(Siegfried)
As gotas massivas de chuva gelada batiam contra meu casaco impermeável preto. A água se juntava nos cantos do asfalto, jorrando como um rio farto. Atravessei a calçada pulando poças e adentrei o toldo de um estabelecimento comercial fechado pelo mau-tempo.
— Onde está o maldito? — Tirei o capacete verde-escuro jogando-o ao chão, as runas ficaram de cabeça para baixo, mais ou menos como eu estava me sentindo.
Estava ventando, quase 11 gra
(Siegfried)Atravesso a rua tirando o capacete, meus cabelos correm do rabo de cavalo, soltando as mechas esbranquiçadas. O entardecer vai ser bem chuvoso e isso é bom para nossos negócios. A polícia e a população se escondem da chuva e é quando as cargas mais valiosas são levadas para o porto.Na porta do bordel clandestino em uma rua feia e fedida da cidade, os olhos intensos e verdes da prostituta com casaco de pele sintético me observam com algum interesse. São seus lábios vermelhos ao redor do filtro do cigarro que me fazem parar, virar o rosto para o lado e observá-la
Durante o final de semana tudo parece ótimo. Eu e Sieg ficamos abraçados algumas horas conversando com Alyssa e Gunnar enquanto Dagmar resolve descansar após o almoço. A família de Siegfried é muito diferente da minha, eles agem bem uns com os outros na maioria das vezes e evitam tópicos chatos.Alyssa conta que comprou uns discos antigos de um casal que estava se mudando para o continente e como ela não tem como escutá-los, digo que tenho uma vitrola vindo do Canadá e que posso emprestar a ela, visto que em casa já equipamos com um rádio mais moderno. Depois falamos de alguns livros e o papo me exclui totalmente quando Alyssa e Sieg ficam falando sobre qual seria a melhor arma para uma mulher carregar.— Por que você quer saber disso, Sieg? — Pergunto desconfiado.— Uma amiga precisa de uma arma e pensei que Alyssa como uma mulher, saberia qual a mais adequada. — Ele desconversa pegando a cerveja e bebendo.— Alyssa usa arma como homens. — Gunnar pontua amassando o cigarro antes de co
(Dallas)— Como estão as coisas com seu marido? — Pandora, minha irmã mais querida do universo ergueu uma sobrancelha sentada no sofá, aproveitando a hospitalidade de minha casa.Momentos antes poderíamos encontrá-la olhando todos os cantos, observando a bagunça decorativa que eu estou fazendo e claro, reclamando sobre o quanto eu não trago ninguém até aqui. Não quero nada, e nem ninguém, perturbando a minha paz.— As coisas estão complicadas, parece, com o porto. — Servi um pouco de vinho em duas taças. — Sieg tem chegado mais tarde todos os dias nos últimas duas semanas por causa da confusão com os italianos. Fiquei inclusive de falar com Liam Mantovani sobre isso, porém sua prima está se casando, ele só poderá vir mês que vem. — Fechei a garrafa e guardei no armário atrás do bar. Peguei as taças e fui para o sofá, onde dei uma para minha irmã, brindei e bebi um gole me soltando na poltrona. — Por um lado é ótimo, ele chega cansado, dorme o suficiente.— Ahm. — Pandora deu um gole no
(Siegfried)Eu sabia que estava fodido antes mesmo de tirar o gelo da barba batendo a mão com as luvas no rosto. Maldita seja, Dallas! Cruzei a estrada como um louco tentando alcançá-la, porém, quando visualizei o 4x4, o veículo já estava estacionado do outro lado da rua de asfalto molhado diante da casa de paredes vermelhas, onde no porão eu havia escondido aquela putinha.Sentado na moto puxo o capacete e encaro Dallas subindo as escadas laterais da casa. Ela está segurando no corpo magro e pequeno de Jordan como se ela fosse seu maldito troféu e com a mochila velha dela em uma das mãos. A garota se cobre com a jaqueta felpuda com animal print de leopardo e os cabelos ruivos balançam atingidos pelo vento.— Dallas… — Desço da moto soltando o capacete.— Cale a boca, não quero ouvir o som da sua voz. — Cospe sua raiva toda para cima de mim, passando reto. — Vamos de carro, deixe a moto para pensarem que tem gente com ela. — Exige.Resfolego, incapaz de dizer qualquer coisa naquele mo
(Siegfried)— ...Mas eu a reconheci na porta do bordel. Fui chamado porque ela matou um cara e eu fiz a ligação, o golpe certeiro na jugular. — Passo a mão na barba de novo, ponderando. — Só conheço uma pessoa tão mortal em seus golpes, você Dallas.— Ensinei Jordan a se defender. — Ela explica calma, mas como se tivesse um motivo maior por trás de tudo isso. — Mas e aí? Você simplesmente achou por boa ideia levá-la do bordel, colocá-la no porão de uma casa imunda e ter um relacionamento com ela? — Acusa-me apontando o dedo no meu nariz. — Quantas noites deitou-se com Jordan?— Não tínhamos um relacionamento! — Ergo as mãos para frente. — Eu não deitei!— Ah, tá bom! — Dallas não acredita. — E o que você fazia quando ia lá?— Conversar. Ver o que ela precisava! Uma vez vimos um filme no Netflix.— Você quer que eu acredite nisso?— Acredite ou vou ficar violento. — Ameaço.— Não! — Jordan fica em pé, passando por entre nós cortando o fio de tensão em nosso olhar. Seus passos elegantes
(Dallas)Eu não estava conseguindo dormir. Era capaz de ouvir o ronco de Siegfried cortando o vazio da noite, por cima do crepitar do fogo da lareira e o cheiro de lenha queimada. Jordan estava com as pernas trançadas com as minhas, com a bunda empinada para cima, nossos corpos por dentro de uma manta de peles que não dava para duas pessoas.Eu a abracei com força, mas ela estava largada, dormindo tranquila depois de vários sedativos que tinha no porta-luvas do carro e do esgotamento de tanto chorar. A culpa era minha. Um maldito buraco negro para o qual eu a tinha atraído sem querer. Vai saber o que fizeram com ela antes de chegar no bordel, ou quando estava lá dentro? E droga, Jordan não merecia nada disso. Ela tinha cicatrizes de um ferimento nos punhos, desses de quem foi amarrada e torturada, acho que levou socos, talvez tenha sido estuprada.Meu coração rasgava dentro do peito com a certeza de que eu tinha falhado. Fui incapaz de protegê-la e agora, mesmo que eu desse o meu máxi
(Dallas)Não ficamos para ver o avião decolar, nem poderíamos. Siegfried ligou o rádio e seguiu para a estrada. Ficamos em silêncio por uns dez minutos, mas pareceu uma eternidade.Nesse tempo, muitas coisas se passaram por minha cabeça, mas eu deixei ir embora, toda a raiva e os pensamentos ruins. Acontece que a maldita tinha razão. Eu estava com ciúmes e não sabia lidar com aquilo, o sentimento era novo para mim. Sempre soube que me casaria com Siegfried e nunca tinha, nunca mesmo, cultivado sentimento de posse dentro de mim.Com um suspiro pesado eu deslizei a mão pela perna dele, causando um imediato susto em meu marido, que simplesmente virou-se para mim com os cabelos presos como sempre e um olhar franzido de desentendimento. Porém, foi reconfortante como ele segurou na minha mão e coçou a garganta, como se testasse o som.— Desculpe. — Pedi.— Ahn? — Siegfried estranhou.— Desde que nos conhecemos, quer dizer, nos reencontramos para o casamento, tenho sido injusta contigo. — Co
(Siegfried)— Amarre esse cretino. — A voz baixa e calma de Dallas cortou o silêncio maculado pelo crepitar do fogo da lareira. Eu ainda não conseguia acreditar no que estava acontecendo.O quarto estava entregue a uma escuridão insana, as chamas laranjas e amarelas pintavam nossas pele exposta e deixavam seu rosto avermelhado como um espírito de fogo. Dallas estava sentada na poltrona como uma maldita espectatora e seus olhos castanhos escuros sobre mim eram como a brasa quente de uma fogueira, aquecendo meu corpo por inteiro e fazendo aquele maldito negócio com vontade própria se endurecer e latejar dentro da minha cueca.Eu não queria gostar desse momento e quando topei essa parada pensava apenas em satisfazer minha esposa para as coisas voltarem ao normal. Estava bem estranho e frio entre a gente, eu toparia qualquer coisa por Dallas. Quando ela deu a ideia no carro, achei loucura, mas quis provar a Dallas o quanto ela sentiria ciúmes de mim e me desejaria como um cachorro deseja