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Capítulo 7: O Preço da Escolha

O vento cortante da noite chicoteava minha pele enquanto eu caminhava de volta para casa. Mas o frio que percorria minha espinha tinha outro motivo. Meu peito pesava, como se um nó invisível apertasse cada vez mais meus pulmões.

"Case-se comigo."

As palavras de Damian ainda ecoavam na minha mente. Ele as disse como se estivesse me oferecendo um contrato qualquer, como se minha vida fosse um detalhe insignificante diante de seus negócios. Não havia emoção, hesitação ou um traço sequer de humanidade na proposta. Apenas uma certeza cruel: eu não tinha escolha, apenas aceitar.

O peso da decisão me esmagava. Eu sabia que ceder significava renunciar a qualquer chance de liberdade. Mas recusar… significava condenar Henry e Margaret.

Ao me aproximar da casa, parei ao ouvir as vozes abafadas de meus avós. Eles raramente discutiam, mas o desespero nos tons baixos e trêmulos era inconfundível. Parei diante da porta, me mantendo em silêncio.

— Não podemos contar para ela, Henry. — A voz de Margaret soou frágil, quase implorando. — Ela já faz tanto… Não quero que carregue esse peso.

— Margaret, não temos mais tempo. — O suspiro pesado de Henry encheu o silêncio. — O banco não vai esperar. Eles vão tomar a casa.

Minha visão ficou turva. Pressionei a mão contra a boca, tentando conter um soluço.

— Se ao menos fôssemos mais jovens… poderíamos trabalhar mais, conseguir algum dinheiro extra… — Margaret sussurrou, e minha garganta se apertou.

Eles estavam tentando me proteger. Mas não havia nada que pudesse salvá-los.

Sem fazer barulho, me afastei da porta, entrando pelos fundos e subindo as escadas silenciosamente. Me tranquei no quarto e sentei-me na beira da cama, segurando a cabeça entre as mãos.

"Case-se comigo."

As palavras martelavam na minha mente, sufocantes.

Eu poderia suportar um casamento sem amor? Damian não me queria romanticamente falando. Ele não parecia ser o tipo de homem que se comprometia sem interesses ocultos. Será que ele esperava algo de mim? Será que ele tinha alguma amante e precisava de um casamento de fachada?

Minha mente girava com perguntas sem respostas. Mas, no fim, a única resposta que importava era a realidade diante de mim. Henry e Margaret não mereciam viver aquele martírio e eu tinha em minhas mãos a solução para ajudá-los.

Peguei meu celular com dedos trêmulos e apertei no último número discado. A espera era sufocante. Precisei me controlar para não apertar o aparelho em minhas mão com muita força e acabar quebrando.

Ele atendeu no segundo toque.

— Senhorita Lin. — A voz de Damian ressoou do outro lado da linha, baixa e carregada de algo que me irritava profundamente. Satisfação. Ele já sabia.

Engoli em seco o pouco orgulho que ainda me restava.

— Precisamos conversar.

— Sobre o quê? — Seu tom divertido não passou despercebido.

Fechei os olhos, sentindo meu coração bater forte contra as costelas.

— Eu aceito.

O silêncio foi insuportável. Então, ele disse, sem surpresa alguma:

— Ótimo. Amanhã, no meu escritório. Nove da manhã. — E desligou.

Fiquei ali, olhando para a tela escura do celular, sentindo que havia acabado de assinar minha sentença.

A manhã chegou rápido demais.

Caminhei até o prédio da Blackthorn Enterprises com passos hesitantes. Cada fibra do meu ser gritava para eu correr na direção oposta, mas ignorei meus instintos. Henry e Margaret precisavam de mim.

Fui levada até a sala de Damian. Quando entrei, ele estava de costas para mim, olhando a cidade através da grande janela de vidro. Aquilo parecia ser um comportamento recorrente dele.

— Sente-se. — Sua voz ecoou pelo ambiente.

— Prefiro ficar de pé.

Com um movimento de sua mão, Damian fez a secretária sair. Ele sorriu levemente, se virando para me encarar. Seu olhar dourado se fixou no meu, intenso e calculista. Meu corpo inteiro pareceu reagir aqueles olhos, como se pudessem ver dentro da minha alma.

— Bom. Vamos direto ao ponto. — Ele deslizou um contrato para o centro da mesa. Seu dedo bateu sobre o papel, chamando minha atenção. — Aqui estão os termos. Casamento legalmente reconhecido. Sem envolvimento emocional. Você salva sua família. Quanto a mim, obtenho o que preciso.

Peguei o contrato com mãos trêmulas, lendo cada linha. O documento era frio, impessoal. Apenas um negócio. Como se eu não fosse uma pessoa, mas um simples acordo assinado.

Por alguma razão, meu peito se apertou forte.

— Nada muda para você? — Minha voz saiu baixa, hesitante.

Ele deu de ombros.

— Não.

Eu ri sem humor.

— Então é isso? Apenas um contrato. Um acordo amigável. — Damian se aproximou, as mãos nos bolsos, sua expressão ilegível.

— Isso é tudo que posso oferecer. — Engoli em seco.

— Por quê?

Por um instante, algo brilhou em seus olhos, mas ele mascarou rápido demais para que eu pudesse decifrar. Ele queria que eu aceitasse seus termos sem questionar. Peguei a caneta, sentindo cada músculo do meu corpo protestar contra aquilo. Mas eu não tinha escolha.

Com um último suspiro, assinei. Damian fez o mesmo. Sem hesitação. Sem emoção. E assim, me tornei Lin Blackthorn.

Trocamos uma breve trocas de olhares, mas nenhuma palavra. Damian estalou seus dedos e um grupo de homens entrou na sala.

— Levem a senhora Blackthom para a mansão. — e assim eles o fizeram. Fui escoltada para fora daquele prédio por quatro brutamontes e posta em um carro chique.

A mansão era grandiosa, mas parecia que ninguém vivia nela. Os corredores eram longos e frios. Não havia quadros, fotos ou qualquer sinal de que alguém realmente morava ali. Apenas uma casa luxuosa, mas sem alma.

A empregada que me recebeu apenas entregou um conjunto de chaves e desapareceu. Damian não voltou para casa. A primeira noite, passei sentada na beirada da cama, sentindo um peso esmagador em meu peito.  Será que fiz a escolha certa?

Sem sono, comecei a explorar a casa. O silêncio era opressor. Então algo chamou minha atenção. Enquanto caminhava me deparei com uma porta aberta. O escritório de Damian. Sobre a mesa havia uma foto antiga. O único sinal de que alguém usava aquele cômodo.

Peguei-a com cuidado. Na imagem, Damian parecia… diferente. Menos frio. Havia algo no seu olhar que eu não reconhecia. Algo quebrado. Toquei com as pontas dos dedos o rosto mais jovem que me encarava.

— Perdida, esposa?

O som da sua voz fez meu coração saltar.

Virei-me, encontrando-o encostado na porta, braços cruzados. Seu rosto estava à sombra, mas seus olhos brilhavam como fogo na escuridão. Sua postura, mesmo que parecesse relaxada, parecia a de um predador.

Respirei fundo, colocando a foto de volta no lugar.

— Só conhecendo minha nova casa. — Ele sorriu de canto.

— Desde que não me incomode, pode ir onde quiser.

Dei um passo à frente, sustentando seu olhar.

— O que aconteceu com você, Damian? — A expressão dele endureceu.

— Não faça perguntas para as quais não aguentaria as respostas.

O divertimento nos olhos dele desapareceu, substituído pela frieza.

Eu poderia ter recuado. Mas não fiz.

— Eu não quero viver um casamento vazio.

Por um momento, ele apenas me observou. Então, inclinou levemente a cabeça, os olhos estreitando-se.

— Mesmo? Parece interessante. — E saiu sem olhar para trás.

Fiquei ali, sozinha no meio do escritório, sentindo que havia acabado de declarar guerra. Se ele queria distância, eu encontraria um jeito de quebrar aquela barreira.

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