Não consegui ficar me divertindo com o pessoal. O que Carl disse não sai da minha cabeça. Ayumi não iria embora com outra pessoa sem nos falar e muito menos nos trair. Ela não é assim! A conheço como a palma da minha mão! É um absurdo. Tem algo aí e descobrirei. Chego no meu apartamento após mais um dia cansativo na empresa e subo direto para o meu quarto. Preciso de um banho e assim o faço. Depois visto uma calça do conjunto do pijama e desço as escadas indo direto para a cozinha, onde encontro um bilhete da Dona Havah na geladeira.
Oi querido! Tem macarrão com queijo na geladeira, salada e filé de peixe grelhado. Coma! Saberei se não comer e descanse.
Beijos da mamãe… Te amo!
Sorrio para o bilhete, o pego e vou até um grande quadro que tenho no meu escritório aqui em casa, abro a tampa de vidro e o coloco no quadro junto com os outros, fecho o quadro e me lembro de quando essa ideia surgiu.
— A nossa mãe enfeita tanto a sua geladeira de bilhetes, que deveria fazer um quadro com eles. — Lucca diz vindo da cozinha com uma cerveja em uma mão e na outra, balançando o bilhete o entregando para mim.
— Pare de ser ciumento Lu, a mamãe faz isso quando vai na casa de qualquer um de nós, ela sempre deixa um bilhetinho. — Olly fala aparecendo com uma tigela enorme de doritos com queijo derretido.
— Essa é a forma dela de dizer que nos ama, até mesmo eu que não sou filho recebo bilhetes dela. — Mayke comenta pegando um frango frito da vasilha.
— Tenho uma ideia, cada um monta algo para os bilhetes dela — Olly diz batendo palmas e grita eufórica. — Ela vai amar isso, vai ser a nossa forma de guardar com carinho os bilhetes dela.
— Eu topo. — Mk diz.
— Tô dentro. — Lucca fala olhando para a televisão e ganha um peteleco da Olly.
— Você nem prestou atenção no que falei.
— Claro que sim Olly, vamos fazer algo maneiro para a dona poderosa.
— E isso é jeito de falar da nossa mãe, Lucca? — Olly faz um gesto negativo para ele que sorri e faz um carrinho no rosto da nossa pequena.
— Irei pensar o que farei com os meus bilhetes. — Falo e bebo a minha cerveja.
Sorrio e volto para a cozinha, abro a geladeira e pego o macarrão. Coloco a travessa no micro-ondas e o ligo. Assim que está pronto, pego a travessa colocando em cima da mesa, destampo e o cheiro é maravilhoso! Pego um prato limpo no armário, os talheres, um copo e me sirvo. Não comerei o peixe, ela sabe que não sou muito fã. Pego a salada e o suco de laranja, coloco tudo em uma bandeja e sigo para o meu escritório novamente. Me sento na minha cadeira e ligo para o MK. Preciso ver com ele como anda a busca pela Ayumi. Ele atende no segundo toque…
— Oi! Bobão, como está?
— Estou bem, babão — só Mayke para me fazer rir em um momento desses. — Porém, preocupado com a Ayumi! Alguma notícia? — Que ele diga sim! Por favor, diz que achou algo.
— Não, mas estou fazendo tudo o que posso para achá-la. Porém, o número de telefone que você me deu está dando inexistente. — Assim que ouço, desisto de levar o garfo à boca.
— Liguei várias vezes também e por um tempo eu ouvia a sua mensagem do correio de voz, mas agora é o mesmo que você disse.
— Mas estamos refazendo os últimos passos dela e falando com quem a viu antes do sumiço. Falamos com o Carl e ele disse que a Ayumi o traiu e assim fugiu com um cara que trabalhava com ela. Fomos à empresa onde ela trabalhava e disseram que nenhum homem que trabalha lá pediu demissão ou sumiu, a não ser a Ayumi. Nem mesmo para dizer que não trabalhará mais lá ela foi. Apenas foi apresentado uma carta dizendo que ela estava pedindo demissão.
— Uma carta?
— Sim, e ainda foi levada pelo Carl. Ah, e você não sabe da maior, a empresa é do Carl.
— Mentira! — Falo sem acreditar.
— Descobri porque o vi chegar quando estava saindo. Então fui conversar com ele e o próprio me contou ser o CEO de algumas empresas, mas não perguntei como isso aconteceu, na verdade, investigando a fundo descobri que uma mulher chamada Stefani Maier, passou para ele as empresas, na verdade, foram casados.
— Como assim foram?
— Ela faleceu, decorrido a um infarto.
— Eu duvido muito que tenha sido isso!
— Os documentos comprovam, mas sabemos de quem estamos falando e ele pode ter mexido os pauzinhos para matá-la. Mas voltando ao assunto, o quadro de funcionários que trabalharam lá ou trabalham continua sendo o mesmo, sem nenhuma demissão, só a da Ayumi e outras admissões.
— Isso é muito estranho, MK! Tudo isso é algo que não vejo explicação.
— Quando chamamos Carl para interrogá-lo, ele chorou e disse que ama muito a Ayumi, que até saiu do apartamento dele, porque tudo lá o fazia lembrar dela, que mesmo ela fugindo e o traindo com outro, ele ainda a ama.
— MK, isso está muito estranho! Por que o Carl não estava aparentando sofrimento quando o vi? Por que ele estava agarrado com uma estranha parecida com um periquito, quando começa a criar penugem, na boate? — Mayke começa a rir e o porquê? Eu não sei! — O que você está rindo?
— Nunca nesses quase vinte anos que lhe conheço, ouvi ou vi você maldizer alguma mulher. O que há com você?
— Vai catar coquinho no deserto de Marte, capitão.
— Olha o desrespeito, meu rapaz. Posso te prender por desacato.
— Ah! Isso quero ver, até porque se você me prender, conto os seus podres para o departamento inteiro.
— Isso é golpe baixo, jogo sujo.
— E alguma vez eu disse que jogaria limpo?
— Não! — Fala sorrindo.
— Esse capitão é um menino esperto! — Sorrimos juntos.
— Mas estou fazendo de tudo para achá-la, Léo, e você será o primeiro a descobrir quando acontecer.
— Eu não posso perdê-la, Mayke. Ela é a minha amiga, minha protegida. É o meu anjo dos olhos castanhos. — Digo isso olhando para o porta-retrato que tem na minha mesa onde estamos nós dois, quando éramos crianças.
— Eu sei, cara. Sei que você e a Ayumi têm uma ligação incrível e única, são como irmãos! Farei o máximo para achá-la.
— Obrigado, meu amigo, e já ia me esquecendo… A dona Havah falou que se você me ligasse ou eu te ligasse, era para dar um recado.
— Xi! Que lá vem bomba!
— E que se não desse o recado, teria meu bem mais precioso arrancado. — Digo rindo e ele gargalha, pois sabemos que a minha mãe é doida!
— Dona Havah não muda nunca! E qual é o recado? Já tenho até medo.
— Que se você não aparecer lá, ela vai ao departamento te buscar pela orelha e que você é um rapaz ingrato por abandoná-la.
— Eita! É a rainha do drama mesmo. Fui vê-la na semana passada.
— Mas você sabe que a semana passada para ela é há quase uma década.
— Sim, verdade. Me lembro do dia em que você chegou na casa dela, ela faltava soltar fogos.
Havah e John não são meus pais biológicos. Fui para o orfanato quando tinha cinco anos. Minha mãe foi morta pelo meu padrasto, que só não me matou porque ela me escondeu no porão da casa onde morávamos, mas vi tudo pela fresta que tinha no piso de madeira. A polícia só achou a mim e minha mãe porque uma vizinha achou estranho não me ver brincando no quintal, até porque minha mãe me levava diariamente para brincar no parquinho improvisado que ela mesma fez.
Sou tirado dos meus devaneios com o Mayke me chamando: — Kaléo, está aí?
— Oi!— Te chamei várias vezes, mas você não respondia.— Me desculpe, é que eu estava me lembrando do dia em que cheguei na casa dela. — Minto, pois essa parte meus amigos não sabem e os únicos são meus pais e irmãos.— Ah! Cara, eu me lembro da minha mãe dizendo que a sua ia acabar indo parar no hospital de tanta ansiedade. — Acabo rindo e conversamos mais um pouco. Depois desligo, pego a foto à frente e fico a olhando, me lembrando do dia em que a Ayumi chegou no orfanato.Lembranças… Anos atrásA neve está começando a cair. Hoje está mais frio e cinzento. Gosto da cor cinza no céu, é tão linda! Sempre que a saudade dela aperta, venho até a janela e fico admirando o começo do anoitecer. As outras crianças maiores sempre encrencam comigo porque gosto de ficar aqui na janela do sótão admirando a rua e observando as pessoas passarem. Tem uma menina que mora aqui que não gosta de mim, ela vive implicando comigo e fujo dela. Foi assim que descobri esse lugar.Gosto de olhar a paisagem,
Maldito e mentiroso! Tento ligar mais uma vez para o número do desgraçado, mas só cai na caixa postal. Deveria ter pedido o novo endereço desse infeliz ao Mayke, isso é, se ele não mentiu para o MK também sobre sua localização. Mas agora ele não tem para onde correr. Disco o número do meu amigo.— Cara, você me ama muito. — Atende brincalhão como sempre, mas o assunto agora é sério.— Ayumi me ligou! — Digo rápido, não dando espaço para mais brincadeiras. Ele fica em silêncio, então continuo: — Ela está com aquele merda, ele mentiu! Você precisa me ajudar ou ele irá matá-la! — Minha respiração está acelerada, meu coração parece que a qualquer momento sairá do meu peito, minhas mãos estão tremendo.— Calma, Kaléo! Fale mais devagar e me conte desde o começo, estou de plantão no departamento há mais de 24 horas, estou meio lento. — Respiro fundo e começo a contar.— Depois que desligamos, resolvi me afundar no trabalho. Mas não consegui e aí você me mandou o e-mail com os dados dele e
Quando olhei para a casa novamente, o fogo já estava apagado e um policial veio em nossa direção, deixando minha boca seca.— Senhor, os bombeiros acharam um corpo carbonizado no meio dos escombros e tudo indica ser de uma mulher. Já chamamos o médico legista. — Olho para Mayke e todo aquele fio de esperança de que ela poderia ter conseguido fugir, se vai.— Obrigado, Filip. Kaléo, é melhor você ir para casa. Pode ficar tranquilo que te ligo assim que arrumarmos toda papelada para o enterro. Vou pedir para o Filip te levar. — Não sei nem o que falar e só sigo o tal de Filip. Entramos no carro e vejo um carro preto com um símbolo de perícia chegar. Eles tiram da parte de trás uma maca, nela há uma espécie de saco preto e seguem para os escombros.Nesse momento, arrependimento é o que me define. Arrependimento de não ter ficado ao seu lado… Tudo o que eu queria era o poder de voltar no tempo e poder vê-la novamente. Minha mente está uma bagunça, meu coração está em pedaços. Sou tirado d
Após contar tudo o que aconteceu, todos ficaram muito tristes. As meninas choraram muito e não aceitam que Ayumi se foi. Jackson está em choque, por conhecer Carl desde pequeno e nos contou que o pai de Carl matou a mãe dele. Ele foi obrigado a ver tudo, e quando o pai de Carl foi preso, a mãe de Jackson o adotou e o criou como se fosse um filho, ele o tinha como um irmão.Depois que todos foram embora, fiquei sozinho com a dor esmagadora em meu peito e a saudade como minha única companhia. ••••••• 🌺🦋🌺 ••••••••Já são 10 horas da manhã e não consegui dormir. Me levanto e vou para o banheiro, preciso de um banho. Tiro minha calça de moletom e a minha camiseta, indo para o box. Abro o chuveiro e não espero a água esquentar, já me enfio debaixo dela. Deixo a água gelada cair em mim para ver se tira essa dor horrível, mas não funciona. Parece que piora e me sinto como se estivesse em uma gaiola preso. Não sei o que me dá e começo a dar socos na parede e no vidro do box, até que ele se
Em seguida, vou até a gaveta e pego o colar que ela me deu quando éramos crianças. Mais uma lembrança vem, como se isso tivesse acontecido ontem e não há quase 17 anos…Lembranças… Faz seis meses que estou morando na casa da Havah e estou indo ver a Ayumi. Assim que avisto a casa, já a vejo no portão com um vestido rodado rosa, com seu longo cabelo castanho solto e com uma tiara de princesa. Quando Jhon para o carro e destrava a porta, já desço e ela abre um lindo sorriso, o que me alegra tanto. Amo os sorrisos dela e aqueles olhos castanhos cristalinos iluminam meu dia. Ayumi vem correndo e me abraça, depois pega minha mão e me leva para dentro. Seguimos até nosso balanço favorito, com ela dizendo: — Que bom que veio me visitar, Léo! Estava com saudade!Sorrio porque ela ainda não consegue falar meu nome direito, mesmo eu tentando ensinar várias vezes a pronúncia com a letra K, ela nunca consegue.— Eu também estava, Ayumi.Ela sorri e sobe no balanço. Faço
A viagem transcorreu em silêncio. Tayson estava de folga e vim dirigindo. Foi muito difícil devido às lágrimas. Assim que cheguei, Mayke já estava à minha espera e entramos. Assinei toda a papelada para liberarem o corpo e meu amigo disse que comprou o caixão, que quando liberarem o corpo poderíamos ir para o cemitério e que todos já estavam lá. Agradeci e, depois de 20 minutos, liberaram o corpo de Yumi. O carro da funerária já estava à nossa espera e, deste modo, seguimos para o cemitério.Mayke está comigo no meu carro e diz: — Aonde irão sepultá-la?— Ela irá para o jazigo da minha família.— Ok. Não consegui falar com a Amora.— Me passe o número dela que ligarei. — Mayke digita no painel o número dela e ligo. Chama e, no terceiro toque, ela atende: — Alô?— Amora?— Sim, é ela! Quem fala?— Kaléo, você se lembra de mim? Eu era do orfanato da sua mãe.— Ah sim! Oi! Kaléo, tudo bem com você? Quanto tempo?— Amora, estou ligando para te falar sobre a Ayumi.— O que ela aprontou de
Ele coloca o boné em cima do caixão e volta para junto dos nossos amigos. Todos recitaram alguns versos que a Ayumi sempre lia. Ela era fã de poemas e versos. Vivia recitando alguns para nós.O reverendo começa o seu discurso e, quando já está acabando, diz: — Ouçam estas palavras sobre nosso grande e imutável Deus. Justo é o Senhor em todos os seus caminhos, e santo em todas as suas obras. Perto está o Senhor de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade. Ele cumprirá o desejo dos que o temem, ouvirá o seu clamor, e os salvará. O Senhor guarda a todos os que o amam, mas todos os ímpios serão destruídos. A minha boca falará o louvor do Senhor, e toda a carne louvará o seu santo nome pelos séculos dos séculos e para sempre (Salmos 145:17-21).Assim que ele termina, ele me olha e faz um gesto positivo com a cabeça. Então coloco minha mão no caixão e digo: — “A despedida é um momento de tristeza em que corações se preparam para viver uma saudade.” Sentirei tanta a sua f
Alguns dias antes…Meu nome é Evelyn, tenho vinte e cinco anos, casada com o Paul e estamos juntos há oito anos. Nós nos conhecemos no ensino médio e não nos desgrudamos mais! Temos um filho de quatro aninhos que se chama Thomas. Ele é um amorzinho e muito ciumento. Paul é um excelente pai e um ótimo marido. Está sempre inovando para que o nosso casamento não caia na rotina e, claro, para conseguirmos ter um tempo para nós dois, pois Thom não deixa. Acabamos de deixar Thom com os pais de Paul e ele me disse que será surpresa para onde vamos. Entramos no carro e ele liga o som começando a tocar uma música linda. Ele pega a minha mão que está na minha perna. Olho para ele que a beija e sinto meu coração disparar, como acontecia quando éramos namorados no colégio. Chegamos na reserva e entramos com a caminhonete por um caminho escuro. Começamos a subir por uma estrada e, depois de um tempo, Paul estaciona em cima de uma montanha. A vista daqui é linda! Conseguimos avis