Início / Lobisomem / A renegada do Alfa Amaldiçoado / Capítulo 2: O Lobo à Minha Espreita
Capítulo 2: O Lobo à Minha Espreita

O frio cortante da noite não era nada comparado ao gelo que se espalhava dentro de mim. Meu corpo doía, cada respiração queimava meus pulmões, o ferimento no meu flanco dificultando meus movimentos, mas eu não podia parar. O cheiro de fumaça e sangue ainda impregnava minhas narinas, e os gritos de agonia ecoavam como um fantasma em minha mente. Corri para a floresta, o som de meus pés afundando na neve abafado pelo desespero que pulsava em minhas veias.

A imagem dos corpos de meus pais marcada a fogo na minha mente, algo que jamais poderia esquecer. Por mais que desejasse estar com eles e lhes dar um enterro digno de quem eram, não podia, pois ele estava vindo.

Eu podia senti-lo, seu cheiro me rodeava enquanto ele se aproximava mais um passo, e outro… e outro.

Meu instinto gritava para cada célula do meu corpo, me alertando sobre a presença dele. Damian Blackthorn. O assassino dos meus pais. O homem que eu amava, em quem eu deveria confiar, havia se tornado a sombra que me caçava na escuridão.

Meus pulmões queimavam com o esforço da corrida. Meu flanco ardia, o ferimento sangrava mais do que eu gostaria de admitir, mas eu não me permitia fraquejar. A floresta densa à minha frente era a minha última esperança, uma chance de me esconder, de escapar. Meus pés afundaram na neve fofa, dificultando minha movimentação, mas não havia escolha. Não podia assumir minha forma lupina naquelas condições. Continuei em frente, ignorando os galhos que cortavam minha pele e as lágrimas quentes que escorriam pelo meu rosto.

Então eu o ouvi.

Um rosnado baixo, ameaçador. O som de algo grande e letal movendo-se entre as árvores. Um predador. O cheiro que emanava dele era diferente do que eu estava habituada, algo selvagem e feroz se misturava ao amadeirado que aprendi a rastrear entre tantos outros cheiros.

Meu corpo travou antes que eu pudesse impedir. O medo me dominou, e, por um segundo, eu apenas fiquei ali, paralisada, meu corpo inteiro tremendo, ouvindo a aproximação dele. Então, um estalo de galhos secos. Meu coração pulou em meu peito. Virei-me bruscamente e tentei correr, mas não fui rápida o suficiente.

Uma força esmagadora me atingiu por trás, derrubando-me na neve. O impacto tirou todo o ar dos meus pulmões, e antes que pudesse me recompor, senti o peso dele sobre mim. Garras afundaram na neve ao meu lado, sua respiração quente queimando minha nuca.

— Damian! — gritei, minha voz embargada pelo terror.

Ele não respondeu.

Lutei, tentando me virar, mas ele era forte demais. Seus dedos se fecharam ao redor do meu pescoço, segurando-me contra o chão gelado. Quando finalmente consegui me virar, meu estômago se revirou.

Aqueles olhos dourados, que um dia me trouxeram conforto, agora eram vazios. Um abismo sem alma.

— Por quê? — Minha voz saiu fraca, quase inaudível. — Por que fez isso?

Nenhuma resposta. Somente silêncio. Um silêncio mais cruel do que qualquer palavra.

A neve ao meu redor estava tingida de vermelho. Meu sangue. Eu sentia a fraqueza se arrastando pelo meu corpo, como uma serpente, mas recusei-me a ceder. Meus dedos encontraram um galho caído ao meu lado. Sem pensar, o agarrei e o balancei em sua direção. Ele desviou facilmente, seu olhar sequer se alterando.

— Damian, exijo que me responda! — gritei, minha voz carregada de raiva e desespero. — VOCÊ OS MATOU! VOCÊ MATOU MEUS PAIS! MATOU SEU REI E SUA LUNA!

Finalmente, ele se moveu.

E atacou com a habilidade do guerreiro excepcional que era.

Um golpe rápido, brutal. Joguei meu corpo para o lado no último instante, sentindo o vento cortante passar onde minha cabeça estava momentos antes. Mesmo chocada por Damian errar um golpe como aquele, rolei pela neve, lutando para me levantar, mas logo ele estava sobre mim novamente, um predador impiedoso caçando sua presa.

Seus dedos envolveram minha garganta, apertando. O ar me faltou. Minhas mãos agarraram seus pulsos, tentando afastá-lo, mas era inútil. Ele era mais forte. Sempre foi.

O mundo começou a escurecer nas bordas. Meus pulmões imploravam por ar.

— Por favor… Damian, por favor. — implorei, minha voz reduzida a um sussurro.

Algo brilhou nos olhos dele. Por um segundo, só um segundo, vi hesitação. Vi uma rachadura no gelo.

Foi tudo o que precisei.

Com um esforço desesperado, ergui meu joelho e o atingi no abdômen. O golpe não o machucou, mas o pegou desprevenido o suficiente para que seu aperto afrouxasse. Com um último resquício de força, chutei sua perna e me desvencilhei, tropeçando para trás.

Virei-me e corri.

O som dos passos dele veio logo atrás. Eu não tinha chance. Ele era mais rápido, mais forte. Mas eu não desistiria. Não morreria ali.

A clareira apareceu de repente à minha frente. Mas não havia mais para onde correr.

O precipício se estendia diante de mim, um abismo negro e infinito. O vento gelado chicoteava minha pele enquanto eu olhava para o vazio abaixo.

Atrás de mim, Damian se aproximava lentamente, como um caçador que já sabia que sua presa não tinha escapatória.

Engoli em seco. Minhas opções eram limitadas. Se ficasse, ele me mataria. Se pulasse… talvez tivesse uma chance.

Virei-me para encará-lo uma última vez. Meu peito subia e descia de forma descompassada, o medo e a raiva lutando dentro de mim.

— Jamais vou perdoar o que você fez, jamais vou esquecer a sua traição. — Minha voz saiu firme, mesmo que minhas pernas tremessem. — E um dia… vou me vingar.

Então, sem pensar mais, pulei.

O ar gelado cortou minha pele como navalhas. A escuridão me envolveu, o mundo girou ao meu redor. Eu não sabia se viveria, mas sabia de uma coisa.

Se eu sobrevivesse, faria Damian pagar.

A última coisa que vi antes de atingir o rio gelado abaixo e tudo se apagar, foi a lua cheia brilhando acima de mim, indiferente ao meu destino.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App