ANA MARIA
Depois que Pedro foi embora, ficou um clima meio estranho entre nós dois.
Não sei explicar.
Malú preferiu que Miguel contasse a história naquela noite e foi melhor assim.
Fui para o quarto e me deitei pensativa.
Eu sei que queria muito que Miguel fosse uma pessoa simples, com uma história não muito complicada.
Mas a sua família tem poder aquisitivo, ele é uma pessoa poderosa, e como a própria mãe falou, foi noticiado na TV e tudo, não ia demorar muito para a mídia descobrir sobre seu paradeiro e começar a persegui-lo, atrás de respostas. E ainda tem a noiva ou ex-noiva, não sei.
— Não pensa muito, meu mel, vai ficar tudo bem— disse, fechando a porta do quarto e se achegando na cama.
— Não sei se vai, Miguel. A realidade pode não ter chegado para você, mas nós dois somos de mundos completamente diferentes. Uma hora isso vai pesar.
— Ana, eu sou muito grato a você por tudo que me fez e não só isso, sou completamente apaixonado por você. Em tão pouco tempo você me fez ter sentimentos tão intensos, não sei se sou capaz de te esquecer fácil assim.
— Eu não quero que você esqueça... E eu quero que você saiba, que juro que não sabia quem você era, eu nunca tinha ouvido falar de você.
— Para, para agora. Eu sei do seu caráter, meu mel, por que eu duvidaria? — Ele montou em cima de mim, abrindo minhas pernas e beijando meu pescoço. — Pequena, nunca vou te abandonar, você é a melhor coisa que me aconteceu. Onde eu estiver, você vai estar.
Rebolei o quadril e ambos gememos.
— Não aguento mais, Miguel. Eu quero te sentir.
Ele segurou firme meu queixo, fazendo com que eu olhasse em seus olhos.
— Não tem nada que eu queira mais, nesta vida, do que isso. Eu duro, dentro de você. Essa semana, meu mel, essa semana.
Ele deu uma rebolada, fazendo o atrito aumentar e logo em seguida tomou meus lábios, faminto, cheio de luxúria.
Sua boca me devorava e eu não me fazia de rogada, o incentivava a buscar mais. Até um gemido rouco sair do fundo de minha garganta.
— Gostosa. Linda. Você é perfeita, meu mel.
Sua língua roçou pelos meus lábios, me instigando a procurá-lo.
Ele segurou minhas duas mãos acima da minha cabeça e tornou a roçar.
— Miguel.
Veio com a língua novamente e lambeu meus lábios. Agora rebolando o quadril em cima da minha intimidade, ora fazendo o movimento de penetração.
Meu corpo estava cedendo, acabei jogando a cabeça para trás, porque meu orgasmo estava vindo violento.
Uma de suas mãos desceu pelo meu braço e chegou no meu pescoço fazendo pressão no lugar certo, ele estava me enforcando e isso estava gostoso demais. Seus quadris eram cada vez mais duros.
Sentir seu membro enrijecido me causava arrepios, e só de imaginá-lo dentro de mim, me levava a loucura.
— Migue... Ahhhhhh.
— Goza para mim, meu mel, goza gostoso em cima do meu pau.
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Estava etiquetando alguns produtos, enquanto a loja estava vazia, pensando em tudo que aconteceu no dia anterior.
Miguel hoje acordou como se nada tivesse acontecido.
Ele acordou Malú e deu café para ela, enquanto eu arrumava as camas, e logo depois a colocou no transporte.
Quando saí de casa, ele ficou fazendo a musculação na área de lavar roupas. Como entra mais tarde no trabalho, me despedi e vim para a loja.
Tentei esconder ao máximo de Felipe toda essa história, mas ele não é bobo, já me perguntou umas duas vezes se estava tudo bem.
Desde que saiu de lá de casa, depois daquele fatídico episódio, procurou um lugar para morar e hoje está mais tranquilo. Eu fico feliz por ele. E ainda mais por mim, porque é perto de casa e de vez em “sempre”, aparece para jantar conosco.
E está se dando super bem com Miguel, eu fico feliz.
No final do expediente, Felipe me fez companhia até o portão de casa, onde dois carros conhecidos estavam parados.
— Mamãe. — Ela desceu muito animada.
Eu me despedi dos tios, agradecendo por mais um dia.
— Quem é o cara de terno, ali te olhando?
Virei o rosto para ver quem era e não me surpreendi, pois reconheci seu carro do dia anterior.
— Olá, Pedro.
Ele acenou com a cabeça, depois apertou um botão e o carro ativou o alarme.
Veio caminhando em nossa direção, cheio de charme em seu terno cor de grafite e uma blusa branca, que ardia os olhos quando o sol de final de tarde batia.
— Ana, vim conversar com o Miguel.
— Meu tio não está. Ele chega depois, não é mamãe?
— É isso mocinha, entra e vai direto para o banho.
Abri o portão e ela correu para dentro. Quando voltei, notei Pedro e Felipe se encarando.
— Bom, se quiser aguardar ele chegar, Pedro, lá pelas 19 horas ele costuma chegar.
— Se não for incômodo.
— Claro que não. — Dei lugar para que ele pudesse passar. — Entra, faz sala para ele enquanto eu e Malú tomamos banho, por favor. — Pedi ao meu amigo, sabendo que não seria nenhum sacrifício.
— Miguel vai cozinhar hoje? — Felipe me pergunta.
— Não é certeza.
— A esperança é a última que morre, não é?
— Eu não cozinho tão mal assim, Felipe. Você é um ingrato. E todas as marmitas que eu já levei para você — reclamei, enquanto passávamos pela varanda da frente de casa.
— Sou seu amigo, jamais te desanimaria de algo quando você está fazendo com as melhores das intenções, mas eu prefiro a comida do Miguel, com todo respeito, amiga, o boy é seu.
— Ele é um cozinheiro de mão cheia— disse Pedro, parado próximo ao sofá.
— Realmente — confirmei. — Bom... fique à vontade, eu vou colocar algumas coisas em ordem, este é meu amigo Felipe.
— É um prazer, Felipe. Pedro.
Ainda bem que Felipe é uma pessoa alto astral e ficou com ele, enquanto eu cumpria meus afazeres.
Quando Miguel chegou, eu estava estendendo umas roupas na área de serviço, ele provavelmente ouviu, porque apareceu me abraçando por trás, ainda com a mochila nas costas.
— Tenho uma surpresa.
— Ai, Miguel, que susto. — Ele me estendeu alguns papéis. — O que é isso?
— Resultado dos exames. Estou limpo.
Não me contive e pulei em seu colo, beijando sua boca.
— Hoje você vai ser minha.
— Sempre. Amor, é ... Pedro está aí — falei, descendo do seu colo, percebendo seu ânimo se esvair.
— O que ele quer? Já disse que não quero contato com essas pessoas.
— Miguel, não é assim. Ele gosta de você. E independente de qualquer coisa, você tinha uma vida antes de tudo isso.
— Eles não te aceitam.
— Sua mãe não me aceita. Você precisa saber quem você foi, Miguel. Não pode se anular assim e pronto. Você tem uma profissão, tem uma vida, além do mais, eu não ficaria bem, sabendo que você está de mal com sua família por minha causa.
— Se você prometer que vai estar comigo, eu vou.
— Eu vou estar com você. Nem que eu queira, consigo te deixar.
— Independente de qualquer coisa, Ana, não me abandona.
— Nunca.
— Tá, vou lá conversar com ele.
— Felipe também está aí. Disse que só aceita jantar aqui se for sua comida.
— Só cozinho para minha mulher – disse com sorriso no rosto.
Entrei na casa com ele e Pedro o encarou com esperança.
Os dois iniciaram timidamente alguns assuntos do passado, com Pedro mostrando fotos e vídeos deles. Alguns, Miguel me chamava para ver.
Jantamos e mesmo com toda a pompa, Pedro não implicou com nossa comida simples, sempre muito educado e simpático, percebi que ele tem um sorriso largo para tudo.
Ouvindo suas histórias com o amigo, descobri a cumplicidade dos dois. Depois que Felipe foi embora, eu fui para o quarto com Malú e brinquei com seus brinquedos, enquanto os dois permaneciam na sala. Ouvindo Pedro contar as histórias, percebi que os dois eram muito amigos, e não só isso, eles se amavam muito.
Fico feliz por Miguel ter alguém em sua vida, assim.
Estava ficando tarde e como não queria atrapalhar a conversa dos dois, coloquei Malú para dormir e logo em seguida fui para minha cama.
Tentei agarrar no sono, mas meu corpo já estava acostumado com o do Miguel me abraçando.
Estava em uma imensidão longe, não sei se no sono ou realidade, quando senti ele me abraçar.
— Meu mel?
— Hummmm.
— Ele é legal, gosto de conversar com ele.
— Que bom, eu também gosto de conversar com ele — respondi meio sonolenta.
— Durma, meu amor, você está cansada.
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Acordei no outro dia, como sempre, Miguel deitado atrás de mim, acariciando meu corpo.
Uma de suas mãos levantou minha perna, apoiando na sua, fazendo com que a minha abertura dependesse totalmente dela.
Sua mão logo achou minha intimidade fazendo meu quadril girar em resposta.
— Bom dia.
— Bom dia — respondi.
— Está quase na hora do trabalho, mas eu queria conversar com você.
E como num súbito, eu levantei, saindo de suas garras. Era nossa noite ontem e não foi.
— Miguel?
Ele percebendo, porque é bom em me conhecer, eu não preciso de muitas palavras porque ele me decifra só com um olhar, riu.
— Relaxa, meu mel, teremos outras noites para aproveitar.
Levantei zangada e ele ficou rindo na cama.
Sim estou brava, frustrada e decepcionada.
Emburrada, entrei no chuveiro, quando olhei no relógio, estava marcado uma hora mais cedo do que eu costumava levantar.
E ainda mais essa!
Miguel abriu a porta do chuveiro e se juntou comigo, me abraçando.
Tomamos banho juntos, debaixo de muitas carícias, beijos e abraços. Amo esses momentos simples com ele, porque em cada gesto seu, me sinto importante, ele me faz sentir amada.
— Vem, preciso falar algo contigo.
Ele me estendeu a toalha e eu senti seu rosto um pouco tenso.
Voltamos para o quarto e enquanto eu me vestia, ele sentou na cama de cabeça baixa.
— Ontem, eu e Pedro conversamos bastante.
— Eu sei. Você veio para o quarto bem tarde.
— Eu decidi que vou voltar para o meu apartamento e procurar ajuda médica.
Nesse momento, eu colocava minha blusa, mas parei, o encarando.
— Certo, se é algo que você quer, eu te apoio.
— Quero que você venha comigo, meu mel. Eu não conheço essas pessoas e...
— Também não me conhece.
— Ana, eu confio em você e eu te conheço muito mais que eles. Eu queria que você viesse comigo. Pelo que Pedro me falou, eu tenho uma boa condição, poderia muito bem cuidar de você e da Malú.
— Não sei, eu tenho minha vida aqui, foi muito difícil para mim, ter que recomeçar do zero e passar por certas situações, não sei se sou capaz de largar tudo dessa maneira.
— Por mim não vale a pena?
— Miguel, por favor, não é sobre você. Você agora vai saber de onde veio, como era sua vida, não quero atrapalhar nesse processo. E se os médicos que você buscar tratamento forem bons a ponto de te recuperar a memória e você perceber que eu não sou suficiente para sua nova realidade. Prefiro esperar aqui.
— Meu mel, não diz isso. O fato de eu dizer sempre que estou apaixonado por você não é suficiente?
— Até agora, para mim, foi mais que suficiente, mas não sei se para você vai ser. E eu tenho medo de me decepcionar novamente.
— Nunca vou te decepcionar, Ana. Você prometeu que ia ficar do meu lado. São só por uns dias.
— Eu vou estar do seu lado, só não posso abandonar meu trabalho.
— Por mim, Ana. Por mim. Eu preciso de você do meu lado.
ANA MARIA Eu prometi estar com ele. E foi por essas palavras que liguei para Felipe e pedi para ele me justificar no trabalho, coloquei Malú no transporte escolar e agora estamos aqui, chegando na rua onde Pedro mora. Chegamos na portaria e Miguel apertou a campainha. — Por gentileza, viemos ver o Pedro Monteiro. — Doutor Miguel, o senhor pode subir, o senhor nunca pediu para ser anunciado antes, já é de casa. Miguel me olhou confuso e segurou minha mão. Entramos pelo elevador no qual Pedro nos trouxe da última vez e subimos até o vigésimo terceiro andar. O frio na barriga era incontrolável, minhas mãos suavam mais que o habitual. — Que bom ter vocês aqui. Fico feliz que aceitou minha proposta, irmão. Miguel o cumprimentou com um aperto de mão e assentiu com a cabeça. — Entre, vamos tomar café, enquanto esperamos a chave. Queria te falar antes, que tio Antônio quer muito falar com você. — Não tenho nada para falar com eles. — Miguel, tio Antônio gosta muito de você
MIGUEL Acordei num quarto branco e com um acesso no braço. Ouvia sons de batimentos e ninguém no quarto. Parecia hospital. Olhei tudo ao redor e nada se parecia com o que passei, quando estava na rua. Em silêncio, aguardei que alguém viesse, sempre aparece, mesmo que eu não queira. A verdade é que eu queria apenas uma, naquele momento: Ana. Onde ela está? Procurei alguma coisa que fizesse alguém entrar no quarto e não encontrei, ainda bem que a porta se abriu, revelando Antônio e Agnes. — Meu filho, como você está? Seu pai me ligou, avisando que você tinha desmaiado. Está tudo bem, querido? — Eu estou bem. A Ana? — Ela teve que ir para casa. Não pôde ficar, disse que tinha que pegar a Malú, me pediu para dar notícias sobre você, assim que acordasse. —: Mais tarde, Antônio. Não vamos perturbar a mente do nosso filho agora. Ele teve um desmaio, com certeza é sua lucidez voltando. Devemos deixá-lo respirar. Um outro homem entrou no quarto. — Boa noite. — Doutor Brancco, alguma
FELIPE Malú, muito espertinha, já correu para o carro. Adora passear. Eu amo essa menina, amo a mãe dela. Ana foi a família que eu não tive desde que me assumi, e apesar do meu jeito hétero, que tive que aprender a ser, porque não é só da parte da minha mãe que sofria retaliação, tive que me virar com primos e tios também. Tive que esconder desde sempre minha orientação, por medo do que as pessoas pudessem pensar, pois aqueles que deveriam me dar apoio, me humilhavam e cuspiam barbaridades. Foi duro me descobrir gay e não ter nenhum tipo de suporte de nenhum lado onde eu morava. E por saber disso, meus primos achavam que podiam fazer o que quisessem comigo, tive que me livrar de muitos deles no soco, e de um tio meu também, que encheu a porra do cu de cachaça e achou que tinha liberdades comigo. Por morar em barraco e num quintal compartilhado, ele foi parar dentro da nossa casa, no canto onde eu dormia. Dei uma surra no capeta que queria abusar de mim, quando era um adolescente
ANA MARIA Miguel dormia calmamente na cama do hospital, enquanto eu o observava. Na noite passada o médico fez alguns exames e disse que hoje, na parte da manhã, nos traria todos os resultados juntos para dar um diagnóstico claro sobre seu estado. Espero que fique tudo bem, desejo o melhor para ele. Uma enfermeira passou e me entregou um kit para a minha higiene pessoal, agora de manhã. Nem para isso eu tinha me preparado. Quando o carro chegou lá em casa, eu apenas troquei Malú e Felipe, que estava comigo, também veio. Ainda bem que ele veio e pôde passar a noite cuidando da minha filha, para que eu pudesse acompanhar Miguel. Ainda cheguei aqui e encontramos sua mãe no corredor, ela não fez questão de ser gentil e foi embora logo em seguida. Não entendo como o pai, uma pessoa tão agradável e gentil, suporta uma mulher tão mesquinha e amarga como ela. Depois de usar o banheiro, que ficava no quarto, voltei e Miguel já estava acordado. — Bom dia, meu mel. — Bom dia. — Vem cá,
ANA MARIA O momento dos dois foi tão lindo. A Íris chorou, e eu compreendo. Depois de todo o desespero que foi o desaparecimento do irmão e agora esse bálsamo, quando até túmulo já havia sido construído. São tantas coisas na vida de Miguel que precisam ser colocadas no lugar, que eu espero que sobre um espaço para mim. Eles ficaram conversando enquanto eu arrumava as coisas da Malú, para o tio levá-la. Não preciso nem dizer que minha princesa fica super animada quando vai para a casa do Rodrigo e da Kátia. Quando foi à tardezinha, Rodrigo foi anunciado na portaria. Miguel, claro, liberou sua passagem e ele chegou no apartamento com o queixo no chão, exatamente como eu fiquei. — E aí, cara? Que fita braba é essa? — Nem me fale, está sendo uma verdadeira confusão. Veio ver minhas meninas? — Ele veio busca a Malú. — Miguel me olhou junto com a irmã. — Para eu poder cuidar de você melhor, sem me preocupar se ela vai estar bem. — Não quero que ela vá. Ela precisa das história
ANA MARIA — Eu quero ir para casa. Sua voz saía carregada de dor, após o silêncio esmagador que se fez, depois de eu colocar aquela mulher no seu lugar. — Vamos, eu te levo, você não está bem para dirigir. — Pedro se ofereceu. — Quem ela pensa que é, para falar assim comigo? — Agnes, vamos. Ele saiu arrastando-a pelo braço, até sumirem de nossas vistas. — Pedro, leve-o para casa, ele não está bem para passar por essas situações — solicitou Luiz. — E Ana, perdoa a Agnes, ela tem um bom coração, só protege demais o filho. — Às vezes, desnecessariamente — completou Mariana. — Preciosa! — Agnes é um amor de pessoa, não tem porque você levantar a voz para ela. O mínimo de educação, já que está na sua casa. — Foi a vez da tal Gabriela. — Gabriela. — Pedro a repreendeu. — Vamos, por favor, não quero mais ficar nesta casa. Eu saí me tremendo, parece que todos conseguiam ver uma boa pessoa naquela mulher, mas só eu tinha que suportar a antipatia. Se ela demonstrar acidez comigo, n
FELIPE Porra, estou nervoso perto de um cara. Foda isso! Entramos no elevador em silêncio. Percebia as olhadas que ele me lançava, mas permanecia no meu canto. Eu sempre fui cheio de atitude, uma gracinha aqui e outra ali e agora, nem sei o que dizer. Percebi a cara de surpresa que ele fez, quando me viu no quarto do Miguel. Depois da noite que tivemos, eu esperei um novo contato, só que não veio. Já estava acostumado a ter lances de uma noite ou algumas horas, afinal, a minha aceitação foi tão difícil de engolir e depois mais difícil ainda de assumir, que não sei o que é relacionamento. Nunca estive em um. Talvez pela minha falta de segurança, e também se a minha própria família ficou com vergonha de mim, quem é que vai querer, né? Não sou indeciso na minha opção, só que esses traumas são fodas, bagunça a cabeça de uma forma que quando você vai ver, já está todo fodido. — Quer comer o quê? — Pedro me perguntou. — Qualquer coisa. Só vim para distrair a mente e deixar a Ana respi
ANA MARIA Hoje faz três dias que Miguel passou pela cirurgia. Ele ainda não acordou, os médicos dizem ser normal, pois seu cérebro sofreu uma pressão por longo tempo, então precisa se reestabelecer no seu devido lugar. Eu acabei retornando para casa, afinal, precisava trabalhar e mais, tenho uma filha para cuidar. Parece que se passaram anos, foram as duas semanas mais longas da minha vida, estive em lugares que nem imaginei estar, passei por situações que nem cogitava e conheci pessoas que levarei para toda minha vida. Algumas eu não faço questão. Mas, o bom é que foi tudo para o bem do homem que eu amo. Ele vai ficar bem. Foi nesse pensamento positivo que eu trabalhei durante a quinta-feira. — Vocês tão fazendo panelinha. — Tales nos perguntou. — Acertou, miserável, não te suportamos. — Felipe? Mentira, Tales, nós te amamos. — Fale por você. Felipe, todo debochado, arrumava as latas pequenas de tinta na prateleira. — Vamo ver se no próximo churrasco tu vai ser convidado,