(Cidade Minerva, 934 D.G.M* )
Litoral de Minerva...
Seus olhos queimavam devido ao brilho intenso, a areia sufocava sua respiração, o som das águas batendo nos rochedos à frente confundia os seus sentidos, seu corpo caído ao chão negava-se a obedecê-lo.
Reunindo as últimas forças que tinha conseguiu sentar-se na praia. Pelos deuses que lugar era aquele? A geografia era diferente de tudo o que já vira.
Tentava lembrar seu nome, de onde viera? O que estava fazendo ali? Mas sua mente parecia uma folha em branco.
Olhou ao longe e percebeu que além das folhagens erguiam-se imensas muralhas de pedras.
Aquela visão encheu seu peito de esperança, onde quer que ele estivesse não estava sozinho. Poderia conseguir ajuda. Tentou gritar, mas assustado percebeu que sua voz se tornara um grito gutural diferente de tudo que se pudesse imaginar, chegando a causa-lhe arrepios.
A vegetação ao longe se moveu e a praia inteira foi tomada por seres humanos, vestindo estranhas roupas de metal, portando lanças afiadas e falando um dialeto incompreensível para ele.
Em poucos segundos estava cercado, eram dezenas o ameaçando, tentou falar com eles, mas só conseguiu emitir um esturro agigantado, alguns homens recuaram assustados, mas um deles que parecia o líder os instigou a seguir em frente.
Ele tentou libertar-se do cerco, atacando alguns dos homens, derrubando-os facilmente como se fossem folhas secas. Eles, no entanto, pareciam um verdadeiro enxame e não o deixavam escapar do cerco.
Foi acertado por pontas metálicas, seu sangue manchava a areia, sentiu quando uma lança perfurou seu tórax roubando-lhe o ar e fazendo-o cair sobre os joelhos.
Laços foram jogados sobre o seu corpo amarrando-lhe os membros e roubando-lhe o pouco de equilíbrio que lhe restava, lutou com todas as forças que possuía e conseguiu romper os grilhões que o prendiam.
Ergueu-se com rapidez e correu em direção ao mar tentando fugir de seus algozes, mas os humanos não desistiram da perseguição, interpuseram-se entre ele e o oceano barrando-lhe outra vez o caminho.
Uma nova enxurrada de lanças veio ao seu encontro esquivou de algumas, quebrou outras, porém estava perdendo muito sangue e caiu novamente ao chão.
O som do impacto silenciou os humanos, sentiu que a razão o deixava, o corpo quase inerte foi amarrado novamente.
- Isfahan - tentou articular- Meu nome é Isfahan.
Soltou outro esturro antes da escuridão se abater sobre os seus sentidos.
***
Praça central de Minerva...
Isfahan acordou com uma dor dilacerando seu peito, sabia que não estava mais na praia, pois já não sentia o cheiro da maresia nem a areia sobre seus pés. Olhou rapidamente ao redor e chocado percebeu que se encontrava dentro de uma imensa jaula de ferro. Desesperado tentou arrebentar as barras, mas percebeu que era impossível.
Seu movimento chamou a atenção de algumas pessoas que de longe o observavam com medo. De repente iniciou-se uma balburdia e várias pessoas correram formando uma multidão ao seu redor
Isfahan podia ver o medo e o ódio nos olhos daquelas pessoas e afastou-se para o fundo da jaula.
Observou o ambiente ao seu redor, parecia uma praça, cercada por edifícios rústicos construídos em pedra imponentes e frias como as muralhas que avistara da praia.
Será que aqueles humanos eram tão duros e insensíveis quanto as pedras que usavam para construir seus lares? Perguntou-se Isfahan desanimado.
Continuou observando os arredores na esperança de encontrar algo que pudesse ajuda-lo. Percebeu que ao contrário da praia ali havia fêmeas e filhotes.
Isfahan sempre ouvira dizer que em qualquer espécie a fêmea era sempre mais dotada de sensibilidade por isso tentou se comunicar com algumas delas, mas a única coisa que conseguiu foi que saíssem correndo com suas crianças nos braços.
Desanimado deixou-se cair no chão da jaula, sentia dores, mas percebeu que os cortes mais profundos haviam sido estancados. Isso significava que os humanos ainda não queriam que ele morresse, isso, no entanto lhe causava mais preocupação do que alivio.
Estava ainda meditando sobre o que aquelas pessoas pretendiam fazer com ele quando a multidão ao seu redor abriu-se dando passagem a uma elegante carruagem, com um brasão esculpido no centro que mostrava uma coroa atravessada por uma espada sobre um campo de margaridas.
O veículo estacionou no centro da praça, Isfahan viu descer do seu interior um homem elegante trajando luxuosas vestes negras. Seus cabelos estavam presos num rabo de cavalo, o rosto de feições másculas era emoldurado por uma barbicha bem aparada, seus olhos castanhos deixavam entrever uma alma inteligente e voluntariosa.
O pretenso líder do grupo que aprisionara Isfahan foi ao seu encontro e prostou-se de joelho, o que fez com que Isfahan percebesse que sua sorte dependeria apenas da compaixão daquele homem.
Os homens começaram a conversar mais para seu desespero percebeu que não era capaz de entender uma palavra sequer do diálogo que se iniciou.
Praça central de Minerva... Mousame Castlen desceu da carruagem que o conduzira até a praça central de Minerva, estava ali porque recebera uma mensagem de Orlock chefe da guarda da cidade comunicando-lhe que naquela manhã uma terrível fera fora aprisionada no litoral da cidade. Orlock sempre fora um tanto exagerado, mas era também um militar extraordinário o que justificava sua importantíssima posição. Assim que fora avisado sobre o invasor, ele reunira seus homens e o perseguira pela praia até prendê-lo, depois enviara uma mensagem para lorde Castlen e outra para ordem sacerdotal de Minerva pedindo instruções. Mousame Castlen era o lorde soberano do reino de Minerva, sua família datava dos sobreviventes do massacre imposto pelos deuses ao mundo, há mais de novecentos anos atrás. Eles haviam recebido da própria Minerva, deusa da humanidade, a missão de salvar os humanos da ira de sua irmã Nara, a deusa da natureza e governar sobre eles. Ambas as missões
Centro de Minerva... Dentro dos muros de Minerva, havia uma capela oferecida à deusa Nara, esta política de disponibilizar um pequeno santuário a deusa da cidade vizinha surgiu aproximadamente cem anos depois da grande ruptura. Há mais de quatro séculos quando algumas famílias vassalas da família Castlen, revoltadas com a política de escravidão e os constantes sacrifícios humanos à deusa Minerva resolveram lançar-se ao mar para encontrar outro lugar onde pudessem viver conforme seus ditames. Certos de que eles não teriam outra opção senão voltar, o lorde regente de Minerva não se opôs a sua partida. Após dias à deriva em alto mar, já contando a morte como certa, deu-se uma tempestade que arremessou os barcos contra as costas de outra ilha salvando quase todos os que saíram de Minerva. Os sobreviventes vagaram durante uma semana por uma ilha devastada e deserta, até que encontraram uma imensa rocha de cristal transparente e dentro de
Masmorras da ordem sacerdotal de Minerva... A noite findava envolta num frio intimidante, dois guardas protegiam a entrada das catacumbas do pasto comunal. O pasto era uma imensa propriedade territorial que pertencia a ordem sacerdotal de Minerva e que era também onde ficavam as masmorras da cidade. Essas enormes grutas haviam sido transformadas em prisões onde costumavam colocar os criminosos condenados pela deusa. As masmorras eram protegidas pela guarda sacerdotal, um grupo de guerreiros de elite que serviam aos sumo-sacerdotes. Naquela noite, eles deveriam se revezar na guarda da infame criatura que seria sacrificada no outro dia. Os guardas na verdade estavam tranquilos pois julgavam impossível que alguém tivesse coragem de invadir o pasto comunal, ainda mais para resgatar um monstro. Estavam conversando distraidamente e não viram quando duas sombras se aproximaram no horizonte. Eram dois homens, vestidos de roupa sacer
Nas masmorras da ordem sacerdotal de Minerva... Dalson correu até a bifurcação central da prisão era lá que ficava o sino de prata que servia como alarme contra a fuga de prisioneiros, em poucos segundos as outras sentinelas despertariam e começariam a tocar seus respectivos sinos em resposta ao pedido de socorro do guarda, seria uma questão de minutos até Harã saber do ocorrido e enviar todas suas tropas para masmorra. Dalson não podia permitir que aquilo acontecesse, pois frustraria definitivamente os planos de seu senhor. O guerreiro acreditava em Joctã Blaster tinha plena convicção de que ele era um santo escolhido pela própria deusa para levar ao mundo sua vontade, por isso o seguira naquela empreitada mesmo contrariando todo o bom senso. Se Minerva realmente falava com o padre, coisa na qual Dalson apostaria a sua vida, então ela mostraria uma forma de se realizar aquela missão por mais suicida que fosse, era naquilo que o guerreiro
Nas masmorras da ordem sacerdotal de Minerva... Dalson corria freneticamente arrastando consigo o amigo ferido, atrás deles vinham Joctã, Mirles e Isfahan. Ao longe já se ouvia o ressoar dos inúmeros sinos que havia no pasto convocando os guerreiros, era apenas uma questão de tempo até encontrarem seu rastro e por isso ele precisava colocar o máximo de distância possível entre ele e seus perseguidores. O subterrâneo era um intricado de cavernas, um imenso labirinto para aqueles que desconheciam seus segredos, para Dalson, no entanto era sua segunda casa, entrou por uma intersecção, avançou numa espécie de corredor até desembocar noutra gruta. Esta estava ligada a uma bifurcação em cruz, escolheu o caminho da esquerda e prosseguiu avançando cada vez mais para dentro da terra, o solo descia como se fosse uma rampa de barro, as paredes se estreitavam, o ar se tornava rarefeito, os archotes na sua maioria apagados deixavam o ambiente numa penumbra mórbida. Isfah
Nas masmorras da ordem sacerdotal de Minerva... A explosão comprometeu toda a estrutura do túnel, o barulho foi inimaginável quase ensurdeceu Isfahan, o fogo alastrou-se rapidamente lambendo tudo ao seu alcance, o calor queimava, a fumaça sufocava, o cheiro de pólvora mesclou-se ao pouco de ar que ainda havia. Dalson e os outros humanos prenderam a respiração e continuaram a correr naquele breu, somente o som dos passos era seu guia. Continuaram sempre em frente, tateando, escorregando, mas sempre seguindo em frente. Dalson guiava o grupo, mas seu cérebro sem ar, sufocado pela fumaça começava a pregar-lhe peças, felizmente após uma curva encontraram um archote reluzindo, o guerreiro arrancou da parede e pode iluminar o caminho, em sua frente estendia-se uma bifurcação com três prováveis saídas, ele seguiu o do meio. Correram por túneis, grutas sem parar sequer para respirar, passando por várias curvas e bifurcações chegaram pôr fim a o
Litoral de Minerva... Dalson olhou para baixo sem acreditar, o Minotauro os levara a uma provável saída, mas não a que ele procurava. Mirles deixou-se cai junto ao paredão insuflando os pulmões de ar puro enquanto Joctã tentava dialogar com uma fera em pânico. Isfahan, passado o surto inicial, voltara correndo para a segurança do túnel. Seus olhos esbugalhados demonstravam seu pânico, o coração parecia querer saltar pela boca. Por mais que o sacerdote tentasse explicar que estava em segurança a fera parecia não conseguir ouvi-lo, tamanho era seu pavor. -Não adianta insistir com ele, padre - disse Dalson voltando-se para Joctã - Ele deve ser como os bois que enlouquecem quando são tirados do chão. -O que faremos agora? - indagou Mirles juntando-se ao grupo. -Temos que sair daqui - disse Dalson - Os soldados de Harã conhecem as catacumbas tão bem quanto eu e não vão demorar a perceber que estamos tentando chegar à praia, logo eles darão a volta por terra e n
Mar de Minerva... Mirles segurou-se no corrimão para não escorregar, o barco balançava incessantemente, reiniciou a descida com cuidado, fora muito difícil conseguir um comerciante nariano disposto a contrabandear o minotauro para fora de Minerva. Todos tinham muito medo da criatura, a aparência assustadora do minotauro não permitia a mais ninguém ver o que Mirles fora capaz de ver, uma alma boa, assustada, indefesa. Depois de horas de negociação e duma considerável soma em dinheiro que Joctã Blaster pagou sem titubear o negócio foi selado.O minotauro foi colocado no porão ainda preso a correntes muito grossas uma das condições imposta pelo capitão do navio. O padre Mirles era o único com autorização para descer até lá, não que a proibição fosse necessária os outros marinheiros estavam assustados demais para chegar perto do porão. O pequeno barco seguiu viagem, pesado e lento, estava com o porão abarrotado de frut