— Olly, eu preciso desligar. Depois nos falamos.
— Mas eu…
Desligo e nem ligo se desliguei na cara dela. Se ela ia falar algo importante, não interessa! Olho para a coisa linda, sentada no meu sofá, com as pernas cruzadas e com um salto agulha nos pés, me olhando.
— Gata, me espera no quarto.
— Mas…
— Me espera no quarto ou pode ir embora. Você quem sabe. — Digo sem paciência e disco o número da Ayumi.
— Oi! Léo, tudo bem com você? Quanto tempo? — Ela atende animada.
— Você tem algo para me contar?
— Eu também estou morrendo de saudades, Kaléo. Como está? — Diz debochada e respiro fundo.
— O assunto é sério, Ayumi! Nós nos falamos sempre e fico sabendo por terceiros que você está namorando aquele idiota. Pensei que fossemos amigos!
— Eu ia te contar. Só estava esperando para ver se iria dar certo esse relacionamento. Não queria me antecipar.
— Pois não dará! Clarck, esse cara não presta e você sabe disso!
— Isso é ciúme, Kaléo? Nada abalará e nem acabará com a nossa amizade. Somos um! Lembra?
— Ayumi! — Digo já cansado de discutir. Ela é muito teimosa e quando coloca algo na cabeça, é difícil de tirar.
— Nossa amizade é muito importante para mim! Não quero brigar com você. Apenas respeite minha decisão e veremos no que dará.
— Ok.
— Mas me conta… o que você anda fazendo?
— Nada nesse momento. Mas tenho que encontrar alguém agora. Depois nos falamos.
— Ok — ouço sua respiração. — Não fique chateado. — Pede ela com a voz triste, mas não dá, não dessa vez.
— Impossível!
Encerrei aquela chamada com uma dor profunda no peito, incapaz de compreender como ela poderia ter agido dessa forma comigo. A partir daquele momento, minha vida tomou um rumo diferente, e gradualmente nos afastamos cada vez mais. Hoje em dia, é quase impossível falar com ela, todas às vezes que tento ligar, sou direcionado para a caixa postal, sendo essa a única maneira de ouvir a voz de Ayumi. A falta que ela me faz é avassaladora, e o pior é que me vejo completamente no escuro, sem entender o que está acontecendo. Pego meu telefone e disco o número dela, esperando que dessa vez seja diferente. A chamada ecoa até cair na caixa postal, mas não desisto e tento uma última vez.
Para minha surpresa, dessa vez nem mesmo o som de chamada é ouvido, sou direcionado imediatamente para a caixa postal. Então, ouço a mensagem automatizada da Ayumi, aquela voz que tanto conheço e que desperta uma saudade intensa. Ela diz com sua risada encantadora: — Se você quer falar com Ayumi Clark, digite um agora. Se você quer falar com a Yumi, digite dois e deixe uma mensagem bem legal. Eu retornarei a ligação.
Ao escutar essas palavras, minha saudade aumenta ainda mais. Questiono-me se está tudo bem com ela, pois sinceramente não confio naquele sujeito de jeito nenhum.
Respiro fundo e decido deixar uma mensagem na caixa postal, desejando que minha voz transmita todo o amor e carinho que sinto por ela: — Oi, minha Smile. Estou com saudades! Estou voltando para San Diego e estou ansioso para te ver. Eu te amo, Smile, e sempre amarei — desligo o telefone, sentindo uma sensação desconhecida e incômoda que está gradativamente corroendo meu interior.
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Cheguei a San Diego há exatamente uma semana, sentindo-me ansioso e alegre com a surpresa que estava prestes a fazer para Ayumi. Decidi visitá-la no trabalho, esperando ver seu sorriso encantador e sentir seu abraço caloroso. No entanto, assim que chego na empresa onde ela costumava trabalhar, sou confrontado com uma notícia surpreendente: Ayumi já não trabalha lá há algum tempo. Essa revelação me deixa perplexo e preocupado. Vou direto para o local onde ela mora e converso com o porteiro do prédio, em busca de respostas. Para minha consternação, ele informa que Yumi havia se mudado há quase um ano. Esse fato me deixa ainda mais inquieto, pois conheço bem Ayumi e sei que ela não costuma agir dessa maneira repentinamente. Uma sensação de apreensão toma conta de mim, mas eu não consigo identificar exatamente o que está acontecendo.
Com essas questões pairando constantemente em minha mente, resolvo fazer uma visita à empresa de arquitetura onde meu irmão Lucca é sócio. No entanto, para minha surpresa, descubro que o verdadeiro dono é Carl, algo que minha irmã maluca estava prestes a me contar naquele dia, mas eu a interrompi antes que pudesse fazê-lo. Assim que Carl me vê, percebo imediatamente uma expressão de desaprovação se formando em seu rosto. Parece que ele não está nada satisfeito com a minha presença ali, mas eu estou determinado a encontrar Ayumi e não vou abandoná-la novamente.
Entro em uma breve conversa com Carl, que me assegura, com falsidade, que Ayumi está bem e que eles moram juntos. Ele promete que pedirá a ela para entrar em contato comigo, mas eu sei que é mentira. Ele não tem sido sincero comigo e jamais admitiria que eu estava procurando pela Ayumi. Eu nunca me enganei quanto ao caráter das pessoas e Carl não seria a exceção. Seu rosto demonstra insatisfação ao me ver ali, questionando sobre Ayumi, e se ele acha que eu deixarei isso passar, está enganado.
Decido partir, pois não suporto mais olhar para a cara daquele idiota. Saio da empresa e vago um tanto perdido pelas ruas. Embora as conheça como a palma da minha mão, sinto-me desorientado e sem rumo. Continuo caminhando, buscando ar fresco para clarear minha mente turva. Envolvido em pensamentos sobre minha Smile, o apelido carinhoso que eu dei a Ayumi por causa do seu sorriso, acabo esbarrando em algumas pessoas, que me lançam olhares descontentes.
— Me desculpe! — Murmuro enquanto paro em frente a uma boate.
Ao ler a placa iluminada, decido entrar. Naquele momento, anseio por uma dose generosa de uísque escocês para afogar minhas preocupações. Entro e me arrasto até o balcão do bar. Assim que me sento, chamo o barman, que logo vem em minha direção, enxugando as mãos em um pano impecavelmente limpo.
Ao me perguntar o que eu desejo, solicito uma dose dupla de uísque escocês. Com habilidade, ele serve a bebida rapidamente, e eu levo o copo aos lábios, consumindo-o de uma só vez. Sinto a ardência reconfortante descer pela minha garganta e coloco o copo de volta no balcão, recebendo outra dose em seguida. — Um dia difícil? — Pergunta o barman, demonstrando interesse. — Sim! Eu adoraria resolver tudo isso, mas não faço ideia por onde começar. Engajamos em uma breve conversa, e percebo que, sem prestar atenção, já estou extremamente embriagado. Saio do bar e olho para a rua, estranhamente calma esta noite. Um sorriso se forma em meus lábios ao imaginar Ayumi parada ali, na minha frente, com as mãos na cintura, lançando-me um olhar sério ou até brigando comigo por beber. Ela nunca aprovou me ver nesse estado, muitas vezes pegava o copo da minha mão e o esvaziava, sem nem mesmo saber o que era, apenas para me incentivar a ir embora. Eu sempre lhe dizia que queria terminar a bebida, m
Abro os olhos e estou em uma rua com poucas casas, algumas são bem simples e outras nem ao menos possuem vidros nas janelas. Vou caminhando e paro em frente a uma casa. O quintal é pequeno, a grama está mal cuidada e queimada pelo sol, tem um pequeno quadrado de tijolos pintados de vermelho que é uma caixa de areia, com alguns brinquedos que reconheço. Mais adiante, tem um balanço improvisado em algumas vigas e um escorregador de metal. Meu coração dispara e abro o pequeno portão, entrando. Ando pelo caminho de grama e olho pela janela, vendo-a. Lágrimas inundam os meus olhos, ela me olha e sorri. Corro até a porta, abrindo-a, e ela está de braços abertos.Vou até ela e a abraço, choro ali sentindo a dor da saudade crescer ainda mais em meu peito. — Que saudade, mamãe! — Falo em meio ao choro. — Também estava com saudade, meu pequeno — ela me afasta e limpa as minhas lágrimas. — Quero que seja forte, que nunca mude o que você é aqui dentro… — ela diz, colocando a palma de sua mão s
Alguns Dias Depois…Não consegui ficar me divertindo com o pessoal. O que Carl disse não sai da minha cabeça. Ayumi não iria embora com outra pessoa sem nos falar e muito menos nos trair. Ela não é assim! A conheço como a palma da minha mão! É um absurdo. Tem algo aí e descobrirei. Chego no meu apartamento após mais um dia cansativo na empresa e subo direto para o meu quarto. Preciso de um banho e assim o faço. Depois visto uma calça do conjunto do pijama e desço as escadas indo direto para a cozinha, onde encontro um bilhete da Dona Havah na geladeira.Oi querido! Tem macarrão com queijo na geladeira, salada e filé de peixe grelhado. Coma! Saberei se não comer e descanse. Beijos da mamãe… Te amo!Sorrio para o bilhete, o pego e vou até um grande quadro que tenho no meu escritório aqui em casa, abro a tampa de vidro e o coloco no quadro junto com os outros, fecho o quadro e me lembro de quando essa ideia surgiu. Lembranças…— A nossa mãe enfeita tanto a sua geladeira de bilhetes, qu
— Oi!— Te chamei várias vezes, mas você não respondia.— Me desculpe, é que eu estava me lembrando do dia em que cheguei na casa dela. — Minto, pois essa parte meus amigos não sabem e os únicos são meus pais e irmãos.— Ah! Cara, eu me lembro da minha mãe dizendo que a sua ia acabar indo parar no hospital de tanta ansiedade. — Acabo rindo e conversamos mais um pouco. Depois desligo, pego a foto à frente e fico a olhando, me lembrando do dia em que a Ayumi chegou no orfanato.Lembranças… Anos atrásA neve está começando a cair. Hoje está mais frio e cinzento. Gosto da cor cinza no céu, é tão linda! Sempre que a saudade dela aperta, venho até a janela e fico admirando o começo do anoitecer. As outras crianças maiores sempre encrencam comigo porque gosto de ficar aqui na janela do sótão admirando a rua e observando as pessoas passarem. Tem uma menina que mora aqui que não gosta de mim, ela vive implicando comigo e fujo dela. Foi assim que descobri esse lugar.Gosto de olhar a paisagem,
Maldito e mentiroso! Tento ligar mais uma vez para o número do desgraçado, mas só cai na caixa postal. Deveria ter pedido o novo endereço desse infeliz ao Mayke, isso é, se ele não mentiu para o MK também sobre sua localização. Mas agora ele não tem para onde correr. Disco o número do meu amigo.— Cara, você me ama muito. — Atende brincalhão como sempre, mas o assunto agora é sério.— Ayumi me ligou! — Digo rápido, não dando espaço para mais brincadeiras. Ele fica em silêncio, então continuo: — Ela está com aquele merda, ele mentiu! Você precisa me ajudar ou ele irá matá-la! — Minha respiração está acelerada, meu coração parece que a qualquer momento sairá do meu peito, minhas mãos estão tremendo.— Calma, Kaléo! Fale mais devagar e me conte desde o começo, estou de plantão no departamento há mais de 24 horas, estou meio lento. — Respiro fundo e começo a contar.— Depois que desligamos, resolvi me afundar no trabalho. Mas não consegui e aí você me mandou o e-mail com os dados dele e
Quando olhei para a casa novamente, o fogo já estava apagado e um policial veio em nossa direção, deixando minha boca seca.— Senhor, os bombeiros acharam um corpo carbonizado no meio dos escombros e tudo indica ser de uma mulher. Já chamamos o médico legista. — Olho para Mayke e todo aquele fio de esperança de que ela poderia ter conseguido fugir, se vai.— Obrigado, Filip. Kaléo, é melhor você ir para casa. Pode ficar tranquilo que te ligo assim que arrumarmos toda papelada para o enterro. Vou pedir para o Filip te levar. — Não sei nem o que falar e só sigo o tal de Filip. Entramos no carro e vejo um carro preto com um símbolo de perícia chegar. Eles tiram da parte de trás uma maca, nela há uma espécie de saco preto e seguem para os escombros.Nesse momento, arrependimento é o que me define. Arrependimento de não ter ficado ao seu lado… Tudo o que eu queria era o poder de voltar no tempo e poder vê-la novamente. Minha mente está uma bagunça, meu coração está em pedaços. Sou tirado d
Após contar tudo o que aconteceu, todos ficaram muito tristes. As meninas choraram muito e não aceitam que Ayumi se foi. Jackson está em choque, por conhecer Carl desde pequeno e nos contou que o pai de Carl matou a mãe dele. Ele foi obrigado a ver tudo, e quando o pai de Carl foi preso, a mãe de Jackson o adotou e o criou como se fosse um filho, ele o tinha como um irmão.Depois que todos foram embora, fiquei sozinho com a dor esmagadora em meu peito e a saudade como minha única companhia. ••••••• 🌺🦋🌺 ••••••••Já são 10 horas da manhã e não consegui dormir. Me levanto e vou para o banheiro, preciso de um banho. Tiro minha calça de moletom e a minha camiseta, indo para o box. Abro o chuveiro e não espero a água esquentar, já me enfio debaixo dela. Deixo a água gelada cair em mim para ver se tira essa dor horrível, mas não funciona. Parece que piora e me sinto como se estivesse em uma gaiola preso. Não sei o que me dá e começo a dar socos na parede e no vidro do box, até que ele se
Em seguida, vou até a gaveta e pego o colar que ela me deu quando éramos crianças. Mais uma lembrança vem, como se isso tivesse acontecido ontem e não há quase 17 anos…Lembranças… Faz seis meses que estou morando na casa da Havah e estou indo ver a Ayumi. Assim que avisto a casa, já a vejo no portão com um vestido rodado rosa, com seu longo cabelo castanho solto e com uma tiara de princesa. Quando Jhon para o carro e destrava a porta, já desço e ela abre um lindo sorriso, o que me alegra tanto. Amo os sorrisos dela e aqueles olhos castanhos cristalinos iluminam meu dia. Ayumi vem correndo e me abraça, depois pega minha mão e me leva para dentro. Seguimos até nosso balanço favorito, com ela dizendo: — Que bom que veio me visitar, Léo! Estava com saudade!Sorrio porque ela ainda não consegue falar meu nome direito, mesmo eu tentando ensinar várias vezes a pronúncia com a letra K, ela nunca consegue.— Eu também estava, Ayumi.Ela sorri e sobe no balanço. Faço