ANA MARIA
Depois daquela noite, eu me mantive afastada.
Quando chegava do trabalho, não o ignorava, conversava normalmente. Apesar da vontade, de quando ficávamos a sós, era de lhe dar um beijo daqueles que só ele me dá e que me acende por inteira.
Na quarta eu o pedi para que ficasse com a Malú depois da aula, porque iria chegar tarde. Ia passar numa loja para comprar uns biquínis para ela.
Aproveitei e comprei algumas camisas e cuecas que estavam na promoção, pro Miguel também.
Porque amanhã eu vou contar a minha princesa que ela vai à praia, se eu conto antes, vira um poço de ansiedade e toda hora sai um: “Já está na hora de ir para a praia?” E aí já viu, né?
Cheguei em casa e encontrei os dois brincando de chá com os ursinhos e dessa vez fui recebida com entusiasmo por minha princesa.
Amo muito. Depois de toda a recepção, fui para o quarto e guardei as sacolas no lugar mais alto do guarda roupa, depois entreguei as sacolas do Miguel.
— Ana, por favor, não gaste mais comigo.
— Está comprado e não pode ser devolvido.
— Eu vou procurar emprego. Seja no que for, e vou devolver tudo.
— Assim você me ofende. É um presente e já lhe disse que tudo o que estou fazendo é de coração. Não espero nada em troca.
— Você é perfeita, sabia. Além de linda, tem um coração enorme. Não sei quando a minha vida vai voltar ao normal, mas eu nunca vou me esquecer disso que você está fazendo por mim.
Dei um sorriso amarelo porque suas palavras já bastavam para mim.
Ele estendeu a mão até a minha e me puxou para um abraço, me deu um beijo na testa e logo em seguida olhou nos meus olhos.
— Eu queria ter te conhecido quando eu tinha memória. Eu juro que jamais esqueceria de você.
— Miguel.
— Em outras circunstâncias, se eu te visse na rua, eu com certeza te cortejaria. Eu te pedi comida porque eu estava passando mal de fome, de tanto dormir na rua e aguentar noites geladas e sol quente, minha mente estava confusa. Mas, cada dia que te olho, que te vejo, eu agradeço ao universo por ter sido você que me estendeu a mão. Obrigado.
Meus olhos começaram a encher de água.
Ele é sempre maravilhoso com as palavras.
Mesmo que já tivéssemos conversado, ele me deu um selinho.
Seguido de outro e outro.
A razão me diz que é errado. Mas meu corpo gosta muito quando estou recebendo seus carinhos.
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— Já contou para ela? Vou pegar ela de manhã na casa da minha mãe.
Estava no meu horário de almoço, no serviço, quando Rodrigo me ligou ansioso, querendo saber a reação da Malú ao saber que ia para a praia.
Ele sabe, ele sabe muito bem que dá última vez ela ficou tão ansiosa que teve febre dois dias antes, achando que demorava muito.
— Vou contar hoje, quando chegar. Aí já vou deixar ela lá na Fátima.
Vou deixá-la na Fátima para facilitar o caminho para ele, então amanhã ela não vai para a escola, já que vão descer de manhã.
— Miguel vai com você?
— Vai, por quê?
— Porque se ele não for, me espera que eu te levo embora, não é bom ficar andando na quebrada de noite, sozinha.
— Ele vai, fica em paz.
— Está tudo certo lá?
— Está, ele quer arrumar trabalho, só que não tem nenhum documento e para ter um documento, tem que ir na delegacia e ele não quer ir, diz que foi tratado muito mal pelos policiais.
— Foda. Pior que eu não tenho nem ideia do que arrumar para ele, sem documento fica difícil.
— Por enquanto está dando para levar.
— Se precisar de qualquer coisa avisa. Sei lá, passa aperto não, viu, dona Ana.
— Eu sei, Rodrigo, se precisar eu falo com você.
— Até mais, então. Qualquer coisa, liga pra nós.
— Eu ligo.
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Assim que apontei na rua, quem já estava lá?
Dei a minha corrida básica e peguei a minha princesa. Ela nem imagina a surpresa que a espera.
Fechei o portão e mandei ela para o chuveiro.
Como sempre, nenhum sinal do Miguel na casa, porém, tudo limpo. Ele deve estar na área de serviço, na sua musculação.
Algo que já estou me acostumando.
Separei as roupas que Malú ia usar agora e as que ia colocar na mala dela. Como deixo minha casa organizada, foi fácil achar o que precisava colocar na mala.
— Já vamos? — Ele apareceu na porta do quarto sem camisa, com o corpo todo suado. Lindo, com um sorriso que está se tornando frequente para mim.
— Oi, já, ela está no banho.
— Vou aguardar na sala, depois de você, eu tomo um banho rápido.
— Se quiser, pode ir, enquanto arrumo as coisas aqui e separo minha roupa.
— Certo. Como foi seu dia? — Ele veio até mim, mesmo suado, alisou meu cabelo e me deu um beijo na testa.
— Bem, obrigada por perguntar.
— Mamãe, acabei, esqueci a toalha — gritou.
— Vou lá resgatar a princesa leoa.
— E eu vou para a sala aguardar.
Assim que ele saiu, eu fui pegar minha filha. E enfim, contei para ela sobre o passeio. Nem preciso falar a sua reação.
— Mamãe vai te levar agora para a vovó Fátima e você vai dormir mais uma noite e amanhã, depois que acordar, vai tomar café, esperar mais um pouquinho e o tio vai passar para te pegar e aí vocês vão viajar para a praia.
— E-ba! Tio, tio, eu vou para a praia, eu vou para a praia. — Saiu gritando pela casa ainda de roupão.
Tem que explicar tudo certinho para ela entender as coisas, e se acontece algo fora da ordem que se fala, é motivo para a ansiedade dela aparecer.
Tão pequena e já sofre disso, quando passamos ela no médico, ele nos instruiu a ir com calma, explicar as coisas corretamente para ela e procurar fazer aquilo que falou. Ser realista sempre e o principal, ter muita paciência, porque Malú é uma criança muito curiosa e as suas perguntas nem sempre são fáceis de responder. Ele também disse que poderia ser controlado, dependendo da forma que eu conduzisse. Eu cuido ao máximo do meu bebê, para que nada de mal lhe ocorra.
Deixei ela na casa da Fátima, naquela noite, com muitas recomendações. Depois liguei para Rodrigo também, avisando que ela já estava na casa da avó.
Pedi cuidado redobrado porque ele sabe a sobrinha que tem.
E por fim, voltei para casa.
Miguel estava comigo. Ele olhava para as ruas, da janela do ônibus, como uma criança que aprecia as luzes da cidade pela primeira vez. Qualquer dia vou levá-lo no parque Ibirapuera. Com toda certeza ele vai amar.
Depois que chegamos, eu fui me deitar, ele seguiu para o seu quarto e eu para o meu.
— Boa noite, Ana.
Parei, abrindo a porta do meu quarto e olhei para trás, ele estava fazendo o mesmo.
— Boa noite, Miguel. — Eu o encarei.
Queria dizer essas palavras, são só duas. Ana, vai lá.
— Dorme comigo? — Eu pensei ou falei?
Ele não se moveu, então acho que eu só pensei.
Entrei para o meu quarto e ele veio atrás, eu não pensei. Eu falei.
Ele me segurou pela cintura me girando até ficar de frente.
Nossos corpos colados e a respiração ofegante.
Ana, se controla!
Seus braços se estenderam até a sua nuca, onde puxou a camisa, sempre me encarando, sério. Depois foi a vez de desabotoar a calça. Ele permaneceu colado em mim, fazendo tudo isso e eu não conseguia ter reação, só admirava. Porque seus olhos eram como chamas, queimando meu rosto.
De qualquer maneira, ele tirou o tênis e as meias e se afastou para puxar a calça. Somente com a cueca, ele veio e segurou em minha cintura. Sem dizer uma palavra, puxou a barra da minha camisa e suspendeu.
Não ofereci resistência porque estava hipnotizada por seus olhos, por ele.
Depois da camisa, as sapatilhas e a calça. Estava de calcinha e sutiã na frente de um homem, depois de muito tempo e não estava insegura. Muito pelo contrário, o desejo em seus olhos me exaltando, me encorajava a mais.
— Linda.
Suas mãos grandes arrastaram as minhas até, que envolvesse sua nuca e logo depois, ele me suspendeu em seu colo.
— Miguel!
— Relaxa, meu mel, nós só vamos dormir. Eu quero apenas sentir o teu corpo no meu.
Ele caminhou até a cama e puxou os cobertores e logo em seguida nos deitou. Eu por baixo, ele por cima, arrastando suas mãos por onde podia.
— Você é maravilhosa meu mel, perfeita. É linda.
Seus dedos roçaram a borda do sutiã e alguns tocaram a parte de cima do meu seio direito, se era possível, a minha pele se arrepiou mais, pois logo após os seus dedos, vieram seus lábios.
— Ainnnn.
A minha cintura rebolou com o seu toque, fazendo nossas intimidades terem atrito. Então ele parou o que estava fazendo.
— Não faz isso meu mel, eu estou me controlando para ir com calma.
— Talvez eu não queira calma.
— Eu não quero que você se arrependa do que fizermos. Porque eu quero amar e venerar cada parte do seu corpo e depois...— Ele desceu até o meu ouvido e sussurrou com uma voz grave carregada de tesão. — Eu quero foder a tua bucetinha até a exaustão.
— Miguel! — Arfei, tamanho o tesão.
Meu corpo sentiu suas palavras e foi impossível não ondular para senti-lo mais próximo. Seus lábios me tomaram num beijo arrebatador. Eu o queria, era a única certeza que eu tinha neste momento. Quanto mais próxima eu estava, mais eu o queria. Suas mãos desceram pelo meu corpo, enquanto seus lábios me enlouqueciam, até chegar em minha intimidade.
Senti um dedo alisar o meu clitóris e logo depois me penetrar.
— Hummmm— gemi abafado, porque seus lábios me devoravam.
— Meu mel.
Ele beijou o lóbulo da minha orelha, logo em seguida o mordendo, seus dedos não saindo de mim, fazendo meu corpo se curvar.
— Eu quero que você me diga. — Agora eram dois dedos estimulando meu clitóris. — Você quer gozar na minha boca ou nos meus dedos?
Ele estava completamente louco, se achava que nesse momento eu conseguia pensar numa opção.
Sua língua se arrastou pelo meu pescoço, enquanto seus dedos continuavam o trabalho, e que trabalho.
— Me responde.
Eu estava quase lá, arrastei minhas unhas por suas costas, pois era uma sensação nova, maravilhosa.
Apesar de já ter tido relações sexuais, nunca, nunca consegui ter um orgasmo e o que Miguel me oferecia agora, me tirava toda a sanidade.
Estava lá, quase lá, mas seus dedos pararam.
Ele ficou apoiado em um dos braços enquanto levava os dois dedos a boca e eu olhava tudo aquilo indignada. Eu estava indo para ter um orgasmo e ele parou. E estava lambendo os dedos na minha frente. E depois me deu um selinho.
Fiz cara de choro, porque ele foi muito mal.
— Meu mel, eu quero uma resposta. Você quer gozar nos meus dedos ou na minha boca.
A sua pergunta indecente fez meu rosto arder de vergonha e seus olhos me sondando, me fizeram queimar mais ainda.
— Me diz!
Não tive coragem de falar, mas nunca recebi um oral de respeito. Anderson, quando fazia, passava alguns minutos e logo em seguida íamos para o convencional, que baseava-se em ele gozar apenas.
Estendi meu dedo indicador até seus lábios e ele entendeu, pois sorriu. Se sua boca me faz arder quando me beija, imagina o que não deve fazer lá em baixo. Ele desceu e foi fazendo trilhas de beijos até chegar na minha calcinha, sempre me olhando.
Fechei meus olhos e joguei a cabeça para trás, porque só de imaginar, meu corpo ardia de prazer.
— Eu quero que você olhe. Quero que mantenha os olhos em mim, enquanto chupo a sua buceta.
Suas palavras descaradas me davam uma descarga de adrenalina, queimando tudo de puro que havia dentro de mim. Eu me apoiei em meus braços e olhei ele tirando minha calcinha e logo em seguida passar dois dedos em minha intimidade.
— Linda.
E logo depois seus lábios. Não aguentei olhar dois segundos, era uma sensação maravilhosa, ele chupou meu clitóris e meu corpo todo tremeu. Joguei a cabeça para trás, fechando os olhos e estendendo minhas mãos para segurar sua cabeça, bem onde estava.
Ah, minha nossa!
Perfeito!
Sua boca habilidosa fazia um trabalho sensacional. Sugando, mordendo, lambendo. Seus dedos foram auxiliar no trabalho.
— Ahnnnnnn, Miguel. Aimmmmmm.
Minhas pernas foram suspensas e logo em seguida abertas, lhe dando mais acesso à minha intimidade.
— Eu vou.... Aimmmmm.
Sua língua acelerou os movimentos e eu não aguentei, gozei, puxando o seu cabelo, não sei se para continuar ou parar. Sei que ele não parou, prolongando a minha sensação de prazer.
Ele tornou a subir, distribuindo beijos pelo meu corpo.
— Agora eu sei que é gostosa também, meu mel.
Que sensação maravilhosa, que sensação incrível. Não sei quanto tempo ficamos em silêncio, com ele em ainda em cima de mim. Até ele suspender a cabeça para me olhar.
— Meu mel eu não sei quem eu fui no passado, e a partir de hoje eu não quero mais saber, eu quero você Ana, só você. E a Malú também.
ANA MARIA Como a vida é linda. Bela, quando vivida intensamente. Estava tão feliz, que nada tirava o sorriso do meu rosto. — Olha aqui para mim. — Felipe parou do meu lado no caixa e me abraçou de lado. — Quê? — Devo me preocupar? — Com o quê? — Com o cara por quem cê tá apaixonada. — Eu não estou apaixonada, estou feliz. — Eu conheço este sorriso bobo. Tá muito feliz, consegue nem esconder o sorriso. Tô feliz por você, só quero saber se devo me preocupar. Ele é do bem? — Acho que sim, ele tem sido uma ótima pessoa, tanto para mim quanto para minha filha. — É isso que importa. Qualquer coisa já sabe, né? Mando os mano colar e nós têm um teti a teti com o vacilão. — Não vai precisar. — E mais tarde, Chopada? Malú não está aí, então não tem desculpa. — Acho que não vai dá, tenho compromisso. — Qual foi? Abandonando as amizades por causa de macho, piranha? Impossível não se dar bem com esses meninos. — Para, Fê. — Empurrei seu ombro de leve, rindo da sua reação.
ANA MARIA Estou sem palavras pelo seu gesto. Já disse que são nessas pequenas atitudes que eu enxergo seu caráter? Ele é um homem lindo, não só por fora, como por dentro também. Eu o abracei e depois voltamos a nos deitar para dormir. Senti seus dedos me acariciando por todos os lugares do meu corpo e com isso, adormeci. ***************************************************** — Mamãe, eu estou bem. Tchau, que agora o tio vai me levar na praia. — É assim, mocinha? Sem mais? — Só, mamãe, dá um beijo no tio Miguel. — Vou dar, quando ele chegar. Hoje, assim que acordamos, Miguel decidiu sair para correr. Ele não falou nada sobre o pesadelo da noite passada, mas acho que isso afetou na sua decisão de ficar só dentro de casa. Ele colocou umas roupas leves e tênis e saiu. Fico feliz por esse progresso, dia após dia ele está se soltando e sorrindo mais. Duas semanas que ele está conosco e parece que eu o conheço de uma eternidade. Agora sei que é verdade quando dizem que não é
ANA MARIA Felipe passou conosco o domingo até o finalzinho da tarde, quando minha princesa chegou dormindo. Com certeza, amanhã ela estará cheia de novidades e eu mais que pronta para ouvir tudo. Ela é um peixinho. Ama o mar, se fosse do querer dela, moraríamos perto de uma praia. Antes da princesa leoa, e da princesa unicórnio, e da princesa Tiana, e da princesa Rapunzel, era a princesa sereia. Enfim, mais uma semana chegou e muitas expectativas com ela também. Passei o dia no trabalho ansiosa pela entrevista que Miguel ia fazer. Tomara que dê tudo certo. Eu quero muito que tenha a sua independência, ele merece muito isso. À noite, quando cheguei, não demorou muito Rodrigo buzinou e ele saiu. Desejei toda sorte do mundo e para que pudesse ir confiante. Parece até um sonho toda essa felicidade. Eu sei que parecem ser valores invertidos, que eu vá trabalhar e ele fique em casa, torço para que consiga o trabalho por ele mesmo, porque mal ou bem, eu consigo ajudar com o básico, por
ANA MARIA Pedro nos convidou para almoçar, mesmo ressabido, Miguel concordou. Percebi que ele não ficou muito à vontade depois de saber da existência de uma noiva. Eu também estou desconfortável e, mesmo sabendo que não fizemos nada de errado, meu lado consciente me acusa. Pedro ligou para os pais de Miguel e pediram para que eles viessem com urgência, enquanto isso, Cida paparicava Malú, a elogiando por sua boa alimentação. E ela se gabava. A essa altura já havia conquistado a todos, inclusive, foi a única a arrancar um sorriso de Miguel, que sempre que Pedro iniciava um assunto, voltava a ser aquele homem sério. Permaneci calada e só respondia aquilo que me era perguntado. Neste momento, eu queria a minha casa, a minha segurança de que tudo ia ficar bem, e aqui, sabendo de todas essas coisas, eu não me sentia dessa maneira. Estava brincando com um pedaço de bife e com os pensamentos longe, quando senti a mão de Miguel buscando a minha. — Vai ficar tudo bem. Nós já vamos e
ANA MARIA Depois que Pedro foi embora, ficou um clima meio estranho entre nós dois. Não sei explicar. Malú preferiu que Miguel contasse a história naquela noite e foi melhor assim. Fui para o quarto e me deitei pensativa. Eu sei que queria muito que Miguel fosse uma pessoa simples, com uma história não muito complicada. Mas a sua família tem poder aquisitivo, ele é uma pessoa poderosa, e como a própria mãe falou, foi noticiado na TV e tudo, não ia demorar muito para a mídia descobrir sobre seu paradeiro e começar a persegui-lo, atrás de respostas. E ainda tem a noiva ou ex-noiva, não sei. — Não pensa muito, meu mel, vai ficar tudo bem— disse, fechando a porta do quarto e se achegando na cama. — Não sei se vai, Miguel. A realidade pode não ter chegado para você, mas nós dois somos de mundos completamente diferentes. Uma hora isso vai pesar. — Ana, eu sou muito grato a você por tudo que me fez e não só isso, sou completamente apaixonado por você. Em tão pouco tempo você me fe
ANA MARIA Eu prometi estar com ele. E foi por essas palavras que liguei para Felipe e pedi para ele me justificar no trabalho, coloquei Malú no transporte escolar e agora estamos aqui, chegando na rua onde Pedro mora. Chegamos na portaria e Miguel apertou a campainha. — Por gentileza, viemos ver o Pedro Monteiro. — Doutor Miguel, o senhor pode subir, o senhor nunca pediu para ser anunciado antes, já é de casa. Miguel me olhou confuso e segurou minha mão. Entramos pelo elevador no qual Pedro nos trouxe da última vez e subimos até o vigésimo terceiro andar. O frio na barriga era incontrolável, minhas mãos suavam mais que o habitual. — Que bom ter vocês aqui. Fico feliz que aceitou minha proposta, irmão. Miguel o cumprimentou com um aperto de mão e assentiu com a cabeça. — Entre, vamos tomar café, enquanto esperamos a chave. Queria te falar antes, que tio Antônio quer muito falar com você. — Não tenho nada para falar com eles. — Miguel, tio Antônio gosta muito de você
MIGUEL Acordei num quarto branco e com um acesso no braço. Ouvia sons de batimentos e ninguém no quarto. Parecia hospital. Olhei tudo ao redor e nada se parecia com o que passei, quando estava na rua. Em silêncio, aguardei que alguém viesse, sempre aparece, mesmo que eu não queira. A verdade é que eu queria apenas uma, naquele momento: Ana. Onde ela está? Procurei alguma coisa que fizesse alguém entrar no quarto e não encontrei, ainda bem que a porta se abriu, revelando Antônio e Agnes. — Meu filho, como você está? Seu pai me ligou, avisando que você tinha desmaiado. Está tudo bem, querido? — Eu estou bem. A Ana? — Ela teve que ir para casa. Não pôde ficar, disse que tinha que pegar a Malú, me pediu para dar notícias sobre você, assim que acordasse. —: Mais tarde, Antônio. Não vamos perturbar a mente do nosso filho agora. Ele teve um desmaio, com certeza é sua lucidez voltando. Devemos deixá-lo respirar. Um outro homem entrou no quarto. — Boa noite. — Doutor Brancco, alguma
FELIPE Malú, muito espertinha, já correu para o carro. Adora passear. Eu amo essa menina, amo a mãe dela. Ana foi a família que eu não tive desde que me assumi, e apesar do meu jeito hétero, que tive que aprender a ser, porque não é só da parte da minha mãe que sofria retaliação, tive que me virar com primos e tios também. Tive que esconder desde sempre minha orientação, por medo do que as pessoas pudessem pensar, pois aqueles que deveriam me dar apoio, me humilhavam e cuspiam barbaridades. Foi duro me descobrir gay e não ter nenhum tipo de suporte de nenhum lado onde eu morava. E por saber disso, meus primos achavam que podiam fazer o que quisessem comigo, tive que me livrar de muitos deles no soco, e de um tio meu também, que encheu a porra do cu de cachaça e achou que tinha liberdades comigo. Por morar em barraco e num quintal compartilhado, ele foi parar dentro da nossa casa, no canto onde eu dormia. Dei uma surra no capeta que queria abusar de mim, quando era um adolescente