ANA MARIA
Como a vida é linda.
Bela, quando vivida intensamente.
Estava tão feliz, que nada tirava o sorriso do meu rosto.
— Olha aqui para mim. — Felipe parou do meu lado no caixa e me abraçou de lado.
— Quê?
— Devo me preocupar?
— Com o quê?
— Com o cara por quem cê tá apaixonada.
— Eu não estou apaixonada, estou feliz.
— Eu conheço este sorriso bobo. Tá muito feliz, consegue nem esconder o sorriso. Tô feliz por você, só quero saber se devo me preocupar. Ele é do bem?
— Acho que sim, ele tem sido uma ótima pessoa, tanto para mim quanto para minha filha.
— É isso que importa. Qualquer coisa já sabe, né? Mando os mano colar e nós têm um teti a teti com o vacilão.
— Não vai precisar.
— E mais tarde, Chopada? Malú não está aí, então não tem desculpa.
— Acho que não vai dá, tenho compromisso.
— Qual foi? Abandonando as amizades por causa de macho, piranha?
Impossível não se dar bem com esses meninos.
— Para, Fê. — Empurrei seu ombro de leve, rindo da sua reação.
— Leva ele, pô, pra nós conhecer o comédia.
— Vou pensar no seu caso.
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Final da tarde eu saí do trabalho, devendo uma mensagem de confirmação para os meninos, que insistiram muito pela nossa presença. Não confirmei porque não sei qual é a do Miguel, e se ele não se sentir bem, se afetar alguma coisa em sua mente?
Ele, até o momento, não saiu para nada, apenas na casa da Fátima e comigo. Deixo a chave do portão com ele e mesmo assim: Ele não sai.
Assim que cheguei em casa abri o portão e estava um silêncio.
Até sei onde ele está.
Seu corpo tem ganhado forma, e percebi que ele está bem focado em sua alimentação, seus gostos por besteira são nulos.
Talvez na rua ele tenha sofrido por causa disso. Afinal, não tinha muito o que escolher, mas aqui em casa ele sempre dá preferência para os legumes e verduras.
Eu agradeço, porque Malú vendo ele comer essas coisas, se interessa, já que a mamãe aqui não consegue ter uma alimentação saudável.
— Oi.
Encostei na parede, vendo ele subir e desce na barra com as pernas cruzadas e as costas suada.
— Olá. Como você está? — Veio em minha direção com um sorriso maroto.
— Bem e você?
— Muito solitário. — Me abraçou e eu não me importei que estivesse todo molhado. — Linda. Notícias da alteza real?
— Daqui a pouco vou ligar para o Rodrigo. E, eu recebi um convite para um Chopp com os caras do trabalho.
Ele ficou sério e tirou os braços da minha cintura. Passou uma das mãos no cabelo, em um claro sinal de desconforto.
— Legal.
— O convite é para você também. Claro, se quiser ir.
— Você quer ir?
— Ah, seria bom curtir a noite. Faz tanto tempo que eu não saio.
— Então vamos.
— Miguel, ei... se você se sentir desconfortável, é só falar.
— Sair na rua me dá medo, mas se você está do meu lado, fica tudo bem, meu mel.
— Hummmm. — Eu o abracei, pois quando ele me chama assim, é totalmente mágico. — Vou falar com o Rodrigo e depois me arrumar.
— Posso falar com a Malú? Só dar um oi?
Liguei para meu amigo e ele já estava queimado do sol, hoje fez um calor absurdo. Que bom que eles aproveitaram. Recebi muitas fotos, ouvi a euforia da minha pequena, contando que a tia Katy ajudou a achar conchas do mar.
Contou, encantada, dos cachotes que levou na água e Miguel ria.
Depois de um tempo, Kátia a levou para o banho, ela estava totalmente cansada.
— Vou tomar banho e deixar vocês conversarem.
— Não, Miguel, queria trocar ideia contigo — disse Rodrigo. Estávamos em chamada de vídeo.
— Sim.
— É seguro eu permanecer? — questionei.
— De boa, Nana. Malú falou bem de você! Vou te falar que eu não gostei nada da Nana te colocar dentro da casa dela assim. Mas, a minha sobrinha falou bem de você, que cuida dos ursinhos e pá. Contou um monte de parada e é aquelas coisas, Malú é minha vida, eu não vou pensar duas vezes para fazer uma besteira caso você pise na bola com ela ou com a Nana, papo de sujeito homem.
— Eu te entendo, Rodrigo. Não quero o mal delas, isso não é do meu caráter. Prefiro que aconteça comigo, do que com elas.
— Tranquilidade. Sempre bom trocar ideia pra tá ciente dos bagulhos. E assim, né, nada certo, mas é um pingado, tinha falado com a Nana sobre trabalho pra você e como cê não tem documento nenhum, fica foda, tendeu? Mas, eu desenrolei com um conhecido e ele disse que cê pode ajudar no depósito de bebidas dele, é lá na Brasilândia. Não é registrado, mas toda semana pinga um.
— Co-como assim? — Ele me olhou confuso.
— Trabalho, Miguel, é um trabalho para você. Você aceita?
— Claro! Eu aceito o que for — respondeu nem esperando eu acabar de falar.
— É nós, então! Segunda-feira, quando sair do trampo, eu colo aí para te levar lá no mano. Sei lá o que é para fazer, chegando lá tu desenrola.
— Obrigado, Rodrigo. Fico grato.
— Tem de que, não. É pelas minhas meninas.
Rodrigo como sempre sério. Nem parece que vira uma marionete nas mãos da Malú. Ele desligou e Miguel não se continha de felicidade.
— Está dando tudo certo na minha vida, depois de muita dor e desespero, está dando tudo certo, meu mel.
— Estou tão feliz por isso, que bom que está dando certo. Fico até com medo dessa felicidade toda acabar.
— Não vai. Eu te prometo aqui, eu vou reconstruir a minha vida aqui com vocês. Vou procurar uma delegacia e vou tirar outros documentos. Vai dar tudo certo.
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Chegamos no bar que ficava próximo à Avenida Itaberaba, não olhei o bairro direito, pois Felipe só passou a localização.
Pegamos um ônibus e viemos. Miguel olhou aquele monte de gente e ficou inseguro. Ele segurou firme em minha mão e eu o encarei para que se acalmasse, ele então me assentiu.
— Oiê!
— Minha gatinha veio. —Felipe foi o primeiro a se levantar e vir me abraçar.
— Caralhooooooo, viado. Maior honra a pequena aparecer no nosso encontro. — Logo depois foi o Tales.
Tive que abraçá-los, segurando na mão do Miguel, que não tinha a menor intenção de soltar.
— Este é Miguel.
— E aí? — disse Felipe.
— Boa noite — respondeu Miguel.
— Não falou nada para a gente que estava namorando? — Tales me questionou. — De onde você tirou esse cara? É algum jogador de basquete aposentado?
— Modera. — Felipe deu um tapa na nuca de Tales.
— Foi mal, foi mal. Camila, vem conhecer a pequena.
Nessa hora, Felipe se afastou e voltou a sentar.
— Ana, essa é Camila, minha namorada. E amor, essa é a nossa pequena e o namorado dela, o Miguel.
O Tales me mata de vergonha, mas foi a única hora até o momento, que eu vi o Miguel relaxar, até me puxou pela cintura e me deu um beijo na bochecha, rindo.
— Gostei — sussurrou no meu ouvido.
— É um prazer, Tales fala muito de você.
— O prazer é todo meu.
— Não sei, cara, parece que eu já te vi em algum lugar. — Ela se virou para o Miguel e falou.
— Eu? Onde? — As perguntas dele foram repletas de esperança.
— Não sei. Se eu lembrar... eu falo.
— Bora sentar, Felipe falou que ia trazer um cara, mas ele até agora não chegou.
Sentamos na mesa e eles pediram uma rodada de cerveja e porções.
Um grupo de pagode começou a tocar ao vivo e foi tudo de bom. Os meninos são muito alegres, até eles mesmos entrarem em discussões bobas. Quem fica de fora garante a risada, porque são coisas tão fúteis, mas eles não podem parar de se pirraçar. É o lema.
Miguel não bebia cerveja, então achei melhor não abusar muito.
— Não vai beber mesmo?
— Acho melhor não, tem álcool. Não sei se vai fazer bem e não quero te envergonhar na frente dos seus colegas de trabalho.
— Lindo.
Dei um selinho nele e em troca, ele me roubou vários. Seus gestos carinhosos e sua preocupação, sempre comigo, dizem muito a seu respeito.
A noite foi muito agradável, arrisquei alguns passos, fiz disputa para ver quem bebe o copo mais rápido, dei muita risada, ouvi a Camila contar sobre ela e o Tales, enquanto Felipe debochava.
Muito abusado, meu amigo. Guarda um segredo que não sei por que guarda. Já disse para ele que a vida é muito curta para não viver como nós queremos, por medo da repreensão do próximo. Ainda que esse próximo seja família ou amigos. Deixei bem claro que tem meu total apoio pra tudo.
Estávamos rindo, quando os caras da mesa do lado começaram a se alterar.
Um deles deu um tapa na mesa, que as garrafas vazias caíram no chão. Uma chuva de caco de vidros se formou e tivemos que levantar as pressas, com Miguel me colocando atrás dele, porque logo os dois caras começaram a trocar socos, e em seguida caíram pelo chão coberto de vidros.
Ver aquele monte de sangue me causava agonia. Enquanto isso, duas mulheres gritavam desesperadas para os mesmos pararem.
Miguel me deixou no canto e foi até o meio da briga, puxou o mais valentão, enquanto as outras pessoas tentavam segurar o outro.
— Eu vou te matar seu filho da puta!
— Para, nego.
Uma das mulheres correu até o homem que ameaçou o outro de morte.
O que era para ter sido uma noite de diversão, acabou sendo uma grande confusão, o bar teve que fechar, pois apareceu uma viatura da polícia e uma ambulância para levar o homem ferido.
Depois disso, me despedi dos meninos, entregando um valor para eles acertarem na conta, Felipe quis recusar, porém, eu gosto das coisas certas. Como não havia mais clima para permanecer, fui embora em silêncio com um Miguel também em silêncio. Desde que voltou de onde estava segurando um dos homens que brigava, não deu uma palavra.
Chegamos em casa ainda em silêncio e fui direto para o chuveiro, depois que saí, ele também foi. Quando ele saiu, eu já estava na cama.
— Não estou bem, acho melhor dormir na outra cama. — Ele falou da porta do quarto.
Eu me levantei, percebi que ele não estava bem, não querendo ser indelicada, pedi:
— Dorme aqui, eu cuido de você.
Primeiro veio a insegurança, me olhou por longos minutos e depois seus dedos alisaram meu rosto. Seus braços me circularam e senti o aperto desesperado.
— Ei, tá tudo bem. Esqueceu que eu estou aqui?
— Nunca, meu mel. Nunca.
— Vem. — Deitamos agarrados um no outro. Ele estava agitado. — Quer falar?
— Eu não sei o que falar, só não estou bem.
— Então fecha os olhos e durme, eu estou aqui.
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Acordei assustada no meio de uma escuridão, porém sendo agitada, já que durmo em cima do braço de Miguel. Ele gemia com muita dor. Não falava nada, mas eu sentia cada gemido dentro de mim.
— Arrrrrrgh!
Corri para acender a luz do quarto e ele estava suado, travava os dentes em seus lábios, em tamanha força, que se não parasse, ia feri-los.
— Miguel, acorda.
Eu não ia tocá-lo, ele estava muito agitado e comparado a mim, ele era muito mais forte. Corria o risco dele me agredir.
— Miguel? — gritei mais alto.
Nada dele acordar. Então toquei em seu pé.
— Acorda por favor!
Ele levantou assustado. Olhando tudo ao redor como se tivesse mais alguém na casa.
— Miguel?
Veio até mim e me abraçou forte, seguido de um beijo esmagador. Ele parecia desesperado, pois me suspendeu e me jogou na cama. Não dando mais espaço, rasgou meu baby doll e chupou a minha intimidade.
— Miguel! — Arfei, pois o medo foi substituído pelo tesão.
Dois de seus dedos me penetraram, fazendo meu corpo arquear, enquanto sua boca não perdoava meu clitóris. Segurei em seus cabelos na parte de cima que eram altos o suficiente para meus dedos o controlarem.
Ele parecia faminto e meu corpo agradecia. Sua língua começou a tremer em cima do meu monte sensível, enquanto seus dedos alisavam a parte interna da minha intimidade.
Ele era muito bom nisso, sabia exatamente onde ir.
— Ah, Miguel! Eu ...
Não tive tempo de falar, e lá estava eu... gozando em sua boca, mais uma vez.
Então subiu, roçando nossos corpos e deitando em cima de mim, beijando meu pescoço, já estava virando um hábito, ele esperar meu corpo relaxar, deitado em cima de mim.
Até que minha respiração acalmou e então eu pude perguntar.
— Está tudo bem?
— Você me acalma, meu mel. Desculpa, eu precisava disso.
— Eu que agradeço, você é fantástico.
Recebi um selinho, mas logo em seguida ele voltou a deitar a cabeça no vão do meu ombro.
— Sobre o que era o sonho? — perguntei alisando seus cabelos, onde puxei recentemente.
— Vários caras me batendo, socos... tinha um com metal pontiagudo na mão, parecendo um soco inglês e batia no meu rosto. Já estava quase desacordado, sentindo uma enorme dor e então recebi a primeira facada.
Ele se sentou e apontou para as costas, quase não alcançando o lugar, eu me sentei junto e vi uma cicatriz lá, era a entrada de uma faca. Alisei o lugar e logo em seguida dei um beijo. Não era só seu corpo que estava ferido, sua alma também. Talvez a briga no bar tenha trazido alguma memória do passado e feito com que ele se lembrasse disso. Foi inevitável não derramar uma lágrima.
— Meu mel, independente do que passou, eu estou bem, estou vivo.
— Eu ouvi seus gemidos, era de muita dor.
— Agora está tudo bem. Eu estou bem. Como não poderia estar, olha a mulher linda por quem eu estou me apaixonando.
— Você está? — Ele me puxou para o seu colo.
— Estou e não é pouco.
— Então...
Desci minha mão pelo seu abdômen até o limite da sua cueca, mas ele me impediu.
— Meu mel, não. Eu quero, mas eu não posso fazer isso com você. — Olhei para ele confusa. — Eu sofri essa violência e perdi a minha memória, vaguei na rua e não sei mais nada de mim. Não posso te expor a esse risco, eu não sei se estou limpo para te foder como eu quero.
ANA MARIA Estou sem palavras pelo seu gesto. Já disse que são nessas pequenas atitudes que eu enxergo seu caráter? Ele é um homem lindo, não só por fora, como por dentro também. Eu o abracei e depois voltamos a nos deitar para dormir. Senti seus dedos me acariciando por todos os lugares do meu corpo e com isso, adormeci. ***************************************************** — Mamãe, eu estou bem. Tchau, que agora o tio vai me levar na praia. — É assim, mocinha? Sem mais? — Só, mamãe, dá um beijo no tio Miguel. — Vou dar, quando ele chegar. Hoje, assim que acordamos, Miguel decidiu sair para correr. Ele não falou nada sobre o pesadelo da noite passada, mas acho que isso afetou na sua decisão de ficar só dentro de casa. Ele colocou umas roupas leves e tênis e saiu. Fico feliz por esse progresso, dia após dia ele está se soltando e sorrindo mais. Duas semanas que ele está conosco e parece que eu o conheço de uma eternidade. Agora sei que é verdade quando dizem que não é
ANA MARIA Felipe passou conosco o domingo até o finalzinho da tarde, quando minha princesa chegou dormindo. Com certeza, amanhã ela estará cheia de novidades e eu mais que pronta para ouvir tudo. Ela é um peixinho. Ama o mar, se fosse do querer dela, moraríamos perto de uma praia. Antes da princesa leoa, e da princesa unicórnio, e da princesa Tiana, e da princesa Rapunzel, era a princesa sereia. Enfim, mais uma semana chegou e muitas expectativas com ela também. Passei o dia no trabalho ansiosa pela entrevista que Miguel ia fazer. Tomara que dê tudo certo. Eu quero muito que tenha a sua independência, ele merece muito isso. À noite, quando cheguei, não demorou muito Rodrigo buzinou e ele saiu. Desejei toda sorte do mundo e para que pudesse ir confiante. Parece até um sonho toda essa felicidade. Eu sei que parecem ser valores invertidos, que eu vá trabalhar e ele fique em casa, torço para que consiga o trabalho por ele mesmo, porque mal ou bem, eu consigo ajudar com o básico, por
ANA MARIA Pedro nos convidou para almoçar, mesmo ressabido, Miguel concordou. Percebi que ele não ficou muito à vontade depois de saber da existência de uma noiva. Eu também estou desconfortável e, mesmo sabendo que não fizemos nada de errado, meu lado consciente me acusa. Pedro ligou para os pais de Miguel e pediram para que eles viessem com urgência, enquanto isso, Cida paparicava Malú, a elogiando por sua boa alimentação. E ela se gabava. A essa altura já havia conquistado a todos, inclusive, foi a única a arrancar um sorriso de Miguel, que sempre que Pedro iniciava um assunto, voltava a ser aquele homem sério. Permaneci calada e só respondia aquilo que me era perguntado. Neste momento, eu queria a minha casa, a minha segurança de que tudo ia ficar bem, e aqui, sabendo de todas essas coisas, eu não me sentia dessa maneira. Estava brincando com um pedaço de bife e com os pensamentos longe, quando senti a mão de Miguel buscando a minha. — Vai ficar tudo bem. Nós já vamos e
ANA MARIA Depois que Pedro foi embora, ficou um clima meio estranho entre nós dois. Não sei explicar. Malú preferiu que Miguel contasse a história naquela noite e foi melhor assim. Fui para o quarto e me deitei pensativa. Eu sei que queria muito que Miguel fosse uma pessoa simples, com uma história não muito complicada. Mas a sua família tem poder aquisitivo, ele é uma pessoa poderosa, e como a própria mãe falou, foi noticiado na TV e tudo, não ia demorar muito para a mídia descobrir sobre seu paradeiro e começar a persegui-lo, atrás de respostas. E ainda tem a noiva ou ex-noiva, não sei. — Não pensa muito, meu mel, vai ficar tudo bem— disse, fechando a porta do quarto e se achegando na cama. — Não sei se vai, Miguel. A realidade pode não ter chegado para você, mas nós dois somos de mundos completamente diferentes. Uma hora isso vai pesar. — Ana, eu sou muito grato a você por tudo que me fez e não só isso, sou completamente apaixonado por você. Em tão pouco tempo você me fe
ANA MARIA Eu prometi estar com ele. E foi por essas palavras que liguei para Felipe e pedi para ele me justificar no trabalho, coloquei Malú no transporte escolar e agora estamos aqui, chegando na rua onde Pedro mora. Chegamos na portaria e Miguel apertou a campainha. — Por gentileza, viemos ver o Pedro Monteiro. — Doutor Miguel, o senhor pode subir, o senhor nunca pediu para ser anunciado antes, já é de casa. Miguel me olhou confuso e segurou minha mão. Entramos pelo elevador no qual Pedro nos trouxe da última vez e subimos até o vigésimo terceiro andar. O frio na barriga era incontrolável, minhas mãos suavam mais que o habitual. — Que bom ter vocês aqui. Fico feliz que aceitou minha proposta, irmão. Miguel o cumprimentou com um aperto de mão e assentiu com a cabeça. — Entre, vamos tomar café, enquanto esperamos a chave. Queria te falar antes, que tio Antônio quer muito falar com você. — Não tenho nada para falar com eles. — Miguel, tio Antônio gosta muito de você
MIGUEL Acordei num quarto branco e com um acesso no braço. Ouvia sons de batimentos e ninguém no quarto. Parecia hospital. Olhei tudo ao redor e nada se parecia com o que passei, quando estava na rua. Em silêncio, aguardei que alguém viesse, sempre aparece, mesmo que eu não queira. A verdade é que eu queria apenas uma, naquele momento: Ana. Onde ela está? Procurei alguma coisa que fizesse alguém entrar no quarto e não encontrei, ainda bem que a porta se abriu, revelando Antônio e Agnes. — Meu filho, como você está? Seu pai me ligou, avisando que você tinha desmaiado. Está tudo bem, querido? — Eu estou bem. A Ana? — Ela teve que ir para casa. Não pôde ficar, disse que tinha que pegar a Malú, me pediu para dar notícias sobre você, assim que acordasse. —: Mais tarde, Antônio. Não vamos perturbar a mente do nosso filho agora. Ele teve um desmaio, com certeza é sua lucidez voltando. Devemos deixá-lo respirar. Um outro homem entrou no quarto. — Boa noite. — Doutor Brancco, alguma
FELIPE Malú, muito espertinha, já correu para o carro. Adora passear. Eu amo essa menina, amo a mãe dela. Ana foi a família que eu não tive desde que me assumi, e apesar do meu jeito hétero, que tive que aprender a ser, porque não é só da parte da minha mãe que sofria retaliação, tive que me virar com primos e tios também. Tive que esconder desde sempre minha orientação, por medo do que as pessoas pudessem pensar, pois aqueles que deveriam me dar apoio, me humilhavam e cuspiam barbaridades. Foi duro me descobrir gay e não ter nenhum tipo de suporte de nenhum lado onde eu morava. E por saber disso, meus primos achavam que podiam fazer o que quisessem comigo, tive que me livrar de muitos deles no soco, e de um tio meu também, que encheu a porra do cu de cachaça e achou que tinha liberdades comigo. Por morar em barraco e num quintal compartilhado, ele foi parar dentro da nossa casa, no canto onde eu dormia. Dei uma surra no capeta que queria abusar de mim, quando era um adolescente
ANA MARIA Miguel dormia calmamente na cama do hospital, enquanto eu o observava. Na noite passada o médico fez alguns exames e disse que hoje, na parte da manhã, nos traria todos os resultados juntos para dar um diagnóstico claro sobre seu estado. Espero que fique tudo bem, desejo o melhor para ele. Uma enfermeira passou e me entregou um kit para a minha higiene pessoal, agora de manhã. Nem para isso eu tinha me preparado. Quando o carro chegou lá em casa, eu apenas troquei Malú e Felipe, que estava comigo, também veio. Ainda bem que ele veio e pôde passar a noite cuidando da minha filha, para que eu pudesse acompanhar Miguel. Ainda cheguei aqui e encontramos sua mãe no corredor, ela não fez questão de ser gentil e foi embora logo em seguida. Não entendo como o pai, uma pessoa tão agradável e gentil, suporta uma mulher tão mesquinha e amarga como ela. Depois de usar o banheiro, que ficava no quarto, voltei e Miguel já estava acordado. — Bom dia, meu mel. — Bom dia. — Vem cá,