O vento cortante da noite chicoteava minha pele enquanto eu caminhava de volta para casa. Mas o frio que percorria minha espinha tinha outro motivo. Meu peito pesava, como se um nó invisível apertasse cada vez mais meus pulmões.
"Case-se comigo."
As palavras de Damian ainda ecoavam na minha mente. Ele as disse como se estivesse me oferecendo um contrato qualquer, como se minha vida fosse um detalhe insignificante diante de seus negócios. Não havia emoção, hesitação ou um traço sequer de humanidade na proposta. Apenas uma certeza cruel: eu não tinha escolha, apenas aceitar.
O peso da decisão me esmagava. Eu sabia que ceder significava renunciar a qualquer chance de liberdade. Mas recusar… significava condenar Henry e Margaret.
Ao me aproximar da casa, parei ao ouvir as vozes abafadas de meus avós. Eles raramente discutiam, mas o desespero nos tons baixos e trêmulos era inconfundível. Parei diante da porta, me mantendo em silêncio.
— Não podemos contar para ela, Henry. — A voz de Margaret soou frágil, quase implorando. — Ela já faz tanto… Não quero que carregue esse peso.
— Margaret, não temos mais tempo. — O suspiro pesado de Henry encheu o silêncio. — O banco não vai esperar. Eles vão tomar a casa.
Minha visão ficou turva. Pressionei a mão contra a boca, tentando conter um soluço.
— Se ao menos fôssemos mais jovens… poderíamos trabalhar mais, conseguir algum dinheiro extra… — Margaret sussurrou, e minha garganta se apertou.
Eles estavam tentando me proteger. Mas não havia nada que pudesse salvá-los.
Sem fazer barulho, me afastei da porta, entrando pelos fundos e subindo as escadas silenciosamente. Me tranquei no quarto e sentei-me na beira da cama, segurando a cabeça entre as mãos.
"Case-se comigo."
As palavras martelavam na minha mente, sufocantes.
Eu poderia suportar um casamento sem amor? Damian não me queria romanticamente falando. Ele não parecia ser o tipo de homem que se comprometia sem interesses ocultos. Será que ele esperava algo de mim? Será que ele tinha alguma amante e precisava de um casamento de fachada?
Minha mente girava com perguntas sem respostas. Mas, no fim, a única resposta que importava era a realidade diante de mim. Henry e Margaret não mereciam viver aquele martírio e eu tinha em minhas mãos a solução para ajudá-los.
Peguei meu celular com dedos trêmulos e apertei no último número discado. A espera era sufocante. Precisei me controlar para não apertar o aparelho em minhas mão com muita força e acabar quebrando.
Ele atendeu no segundo toque.
— Senhorita Lin. — A voz de Damian ressoou do outro lado da linha, baixa e carregada de algo que me irritava profundamente. Satisfação. Ele já sabia.
Engoli em seco o pouco orgulho que ainda me restava.
— Precisamos conversar.
— Sobre o quê? — Seu tom divertido não passou despercebido.
Fechei os olhos, sentindo meu coração bater forte contra as costelas.
— Eu aceito.
O silêncio foi insuportável. Então, ele disse, sem surpresa alguma:
— Ótimo. Amanhã, no meu escritório. Nove da manhã. — E desligou.
Fiquei ali, olhando para a tela escura do celular, sentindo que havia acabado de assinar minha sentença.
A manhã chegou rápido demais.
Caminhei até o prédio da Blackthorn Enterprises com passos hesitantes. Cada fibra do meu ser gritava para eu correr na direção oposta, mas ignorei meus instintos. Henry e Margaret precisavam de mim.
Fui levada até a sala de Damian. Quando entrei, ele estava de costas para mim, olhando a cidade através da grande janela de vidro. Aquilo parecia ser um comportamento recorrente dele.
— Sente-se. — Sua voz ecoou pelo ambiente.
— Prefiro ficar de pé.
Com um movimento de sua mão, Damian fez a secretária sair. Ele sorriu levemente, se virando para me encarar. Seu olhar dourado se fixou no meu, intenso e calculista. Meu corpo inteiro pareceu reagir aqueles olhos, como se pudessem ver dentro da minha alma.
— Bom. Vamos direto ao ponto. — Ele deslizou um contrato para o centro da mesa. Seu dedo bateu sobre o papel, chamando minha atenção. — Aqui estão os termos. Casamento legalmente reconhecido. Sem envolvimento emocional. Você salva sua família. Quanto a mim, obtenho o que preciso.
Peguei o contrato com mãos trêmulas, lendo cada linha. O documento era frio, impessoal. Apenas um negócio. Como se eu não fosse uma pessoa, mas um simples acordo assinado.
Por alguma razão, meu peito se apertou forte.
— Nada muda para você? — Minha voz saiu baixa, hesitante.
Ele deu de ombros.
— Não.
Eu ri sem humor.
— Então é isso? Apenas um contrato. Um acordo amigável. — Damian se aproximou, as mãos nos bolsos, sua expressão ilegível.
— Isso é tudo que posso oferecer. — Engoli em seco.
— Por quê?
Por um instante, algo brilhou em seus olhos, mas ele mascarou rápido demais para que eu pudesse decifrar. Ele queria que eu aceitasse seus termos sem questionar. Peguei a caneta, sentindo cada músculo do meu corpo protestar contra aquilo. Mas eu não tinha escolha.
Com um último suspiro, assinei. Damian fez o mesmo. Sem hesitação. Sem emoção. E assim, me tornei Lin Blackthorn.
Trocamos uma breve trocas de olhares, mas nenhuma palavra. Damian estalou seus dedos e um grupo de homens entrou na sala.
— Levem a senhora Blackthom para a mansão. — e assim eles o fizeram. Fui escoltada para fora daquele prédio por quatro brutamontes e posta em um carro chique.
A mansão era grandiosa, mas parecia que ninguém vivia nela. Os corredores eram longos e frios. Não havia quadros, fotos ou qualquer sinal de que alguém realmente morava ali. Apenas uma casa luxuosa, mas sem alma.
A empregada que me recebeu apenas entregou um conjunto de chaves e desapareceu. Damian não voltou para casa. A primeira noite, passei sentada na beirada da cama, sentindo um peso esmagador em meu peito. Será que fiz a escolha certa?
Sem sono, comecei a explorar a casa. O silêncio era opressor. Então algo chamou minha atenção. Enquanto caminhava me deparei com uma porta aberta. O escritório de Damian. Sobre a mesa havia uma foto antiga. O único sinal de que alguém usava aquele cômodo.
Peguei-a com cuidado. Na imagem, Damian parecia… diferente. Menos frio. Havia algo no seu olhar que eu não reconhecia. Algo quebrado. Toquei com as pontas dos dedos o rosto mais jovem que me encarava.
— Perdida, esposa?
O som da sua voz fez meu coração saltar.
Virei-me, encontrando-o encostado na porta, braços cruzados. Seu rosto estava à sombra, mas seus olhos brilhavam como fogo na escuridão. Sua postura, mesmo que parecesse relaxada, parecia a de um predador.
Respirei fundo, colocando a foto de volta no lugar.
— Só conhecendo minha nova casa. — Ele sorriu de canto.
— Desde que não me incomode, pode ir onde quiser.
Dei um passo à frente, sustentando seu olhar.
— O que aconteceu com você, Damian? — A expressão dele endureceu.
— Não faça perguntas para as quais não aguentaria as respostas.
O divertimento nos olhos dele desapareceu, substituído pela frieza.
Eu poderia ter recuado. Mas não fiz.
— Eu não quero viver um casamento vazio.
Por um momento, ele apenas me observou. Então, inclinou levemente a cabeça, os olhos estreitando-se.
— Mesmo? Parece interessante. — E saiu sem olhar para trás.
Fiquei ali, sozinha no meio do escritório, sentindo que havia acabado de declarar guerra. Se ele queria distância, eu encontraria um jeito de quebrar aquela barreira.
O silêncio daquela casa era ensurdecedor. Desde que me mudei para a mansão Blackthorn, tudo parecia sufocante, como se eu estivesse presa em um lugar sem vida. Era como se as paredes quisessem me lembrar constantemente de que eu não pertencia ali. Damian passava o tempo todo fora, saindo antes do amanhecer e voltando tarde da noite, evitando qualquer tipo de contato. Mesmo que tivéssemos assinado um contrato de casamento, éramos estranhos dividindo o mesmo espaço.No primeiro dia, tentei ignorar essa realidade. Me ocupei explorando os cômodos vazios e impessoais, buscando qualquer vestígio de que Damian realmente vivia ali. Mas não havia nada. Somente um ambiente impecável, sem qualquer rastro de personalidade. O lugar inteiro parecia um museu abandonado, onde ninguém deixava marcas de sua presença.No segundo dia, liguei para Henry e Margaret, sentindo um nó no estômago ao ouvir suas vozes. Eles pareciam aliviados ao saber que eu estava bem e empolgados com a promessa de que logo a d
Capítulo 8: Entre Quatro ParedesO som da chuva contra as janelas ecoava pela mansão silenciosa, cada gota estalando no vidro como um sussurro persistente. O vento uivava lá fora, sacudindo as árvores e fazendo as janelas vibrarem levemente. A tempestade havia começado há algumas horas, mas parecia que ficaria mais intensa com o passar da noite.A casa estava mergulhada em escuridão, exceto pela luz amarelada de um abajur no canto da sala. Eu estava encolhida no sofá, abraçando minhas pernas, tentando ignorar o peso que aquela noite trazia e a sensação sufocante de solidão que parecia se intensificar a cada trovão que cortava o céu. Havia algo de inquietante naquela tempestade, algo que mexia com meu subconsciente.Me deitei no sofá, sem coragem para subir para o quarto. Fechei os olhos, respirando fundo, tentando encontrar um pouco de paz, mas assim que o sono começou a me envolver, ele trouxe consigo imagens que não pareciam fazer sentido.Chamas. Sombras distorcidas. E olhos doura
A ideia parecia absurda desde o começo. Um jantar especial para Damian? Para um homem que me tratava como uma sombra dentro daquela casa? Eu não fazia ideia do que Eva queria provar com essa ideia maluca, mas, ali estava eu, diante do fogão, mexendo em uma panela com um olhar perdido.— Você vai acabar queimando isso. — A voz divertida de Eva me fez revirar os olhos.— Talvez essa seja a minha intenção. — Suspirei, sentindo o calor do vapor subir pelo meu rosto.Ela se aproximou, pegando uma faca e começando a cortar alguns vegetais.— Lin, eu sei que ele é um idiota. Mas algo me diz que ele não é completamente um caso perdido.— Acho que ele faz questão de ser um caso perdido. — Eva me olhou por um instante antes de dar de ombros.— Talvez. Mas a única forma de descobrir é tentando. E você sabe que quer tentar.Eu não respondi. O problema era que ela estava certa. Desde o momento em que Damian me cobriu com aquela manta, um conflito crescia dentro de mim. Ele passava o tempo todo fin
O ar parecia mais pesado desde o jantar da noite anterior. Havia algo diferente no jeito que Damian me olhava, e eu tinha certeza de que não era imaginação minha. Ele continuava mantendo a distância, se refugiando em sua frieza habitual, mas eu percebia os detalhes. A maneira como seus olhos dourados pousavam em mim quando ele achava que eu não estava olhando. Como sua postura ficava rígida quando eu passava por perto.Eu não sabia dizer o que aquilo significava. Mas, se Damian Blackthorn acreditava que poderia esconder algo de mim, estava muito enganado.Naquela manhã, a casa estava silenciosa como sempre. O café da manhã foi solitário, como de costume, mas enquanto mexia no chá quente entre os dedos, senti aquela presença familiar. Levantei os olhos e, como esperado, Damian estava parado próximo à porta da cozinha, observando-me. Seus braços estavam cruzados sobre o peito, e as tranças caíam sobre seu ombro, dando a ele um ar perigosamente despreocupado.Ele me olhava de um jeito di
A manhã estava cinzenta, refletindo perfeitamente meu estado de espírito. A chuva fina escorria pelas janelas da mansão Blackthorn, enquanto o ar frio do lado de fora parecia contrastar com o calor que queimava sob minha pele desde a noite anterior. Desde o momento em que ouvi Damian murmurar aquele nome em meio ao sono.Ayla.A palavra girava em minha mente sem descanso, me corroendo com perguntas para as quais eu não tinha respostas. Quem era ela? O que significava para ele?Tentei me convencer de que aquilo não me afetava, mas era inútil. Se Damian ainda pensava em outra mulher, então por que os momentos de hesitação? Por que o jeito como ele me olhava quando achava que eu não estava vendo?Passei o dia tentando ignorar o desconforto crescente no meu peito, mas a dúvida pesava mais a cada hora. Eu precisava de respostas.Quando a noite caiu, esperei por ele. O som da porta da frente se fechando ecoou pela casa, e meu corpo ficou tenso. Eu estava sentada na beira da poltrona da sala
O clima na mansão estava diferente. Eu sentia isso. Não era algo que pudesse ser explicado com palavras, mas um instinto que pulsava dentro de mim, me alertando para uma mudança sutil. Desde o beijo que compartilhamos, aquele momento arrebatador que ele insistiu em chamar de erro, Damian tentava a todo custo se manter mais distante. Mas, ao mesmo tempo, ele se fazia mais presente.Eu o pegava me observando quando achava que eu não notaria. Sentia seu olhar queimando minha pele, analisando cada um dos meus movimentos, cada curva do meu corpo. Ele não dizia nada, mas estava sempre por perto. Passava pelo corredor quando eu menos esperava. Parava à porta de um cômodo sem razão aparente. Seu cheiro amadeirado ficava no ar mais tempo do que o normal, como se ele tivesse hesitado antes de sair.No entanto, no momento em que eu o flagrava olhando, Damian recuava. Desviava o olhar, franzia a testa, saía do ambiente como se estivesse fugindo.Ele estava lutando contra algo. Eu podia sentir iss
O clima na mansão estava diferente. Eu sentia isso. Não era algo que pudesse ser explicado com palavras, mas uma sensação instintiva, uma inquietação que vibrava dentro de mim. Desde o beijo que compartilhamos, aquele momento de puro êxtase que Damian insistiu em chamar de erro, ele tentava a todo custo manter distância. Mas, ironicamente, estava mais presente do que nunca.Eu o pegava me observando quando achava que eu não notaria. Sentia seu olhar queimando minha pele, estudando cada movimento meu com atenção quase obsessiva. A maneira como seus dedos se apertavam discretamente contra a lateral da coxa quando passava por mim no corredor. O ritmo da sua respiração mudando levemente quando nossos ombros se roçavam por acidente. Detalhes que qualquer pessoa normal ignoraria.Mas eu não era normal.Cada pequeno sinal dele vibrava dentro de mim como uma corrente elétrica. Meu corpo captava coisas que eu não conseguia explicar. O cheiro amadeirado dele ficava mais forte quando eu estava p
— Queimem tudo! Ninguém deve sair com vida desse castelo! — A voz de Magnus, o beta de meu pai, sobressaia aos gritos de desespero que inundaram o castelo. Seus lobos uivando em frenesi enquanto avançavam sobre qualquer um que cruzasse seu caminho.Ainda não conseguia acreditar no que meus olhos viam, o lobo que vi ao lado de meu pai durante toda a minha vida estava liderando um ataque para derrubar o rei alfa. Como… Quando aquilo havia começado?— Minha princesa, precisa fugir. — Minha babá entrou em meu quarto correndo, bloqueando a porta atrás dela. Sua voz tomada de desespero. — Se esconda na floresta até que o rei Alfa retome o controle da situação.— É a minha mãe? Onde ela está? — O pânico me tomava, meu corpo tremendo, paralisado no chão frio do meu quarto.A loba, já em idade avançada, segurou meu rosto entre suas mãos com carinho, acariciando minhas bochechas manchadas de lágrimas.— Seja forte, minha pequena loba. — Com um beijo gentil em minha testa, minha babá me empurrou