que conseguia deixar os rapazes sem graça, Romeu virou-se para mim e acariciou o meu rosto com as suas mãos delicadas.
Eu realmente não podia imaginar o que me esperava na mansão dos Martins, nem mesmo em sonho! Meu pai chegou e ficou feliz em nos ver abraçados. Na verdade, tivemos que ficar assim, porque o Arthur não tirava os olhos de cima de nós dois. Portanto, Romeu achou por bem fingirmos estar felizes com aquele acordo insano. Meu pai colocou uma mão no ombro do meu marido e foi falando pelos cotovelos: — Então meu amigo, creio que fez um bom negócio se casando no lugar do seu filho. Sei que nós nos casamos cedo demais, mas eu não consigo imaginar minha filha, nova do jeito que é, se casando com um garoto cabeça oca como o seu filho! Eu virei para ele boquiaberta. — O quê!— Eu só pensei. Eu não conseguia nem falar, tal era a minha indignação. Romeu concordou com um sorriso cordial. Eu não sabia se ele estava de acordo com o filho ser cabeça oca, ou se foi mesmo um bom negócio para ele, como o meu pai afirmou. Eu olhei os dois conversando, e se afastando, co
Nina ficou pensativa. — Amiga, eu também bebi demais, só lembro que ele era alto, elegante e… — Obrigada, ajudou muito!— eu disse aborrecida e voltei a andar na direção do estacionamento. Tina apressou o passo para me alcançar falando ofegante: — Amiga, pensa só que seja ele quem for, não se lembra de você também! Eu não conseguia pensar de tão nervosa que eu estava. Consegui chegar até o carro do meu pai. Ele estava encostado nele, cercado de seguranças. Minha mãe aflita, o repreendia a todo instante. Quando ele me viu, sorriu e tentou vir na minha direção, mas mal conseguia ficar de pé. — Minha filha, você me realizou! Os negócios então salvos, não podia ser melhor! — Pai, por que o senhor estava falando aquelas coisas da falecida? Eu vi que o meu marido não gostou! Eu já estava perto e o meu pai segurou os meus braços. — Eu tive que fazer isso, filha! Eu evitei que ele fizesse comparações! Eu fiquei pensativa, tentando entend