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A renegada do Alfa Amaldiçoado
A renegada do Alfa Amaldiçoado
Por: K. R. Alexander
Capítulo 1: Noite de Sangue e Fogo

— Queimem tudo! Ninguém deve sair com vida desse castelo! — A voz de Magnus, o beta de meu pai, sobressaia aos gritos de desespero que inundaram o castelo. Seus lobos uivando em frenesi enquanto avançavam sobre qualquer um que cruzasse seu caminho.

Ainda não conseguia acreditar no que meus olhos viam, o lobo que vi ao lado de meu pai durante toda a minha vida estava liderando um ataque para derrubar o rei alfa. Como… Quando aquilo havia começado?

— Minha princesa, precisa fugir. — Minha babá entrou em meu quarto correndo, bloqueando a porta atrás dela. Sua voz tomada de desespero. — Se esconda na floresta até que o rei Alfa retome o controle da situação.

— É a minha mãe? Onde ela está? — O pânico me tomava, meu corpo tremendo, paralisado no chão frio do meu quarto.

A loba, já em idade avançada, segurou meu rosto entre suas mãos com carinho, acariciando minhas bochechas manchadas de lágrimas.

— Seja forte, minha pequena loba. — Com um beijo gentil em minha testa, minha babá me empurrou por uma estreita passagem na parede, que me levou até um dos corredores principais do castelo.

Enquanto a neve caía do lado de fora, uma densa fumaça negra se espalhava pelo céu, queimando meus pulmões. O cheiro de carne e madeira incineradas misturava-se ao ferro do sangue derramado pelo chão, e cada inspiração era um lembrete cruel de que tudo ao meu redor estava desmoronando. O som de gritos e garras rasgando carne ecoava pelos corredores do castelo, um pesadelo sem fim que transformava meu lar em um cenário de massacre.

Minhas solas batiam contra o chão de pedra enquanto corria o mais rápido que minhas pernas conseguiam suportar. Meus pés descalços golpeavam o chão, o sangue dos guerreiros caídos formando poças escorregadias sob meus passos, quase me levando ao chão várias vezes. Eu tentava não olhar para os corpos, não pensar nas expressões congeladas de dor e terror, mas era impossível. Essas imagens se cravavam em minha mente como farpas afiadas, e eu sabia que jamais as esqueceria.

O castelo que antes era meu lar se transformou em uma armadilha de fogo. Eu precisava chegar ao grande salão. Meus pais estariam lá. Eles sempre estiveram lá. Assim que os encontrasse, os convenceria para partirmos, abandonar aquelas terras de uma vez.

Virei um corredor ao ver uma movimentação a frente, e tropecei em algo macio. Bati com força contra o chão, minhas mãos se ferindo no impacto ao proteger meu rosto. Olhei sobre o ombro e meu coração congelou quando percebi que o objeto no qual tropecei era uma das servas da minha mãe. Seu olhar vazio me encarava, seu peito rasgado até a barriga, expondo seus órgãos. Levei a mão à boca para conter um soluço. Virando o rosto, me levantei. Não havia tempo para chorar.

“Continue correndo, Ayla. Eles precisam de você.”

Quando finalmente alcancei o grande salão, um calafrio percorreu minha espinha. A cena diante de mim era algo saído dos meus pesadelos mais sombrios.

Meu pai, o Rei Alfa, estava no centro do salão, sua imponente figura coberta de sangue e ferimentos. Sua respiração era pesada, seu peito subia e descia com dificuldade, mas seus olhos ainda carregavam a fúria e a força de um Lycan poderoso. Minha mãe, a Luna, estava ao seu lado, as mãos trêmulas segurando uma adaga prateada, os lábios movendo-se em um último cântico de proteção.

E diante deles estava o lobo a quem eles entregaram sua confiança e a minha mão.

Damian Blackthorn. O guerreiro mais letal do reino. O homem que eu deveria um dia chamar de companheiro. Meu prometido.

Seu olhar vazio encontrou o meu por um breve instante, mas ele não demonstrou nenhuma reação ao me ver ali. A lâmina em sua mão gotejava sangue, e meu corpo inteiro se recusava a aceitar a verdade que se mostrava diante de mim.

“Não pode ser. Ele não faria isso.”

Mas o corpo caído de um dos guardas reais aos seus pés dizia o contrário.

— D-Damian? — Minha voz saiu em um sussurro sufocado.

Ele piscou, levando a mão livre ao rosto por um instante. Mas antes que qualquer palavra deixasse seus lábios, meu pai rugiu:

— CORRA, AYLA!

Foi a última coisa que ouvi antes do som de metal contra metal ecoar pelo salão.

Meus pés congelaram no chão. Eu não podia deixar meus pais. Não podia deixá-los lutar sozinhos. 

Então senti um golpe forte e ardente cortar minha lateral.

Meu grito rasgou o ar e fui jogada ao chão, minha visão turvando por um instante enquanto rolava pelo chão, para mais perto de onde meus pais e Damian estavam. A dor explodiu em minha costela, quente e latejante, e só então vi a figura sombria de um guerreiro inimigo se erguer sobre mim. Seu rosto estava manchado de sangue, e seus olhos brilhavam com crueldade. Ele ergueu sua lâmina para finalizar o trabalho, mas meu instinto reagiu mais rápido. Rolei para longe, ignorando a dor que queimava em minha carne, e chutei sua perna com todas as minhas forças.

Ele cambaleou, me dando a oportunidade de atingi-lo. O som da batalha continuava atrás de mim, mas eu sabia que não podia ajudar nas condições que estava. Eu não era forte o suficiente para salvá-los com meus míseros dezessete anos.

Me ergui com dificuldade, sentindo o sangue quente escorrer pelo meu flanco. Meus olhos buscaram desesperadamente por meus pais, e foi então que vi. Meu pai lutava com bravura, mas estava enfraquecido, seus golpes mais lentos, seu corpo já cedendo aos ferimentos. Minha mãe tentava protegê-lo, mas o medo brilhava em seus olhos.

Damian estava diante deles, segurando a espada firmemente. Ele não parecia o lobo que conheci, o lobo pelo qual me apaixonei.

— Damian, pare! — Minha voz saiu como um grito desesperado, mas ele nem sequer olhou para mim.

Meu pai atacou primeiro, um rugido poderoso ecoando pelo salão. Damian desviou com facilidade e, em um único golpe rápido e mortal, sua lâmina cortou a garganta do Rei Alfa.

O tempo pareceu desacelerar, os sons e cheiros desapareceram.

O corpo do meu pai caiu pesadamente no chão, e um grito de horror escapou da minha garganta enquanto eu caía de joelhos. Minha mãe correu para ele, mas antes que pudesse alcançá-lo, Damian cravou sua espada em seu peito.

Damian puxou a espada, fazendo o corpo da minha mãe cair sobre o do meu pai. Ambos inertes sobre uma poça de sangue. Meus pais estavam mortos.

E Damian Blackthorn foi quem os matou.

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