Ao me perguntar o que eu desejo, solicito uma dose dupla de uísque escocês. Com habilidade, ele serve a bebida rapidamente, e eu levo o copo aos lábios, consumindo-o de uma só vez. Sinto a ardência reconfortante descer pela minha garganta e coloco o copo de volta no balcão, recebendo outra dose em seguida.
— Um dia difícil? — Pergunta o barman, demonstrando interesse.
— Sim! Eu adoraria resolver tudo isso, mas não faço ideia por onde começar.
Engajamos em uma breve conversa, e percebo que, sem prestar atenção, já estou extremamente embriagado. Saio do bar e olho para a rua, estranhamente calma esta noite. Um sorriso se forma em meus lábios ao imaginar Ayumi parada ali, na minha frente, com as mãos na cintura, lançando-me um olhar sério ou até brigando comigo por beber. Ela nunca aprovou me ver nesse estado, muitas vezes pegava o copo da minha mão e o esvaziava, sem nem mesmo saber o que era, apenas para me incentivar a ir embora. Eu sempre lhe dizia que queria terminar a bebida, mas ela teimava em me tirar de lugares como esse.
Volto a mim e não sei o quanto bebi até agora, mas não sei como voltar para casa.
Após pensar muito nesse um mês sobre a conversa com Carl, eu precisava fazer alguma coisa, então acordei cedo no dia seguinte e fui ao distrito, pedi para Mayke investigá-lo, fiquei esperando a ligação de Ayumi, o que não aconteceu. Sempre que podia, estava com meus amigos e irmãos em alguma balada, quase sempre nos encontrávamos com Carl. O que me intrigava é que ele estava sempre sozinho, sempre com uma desculpa esfarrapada para a ausência de Ayumi. Há duas semanas, seu número de celular consta como inexistente, avisei ao Mk, que me garantiu que verificaria o que estava acontecendo.
Agora estou com os meus amigos em uma boate, estou aqui saboreando mais uma dose de uísque, tentando mascarar minha preocupação com Ayumi. Nem para me divertir tenho tido cabeça, nunca considerei dispensar tantas mulheres, como tenho dispensado, mas por mais que eu me esforce não consigo me deitar com nenhuma, isso está me preocupando muito, mas não tem o que fazer, só sossegarei quando tiver notícias de Ayumi. Olho para a pista de dança, pessoas dançando e quase se enfiando dentro uma das outras, mas uma pessoa em especial me chama atenção! Tomo o resto de minha bebida e vou ao encontro do casal e reconheço Carl, porém o mesmo se encontra com outra pessoa ao invés de estar com Ayumi. Sem pensar muito, acabo com a distância entre nós o pegando pela gola de sua camisa que me olha de olhos arregalados. Se esse filho da mãe pensa que trairá minha amiga e sairá impune, está muito enganado!
— Que merda você pensa que está fazendo? — Grito para que ele me ouça, Carl me olha com o sorriso debochado, tentando tirar minhas mãos de sua camisa, mas só tenta!
— Calma aí, amigão! — O desgraçado me chama de amigão e ainda sorri.
— Amigão? Eu nunca te dei essa liberdade, eu sabia que você não prestava! Avisei a Ayumi sobre você. Agora vejo você a traindo? — Olho para o lado e a moça que mais parece um filhote de periquito quando começa a criar penugem, me come com os olhos.
— Pode tirar sua éguinha da chuva. Não rolará nada e nunca rolaria!
— Por quê? — Ela pergunta mascando um chiclete.
— Porque, eu amo… — Paro na hora de falar e ele se solta tentando protestar, Carl me apresenta a sua acompanhante.
— Marieta… esse é o nome dela. — Olho para ele já impaciente e minhas mãos estão coçando tanto… querendo amassar a cara dele, que estou quase ao ponto de cair em tentação.
— Estamos nos divertindo um pouquinho. — Ele pisca para a mulher ao nosso lado que sorri mostrando um dente de ouro.
— E quanto a Ayumi? — Preciso saber o que está acontecendo, não permitirei que a minha melhor amiga seja taxada de corna enquanto está em casa, servindo de empregada.
— Você sabe… O que os olhos não veem, o coração não sente! — O ódio me consome nesse instante. Dou-lhe um soco fazendo-o cair no chão.
— Você não presta, não merece a mulher que tem. Ela é doce, carinhosa, demais para você seu merda! — Subo em cima dele e dou-lhe mais alguns socos.
Sinto braços me puxarem de cima do desgraçado, ainda consigo acertar-lhe alguns chutes e ouço pedirem-me para ter calma.
— Calma, cara. Vão te expulsar da boate! — Olho para o lado e vejo Jackson tentando me puxar para bem longe do idiota. — Deixa-o. Não vale a pena. Não concordamos com o que ele faz… Mas isso só cabe a ele e à Ayumi.
— Ela me traiu, merda! — Ele grita. Algumas pessoas se afastam de nós e lágrimas de crocodilo escorrem da sua cara de sem-vergonha. — Eu a amo demais, mas ela me traiu! Fugiu com um desgraçado do trabalho dela, enquanto o babaca aqui… — aponta para si dando alguns socos no peito. — Paguei detetives para ter a mulher que amo de volta, mas foi em vão! — Ele chora mais, mas eu não caio nessa encenação. — Fico com outras mulheres porque não quero parecer um fraco, não quero cair em depressão por não ter um amor correspondido.
— Eu não acredito em você! — Solto-me dos braços de Jackson e dou-lhe mais socos. Sou puxado novamente e digo entre os dentes com ele me olhando do chão onde é o seu lugar. — Vou descobrir o que você fez à Ayumi. Você vai me pagar quando eu descobrir se algo grave aconteceu a ela. Pode apostar que não serão apenas socos e chutes que você vai ganhar! — Antes que eu possa dar-lhe um chute, sou puxado por Jackson.
Kaique e Lucca entram na minha frente, protegendo o babaca que está se levantando agora.
— Você deveria estar do meu lado, Coleman. Ela me traiu e eu é que pago pelas consequências? Você deveria ser meu amigo! Dessa vez passa. Se souber notícia dela ou se falar com a Ayumi… — ele limpa o canto da boca que está sangrando, cospe no chão e volta a dizer: — Diga a ela que não desisti dela, de nós! Que a amo, que ela é minha e sempre será a dona do meu coração. — Diz e sai arrastando a moça que estava ao lado dele.
Sou levado para a mesa e peço uma dose dupla do meu bom e velho amigo uísque. Tem algo muito errado nessa história. Conheço Ayumi e sei que ela jamais faria nada assim, mas vou investigar… Preciso saber o que aconteceu com a minha menina sorriso.
Abro os olhos e estou em uma rua com poucas casas, algumas são bem simples e outras nem ao menos possuem vidros nas janelas. Vou caminhando e paro em frente a uma casa. O quintal é pequeno, a grama está mal cuidada e queimada pelo sol, tem um pequeno quadrado de tijolos pintados de vermelho que é uma caixa de areia, com alguns brinquedos que reconheço. Mais adiante, tem um balanço improvisado em algumas vigas e um escorregador de metal. Meu coração dispara e abro o pequeno portão, entrando. Ando pelo caminho de grama e olho pela janela, vendo-a. Lágrimas inundam os meus olhos, ela me olha e sorri. Corro até a porta, abrindo-a, e ela está de braços abertos.Vou até ela e a abraço, choro ali sentindo a dor da saudade crescer ainda mais em meu peito. — Que saudade, mamãe! — Falo em meio ao choro. — Também estava com saudade, meu pequeno — ela me afasta e limpa as minhas lágrimas. — Quero que seja forte, que nunca mude o que você é aqui dentro… — ela diz, colocando a palma de sua mão s
Alguns Dias Depois…Não consegui ficar me divertindo com o pessoal. O que Carl disse não sai da minha cabeça. Ayumi não iria embora com outra pessoa sem nos falar e muito menos nos trair. Ela não é assim! A conheço como a palma da minha mão! É um absurdo. Tem algo aí e descobrirei. Chego no meu apartamento após mais um dia cansativo na empresa e subo direto para o meu quarto. Preciso de um banho e assim o faço. Depois visto uma calça do conjunto do pijama e desço as escadas indo direto para a cozinha, onde encontro um bilhete da Dona Havah na geladeira.Oi querido! Tem macarrão com queijo na geladeira, salada e filé de peixe grelhado. Coma! Saberei se não comer e descanse. Beijos da mamãe… Te amo!Sorrio para o bilhete, o pego e vou até um grande quadro que tenho no meu escritório aqui em casa, abro a tampa de vidro e o coloco no quadro junto com os outros, fecho o quadro e me lembro de quando essa ideia surgiu. Lembranças…— A nossa mãe enfeita tanto a sua geladeira de bilhetes, qu
— Oi!— Te chamei várias vezes, mas você não respondia.— Me desculpe, é que eu estava me lembrando do dia em que cheguei na casa dela. — Minto, pois essa parte meus amigos não sabem e os únicos são meus pais e irmãos.— Ah! Cara, eu me lembro da minha mãe dizendo que a sua ia acabar indo parar no hospital de tanta ansiedade. — Acabo rindo e conversamos mais um pouco. Depois desligo, pego a foto à frente e fico a olhando, me lembrando do dia em que a Ayumi chegou no orfanato.Lembranças… Anos atrásA neve está começando a cair. Hoje está mais frio e cinzento. Gosto da cor cinza no céu, é tão linda! Sempre que a saudade dela aperta, venho até a janela e fico admirando o começo do anoitecer. As outras crianças maiores sempre encrencam comigo porque gosto de ficar aqui na janela do sótão admirando a rua e observando as pessoas passarem. Tem uma menina que mora aqui que não gosta de mim, ela vive implicando comigo e fujo dela. Foi assim que descobri esse lugar.Gosto de olhar a paisagem,
Maldito e mentiroso! Tento ligar mais uma vez para o número do desgraçado, mas só cai na caixa postal. Deveria ter pedido o novo endereço desse infeliz ao Mayke, isso é, se ele não mentiu para o MK também sobre sua localização. Mas agora ele não tem para onde correr. Disco o número do meu amigo.— Cara, você me ama muito. — Atende brincalhão como sempre, mas o assunto agora é sério.— Ayumi me ligou! — Digo rápido, não dando espaço para mais brincadeiras. Ele fica em silêncio, então continuo: — Ela está com aquele merda, ele mentiu! Você precisa me ajudar ou ele irá matá-la! — Minha respiração está acelerada, meu coração parece que a qualquer momento sairá do meu peito, minhas mãos estão tremendo.— Calma, Kaléo! Fale mais devagar e me conte desde o começo, estou de plantão no departamento há mais de 24 horas, estou meio lento. — Respiro fundo e começo a contar.— Depois que desligamos, resolvi me afundar no trabalho. Mas não consegui e aí você me mandou o e-mail com os dados dele e
Quando olhei para a casa novamente, o fogo já estava apagado e um policial veio em nossa direção, deixando minha boca seca.— Senhor, os bombeiros acharam um corpo carbonizado no meio dos escombros e tudo indica ser de uma mulher. Já chamamos o médico legista. — Olho para Mayke e todo aquele fio de esperança de que ela poderia ter conseguido fugir, se vai.— Obrigado, Filip. Kaléo, é melhor você ir para casa. Pode ficar tranquilo que te ligo assim que arrumarmos toda papelada para o enterro. Vou pedir para o Filip te levar. — Não sei nem o que falar e só sigo o tal de Filip. Entramos no carro e vejo um carro preto com um símbolo de perícia chegar. Eles tiram da parte de trás uma maca, nela há uma espécie de saco preto e seguem para os escombros.Nesse momento, arrependimento é o que me define. Arrependimento de não ter ficado ao seu lado… Tudo o que eu queria era o poder de voltar no tempo e poder vê-la novamente. Minha mente está uma bagunça, meu coração está em pedaços. Sou tirado d
Após contar tudo o que aconteceu, todos ficaram muito tristes. As meninas choraram muito e não aceitam que Ayumi se foi. Jackson está em choque, por conhecer Carl desde pequeno e nos contou que o pai de Carl matou a mãe dele. Ele foi obrigado a ver tudo, e quando o pai de Carl foi preso, a mãe de Jackson o adotou e o criou como se fosse um filho, ele o tinha como um irmão.Depois que todos foram embora, fiquei sozinho com a dor esmagadora em meu peito e a saudade como minha única companhia. ••••••• 🌺🦋🌺 ••••••••Já são 10 horas da manhã e não consegui dormir. Me levanto e vou para o banheiro, preciso de um banho. Tiro minha calça de moletom e a minha camiseta, indo para o box. Abro o chuveiro e não espero a água esquentar, já me enfio debaixo dela. Deixo a água gelada cair em mim para ver se tira essa dor horrível, mas não funciona. Parece que piora e me sinto como se estivesse em uma gaiola preso. Não sei o que me dá e começo a dar socos na parede e no vidro do box, até que ele se
Em seguida, vou até a gaveta e pego o colar que ela me deu quando éramos crianças. Mais uma lembrança vem, como se isso tivesse acontecido ontem e não há quase 17 anos…Lembranças… Faz seis meses que estou morando na casa da Havah e estou indo ver a Ayumi. Assim que avisto a casa, já a vejo no portão com um vestido rodado rosa, com seu longo cabelo castanho solto e com uma tiara de princesa. Quando Jhon para o carro e destrava a porta, já desço e ela abre um lindo sorriso, o que me alegra tanto. Amo os sorrisos dela e aqueles olhos castanhos cristalinos iluminam meu dia. Ayumi vem correndo e me abraça, depois pega minha mão e me leva para dentro. Seguimos até nosso balanço favorito, com ela dizendo: — Que bom que veio me visitar, Léo! Estava com saudade!Sorrio porque ela ainda não consegue falar meu nome direito, mesmo eu tentando ensinar várias vezes a pronúncia com a letra K, ela nunca consegue.— Eu também estava, Ayumi.Ela sorri e sobe no balanço. Faço
A viagem transcorreu em silêncio. Tayson estava de folga e vim dirigindo. Foi muito difícil devido às lágrimas. Assim que cheguei, Mayke já estava à minha espera e entramos. Assinei toda a papelada para liberarem o corpo e meu amigo disse que comprou o caixão, que quando liberarem o corpo poderíamos ir para o cemitério e que todos já estavam lá. Agradeci e, depois de 20 minutos, liberaram o corpo de Yumi. O carro da funerária já estava à nossa espera e, deste modo, seguimos para o cemitério.Mayke está comigo no meu carro e diz: — Aonde irão sepultá-la?— Ela irá para o jazigo da minha família.— Ok. Não consegui falar com a Amora.— Me passe o número dela que ligarei. — Mayke digita no painel o número dela e ligo. Chama e, no terceiro toque, ela atende: — Alô?— Amora?— Sim, é ela! Quem fala?— Kaléo, você se lembra de mim? Eu era do orfanato da sua mãe.— Ah sim! Oi! Kaléo, tudo bem com você? Quanto tempo?— Amora, estou ligando para te falar sobre a Ayumi.— O que ela aprontou de