Capítulo 4: Eu não escolhi esse destino

POV Abigail

Por mais que estivesse feliz, sentia uma barreira entre mim e Rafael. Minha cauda não parava de abanar enquanto o silêncio prolongava. Os lobos ao nosso redor estavam tensos, olhando para Rafael, esperando alguma palavra dele. Eu também estava.

Conseguia entender o choque do Rafael, afinal ninguém espera ter seu destino ligado a uma loba ômega, mas o lobo por quem me apaixonei era justo e gentil, ele jamais olharia para um lobo e julgaria por sua casta, mas sim por seu real valor. 

― Rafael. ― Marcus se aproximou de Rafael, o surpreendendo. Os pelos cinza de Rafael se eriçaram e um rosnado baixo ecoou pela floresta, como um aviso silencioso.

― Vamos voltar. ― Rafael disse se virando, sem olhar uma segunda vez para mim. O medo me dominou por um momento e antes que pudesse me deter, saltei na frente dele o olhando diretamente e sentindo mais uma vez a forte conexão de destino que nos ligava.

― Meu alfa, perdoe a minha ousadia, mas eu gostaria de solicitar um momento…

― Saia. ― A voz de Rafael foi cortante. Meu corpo tremeu, o medo me dominando. Dei um passo para o lado, baixando minha cabeça enquanto a comitiva seguia em direção à alcateia.

A reação de Rafael me deixou preocupada, mas havia testemunhas da nossa ligação, a deusa sussurrou no meu ouvido e nada poderia nos separar. Esperei um pouco, apenas para ter certeza de que não encontraria ninguém em meu caminho de volta, e fui até a minha toca. Eu tinha algumas coisas que eram da minha mãe, como essências de flores e adereços que ela guardava em uma caixinha escondida. Ela nunca soube que eu tinha encontrado aquele tesouro e eu preferi que continuasse assim. Eram lindas peças que eu nunca a vi usando, então acreditei que eram lembranças do meu pai.

Batidas no tronco da árvore me surpreenderam. Escondi todas as coisas e fui ver do que se tratava. Para meu espanto e pavor, Benjamin estava de pé, em sua forma humana, do lado de fora. Sua expressão de desgosto e repulsa não eram uma surpresa para mim.

― O alfa a convoca, loba. ― Com isso ele deu as costas e começou a caminhar. Fui atrás dele, deixando uma distância segura entre nós.

A tenda central, mantida pelo alfa Ragnar como um lembrete de nossas origens, se destacava de maneira imponente e ameaçadora. Ali eram feitas as reuniões de guerra, julgamentos e todas as celebrações mais importantes da alcateia Umbra. Ser convocada pelo alfa, dependendo da situação que estivéssemos vivendo, poderia ser tanto uma benção quanto uma maldição. Eu estava muito nervosa por vários motivos, mas especialmente por que Rafael me chamou logo após nossa ligação de destino ter aparecido.

― Eu a trouxe, meu alfa. ― Benjamin falou em um tom solene, fazendo uma reverência. Segui seu exemplo e me curvei sobre as minhas patas dianteiras.

― Pode ir agora. ― Rafael diz em uma voz neutra, mas Benjamin não se moveu.

― Se me permite, meu alfa… ― Benjamin se levantou, dando um passo a frente.

― Não, eu não permito. Agora, saia. ― A voz de Rafael era poderosa, emanando toda a sua autoridade como o alfa. Meus pelos ficaram arrepiados e senti uma onde se euforia se formando no meu estômago. ― Se aproxima, loba.

― Sim, meu alfa. ― Me aproximei mais do trono onde Rafael estava sentado, mas não me atrevi a erguer os olhos. Estava tão nervosa e envergonhada, tinha medo de dizer alguma besteira na frente dele.

― Como se chama? ― Engoli em seco, achando que já tinha lhe dito meu nome na floresta, mas talvez ele não tivesse escutado ou eu tivesse falado em um tom muito baixo.

― Me chamo Abigail, meu alfa. Abigail Fears. ― Falei tentando projetar a minha voz da melhor maneira possível.

― Abi. É um lindo nome. ― Meu coração acelerou, então criei coragem e o olhei.

O lindo sorriso de Rafael aquecia meu peito. Ele estava sentado de uma forma relaxada e uma paz emanava dele, algo que jamais senti vindo do alfa Ragnar. Rafael se endireitou em sua cadeira e fez um sinal para que eu me sentasse, assim o fiz, sentando sobre minhas patas traseiras.

― Me dia Abi, você tem família? ― Rapidamente balancei minha cabeça negando.

― Não, meu alfa. Eramos apenas minha mãe e eu, mas ela… ― Não consegui concluir e Rafael apenas acenou concordando. 

― E quanto ao seu pai? Tem algum Irmão? ― Neguei novamente com a cabeça. Minha cauda e orelhas caídas com as tristes lembranças da minha infância e juventude.

― Não sei quem é meu pai e nem se tenho algum irmão. Como eu disse, meu alfa, eramos apenas minha mãe e eu. ― Um pequeno sorriso surgiu do canto do lábio de Rafael, seu olhar doce brilhando para mim.

― Eu entendo. Acredito que nos veremos em breve, Abi. ― Rafael se levantou, descendo do pedestal onde ficava seu trono e indo em minha direção. Eu não fazia ideia do que fazer, então apenas baixei minha cabeça.

O toque suave em minhas orelhas fez todo o meu corpo vibrar, como se estivesse reconhecendo aquele lobo como o meu companheiro predestinado mais uma vez. Minha cauda abanava enquanto eu não conseguia mais conter a minha felicidade, então, Rafael se afastou.

― Melhor você ir agora. ― Acenei concordando, fiz uma reverência e sai da tenda.

Nunca me senti tão feliz em toda a minha vida, aquele era o momento com o qual todas as lobas sonhavam e eu fui abençoada pela deusa ao me unir com o lobo que eu estava apaixonada há tanto tempo. Não só o meu destino havia dado uma reviravolta inimaginável, como eu seria a loba mais feliz de toda a aliança de alcateias.

Fui me deitar naquela noite estranhamente fria, sem nem imaginar que os meus dias de felicidade e toda a minha esperança seriam dilacerados em poucas horas.

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