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Capítulo 3: A Sombra de Algo Que Esqueci

A minha mente parecia flutuar entre fragmentos, minha consciência indo e vindo até que senti sendo atraída por algo. Primeiro, uma sensação de calor. Depois, o cheiro de ervas misturado ao som suave de uma lareira crepitando. Pisquei algumas vezes, mas, mesmo a luz fraca do ambiente, ainda me parecia intensa. Meu corpo pesava, como se chumbo estivesse preso aos meus membros.

Tentei me mover, mas uma dor aguda percorreu meu flanco, fazendo-me soltar um gemido involuntário. A lembrança do frio cortante, do vento contra minha pele e da queda vertiginosa no precipício vieram em flashes. Mas tudo antes disso… era um vazio absoluto.

— Ela acordou — a voz suave de uma mulher idosa encheu o cômodo.

Meus olhos foram atraídos por um rosto gentil, enrugado pelo tempo, mas cujos olhos brilhavam com bondade. Ao lado dela, um homem de ombros largos e cabelos grisalhos me observava com uma expressão grave, mas não hostil.

— Onde… onde estou? — minha voz saiu rouca, quase irreconhecível.

A mulher sorriu com doçura, ajeitando as cobertas ao meu redor.

— Está segura, querida. Meu nome é Margaret, e esse é meu marido, Henry. Encontramos você desacordada perto do rio, machucada e congelando. Trouxemos você para cá.

Minha cabeça latejava. Tentei puxar qualquer recordação, mas o pânico se instalou quando percebi que não havia nada. Nenhum nome. Nenhuma imagem. Somente um buraco negro onde minha identidade deveria estar.

— Eu… eu não sei quem sou — minha própria voz tremia ao pronunciar as palavras.

Henry e Margaret trocaram um olhar rápido, e então ela voltou a segurar minha mão.

— Você precisa descansar, querida. Podemos conversar sobre isso depois. Por enquanto, que tal apenas escolhermos um nome? Poderia ser… Lin.

— Lin? — repeti, estranhando a forma como o nome soava em minha boca.

Margaret sorriu.

— Até que sua memória volte, precisa de um nome. E você me lembra uma flor que cresce perto do rio. Forte, mas delicada. Lin.

Eu não tinha forças para argumentar, então apenas assenti. Melhor ser Lin do que ninguém.

O tempo passou. Três anos para ser exata.

Margaret e Henry se tornaram minha família, e a vila se tornou meu lar. Trabalhei no café local, fiz amigos e criei uma rotina. Mas a inquietação nunca desapareceu. Todas as noites, sonhava com sombras, gritos e olhos dourados que me observavam na escuridão. Eu acordava com o coração disparado, mas nunca lembrava o suficiente para entender o que aqueles pesadelos significavam.

Então, havia as coisas que eu não podia explicar. Meu corpo se movia rápido demais, meus reflexos eram mais aguçados que o normal. Eu podia ouvir conversas distantes, distinguir cheiros que ninguém mais percebia. E, acima de tudo, havia minha força. Uma vez, ao tropeçar e cair, apertei o batente da porta e deixei marcas profundas na madeira.

Eu via os olhares. Henry e Margaret evitavam comentar. Mas Eva via tudo.

Eva Moreau foi minha primeira amiga na vila. Ela era energia pura, um furacão de opiniões fortes e sorrisos travessos. Nos tornamos inseparáveis.

Em uma tarde qualquer, sentadas à beira do rio, ela jogou uma pedra na água e me encarou com a cabeça inclinada.

— Você precisa sair do café. Não vai conseguir ajudar Henry e Margaret ganhando tão pouco.

Suspirei. Os problemas financeiros deles estavam piorando, e eu não podia continuar fingindo que tudo ficaria bem. As colheitas do ano não foram boas, gerando prejuízos e empréstimos que eles não conseguiam quitar.

— Mas o que mais posso fazer?

Eva sorriu como quem já tinha um plano preparado.

— Tem uma empresa na cidade vizinha, a Blackthorn Enterprises. Dizem que pagam muito bem. Você deveria tentar.

Algo dentro de mim pareceu se apertar. O nome me atingiu como um golpe invisível. Um gosto metálico surgiu na minha boca. Meus dedos instintivamente se fecharam em punhos.

— Blackthorn? — repeti, sentindo um calafrio subir pela espinha.

— Sim! Negócios, investimentos… eles dominam tudo. O dono é um magnata misterioso, um lobo solitário que raramente aparece. Mas dizem que ele é um tremendo gostoso.

Ri fraco, mas a sensação de alerta permaneceu. Não importava. Henry e Margaret precisavam da minha ajuda. E eu faria qualquer coisa para retribuir o que fizeram por mim nos últimos anos.

O prédio da Blackthorn Enterprises era imponente. Suas janelas refletiam o céu nublado, e a fachada escura transmitia poder e frieza. Eu nunca havia me sentido tão deslocada.

Enquanto esperava na recepção, uma assistente loira, usando um terninho perfeitamente cortado, veio até mim.

— Senhorita Lin, o CEO deseja entrevistá-la pessoalmente.

Meu coração acelerou. Um arrepio percorreu minha espinha, minha respiração ficou curta e minha visão periférica parecia turva.

— O próprio dono da empresa? Tem certeza?

Ela apenas assentiu e me guiou até um escritório espaçoso. Cada passo parecia pesar uma tonelada.

Quando entrei, vi um homem de costas para mim, olhando através da grande janela panorâmica. Seus longos cabelos estavam presos em uma trança firme, que caia sobre seu ombro esquerdo.

Ele se virou lentamente.

O ar pareceu ser sugado para fora da sala. O tempo congelou.

Os olhos de um âmbar-dourado cravaram-se nos meus. Uma presença avassaladora, um rosto forte, traços afiados, e um ar de algo... perigoso. Ele parecia dobrar o próprio espaço ao seu redor, como um buraco negro puxando tudo para dentro. Uma sombra escura de barba cobria seu queixo anguloso, e sua aura dominava todo o ambiente.

Eu o conhecia. Eu tinha certeza disso.

Meu coração batia descompassado. Atração e medo se misturaram de forma inexplicável. Ele também me olhava de um jeito estranho, como se tentasse lembrar de onde me conhecia.

— Seu nome. — Sua voz grave ressoou no cômodo, como um trovão contido.

Engoli em seco.

— Meu nome é Lin. Estou aqui para a entrevista.

Um longo silêncio se seguiu. Seu olhar se estreitou, analisando-me.

Então, ele sorriu. Frio. Calculado.

— Sente-se, senhorita Lin. Isso será interessante.

O som da sua voz reverberou dentro de mim. Um choque elétrico percorreu minha espinha.

Eu já havia ouvido aquela voz antes. Um arrepio percorreu minha espinha, me causando calafrios. Onde eu havia ouvido aquela voz?

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