ANA MARIA
Felipe passou conosco o domingo até o finalzinho da tarde, quando minha princesa chegou dormindo. Com certeza, amanhã ela estará cheia de novidades e eu mais que pronta para ouvir tudo. Ela é um peixinho. Ama o mar, se fosse do querer dela, moraríamos perto de uma praia.
Antes da princesa leoa, e da princesa unicórnio, e da princesa Tiana, e da princesa Rapunzel, era a princesa sereia.
Enfim, mais uma semana chegou e muitas expectativas com ela também. Passei o dia no trabalho ansiosa pela entrevista que Miguel ia fazer. Tomara que dê tudo certo. Eu quero muito que tenha a sua independência, ele merece muito isso.
À noite, quando cheguei, não demorou muito Rodrigo buzinou e ele saiu. Desejei toda sorte do mundo e para que pudesse ir confiante.
Parece até um sonho toda essa felicidade.
Eu sei que parecem ser valores invertidos, que eu vá trabalhar e ele fique em casa, torço para que consiga o trabalho por ele mesmo, porque mal ou bem, eu consigo ajudar com o básico, porém às vezes o sinto incomodado, recebe as coisas que dou receoso, às vezes acho que só para não causar atrito entre nós.
Quando chegou com a notícia de que tinha conseguido e que ia começar no dia seguinte, eu comemorei junto com ele.
Felicidade estava a mil, está dando tudo certo, ainda bem!
Agora vamos correr atrás de um documento para que no futuro seja algo fixo.
Dois meses depois...
— Vamos, tio, vamos! O ônibus vai passar. Mamãe.
Malú estava realmente ansiosa por este passeio.
Íamos nós três ao parque Ibirapuera, o que está se tornando algo corriqueiro para os dois, que amam correr naquela imensidão verde, cercada de tantos prédios e concretos.
Miguel ama, agora, como ele mesmo fala, pode comprar as besteiras da princesa dele.
Lembro bem quando chegou em casa com o primeiro salário e com uma boneca enorme pra Malú. Não preciso nem falar que ela amou e gritou tanto, agora não temos mais ursinhos dormindo juntos.
Outro avanço foi que ela agora dorme em seu próprio quarto, claro que eu ou Miguel temos que ficar lá até ela agarrar no sono, na maioria das vezes ele, porque as histórias são sempre mais divertidas e cheias de aventura. Os dois cada dia mais apegados, é tio para lá, tio para cá. Na apresentação de primavera da escolinha ele esteve presente e ela toda orgulhosa o apresentou para todos, não fiquei surpresa por até a tia da merenda ser uma delas, porque a minha filha realmente fala, e com todo mundo que puder.
Miguel todo orgulhoso, recebendo elogios das tias e professoras, e eu afastada. Claro que como o cavalheiro que é, ele não permitia que eu permanecesse afastada por muito tempo. Foi algo tão lindo de se ver.
Tentei ir com ele, por duas vezes, em uma delegacia informar da sua condição.
Numa, preenchemos uma ficha e na outra, fomos em busca de respostas. Claro, como o sistema brasileiro é “eficiente” pediram para aguardar que qualquer notícia nos avisariam.
Sobre seus pesadelos, estão se tornando constantes, ele acordar no meio da noite gemendo de dor e suado. Não dá um grito, porém, fica muito agitado. Aquilo me aflige, vê-lo nessa situação, é como se quisesse respostas para o que lhe aconteceu, mas nada, um absoluto vazio onde não vê nenhuma resposta.
Quando esses não vêm, é todo sorriso, simpatia, inclusive seu jeito encantador de ser conquistou meus amigos e até mesmo o Rodrigo. Não vou mentir, pois fiquei muito feliz com essa amizade.
Rodrigo até o leva para o futebol lá no Jardim Rincão, e claro, a chaveirinho dos dois vai junto. Não larga de jeito maneira.
No meu trabalho as coisas estão dando certo, graças ao meu bom Deus.
Na minha casa só paz e alegria.
Na minha vida uma maravilha.
Miguel tem me dado orgasmos maravilhosos nas madrugadas e eu... nada, para ele.
Recentemente passou no médico do posto, um conhecido da Kátia conseguiu agendar ele e o médico solicitou exames de sangue e tudo mais, inclusive esse mesmo médico disse que assim que ele quisesse, poderia começar os exames para ver a sua cabeça, sobre esta falta de memória.
Estamos aguardando o resultado, que o enfermeiro garantiu, que essa semana sairia.
Aguardando.
Minha outra surpresa nesse período foi a ligação da minha mãe.
A conversa foi breve, mas pude matar um pouquinho da minha enorme saudade por ela, que me contou que infelizmente meu pai não está nada bem. Chorei, porque independente do que tenha me dito, não guardo mágoas, é o meu pai e eu o amo muito. Pedi para ela me manter informada sobre seu quadro, já que ele é tão turrão, que não quer se tratar com o médico. Está convalescendo no sítio e disse que de lá só sai para o cemitério.
Que homem! É de solicitar todo estoque de paciência a Deus.
***********************************************************************
— Meu mel, vamos?
— Sim.
Fizemos todo o trajeto de ônibus, já que é mais divertido e a Malú ama passar por todos esses prédios. Ela fica encantada. Chegamos depois de meia hora.
As vantagens de sair no domingo de manhã, em São Paulo, e não pegar trânsito é essa. Quase ninguém na rua.
Logo que chegamos, damos uma caminhada pelo lugar que minha pequena ama e depois nos instalamos no gramado perto do lago, para ver os patinhos e pássaros que ficam por perto. Claro que não pode faltar a grande bola, ainda bem que Miguel tem disposição para aguentar o pique da Malú, porque eu, depois de meia hora, canso.
Ela é muito hiperativa e eu sedentária.
O sol estava uma delícia e depois de comer, deu uma leve preguiça, como eles estavam brincando por perto, resolvi deitar no pano para me queimar um pouco. Miguel sempre fala da minha cor, do meu tom de pele, que segundo ele, é único, perfeito, e eu amo, porque em suas palavras eu sou única e perfeita, eu amo ser isso para ele.
Olhei para o lado e vi a Malú jogar a bola para o alto e depois dar um chute, a bola voou longe e a sapequinha riu. Miguel, olhando para a bola que estava no alto, correu para pegar e eu sorri com aquela cena, meu coração aquecido.
— Miguel? — Um desconhecido se aproximou. — Miguel, é você, irmão?
O homem em roupas esportivas aparentava a mesma idade que Miguel, só que ele era moreno, com olhos claros, que eu não consegui decifrar a cor exata, por causa do boné que usava.
— Eu não estou acreditando que é você mesmo.
Ele foi se aproximando de Miguel, que segurando a bola, ficou imóvel, olhando para o homem e para mim.
Percebendo seu desconforto me levantei e fui até onde estavam.
O homem com os olhos marejados não se importou com seu silêncio, o puxou para um abraço significativo, repetindo a todo instante não acreditar que era ele mesmo.
— Tio, é o seu amigo?
Ela correu até perto de onde nós estávamos e ficou olhando a cena com curiosidade.
— Miguel, sou eu, cara. Nós pensamos que você tinha morrido. Insistimos tanto no primeiro ano e não obtivemos respostas. Onde você esteve esse tempo todo?
— Quem é você?
Seu rosto estava sério, ele havia me dito que independente de seu passado, não tinha mais interesse em descobri-lo e agora, num dia lindo no parque, esse estranho parece saber quem ele é.
— Sou eu, Pedro, seu amigo, irmão! Nós sempre estivemos juntos cara. Não está me reconhecendo? — Sua voz assumiu um tom desesperado.
Miguel o encarou sério não respondendo sua pergunta.
Então, o estranho, que agora sabemos se chamar, Pedro puxou sua mão e colocou seus pulsos um do lado do outro, e nos dois havia uma âncora desenhada em um negro vivo.
Lembro de ter visto aquela tatuagem e achei tão simples e bonita ao mesmo tempo.
Não suficiente, ele levantou a sua própria camisa e mostrou a mesma águia que Miguel tem no mesmo lugar, só que sem as montanhas.
— Essa eu não tive coragem de terminar, mamãe descobriu e ameaçou me deserdar, lembra?
Miguel vendo tudo o que Pedro mostrava e falava, permaneceu em silêncio.
— Oi, Pedro, prazer... eu sou Ana Maria.
— E eu a Malú. Você é amigo do meu tio? Vai jogar bola com a gente?
— Oi, mocinha, acho que vou sim.
— Filha, vai lá no celular da mamãe, agora vamos ter conversa de adulto.
— O tio aprontou? Tio?
— Tio não fez nada, minha princesa, vai lá e depois vamos correr atrás dos patos.
— É segredo, tio, mamãe não pode saber — riu sapeca.
Todos esperaram Malú se afastar e quando ela chegou no pano que estava forrado na grama, onde deixamos nossas coisas, enfim olhei para Pedro, seus olhos num verde água me sondaram por um momento e logo depois se voltou para Miguel.
— Pedro, há algum tempo eu encontrei o Miguel perdido na rua, ele estava há dias sem comer e desorientado. Eu cuidei dele e dei abrigo, porém ele não tem memória, a única coisa que soube me dizer ao seu respeito foi seu nome.
— E por que não foram à polícia? — Ele se exaltou assim que eu acabei de falar.
— Não grita com minha namorada!
— Perdão, não foi a minha intenção, irmão, já são quase dois anos de busca. Há seis meses sua família decidiu fazer um enterro simbólico, por não terem mais esperanças de te achar vivo, já que seu carro foi encontrado em cinzas e o relógio que você não tirava do pulso foi encontrado próximo a um penhasco perto da represa de Guarapiranga.
— Meu Deus! – Digo assustada, cobrindo a minha boca.
Não me contive. Quem fez tamanha maldade com ele?
— Perdão, Ana. Irmão, cara... é tão bom te ver assim. Minha nossa, tia Agnes vai ficar doida e tio Antônio... nossa, eles vão pirar.
— Eu não sei quem são essas pessoas.
— Seus pais, são seus pais, Miguel. O que fizeram com você, cara? Não consegue se lembrar de nada? — Ele balançou a cabeça, envergonhado, em negativo. — Vamos lá em casa, eles precisam saber que você está vivo, está bem.
Olhei pro Miguel, aquela escolha era inteiramente dele, e eu queria que ele soubesse que apoiaria qualquer que fosse sua decisão.
*************************************************
Chegamos no apartamento de Pedro, que era a coisa mais chique que já vi na vida, claro que tem o carro também, uma Mercedes. Conheci apenas pelo símbolo, não sei o modelo.
O elevador todo espelhado. Aquele luxo todo não condizia conosco ali, tudo gritava que não cabíamos neste ambiente, ou pelo menos, minha filha e eu, porque aparentemente, Miguel é desse mundo.
— Entrem. Cida! Cida! Corre aqui, mas pelo amor de Deus, não tenha um troço. — Ele gritou por alguém, até que veio uma senhora.
— O que foi, menino? Achei que ia demorar mais na sua corrida... Minha virgem Maria do céu. É o menino Miguel. Ah, minha nossa senhora Aparecida. Miguel, meu menino. — Ela veio até Miguel chorando, tocando em seu rosto e o abraçando. — É você, meu filho, eu não estou acreditando. O tanto que eu vi meu menino chorando pela sua falta, meu filho, e agora cê está aqui, está vivo. Ah, minha nossa senhora.
Ela ajoelhou no chão e começou uma reza aos prantos.
Miguel, mesmo sem entender nada, a puxou para que ficasse em pé novamente.
— Senhora, fique calma.
— Senhora? Sou eu, menino. Ô, minha virgenzinha, obrigada por trazer ele vivo.
— Cidinha, Miguel está vivo, com saúde, mas ele não lembra de nada do seu passado.
— Como, não lembra? Miguel, sou eu a babá do Pedro, lembra que você ficava na casa do seu Dácio, no final de semana e eu cuidava de vocês dois. — Miguel nada respondia. — Ô, meu filho, o tanto que vocês aprontaram juntos e eu lá acobertando, nem depois de homem formado vocês me deram sossego. Você só parou mesmo quando noivou com a Gabriela. Ela vai ficar tão feliz quando te ver.
O que eu mais temia se confirmou. Miguel era comprometido.
Noivo.
Ele me encarou sério, depois olhou para o amigo e depois para mim, de novo. Não sei por que, mas mesmo com a Cida segurando em seu rosto, ele apertou a minha mão. Ah, Miguel. Eu sinto que nós dois, não vai ser! Eu senti no momento em que ouvi esse estranho chamar seu nome.
ANA MARIA Pedro nos convidou para almoçar, mesmo ressabido, Miguel concordou. Percebi que ele não ficou muito à vontade depois de saber da existência de uma noiva. Eu também estou desconfortável e, mesmo sabendo que não fizemos nada de errado, meu lado consciente me acusa. Pedro ligou para os pais de Miguel e pediram para que eles viessem com urgência, enquanto isso, Cida paparicava Malú, a elogiando por sua boa alimentação. E ela se gabava. A essa altura já havia conquistado a todos, inclusive, foi a única a arrancar um sorriso de Miguel, que sempre que Pedro iniciava um assunto, voltava a ser aquele homem sério. Permaneci calada e só respondia aquilo que me era perguntado. Neste momento, eu queria a minha casa, a minha segurança de que tudo ia ficar bem, e aqui, sabendo de todas essas coisas, eu não me sentia dessa maneira. Estava brincando com um pedaço de bife e com os pensamentos longe, quando senti a mão de Miguel buscando a minha. — Vai ficar tudo bem. Nós já vamos e
ANA MARIA Depois que Pedro foi embora, ficou um clima meio estranho entre nós dois. Não sei explicar. Malú preferiu que Miguel contasse a história naquela noite e foi melhor assim. Fui para o quarto e me deitei pensativa. Eu sei que queria muito que Miguel fosse uma pessoa simples, com uma história não muito complicada. Mas a sua família tem poder aquisitivo, ele é uma pessoa poderosa, e como a própria mãe falou, foi noticiado na TV e tudo, não ia demorar muito para a mídia descobrir sobre seu paradeiro e começar a persegui-lo, atrás de respostas. E ainda tem a noiva ou ex-noiva, não sei. — Não pensa muito, meu mel, vai ficar tudo bem— disse, fechando a porta do quarto e se achegando na cama. — Não sei se vai, Miguel. A realidade pode não ter chegado para você, mas nós dois somos de mundos completamente diferentes. Uma hora isso vai pesar. — Ana, eu sou muito grato a você por tudo que me fez e não só isso, sou completamente apaixonado por você. Em tão pouco tempo você me fe
ANA MARIA Eu prometi estar com ele. E foi por essas palavras que liguei para Felipe e pedi para ele me justificar no trabalho, coloquei Malú no transporte escolar e agora estamos aqui, chegando na rua onde Pedro mora. Chegamos na portaria e Miguel apertou a campainha. — Por gentileza, viemos ver o Pedro Monteiro. — Doutor Miguel, o senhor pode subir, o senhor nunca pediu para ser anunciado antes, já é de casa. Miguel me olhou confuso e segurou minha mão. Entramos pelo elevador no qual Pedro nos trouxe da última vez e subimos até o vigésimo terceiro andar. O frio na barriga era incontrolável, minhas mãos suavam mais que o habitual. — Que bom ter vocês aqui. Fico feliz que aceitou minha proposta, irmão. Miguel o cumprimentou com um aperto de mão e assentiu com a cabeça. — Entre, vamos tomar café, enquanto esperamos a chave. Queria te falar antes, que tio Antônio quer muito falar com você. — Não tenho nada para falar com eles. — Miguel, tio Antônio gosta muito de você
MIGUEL Acordei num quarto branco e com um acesso no braço. Ouvia sons de batimentos e ninguém no quarto. Parecia hospital. Olhei tudo ao redor e nada se parecia com o que passei, quando estava na rua. Em silêncio, aguardei que alguém viesse, sempre aparece, mesmo que eu não queira. A verdade é que eu queria apenas uma, naquele momento: Ana. Onde ela está? Procurei alguma coisa que fizesse alguém entrar no quarto e não encontrei, ainda bem que a porta se abriu, revelando Antônio e Agnes. — Meu filho, como você está? Seu pai me ligou, avisando que você tinha desmaiado. Está tudo bem, querido? — Eu estou bem. A Ana? — Ela teve que ir para casa. Não pôde ficar, disse que tinha que pegar a Malú, me pediu para dar notícias sobre você, assim que acordasse. —: Mais tarde, Antônio. Não vamos perturbar a mente do nosso filho agora. Ele teve um desmaio, com certeza é sua lucidez voltando. Devemos deixá-lo respirar. Um outro homem entrou no quarto. — Boa noite. — Doutor Brancco, alguma
FELIPE Malú, muito espertinha, já correu para o carro. Adora passear. Eu amo essa menina, amo a mãe dela. Ana foi a família que eu não tive desde que me assumi, e apesar do meu jeito hétero, que tive que aprender a ser, porque não é só da parte da minha mãe que sofria retaliação, tive que me virar com primos e tios também. Tive que esconder desde sempre minha orientação, por medo do que as pessoas pudessem pensar, pois aqueles que deveriam me dar apoio, me humilhavam e cuspiam barbaridades. Foi duro me descobrir gay e não ter nenhum tipo de suporte de nenhum lado onde eu morava. E por saber disso, meus primos achavam que podiam fazer o que quisessem comigo, tive que me livrar de muitos deles no soco, e de um tio meu também, que encheu a porra do cu de cachaça e achou que tinha liberdades comigo. Por morar em barraco e num quintal compartilhado, ele foi parar dentro da nossa casa, no canto onde eu dormia. Dei uma surra no capeta que queria abusar de mim, quando era um adolescente
ANA MARIA Miguel dormia calmamente na cama do hospital, enquanto eu o observava. Na noite passada o médico fez alguns exames e disse que hoje, na parte da manhã, nos traria todos os resultados juntos para dar um diagnóstico claro sobre seu estado. Espero que fique tudo bem, desejo o melhor para ele. Uma enfermeira passou e me entregou um kit para a minha higiene pessoal, agora de manhã. Nem para isso eu tinha me preparado. Quando o carro chegou lá em casa, eu apenas troquei Malú e Felipe, que estava comigo, também veio. Ainda bem que ele veio e pôde passar a noite cuidando da minha filha, para que eu pudesse acompanhar Miguel. Ainda cheguei aqui e encontramos sua mãe no corredor, ela não fez questão de ser gentil e foi embora logo em seguida. Não entendo como o pai, uma pessoa tão agradável e gentil, suporta uma mulher tão mesquinha e amarga como ela. Depois de usar o banheiro, que ficava no quarto, voltei e Miguel já estava acordado. — Bom dia, meu mel. — Bom dia. — Vem cá,
ANA MARIA O momento dos dois foi tão lindo. A Íris chorou, e eu compreendo. Depois de todo o desespero que foi o desaparecimento do irmão e agora esse bálsamo, quando até túmulo já havia sido construído. São tantas coisas na vida de Miguel que precisam ser colocadas no lugar, que eu espero que sobre um espaço para mim. Eles ficaram conversando enquanto eu arrumava as coisas da Malú, para o tio levá-la. Não preciso nem dizer que minha princesa fica super animada quando vai para a casa do Rodrigo e da Kátia. Quando foi à tardezinha, Rodrigo foi anunciado na portaria. Miguel, claro, liberou sua passagem e ele chegou no apartamento com o queixo no chão, exatamente como eu fiquei. — E aí, cara? Que fita braba é essa? — Nem me fale, está sendo uma verdadeira confusão. Veio ver minhas meninas? — Ele veio busca a Malú. — Miguel me olhou junto com a irmã. — Para eu poder cuidar de você melhor, sem me preocupar se ela vai estar bem. — Não quero que ela vá. Ela precisa das história
ANA MARIA — Eu quero ir para casa. Sua voz saía carregada de dor, após o silêncio esmagador que se fez, depois de eu colocar aquela mulher no seu lugar. — Vamos, eu te levo, você não está bem para dirigir. — Pedro se ofereceu. — Quem ela pensa que é, para falar assim comigo? — Agnes, vamos. Ele saiu arrastando-a pelo braço, até sumirem de nossas vistas. — Pedro, leve-o para casa, ele não está bem para passar por essas situações — solicitou Luiz. — E Ana, perdoa a Agnes, ela tem um bom coração, só protege demais o filho. — Às vezes, desnecessariamente — completou Mariana. — Preciosa! — Agnes é um amor de pessoa, não tem porque você levantar a voz para ela. O mínimo de educação, já que está na sua casa. — Foi a vez da tal Gabriela. — Gabriela. — Pedro a repreendeu. — Vamos, por favor, não quero mais ficar nesta casa. Eu saí me tremendo, parece que todos conseguiam ver uma boa pessoa naquela mulher, mas só eu tinha que suportar a antipatia. Se ela demonstrar acidez comigo, n