A vingança da Luna rejeitada
A vingança da Luna rejeitada
Por: K. R. Alexander
Capítulo 1: Um sonho impossível

POV Abigail.

A chuva não estava dando trégua naquele dia, meu pelo estava encharcado e os resíduos que eu deveria descartar pareciam ainda mais pesados enquanto eu os arrastava pela terra lamacenta. Escorreguei várias vezes, caindo de lado no chão gelado da floresta de Nemadji, ao sul de Duluth. Nunca tive permissão de ir até a cidade, como outros jovens lobos da minha idade, o alfa jamais permitiria se eu pedisse. Como uma simples ômega, não recebi nenhum tipo de instrução, não sabia assumir minha forma humana e todos me viam apenas como um peso para a alcateia Umbra. Tudo o que eu conhecia vinha de ouvir as conversas enquanto eu passava despercebida e o que eu observava do topo das colinas.

Parei por um momento, tomando algumas respirações e permitindo um momento de descanso para os meus músculos doloridos. Estava fraca pela falta de alimentos. Fazia dias que eu não conseguia me alimentar, pois a alcateia vinha passando por uma séria escassez de alimentos enquanto nosso alfa estava focado em sua campanha para alfa supremo. Tudo o que sobravam eram ossos que mal eram possíveis serem roídos. Meu estômago roncou alto e gemi, erguendo meu focinho para o céu e permitindo que a chuva lavasse meus pelos.

― Minha deusa, nos ajude. ― Pedi em uma breve oração. Risadas soaram próximo de onde eu estava, me assustando.

Um pequeno grupo de lobos se aproximava, a elite da nossa alcateia. Entre eles estavam Marcus, Benjamin e Jason, os melhores caçadores e guerreiros, treinados desde jovens pelo próprio alfa. Eles se aproximaram, me cercando enquanto eu me deitava no chão, acoada e com minha cauda entre as patas traseiras. Eu já havia sido intimidada por eles várias vezes, estava habituada aquela situação, mas algo parecia assustadoramente diferente naquele dia. Eu não sabia se era a chuva que molhava seus pelos ou os raios que cortavam os céus, mas eu podia sentir com cada fibra do meu ser o perigo emanar daqueles três lobos.

― Acha que a Deusa ouvirá uma ninguém como você? Suja, fraca, inútil. ― Marcus, o grande lobo de pelos castanhos e brancos, disse rosnando. Seus olhos verdes brilhavam enquanto ele mostrava seus dentes para mim. ― Você só está viva pela clemência do alfa, deveria ter perecido com sua mãe.

Marcus River era um lobo cruel, famosos por sua violência desmedida em batalha e sede de sangue nas caçadas. Com a pouca comida disponível, seus ataques a mim estavam se tornando cada vez mais constantes. Para a minha sorte, a alcateia não podia desperdiçar mão de obra, ou a situação poderia ficar ainda pior com doenças se espalhando. Os demais ficaram para trás, dando risadinhas enquanto eu era a válvula de escape daquele lobo.

― O que está acontecendo aqui? ― Uma voz firme questionou, não muito longe de onde estávamos.

Não me atrevia a erguer meus olhos, afinal, uma ômega não era digna de olhar para o filho do alfa, mesmo que ele se mostrasse alguém gentil com todos, algo incomum para um possível sucessor direto. Rafael sempre foi justo, nunca discriminou ninguém pelo seu status e vivia cercado pelas lobas mais populares da alcateia. Ele passou um bom tempo estudando no mundo humano por ordem de seu pai. Eu sempre admirei Rafael de longe, desde que eu era uma filhotinha. Um lindo lobo de pelos acinzentados e profundos olhos da cor das copas das árvores. Era impossível para qualquer fêmea não se sentir atraída por ele.

― Nada Rafael, apenas vendo se essa imprestável estava ao menos cumprindo com seu dever. ― Marcus disse me chutando com força.

― Parem com isso e voltem para a alcateia. Preciso do relatório sobre a caçada de ontem.

Enquanto passavam por mim, um após o outro, eu era pisada ou chutada. Os rosnados na minha direção não eram disfarçados e deixavam clara suas ameaças. Conforme os sons dos passos se afastaram, ergui meu focinho para ver Rafael, liderando o grupo, caminhando para longe de mim. Sim, eu tinha de entender de uma vez por todas que eu jamais estaria próxima dele. Meu coração batia tão forte em meu peito, como se minha alma clamasse por aquele sonho impossível que era me tornar a companheira de Rafael Angenna.

― Sou mesmo uma idiota. ― Retomei ao meu dever, arrastando o grande saco até a beira da estrada, onde a coleta de resíduos dos humanos costumava passar em dias específicos.

Mesmo de longe, me dei o prazer de observar Rafael, que parecia sempre muito ocupado. Tentava não ser vista, já que ele estava constantemente cercado por aqueles lobos horríveis. Grande parte do tempo eles andavam pela alcateia em sua forma humana, por ser mais prático, mas não diminuia em nada a beleza de Rafael, que era um homem alto, com corpo atlético e forte, cabelos platinados, e os lindos olhos verdes brilhantes.

Das sombras, eu suspirava, sonhando acordada com situações improváveis onde Rafael olhava para mim além da fraca loba sem nenhuma instrução. Estava tão perdida em meus pensamentos que não notei a aproximação de algumas lobas, dentre elas Evangeline, a loba com maiores chances de se tornar a companheira de Rafael.

― Chega a dar pena, te ver babando assim pelo Rafael. ― Evangeline disse com sua voz doce e suave carregada com veneno. ― Já se olhou no espelho alguma vez? Uma loba magra e pequena como você, tão desleixada, terá sorte se um lobo doente te aceitar como companheira.

As lobas ao redor de Evangeline riram, balançando suas caudas com alegria enquanto eu só podia me encolher e aceitar seus insultos. 

― Uma coisa dessas nem deveria estar viva. ― Uma das lobas, amiga de Evangeline, disse, dando um passo a frente. ― Já que foi mesmo sua culpa sua mãe ter sido executada pelo alfa, o mínimo era você ter morrido com ela.

Meus olhos se encheram de lágrimas enquanto as lobas continuavam a rir e debochar de mim. Meu coração doía horrivelmente cada vez que eu me lembrava daquele maldito dia.

― Faça um favor a si mesma, e desapareça daqui antes que eu me encarregue de fazer o que o alfa não foi capaz. ― A ameaça de Evangeline fez meu corpo inteiro tremer, imediatamente me coloquei a correr debaixo de gritos e ofensas.

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