Capítulo 4°— Mais Insanidades

Minha mãe saiu com os olhos lacrimejando, e o diretor veio em seguida atrás falando:

— Desculpe-me, Marlene, eu preferi falar com você, porque me pediu para não chamar o seu marido, mas isso pode ficar sem controle!

Eu senti um ar de intimidade entre eles. Minha mãe devia estar sempre lá me monitorando através dele.

Coisas piores estavam por vir. Levei um sermão da minha mãe, mas na mesma semana Tina teve outra ideia mais insana. Ela sempre teve, mas eu nunca compactuava com as suas loucuras. A coisa desandou mesmo depois da última conversa que tive com o meu pai. Eu estava numa revolta só!

Tina descobriu uma parte do muro da escola que podíamos pular. Claro que Nina, por ser mais fortinha demorou para ter coragem. Todas nós do outro lado a esperando, e ela quase chorando.

— Me esperem, eu vou tentar novamente, por favor me esperem!— ela suplicava.

Eu estava impaciente. Os seguranças da escola iriam acabar por nos encontrar.

— Vai logo, Nina!— eu quase gritei impaciente.

Finalmente, conseguimos. Saímos dali nos achando as espertonas!

— E agora, para onde vamos?— perguntou Emília, ajeitando as suas tranças.

A loirinha patricinha, que não tinha um pingo de juízo, respondeu:

— Vamos para a minha casa! Meus pais não estão. Podemos até dar uma festinha!

— Festinha!— Eu exclamei surpresa.

Como faz para chegar lá? Essa era a pergunta. Eu só andava de motorista particular. Antes que alguém perguntasse, Tina foi logo esclarecendo:

— Vou chamar um táxi.

Saímos às seis pela rua, com caras de criminosas que fugiram da cadeia.

Nenhum táxi parava nós.

— Vamos de ônibus!— Tina decidiu.

— Ônibus!— Eu exclamei.

Nina desatou a rir.

— A princesinha hoje vai andar de ônibus!— ela me provocou debochada.

— Eu ando de ônibus!— Emília disse.

— Mas vocês vão de van escolar, não é? Não estou a fim de me perder! — eu disse preocupada, já me arrependendo.

As meninas me arrastaram e fomos para o ponto de ônibus.

— Eu dou o meu jeito.— Tina procurou nos passar segurança.

Ela parou pelo menos uns dez ônibus até que algum motorista conhecia o condomínio onde ela morava.

— Eu passo perto de lá— ele disse.

Fomos enfim. Chegamos ao nosso destino, depois de andar umas três quadras. A entrada do condomínio ficava bem localizada, por isso pelo menos um motorista conhecia. Ufa!

Os seguranças da portaria achou estranho que seis adolescentes chegassem a pé naquele horário.

— Fugiram da escola?— um deles brincou.

Fechamos o semblante e ele ficou sem graça. Quando chegamos, Tina levou uma bronca da mulher que cuidava da casa.

— Por que chegou tão cedo, Tina? Está aprontando novamente? Seus pais estão viajando e você se aproveita disso!

— E quando é que eles não estão? Alguém me fala!— ela rebateu debochada.

Tina estava revoltada com os pais, pelo jeito!

Subimos as escadas atrás dela em silêncio e fomos para o seu quarto.

Ela podia não gostar da indiferença dos seus pais, já eu queria ter a liberdade que ela tinha.

Nós fomos para a varanda do quarto dela e ficamos observando o condomínio de lá.

— Aqui dava para fazer uma festinha legal! — Essa ideia partiu de Suelen.

Essas três quase não davam palpite. Para que foi falar isso? Tina gostou da ideia e chamou alguns colegas da escola.

— Ficou louca, Tina? — Eu achei um absurdo.

Ela deu de ombros e disse:

— Não vem todo mundo não, só os corajosos!

Eu fiquei tensa, mas as meninas invadiram o lavabo para se maquiar, e como não tinha outro jeito, eu fui na ideia delas.

— Vai servir o que para o pessoal? Melhor avisar a sua criada!— eu sugeri.

Elas riram da minha cara.

— Criada! Você tem criadas?— Tina me pegou pra Cristo.

Nina dava altas gargalhadas.

— O que são criadas?— Emília quis saber.

Eu tentei explicar:

— Pessoas que trabalham na sua casa e que dormem, acho que é isso!

Em pouco tempo, os garotos começaram a chegar e eram muitos.

— Você não chamou meninas? — eu quis saber.

— Para quê? Somos seis já!— Tina era terrível.

Que loucura! Aqueles garotos invadiram a dispensa e encontraram geladeiras superlotadas de bebidas alcoólicas.

A criada estava apavorada.

— Tina, você vai me complicar! Mande esses garotos embora, pelo amor de Deus!

Tina não lhe deu ouvidos. Levou um dos meninos para o seu quarto.

As outras foram para área de piscina com o resto dos meninos. Devia dar uns três para cada uma.

Emília era tímida, mas deu uns beijinhos num dos garotos. Nina beijou uns três. Eu queria sair correndo e saí mesmo.

Passei correndo pela criada da casa.

— Espere, garota! Onde vai desse jeito!— ela segurou o meu braço.

— Preciso ir embora! Eu sou comprometida!— eu disse ofegante.

A mulher achou graça.

— Sério?

— Eu já tenho marido!— eu afirmei.

A mulher me olhou assustada.

— Marido! Que história é essa?

— Me deixe ir embora, por favor! Meu pai vai me matar!

— Vem, vou te chamar um táxi!

Eu suspirei aliviada e me deixei levar, olhando para trás. As meninas nem perceberam a minha fuga, naquele momento.

Cheguei em casa afobada.

Hélio estava apavorado.

— Juliette, pelo amor de Deus! Eu quase morri de preocupação, garota!

Minha mãe vinha logo atrás. Ela já fora avisada pela escola a respeito da minha fuga.

— Não vai acontecer mais, mãe, eu juro!— eu me adiantei.

Dona Marlene me olhava com tanta decepção que me doía.

— Espero mesmo, porque segurar essa barra sem contar com o seu pai está ficando difícil para mim!

Eu fiquei quieta uns tempos, mas não demorou para eu aprontar novamente.

Eu escutei uma discussão entre os meus pais.

— Se você não se satisfaz comigo, então podia ter-se casado com uma dessas aí que encontra na noite!— era o desabafo da minha mãe.

— Cala a sua boca! Você não tem direito nenhum em reclamar! Se não tivesse se casado comigo, estaria com aquele diretorzinho!

Eu fiquei chocada, ouvindo no corredor. O meu pai soltou uma bomba:

— Nem virgem você era mais!

— Pare Jaime, pare com isso, quer que a nossa filha escute?

— Com ela isso não vai acontecer! Eu não vou deixar!

Eu voltei para o meu quarto indignada. Voltei a ser a mesma revoltada. Minha mãe foi chamada na escola, pelo menos uma vez por semana naquele ano.

— Eu não sei mais o que fazer com você, Juliette!— ela saiu da sala do diretor fora de si.

Eu fechei a cara, mas no carro, desabafei irônica.

— Não deve ser tão ruim ver o seu ex de vez em quando!

Ela ficou boquiaberta. Eu fui ouvindo sermão até chegar em casa. Fiquei de castigo. Minha mãe não queria ouvir nem a minha voz.

As fugas da escola continuaram. Uma vez por semana tinha festinha na casa da Tina. Às vezes íamos para o shopping depois da aula. Hélio chegava sozinho em casa para desespero da minha mãe.

Para o meu pai, eu era uma santa! Eu passei de ano com a ajuda do diretor. O ano seguinte foi bem pior. Eu estava para fazer dezoito anos e só de pensar que teria que casar logo, eu queria extravasar a minha raiva.

Numa dessas fugas, eu me deixei beijar por um garoto da escola, mas eu me odiei em seguida.

Me senti como se estivesse traindo alguém. Tina veio atrás de mim no jardim da sua casa.

— O que foi amiga? É só um beijo, eu faço muito mais do que isso, você sabe, e não fico assim!

— Não consigo ser igual a você! Eu estou comprometida, você sabe!

— E você quer ser igual a sua mãe?

Eu baixei a cabeça.

— Eu queria gostar de alguém, e que esse alguém também gostasse de mim, entende? Eu queria que o Arthur, o meu noivo, ele me olhasse e dissesse: você é a mulher da minha vida!

Tina ficou penalizada.

— Você acredita em contos de fadas, amiga?

Eu ergui os olhos marejados, e respondi emocionada:

— Eu acredito em príncipe!

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