Capítulo 3: Companheiros de destino

POV Abigail.

Trabalhei com afinco, decidida a mostrar para Rafael o meu valor dentro da alcateia. Mesmo a função de uma ômega era importante para o bem-estar de todos. Todos estavam como eu, animados e trabalhando duro, pois viam em Rafael uma nova era para a alcateia Umbra.

Após levar as últimas carcaças para longe do território, fui até um riacho próximo para limpar meus pelos. Olhando meu reflexo, percebi o quão horrível eu estava. Meus longos pelos estavam emaranhados e cobertos por sangue seco e lama, meu corpo era pequeno e magro, por conta da desnutrição que passei desde filhote. Eu sabia que não era atraente para os machos por vários motivos, mas eu também sabia que tinha atributos que se destacavam, como meus olhos de cor dourada. Apenas minha mãe e eu dividimos essa característica, enquanto os demais tinham, em sua grande maioria, olhos verdes ou castanhos.

Sentei-me sobre uma grande pedra, aproveitando os poucos raios de sol para me secar, quando ouvi alguém se aproximando. O cheiro dos machos estava impregnado com algo forte que me deixava um pouco tonta e enjoada. Jason, Benjamim e Marcus apareceram com mais alguns lobos, todos em suas formas humanas e usando roupas estranhas. Sempre me perguntei se aquilo era confortável ou mesmo necessário, mas como os humanos as usavam, todos que desejassem ir até a cidade tinham de usar. 

Tentei me esconder, indo para a lateral da rocha, nas sombras, mas eu estava encharcada e meu cheiro acabaria se destacando, especialmente para o caçador mais talentoso da alcateia Umbra. Eles se aproximaram e logo as risadas e piadas pararam, sendo substituídas por risinhos que transbordavam crueldade. Queria evitar aqueles lobos o máximo que pudesse, minha vida já era bem complicada por si.

― Que cheiro podre é esse? ― Jason perguntou com tom de zombaria, fazendo os demais rirem.

― Fede a merda e lixo. ― Marcus completou. Então, bem a minha direita, a sombra de Benjamim me cobriu, seu olhar frio me analisando com cuidado.

― Parece que achei a fonte do mau cheiro. ― Sua mão agarrou a parte de trás do meu pescoço, me arrastando do lugar em que eu estava e me jogando diante dos demais.

Mesmo em suas formas humanas, Benjamim, Jason e Marcus eram fisicamente muito fortes. Seus olhos brilhavam enquanto o poder emanava em ondas de seus corpos, fazendo com que eu me encolhesse rente ao chão. Ao todo, havia pelo menos mais quatro lobos com eles, tornando aquele encontro uma grande desvantagem para mim. Eu era boa em fugir e me esconder, mas acabei me distraindo com meus devaneios.

Um dos lobos que eu não reconheci se abaixou, olhando em meus olhos e sorrindo de lado. Havia malícia em seu olhar, o que me fez tremer com os pensamentos que poderiam estar passando pela mente daquele lobo.

Eu precisava escapar daquela situação, mas estava cercada. Logo, todos haviam retomado suas formas lupinas. As presas protuberantes a mostra, a saliva escorrendo de suas bocas enquanto rosnavam na minha direção. Olhei em pânico ao redor, tentando encontrar uma rota de fuga, mas os machos haviam se fechado em um círculo ao meu redor.

― Me deixem em paz. Não fiz nada de errado. ― Disse tentando manter minha voz firme. Então, senti um forte impacto na lateral do meu corpo que me fez perder o ar.

― Você já está errada apenas por respirar, loba imunda. ― A voz fria de Jason ressoou em meus ouvidos.

O grande lobo de pelagem cinza e branca estava sobre mim, seu olhar frio enquanto analisava meu corpo encolhido no chão lamacento. Sua língua passou por seus dentes, a ameaça clara em seus movimentos ferozes e hostis. Eu não tinha nenhuma chance contra aqueles lobos e sabia que gritar pedindo ajuda também não iria adiantar. Ninguém apareceria em meu auxílio. Benjamim e Marcus tomaram a frente dos demais, que davam risadas de toda aquela situação macabra.

― Sabe, até que quando está limpa, essa loba não é de se jogar fora. ― Benjamim falou com um sorriso de lado. Sua pelagem cinza clara e branca brilhava com os raios de sol que entravam pelas copas das árvores.

Fechei meus olhos com força, implorando pela misericórdia da deusa, por um pequeno milagre que me livrasse de um destino pior do que a morte para muitas lobas. Uma forte pressão tomou o lugar, os lobos rosnaram e pude ouvir seus passos se afastando. Ao abrir meus olhos, um lindo lobo de pelos prateados e brilhantes olhos verdes como esmeraldas surgiu em meio as árvores.

― O que está acontecendo aqui? ― Rafael perguntou com uma foz forte e imponente, olhando para os lobos que ainda me cercavam. Marcus se adiantou, baixando sua cabeça na presença de Rafael.

― Meu alfa. Encontramos a ômega vadiando. Estávamos apenas a advertindo de seus deveres. ― A voz séria de Marcus, era o oposto de como ele havia falado comigo.

― Não é sua função fiscalizar os trabalhos dos lobos da alcateia. ― Senti o olhar de Rafael sobre mim, mas não ousei erguer meus olhos. ― Qual o seu nome, loba?

― Abigail, meu alfa. ― Respondi com a voz baixa, meu corpo trêmulo. Não tive coragem de erguer meus olhos em sua direção, então suas grandes patas surgiram diante de mim.

― Levante-se. ― Ele ordenou, e assim eu o fiz. Meu coração estava acelerado por apenas estar em sua presença. Me sentia nervosa, mas reuni toda a coragem que pude para erguer meu focinho em sua direção.

Assim que meus olhos encontraram os de Rafael, todo o meu corpo tremeu, se aquecendo e vibrando. Meus pelos se arrepiaram e então uma voz baixa sussurrou ao meu ouvido, melodiosa e gentil.

“Você encontrou o seu destino.”

Suspirei e não consegui esconder a minha felicidade, já Rafael tinha um olhar de surpresa que se tornou frio como o gelo logo em seguida. Todos estavam calados, o ambiente estava tenso por alguma razão, mas eu não conseguia pensar em nada além de que eu seria a loba mais feliz de todo o mundo, pois havia encontrado o meu predestinado, e ele era o lobo que eu sempre amei.

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