O vestido vinho abraçava, o tecido suave e elegante deslizava sobre minha pele a cada movimento. Observei com atenção minha imagem refletida no espelho, arrumando alguns fios soltos e o batom. Respirei fundo, juntando coragem para enfrentar o que estava por vir.Foi uma grande surpresa quando ligaram da empresa, informando que um jantar muito importante aconteceria naquela noite e que eu, como a senhora Blackthorn, deveria estar presente.Logo faríamos dois anos de casamento. Dois longos e conturbados anos de casamento. Na minha cabeça, aquela seria a maneira de Damian havia encontrado para oficializar nossa quase relação, o que fez tudo parecer ainda mais importante para mim.— É isso ai, garota. Você consegue. — Motivei meu reflexo uma última vez.Peguei minha bolsa, A empregada me ajudou a vestir o casaco e o motorista me levou até o tal restaurante. Senti meu estômago se revirando durante todo o caminho. Minhas mãos suavam, mesmo com o clima mais frio do início do inverno.Achei q
Cheguei em casa com o coração em pedaços. Consegui controlar minhas emoções durante o trajeto, mas precisava ficar sozinha, precisava colocar aquela dor para fora. O jantar, a cena de Damian e Cassandra juntos, a forma como ele não fez nada para afastá-la... tudo girava em minha mente como uma tempestade devastadora. Meu estômago embrulhou ao pensar nos lábios daquela mulher tão perto de Damian enquanto ele simplesmente aceitava tudo.Meus passos ecoavam pela sala silenciosa da mansão Blackthorn, mas antes que eu pudesse subir para o quarto, a porta se abriu com força, batendo contra a parede.Damian surgiu, as roupas úmidas pela neve acumulada em seus ombros, assim como seus longos cabelos, a expressão carregada, os olhos dourados brilhando com uma intensidade perigosa. Havia algo nele que eu não reconhecia, uma fúria contida que parecia prestes a explodir. Nos encaramos por um longo momento, o ar entre nós carregado com tantos sentimentos conflituosos e intensos.— Onde pensa que va
Após algumas horas me acalmando, preparei uma pequena mala. Apenas com o básico, não levaria nada daquela casa comigo. Toquei o vestido e os saltos por roupas mais confortáveis e saí.O ar frio da noite soprava forte, atravessando as várias camadas de tecido que me cobriam. Mas eu não me importava. A dor em meu peito era muito maior do que qualquer desconforto físico. Cada passo que eu dava me afastando daquela casa era como um suspiro de alívio. Uma tentativa desesperada de escapar da dor insuportável que Damian havia me causado. Mas, no fundo, eu sabia que nunca poderia fugir dele.Minhas mãos tremiam enquanto me aproximava da guarita do segurança. O homem me olhou assustado enquanto saía de seu posto para entender o que estava acontecendo, afinal, já passava da uma da manhã e eu estava do lado de fora, na neve, com uma mala nas mãos.— Senhora Blackthorn, está tudo bem? — Seu tom preocupado estava mesclado com desconforto.— Sinto muito, não queria te incomodar, mas poderia chamar
Dor.Foi a primeira coisa que senti ao tentar abrir os olhos. Era como se meu corpo estivesse sendo esmagado, uma dor latejante percorrendo cada centímetro dos meus músculos. Meus olhos estavam pesados, como se fossem feitos de chumbo, e minha cabeça parecia prestes a explodir. Tentei mover os dedos, mas até mesmo esse pequeno movimento me custou um grande esforço.O som contante do que parecia ser um monitor cardíaco preenchia o silêncio, apitando e me irritando. O cheiro de antisséptico queimava minhas narinas, e logo percebi onde estava. Forcei meus olhos abertos mais uma vez, me deparando o teto branco e as luzes fortes.Um hospital.Tentei puxar pela memória o que havia acontecido, mas minha mente estava nebulosa. Foi então que tudo veio em ondas violentas.A tempestade. O carro derrapando na estrada. O impacto. O cheiro de sangue.Minha respiração se acelerou, meu coração batendo tão forte que doía contra as minhas costelas e, de repente, não estava mais no meu leito.Flashes. G
DamianQuando o telefone da mansão tocou, jamais poderia imaginar do que se tratava. Abbott surgiu no meu escritório com o rosto pálido, algo completamente fora dos seus padrões. Ele parecia nervoso e pesando os prós e contras de transmitir alguma mensagem, até que me irritei com sua demora.— Fale de uma vez, humano. Não tenho tempo a perder com você parado aí. — Rosnei furioso, já me levantando para ir dormir.— Perdoe-me, meu alfa. — O velho homem falou, se curvando levemente. — A ligação era do hospital. Meu corpo paralisou, uma sensação estranha irradiando pelo meu corpo enquanto meu lobo ficava inquieto.— Hospital? — Questionei, minha voz saindo baixa entre meus dentes cerrados.— Houve um acidente, a senhora Blackthorn está internada em estado grave. Ao longe, escutei Abbott chamando meu nome, mas não lhe dei atenção. Corri para a garagem, peguei o caro e dirigi até o único hospital onde Lin poderia estar, o meu.O ar no hospital estava pesado, sufocante. O cheiro de antissé
— Queimem tudo! Ninguém deve sair com vida desse castelo! — A voz de Magnus, o beta de meu pai, sobressaia aos gritos de desespero que inundaram o castelo. Seus lobos uivando em frenesi enquanto avançavam sobre qualquer um que cruzasse seu caminho.Ainda não conseguia acreditar no que meus olhos viam, o lobo que vi ao lado de meu pai durante toda a minha vida estava liderando um ataque para derrubar o rei alfa. Como… Quando aquilo havia começado?— Minha princesa, precisa fugir. — Minha babá entrou em meu quarto correndo, bloqueando a porta atrás dela. Sua voz tomada de desespero. — Se esconda na floresta até que o rei Alfa retome o controle da situação.— É a minha mãe? Onde ela está? — O pânico me tomava, meu corpo tremendo, paralisado no chão frio do meu quarto.A loba, já em idade avançada, segurou meu rosto entre suas mãos com carinho, acariciando minhas bochechas manchadas de lágrimas.— Seja forte, minha pequena loba. — Com um beijo gentil em minha testa, minha babá me empurrou
O frio cortante da noite não era nada comparado ao gelo que se espalhava dentro de mim. Meu corpo doía, cada respiração queimava meus pulmões, o ferimento no meu flanco dificultando meus movimentos, mas eu não podia parar. O cheiro de fumaça e sangue ainda impregnava minhas narinas, e os gritos de agonia ecoavam como um fantasma em minha mente. Corri para a floresta, o som de meus pés afundando na neve abafado pelo desespero que pulsava em minhas veias.A imagem dos corpos de meus pais marcada a fogo na minha mente, algo que jamais poderia esquecer. Por mais que desejasse estar com eles e lhes dar um enterro digno de quem eram, não podia, pois ele estava vindo.Eu podia senti-lo, seu cheiro me rodeava enquanto ele se aproximava mais um passo, e outro… e outro.Meu instinto gritava para cada célula do meu corpo, me alertando sobre a presença dele. Damian Blackthorn. O assassino dos meus pais. O homem que eu amava, em quem eu deveria confiar, havia se tornado a sombra que me caçava na e
A minha mente parecia flutuar entre fragmentos, minha consciência indo e vindo até que senti sendo atraída por algo. Primeiro, uma sensação de calor. Depois, o cheiro de ervas misturado ao som suave de uma lareira crepitando. Pisquei algumas vezes, mas, mesmo a luz fraca do ambiente, ainda me parecia intensa. Meu corpo pesava, como se chumbo estivesse preso aos meus membros.Tentei me mover, mas uma dor aguda percorreu meu flanco, fazendo-me soltar um gemido involuntário. A lembrança do frio cortante, do vento contra minha pele e da queda vertiginosa no precipício vieram em flashes. Mas tudo antes disso… era um vazio absoluto.— Ela acordou — a voz suave de uma mulher idosa encheu o cômodo.Meus olhos foram atraídos por um rosto gentil, enrugado pelo tempo, mas cujos olhos brilhavam com bondade. Ao lado dela, um homem de ombros largos e cabelos grisalhos me observava com uma expressão grave, mas não hostil.— Onde… onde estou? — minha voz saiu rouca, quase irreconhecível.A mulher sor