Capítulo 5: Um Jogo Perigoso

Lin

O escritório parecia menor, como se o ar estivesse sendo lentamente drenado dali. Meu peito subia e descia em um ritmo que eu não conseguia controlar, e minhas mãos estavam frias, mesmo que o ambiente não fosse gelado. Não era apenas o escritório… era ele.

Damian Blackthorn.

Sentada naquela cadeira de couro impecável, eu sentia o olhar dele queimando sobre mim como uma lâmina afiada, analisando cada detalhe, esperando qualquer sinal de fraqueza. Mas eu não cederia. Não diante dele.

A entrevista deveria ter terminado há muito tempo. Qualquer outro candidato já teria sido dispensado. Mas Damian parecia se divertir prolongando aquilo. Cada pergunta carregava um tom afiado, cada provocação trazia uma faísca de algo que eu não conseguia decifrar.

Ele me estudava. Testava. E eu não sabia por quê.

— Então, senhorita Lin — ele quebrou o silêncio, tamborilando os dedos na mesa. O som ritmado ecoava pelo ambiente, marcando cada segundo de tensão. — Além de nunca desistir, que outras qualidades você tem?

Seu tom era carregado de algo que eu não conseguia definir. Desafio? Curiosidade? Diversão? Seus olhos dourados brilhavam a cada palavra, como se estivesse se divertindo com o jogo.

Me recusei a desviar o olhar.

— Sou dedicada e trabalho duro — respondi de imediato, mantendo minha expressão neutra.

— É mesmo? — Ele inclinou-se ligeiramente para frente, os olhos fixos em mim. — E o que mais você sabe fazer?

Engoli em seco. Aquela pergunta tinha camadas. Eu podia sentir.

— Eu… — hesitei por um instante. — Sei lidar com clientes, administrar tempo e gerenciar tarefas sob pressão.

O sorriso dele aumentou, como se eu tivesse caído exatamente onde ele queria.

— Não era isso que eu queria saber.

Meu coração bateu forte. O jeito como ele me olhava, como sua voz ressoava pelo ambiente… Meus sentidos estavam em alerta máximo.

Respirei fundo, tentando não demonstrar o efeito que ele tinha sobre mim.

— Se não quer falar sobre minhas qualificações, então talvez devêssemos encerrar a entrevista — retruquei, mantendo o tom firme.

Algo brilhou nos olhos dele.

— Que apressada. Não gostou da conversa?

— Achei que estivesse aqui para falar sobre trabalho, não sobre mim.

Ele riu baixo, e o som reverberou dentro de mim de um jeito que me incomodava. Era um riso que me fazia sentir que eu já tinha ouvido antes.

— O que acha que um emprego na Blackthorn Enterprises pode lhe oferecer?

Demorei um segundo para responder.

— Uma oportunidade de crescer. Segurança financeira. Um recomeço.

Ele pareceu ponderar minha resposta, seus olhos se estreitando levemente.

— Um recomeço?

Engoli em seco. Por que ele precisava repetir isso?

— Sim.

— Interessante — ele murmurou, mas seu olhar dizia que ele não acreditava completamente em mim.

O silêncio que se seguiu foi espesso, carregado de algo que eu não entendia. Então, sem aviso, Damian fechou a pasta do meu currículo e se levantou.

— Foi um prazer conhecê-la, senhorita Lin. — Ele estendeu sua mão para mim.

Hesitei antes de aceitar. No instante em que sua pele tocou a minha, uma corrente elétrica atravessou meu corpo, tão forte que me fez prender a respiração.

Levantei-me devagar, desconfiada.

— Então… isso significa que consegui a vaga?

Ele se aproximou, e por um instante, achei que fosse dizer algo sério. Mas, em vez disso, um sorriso provocador surgiu em seus lábios.

— Eu prometo que nos veremos novamente.

A maneira como ele disse aquilo, como se não houvesse dúvida de que isso aconteceria, me fez prender a respiração.

— Isso não responde minha pergunta.

Ele virou as costas, caminhando em direção à janela.

— Pode ir. A senhorita será informada sobre a decisão em breve.

Eu deveria ter discutido mais, exigido uma resposta concreta. Mas alguma coisa me dizia que ele já tinha decidido. Ele só queria me manter no jogo por mais tempo.

E talvez, apenas talvez, eu também quisesse continuar jogando.

A viagem de volta para casa foi longa, e meus pensamentos estavam um caos. Damian Blackthorn era perigoso. Não da maneira óbvia, mas pelo efeito que tinha sobre mim.

A atração inexplicável, a maneira como meu corpo reagia ao seu olhar… Algo nele me despertava sensações conflitantes.

E a pior parte? Ele parecia saber disso.

Sacudi a cabeça, afastando aqueles pensamentos. Eu não podia me dar ao luxo de me perder em devaneios inúteis. Henry e Margaret precisavam de mim. Esse emprego poderia ser a solução para os problemas deles, e eu precisava me concentrar nisso.

Porém, assim que dobrei a rua de casa, meu sangue gelou.

Havia dois homens parados na varanda, suas expressões severas. Henry estava diante deles, seu rosto marcado pelo cansaço e pela preocupação. Margaret segurava suas mãos, tentando acalmá-lo.

Apressei o passo, sentindo um nó se formar em meu estômago.

— O que está acontecendo? — perguntei assim que me aproximei.

Os homens se viraram para mim, analisando-me de cima a baixo antes de um deles responder.

— Você é da família?

— Sim — respondi de imediato.

Henry hesitou, mas assentiu, me deixando continuar.

O homem pegou um maço de papéis e os estendeu para mim.

— Seu avô está devendo ao banco. E o prazo para pagamento da dívida expirou.

Minha visão ficou turva por um segundo, e meu estômago se contraiu. Meu instinto dizia para correr, mas minhas pernas estavam enraizadas no chão. Minha garganta queimava, como se eu tivesse engolido cacos de vidro.

— Mas… nós tínhamos mais tempo!

— Não. Vocês já receberam prorrogações demais. Ou pagam até o final do mês, ou perderão a propriedade.

O choque se transformou em indignação.

— Isso não pode estar certo. Não é justo!

— Não estamos aqui para discutir o que é justo, senhorita. Estamos aqui para cobrar o que é devido.

Eles nos lançaram um último olhar de advertência antes de se afastarem, deixando para trás uma sensação amarga e sufocante.

Virei-me para Henry e Margaret, tentando encontrar uma solução, mas o olhar deles me partiu o coração.

Meu coração pulsava contra minhas costelas, como se tentasse me lembrar da urgência daquela situação.

Eu precisava daquele emprego.

E, para isso, precisava encarar Damian Blackthorn novamente.

Não havia escolha. Faria o que fosse necessário para proteger aquela que se tornou minha única e querida família, mesmo que, para isso, eu tivesse de jogar com o próprio demônio.

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