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Capítulo 6: A Proposta do Diabo

O vento cortante da noite balançava as cortinas finas da janela do quarto, mas o frio que percorria minha pele vinha de dentro. Meus dedos apertavam a borda da mesa da cozinha, meus olhos fixos nos papéis espalhados à minha frente. Os números eram cruéis. O dinheiro que tínhamos não seria suficiente para pagar a dívida.

Dois dias haviam se passado desde a visita dos homens do banco. Dois dias que passaram como uma névoa de preocupação e incerteza. Henry e Margaret tentavam agir como se tudo estivesse sob controle, mas eu via as olheiras sob seus olhos, os sussurros abafados quando pensavam que eu não estava ouvindo.

Eles estavam assustados.

E eu não sabia o que fazer para lhes dar o mínimo de paz.

— Isso é um absurdo. — A voz de Eva me trouxe de volta à realidade. Ela puxou uma das cadeiras e se jogou nela, cruzando os braços. — Eles não podem simplesmente tomar a casa do nada!

— Eles podem, sim. — Minha voz saiu baixa, cansada. Tudo que Henry e Margaret construíram poderia desaparecer em um piscar de olhos.

— Então temos que encontrar uma maneira de impedir isso — Eva retrucou, determinada.

Respirei fundo, passando as mãos pelo rosto.

— Foi por isso que tentei conseguir aquele emprego. Mas ainda não sei se consegui ou não.

Eva me olhou de soslaio, um brilho curioso cruzando seu olhar.

— E como foi a entrevista?

O olhar frio e penetrante surgiu em minha mente antes mesmo que eu quisesse pensar nele. Damian Blackthorn.

Aquele homem era claramente um problema. Um problema do qual eu não conseguia fugir.

— Estranha — murmurei.

Eva arqueou a sobrancelha.

— Estranha como?

Mordi o lábio, hesitando. Eu não queria admitir que Damian mexeu comigo. Que seu olhar me desestabilizou, que cada palavra dele parecia carregada de intenções ocultas.

— Ele fez perguntas pessoais demais. Como se estivesse mais interessado em mim do que na vaga.

— Interessado em você? — Ela sorriu de lado. — E você? Interessada nele?

Meu estômago se contraiu.

— Claro que não! — retruquei rápido demais.

Eva riu.

— Você está nervosa. Isso quer dizer que ele mexeu com você.

— Ele me irritou — corrigi, cruzando os braços. — Foi arrogante, sarcástico e provocador.

— E gostoso. — Eva piscou para mim, e eu revirei os olhos.

Antes que eu pudesse retrucar, o telefone tocou, interrompendo nossa conversa. Meu coração disparou quando vi o número desconhecido na tela.

Atendi hesitante.

— Alô?

— Senhorita Lin. — A voz grave de Damian Blackthorn atravessou a linha como um trovão abafado. Meu corpo reagiu imediatamente, um arrepio subindo pela minha espinha. Apertei o punho contra o peito, tentando conter as batidas do meu coração.

Eu me odiei por ter aquela reação tão extrema somente por ouvir sua voz.

— Sou eu.

— Quero que venha ao meu escritório amanhã. Precisamos conversar.

Houve um peso em sua voz. Algo que fez meu coração se apertar.

— Sobre a vaga?

— Sobre um assunto mais interessante.

A ligação foi encerrada antes que eu pudesse perguntar mais alguma coisa.

Eva me olhava com curiosidade.

— Quem era?

Respirei fundo antes de responder:

— Damian Blackthorn.

E, de alguma forma, eu sabia que nada mais seria o mesmo.

No dia seguinte, entrei no prédio imponente da Blackthorn Enterprises sentindo um nó no estômago. Algo dentro de mim me dizia que eu não deveria estar ali.

A assistente me guiou até o escritório e, quando entrei, ele já estava me esperando.

Damian estava encostado na grande janela de vidro, observando a cidade abaixo como um rei observando seu reino. Ele não me olhou, apenas respirou profundamente de onde estava.

— Saia e feche a porta — ele disse sem olhar em nossa direção.

A secretária obedeceu sem hesitar.

Ele finalmente voltou seu olhar para mim, e aqueles olhos âmbar se fixaram nos meus. O mesmo olhar que me assombrava nos meus sonhos.

— Sente-se.

— Prefiro ficar de pé — rebati.

Não confiava em minhas pernas trêmulas para caminhar até a cadeira.

Ele sorriu, como se esperasse exatamente essa resposta.

— Como quiser.

Damian se aproximou lentamente, suas mãos nos bolsos do terno escuro.

— Eu sei sobre a dívida.

Minha respiração falhou.

— O quê?

— Seu avô deve uma quantia considerável ao banco. E você não tem como pagá-la.

Minha pele ficou fria.

— Como sabe disso?

— Eu sei muitas coisas.

Minha cabeça girava. Isso não fazia sentido.

— Se está me chamando aqui para me humilhar, então já pode…

— Posso resolver isso.

O silêncio foi absoluto.

Meus olhos encontraram os dele, buscando alguma pista do que ele estava insinuando.

— Como?

Ele se aproximou mais, sua presença dominando o ambiente.

— Case-se comigo.

Meu coração parou.

O choque foi tão grande que minha mente se recusava a processar as palavras.

— O quê?!

— Você ouviu.

Minha garganta secou.

— Isso só pode ser uma piada.

— Não costumo brincar, principalmente com um assusto tão sério.

Recuei um passo, como se a distância pudesse me proteger.

— Por quê? — Minha voz saiu mais fraca do que eu gostaria.

Ele inclinou a cabeça, estudando minha reação.

— Digamos que seria um benefício mútuo. Você salva seus avós. E eu… — Ele sorriu de lado. — Bom, eu ganho algo interessante em troca.

Seu olhar se tornou sombrio, triste. Por um momento vi outra face de Damian, o que me causou curiosidade e aflição.

Um arrepio subiu por minha espinha e lancei aquela sensação absurda para longe.

— Isso é ridículo.

— Não estou pedindo que goste da ideia. Apenas que considere.

Eu balancei a cabeça, sentindo o pânico crescer dentro de mim.

— Não. Nem pensar.

— Como quiser. — Ele deu de ombros. — Mas a oferta continua de pé.

Me virei, pronta para sair dali. Eu precisava sair dali. Arrumei minha bolsa no ombro e dei um passo na direção da porta, mas antes que eu alcançasse a maçaneta, Damian segurou meu pulso.

A intensidade do toque dele me fez prender a respiração. Seu peitoral firme e quente, mal tocava minhas costas, mas era possível sentir o calor de seu corpo que emanava em ondas. Seu perfume amadeirado me envolveu, deixando minha mente levemente confusa, como uma sensação de déjà vu.

Eu deveria me soltar. Mas meu corpo se recusava a se mover.

Ele se aproximou, e quando falou, sua voz foi um sussurro rouco em minha orelha:

— Você pode me odiar, pode me temer… mas não pode negar o que está acontecendo entre nós.

Meu coração batia contra minhas costelas, frenético.

Ele não tinha o direito de me afetar daquele jeito.

Engoli em seco, forçando minha voz a sair.

— Me solte, senhor Blackthorn. — Virei meu rosto, o olhando sobre meu ombro. 

Os olhos dele brilharam, sombrios e intensos. Por um momento, achei que ele fosse me desafiar ou provocar. Então, lentamente, ele soltou meu pulso. O local permanecia quente enquanto saia de sua sala sob olhares curiosos de funcionários.

Mas, mesmo enquanto caminhava para fora daquele prédio, sabia que aquela proposta voltaria a me assombrar. Olhei para a superfície de vidro espelhado, imponente e intimidadora, pensando em mil maneiras de escapar daquela armadilha.

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