Capítulo 5: Apenas a lua como testemunha

POV Abigail

Tentei encontrar com Rafael no dia seguinte, mas ele havia partido para uma reunião com a aliança das alcateias. Sem um alfa supremo, as relações entre os alfas estava ficando cada vez mais tensa. Ragnar era o mais cotado, mas sua morte surpreendeu a todos e deixou uma grande dúvida sobre o futuro da aliança. Eu preferi me manter a margem, escondida de todos, afinal Rafael ainda não havia oficializado nada e eu não tinha o direito de falar pelo alfa. Mantive minha rotina e suportei os maus tratos dos lobos. 

Fui até o rio após cumprir meus deveres, em um local mais escondido e longe do caminho que alguns lobos pudessem tomar. Lavei meu pelo o melhor que consegui, afinal a futura companheira do alfa não podia ser vista suja. Aquele pensamento me fez pular na água, espalhando gotas por todos os lados enquanto eu dava gritinhos de alegria.

― Eu serei a companheira do Rafael. Minha deusa! ― Continuei pulando feliz, até que ouvi passos se aproximando.

Diferente da outra vez, não tive nenhuma curiosidade em saber quem estava chegando, apenas comecei a correr o mais rápido que pude para a minha toca e me escondi lá. 

Os dias passaram e não tive nenhuma notícia de Rafael. Marcus e Jason foram deixados para cuidar de tudo, enquanto Benjamin acompanhou Rafael até a reunião. Tudo o que eu sabia era devido a ouvir conversas aleatórias aqui e ali. As lobas, em especial, tinham muitas informações pertinentes.

― Aquelas cadelas sem classe estão cercando Rafael como abutres. ― Ouvi uma loba falando enquanto passava por trás de uma loja, recolhendo o lixo. ― As pobres acreditam que tem mesmo chance com o nosso alfa.

― Não é para menos. Rafael é um alfa muito jovem, geralmente o lobo que conquista essa posição já está beirando os cinquenta anos, enquanto Rafael nem chegou aos quarenta.

As lobas suspiravam, pontuando todos os pontos fortes e atrativos de Rafael, que eu já conhecia muito bem. Me afastei, pedindo a deusa que ele voltasse o mais rápido possível para que, finalmente, pudéssemos ficar juntos.

Os dias passaram e fui acordada com batidas na minha toca. Um lobo jovem que eu nunca havia visto antes, com pelos cinzentos desgrenhados, deixou um envelope no chão e saiu correndo, sem dizer nada. Com dificuldade, consegui abrir a carta. Uma linda letra cursiva, escrita com tinta preta, dizia “Me encontre perto do riacho, onde nossos olhares se cruzaram, essa noite.”

Entrei na toca e saltei de felicidade. Finalmente iríamos nos ver e oficializar nosso compromisso, com a benção da Deusa. Aquela noite, a lua cheia brilhava imponente no céu, tornando a atmosfera ao redor mágica. Passei uma das fragrâncias da minha mãe, arrumei meu pelo o melhor que pude e fui em direção ao riacho, tomando cuidado para que ninguém me visse saindo escondida tão tarde.

Estava impossível conter minha animação. Eu pulava de um lado para o outro, pensando em tudo o que eu queria dizer para o Rafael quando o visse. Os arbustos se agitaram, então eu me preparei para o encontro que eu tanto desejei na minha vida. Rafael surgiu, seu pelo cinza ainda mais brilhante naquela noite especial. Dei um passo em sua direção, mas parei ao ver Marcus, Jason e Benjamin surgindo logo em seguida.

― Achei que seríamos apenas você e eu. ― Disse com a voz trêmula, dando um pequeno passo para trás.

Uma risada fria cortou meu coração. Os olhos de Rafael para mim eram frios como o gelo, sua postura, antes relaxada e gentil, agora era a de um predador sanguinário, capaz de dilacerar sem piedade sua vítima. Os outros lobos me cercaram, deixando o riacho turbulento as minhas costas. Eu estava confusa e assustada com tudo aquilo.

― Rafael, eu não… ― Um forte impacto no meu rosto me calou e jogou ao chão. O sabor ferroso do sangue já dominando minha língua.

― Não abra essa boca imunda para dizer o meu nome, ômega. ― Rafael se aproximou, pisando em minha pata dianteira com força e me fazendo gemer de dor. ― Achou mesmo que eu a aceitaria como a minha companheira? Um lixo como você, sem nada para me oferecer além de vergonha? A filha de uma traidora, uma ômega que recolhe lixo, se tornar a luna da maior alcateia da aliança. Que piada de mau gosto a deusa tentou fazer, mas eu não permitirei isso. ― Rafael se afastou, e fui novamente cercada pelos três lobos de sua confiança.

― Espere, por favor. ― Implorei aos prantos, mas tudo o que recebi foi um olhar de repulsa.

― Façam como o combinado. ― Foram as últimas palavras de Rafael antes de partir.

Meu corpo e minha alma foram dilacerados. Começou com os espancamentos, mas em algum momento aquilo não pareceu mais o suficiente para Marcus, que mordeu meu pescoço com força e montou sobre mim. Tentei fugir, me debatia debaixo de seu grande corpo, mas era inútil. Um depois do outro, aqueles três lobos me cobriram, rindo da minha desgraça, zombando e me humilhando de todas as maneiras possíveis. Eu desisti de lutar, já não tinha forças para gemer em meu sofrimento enquanto eles continuavam até o sol romper no horizonte.

― Finalmente achamos algo para o qual você presta. ― Marcus disse então cuspiu no meu rosto.

― Mais tarde voltamos para uma visitinha rápida. ― Jason riu, seguindo Marcus.

Olhei para cima, Benjamin apenas ficou me olhando friamente, deu as costas e partiu com os outros. Fui deixada naquele lugar isolado, onde ninguém poderia me encontrar com feridas profundas por todo o meu corpo. Tudo o que consegui fazer foi virar minha cabeça e tomar um gole de água do riacho, então me encolhi e deixei que as lágrimas lavassem meu rosto, enquanto o sangue continuava a correr de dentro de mim, tingindo de vermelho o riacho. 

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