O escritório parecia menor, como se o ar estivesse sendo lentamente drenado dali. Meu peito subia e descia em um ritmo que eu não conseguia controlar, e minhas mãos estavam frias, mesmo que o ambiente não fosse gelado. Não era apenas o escritório… era ele.
Damian Blackthorn.
Sentada naquela cadeira de couro impecável, eu sentia o olhar dele queimando sobre mim como uma lâmina afiada, analisando cada detalhe, esperando qualquer sinal de fraqueza. Mas eu não cederia. Não diante dele.
A entrevista deveria ter terminado há muito tempo. Qualquer outro candidato já teria sido dispensado. Mas Damian parecia se divertir prolongando aquilo. Cada pergunta carregava um tom afiado, cada provocação trazia uma faísca de algo que eu não conseguia decifrar.
Ele me estudava. Testava. E eu não sabia por quê.
— Então, senhorita Lin — ele quebrou o silêncio, tamborilando os dedos na mesa. O som ritmado ecoava pelo ambiente, marcando cada segundo de tensão. — Além de nunca desistir, que outras qualidades você tem?
Seu tom era carregado de algo que eu não conseguia definir. Desafio? Curiosidade? Diversão? Seus olhos dourados brilhavam a cada palavra, como se estivesse se divertindo com o jogo.
Me recusei a desviar o olhar.
— Sou dedicada e trabalho duro — respondi de imediato, mantendo minha expressão neutra.
— É mesmo? — Ele inclinou-se ligeiramente para frente, os olhos fixos em mim. — E o que mais você sabe fazer?
Engoli em seco. Aquela pergunta tinha camadas. Eu podia sentir.
— Eu… — hesitei por um instante. — Sei lidar com clientes, administrar tempo e gerenciar tarefas sob pressão.
O sorriso dele aumentou, como se eu tivesse caído exatamente onde ele queria.
— Não era isso que eu queria saber.
Meu coração bateu forte. O jeito como ele me olhava, como sua voz ressoava pelo ambiente… Meus sentidos estavam em alerta máximo.
Respirei fundo, tentando não demonstrar o efeito que ele tinha sobre mim.
— Se não quer falar sobre minhas qualificações, então talvez devêssemos encerrar a entrevista — retruquei, mantendo o tom firme.
Algo brilhou nos olhos dele.
— Que apressada. Não gostou da conversa?
— Achei que estivesse aqui para falar sobre trabalho, não sobre mim.
Ele riu baixo, e o som reverberou dentro de mim de um jeito que me incomodava. Era um riso que me fazia sentir que eu já tinha ouvido antes.
— O que acha que um emprego na Blackthorn Enterprises pode lhe oferecer?
Demorei um segundo para responder.
— Uma oportunidade de crescer. Segurança financeira. Um recomeço.
Ele pareceu ponderar minha resposta, seus olhos se estreitando levemente.
— Um recomeço?
Engoli em seco. Por que ele precisava repetir isso?
— Sim.
— Interessante — ele murmurou, mas seu olhar dizia que ele não acreditava completamente em mim.
O silêncio que se seguiu foi espesso, carregado de algo que eu não entendia. Então, sem aviso, Damian fechou a pasta do meu currículo e se levantou.
— Foi um prazer conhecê-la, senhorita Lin. — Ele estendeu sua mão para mim.
Hesitei antes de aceitar. No instante em que sua pele tocou a minha, uma corrente elétrica atravessou meu corpo, tão forte que me fez prender a respiração.
Levantei-me devagar, desconfiada.
— Então… isso significa que consegui a vaga?
Ele se aproximou, e por um instante, achei que fosse dizer algo sério. Mas, em vez disso, um sorriso provocador surgiu em seus lábios.
— Eu prometo que nos veremos novamente.
A maneira como ele disse aquilo, como se não houvesse dúvida de que isso aconteceria, me fez prender a respiração.
— Isso não responde minha pergunta.
Ele virou as costas, caminhando em direção à janela.
— Pode ir. A senhorita será informada sobre a decisão em breve.
Eu deveria ter discutido mais, exigido uma resposta concreta. Mas alguma coisa me dizia que ele já tinha decidido. Ele só queria me manter no jogo por mais tempo.
E talvez, apenas talvez, eu também quisesse continuar jogando.
A viagem de volta para casa foi longa, e meus pensamentos estavam um caos. Damian Blackthorn era perigoso. Não da maneira óbvia, mas pelo efeito que tinha sobre mim.
A atração inexplicável, a maneira como meu corpo reagia ao seu olhar… Algo nele me despertava sensações conflitantes.
E a pior parte? Ele parecia saber disso.
Sacudi a cabeça, afastando aqueles pensamentos. Eu não podia me dar ao luxo de me perder em devaneios inúteis. Henry e Margaret precisavam de mim. Esse emprego poderia ser a solução para os problemas deles, e eu precisava me concentrar nisso.
Porém, assim que dobrei a rua de casa, meu sangue gelou.
Havia dois homens parados na varanda, suas expressões severas. Henry estava diante deles, seu rosto marcado pelo cansaço e pela preocupação. Margaret segurava suas mãos, tentando acalmá-lo.
Apressei o passo, sentindo um nó se formar em meu estômago.
— O que está acontecendo? — perguntei assim que me aproximei.
Os homens se viraram para mim, analisando-me de cima a baixo antes de um deles responder.
— Você é da família?
— Sim — respondi de imediato.
Henry hesitou, mas assentiu, me deixando continuar.
O homem pegou um maço de papéis e os estendeu para mim.
— Seu avô está devendo ao banco. E o prazo para pagamento da dívida expirou.
Minha visão ficou turva por um segundo, e meu estômago se contraiu. Meu instinto dizia para correr, mas minhas pernas estavam enraizadas no chão. Minha garganta queimava, como se eu tivesse engolido cacos de vidro.
— Mas… nós tínhamos mais tempo!
— Não. Vocês já receberam prorrogações demais. Ou pagam até o final do mês, ou perderão a propriedade.
O choque se transformou em indignação.
— Isso não pode estar certo. Não é justo!
— Não estamos aqui para discutir o que é justo, senhorita. Estamos aqui para cobrar o que é devido.
Eles nos lançaram um último olhar de advertência antes de se afastarem, deixando para trás uma sensação amarga e sufocante.
Virei-me para Henry e Margaret, tentando encontrar uma solução, mas o olhar deles me partiu o coração.
Meu coração pulsava contra minhas costelas, como se tentasse me lembrar da urgência daquela situação.
Eu precisava daquele emprego.
E, para isso, precisava encarar Damian Blackthorn novamente.
Não havia escolha. Faria o que fosse necessário para proteger aquela que se tornou minha única e querida família, mesmo que, para isso, eu tivesse de jogar com o próprio demônio.
O vento cortante da noite balançava as cortinas finas da janela do quarto, mas o frio que percorria minha pele vinha de dentro. Meus dedos apertavam a borda da mesa da cozinha, meus olhos fixos nos papéis espalhados à minha frente. Os números eram cruéis. O dinheiro que tínhamos não seria suficiente para pagar a dívida.Dois dias haviam se passado desde a visita dos homens do banco. Dois dias que passaram como uma névoa de preocupação e incerteza. Henry e Margaret tentavam agir como se tudo estivesse sob controle, mas eu via as olheiras sob seus olhos, os sussurros abafados quando pensavam que eu não estava ouvindo.Eles estavam assustados.E eu não sabia o que fazer para lhes dar o mínimo de paz.— Isso é um absurdo. — A voz de Eva me trouxe de volta à realidade. Ela puxou uma das cadeiras e se jogou nela, cruzando os braços. — Eles não podem simplesmente tomar a casa do nada!— Eles podem, sim. — Minha voz saiu baixa, cansada. Tudo que Henry e Margaret construíram poderia desaparece
O vento cortante da noite chicoteava minha pele enquanto eu caminhava de volta para casa. Mas o frio que percorria minha espinha tinha outro motivo. Meu peito pesava, como se um nó invisível apertasse cada vez mais meus pulmões."Case-se comigo."As palavras de Damian ainda ecoavam na minha mente. Ele as disse como se estivesse me oferecendo um contrato qualquer, como se minha vida fosse um detalhe insignificante diante de seus negócios. Não havia emoção, hesitação ou um traço sequer de humanidade na proposta. Apenas uma certeza cruel: eu não tinha escolha, apenas aceitar.O peso da decisão me esmagava. Eu sabia que ceder significava renunciar a qualquer chance de liberdade. Mas recusar… significava condenar Henry e Margaret.Ao me aproximar da casa, parei ao ouvir as vozes abafadas de meus avós. Eles raramente discutiam, mas o desespero nos tons baixos e trêmulos era inconfundível. Parei diante da porta, me mantendo em silêncio.— Não podemos contar para ela, Henry. — A voz de Margar
O silêncio daquela casa era ensurdecedor. Desde que me mudei para a mansão Blackthorn, tudo parecia sufocante, como se eu estivesse presa em um lugar sem vida. Era como se as paredes quisessem me lembrar constantemente de que eu não pertencia ali. Damian passava o tempo todo fora, saindo antes do amanhecer e voltando tarde da noite, evitando qualquer tipo de contato. Mesmo que tivéssemos assinado um contrato de casamento, éramos estranhos dividindo o mesmo espaço.No primeiro dia, tentei ignorar essa realidade. Me ocupei explorando os cômodos vazios e impessoais, buscando qualquer vestígio de que Damian realmente vivia ali. Mas não havia nada. Somente um ambiente impecável, sem qualquer rastro de personalidade. O lugar inteiro parecia um museu abandonado, onde ninguém deixava marcas de sua presença.No segundo dia, liguei para Henry e Margaret, sentindo um nó no estômago ao ouvir suas vozes. Eles pareciam aliviados ao saber que eu estava bem e empolgados com a promessa de que logo a d
Capítulo 8: Entre Quatro ParedesO som da chuva contra as janelas ecoava pela mansão silenciosa, cada gota estalando no vidro como um sussurro persistente. O vento uivava lá fora, sacudindo as árvores e fazendo as janelas vibrarem levemente. A tempestade havia começado há algumas horas, mas parecia que ficaria mais intensa com o passar da noite.A casa estava mergulhada em escuridão, exceto pela luz amarelada de um abajur no canto da sala. Eu estava encolhida no sofá, abraçando minhas pernas, tentando ignorar o peso que aquela noite trazia e a sensação sufocante de solidão que parecia se intensificar a cada trovão que cortava o céu. Havia algo de inquietante naquela tempestade, algo que mexia com meu subconsciente.Me deitei no sofá, sem coragem para subir para o quarto. Fechei os olhos, respirando fundo, tentando encontrar um pouco de paz, mas assim que o sono começou a me envolver, ele trouxe consigo imagens que não pareciam fazer sentido.Chamas. Sombras distorcidas. E olhos doura
A ideia parecia absurda desde o começo. Um jantar especial para Damian? Para um homem que me tratava como uma sombra dentro daquela casa? Eu não fazia ideia do que Eva queria provar com essa ideia maluca, mas, ali estava eu, diante do fogão, mexendo em uma panela com um olhar perdido.— Você vai acabar queimando isso. — A voz divertida de Eva me fez revirar os olhos.— Talvez essa seja a minha intenção. — Suspirei, sentindo o calor do vapor subir pelo meu rosto.Ela se aproximou, pegando uma faca e começando a cortar alguns vegetais.— Lin, eu sei que ele é um idiota. Mas algo me diz que ele não é completamente um caso perdido.— Acho que ele faz questão de ser um caso perdido. — Eva me olhou por um instante antes de dar de ombros.— Talvez. Mas a única forma de descobrir é tentando. E você sabe que quer tentar.Eu não respondi. O problema era que ela estava certa. Desde o momento em que Damian me cobriu com aquela manta, um conflito crescia dentro de mim. Ele passava o tempo todo fin
O ar parecia mais pesado desde o jantar da noite anterior. Havia algo diferente no jeito que Damian me olhava, e eu tinha certeza de que não era imaginação minha. Ele continuava mantendo a distância, se refugiando em sua frieza habitual, mas eu percebia os detalhes. A maneira como seus olhos dourados pousavam em mim quando ele achava que eu não estava olhando. Como sua postura ficava rígida quando eu passava por perto.Eu não sabia dizer o que aquilo significava. Mas, se Damian Blackthorn acreditava que poderia esconder algo de mim, estava muito enganado.Naquela manhã, a casa estava silenciosa como sempre. O café da manhã foi solitário, como de costume, mas enquanto mexia no chá quente entre os dedos, senti aquela presença familiar. Levantei os olhos e, como esperado, Damian estava parado próximo à porta da cozinha, observando-me. Seus braços estavam cruzados sobre o peito, e as tranças caíam sobre seu ombro, dando a ele um ar perigosamente despreocupado.Ele me olhava de um jeito di
A manhã estava cinzenta, refletindo perfeitamente meu estado de espírito. A chuva fina escorria pelas janelas da mansão Blackthorn, enquanto o ar frio do lado de fora parecia contrastar com o calor que queimava sob minha pele desde a noite anterior. Desde o momento em que ouvi Damian murmurar aquele nome em meio ao sono.Ayla.A palavra girava em minha mente sem descanso, me corroendo com perguntas para as quais eu não tinha respostas. Quem era ela? O que significava para ele?Tentei me convencer de que aquilo não me afetava, mas era inútil. Se Damian ainda pensava em outra mulher, então por que os momentos de hesitação? Por que o jeito como ele me olhava quando achava que eu não estava vendo?Passei o dia tentando ignorar o desconforto crescente no meu peito, mas a dúvida pesava mais a cada hora. Eu precisava de respostas.Quando a noite caiu, esperei por ele. O som da porta da frente se fechando ecoou pela casa, e meu corpo ficou tenso. Eu estava sentada na beira da poltrona da sala
O clima na mansão estava diferente. Eu sentia isso. Não era algo que pudesse ser explicado com palavras, mas um instinto que pulsava dentro de mim, me alertando para uma mudança sutil. Desde o beijo que compartilhamos, aquele momento arrebatador que ele insistiu em chamar de erro, Damian tentava a todo custo se manter mais distante. Mas, ao mesmo tempo, ele se fazia mais presente.Eu o pegava me observando quando achava que eu não notaria. Sentia seu olhar queimando minha pele, analisando cada um dos meus movimentos, cada curva do meu corpo. Ele não dizia nada, mas estava sempre por perto. Passava pelo corredor quando eu menos esperava. Parava à porta de um cômodo sem razão aparente. Seu cheiro amadeirado ficava no ar mais tempo do que o normal, como se ele tivesse hesitado antes de sair.No entanto, no momento em que eu o flagrava olhando, Damian recuava. Desviava o olhar, franzia a testa, saía do ambiente como se estivesse fugindo.Ele estava lutando contra algo. Eu podia sentir iss