Nas masmorras da ordem sacerdotal de Minerva...
Dalson correu até a bifurcação central da prisão era lá que ficava o sino de prata que servia como alarme contra a fuga de prisioneiros, em poucos segundos as outras sentinelas despertariam e começariam a tocar seus respectivos sinos em resposta ao pedido de socorro do guarda, seria uma questão de minutos até Harã saber do ocorrido e enviar todas suas tropas para masmorra.
Dalson não podia permitir que aquilo acontecesse, pois frustraria definitivamente os planos de seu senhor. O guerreiro acreditava em Joctã Blaster tinha plena convicção de que ele era um santo escolhido pela própria deusa para levar ao mundo sua vontade, por isso o seguira naquela empreitada mesmo contrariando todo o bom senso.
Se Minerva realmente falava com o padre, coisa na qual Dalson apostaria a sua vida, então ela mostraria uma forma de se realizar aquela missão por mais suicida que fosse, era naquilo que o guerreiro acreditava.
Transpôs a bifurcação e viu um de seus companheiros agarrado ao badalo do sino impulsionando-o freneticamente.
-Dalson, graças à deusa! O senhor está acordado! - disse o homem que tocava o sino- É uma fuga drogaram todos os guardas.
-Afaste-se do sino, Johannes - ordenou Dalson parando frente ao homem sacando sua espada.
-Não compreendo- disse Johannes soltando o sino.
-Não me obrigue a fazer o que eu não quero - pediu Dalson.
-Pela Deusa! O senhor está com eles? Por quê? - Indagou Johannes sem acreditar.
Johannes conhecia Dalson há muito tempo pois fora pupilo do pai dele antes de se alistar na força militar de Minerva, ele sempre fora um exemplo de retidão e princípios possuía uma devoção inigualável o que tornava toda aquela situação estapafúrdia.
-Para libertar o minotauro.
-Libertar aquele monstro? Por quê?
-Porque esta é a vontade de Minerva - disse com convicção.
-Como assim? A própria deusa o condenou à morte?
-Não foi a deusa e sim, Harã - retorquiu Dalson.
-Harã é o mais nobre dos porta-vozes da nossa deusa.
-O sumo-sacerdote Blaster não concorda com a opinião de Harã, ele afirma que foi incumbido pela própria deusa de salvar o minotauro.
-Você está louco, vai deixar de dar ouvidos a um representante da casa Parã separado e consagrado ao serviço de Minerva desde o berço para ouvir um sumo-sacerdote que mal começou a discernir sobre os mistérios da deusa?
Dalson compreendia o ponto de vista de Johannes, desde a fundação da cidade de Minerva, o clã Parã se dedicara a missão de interpretar os desígnios divinos, todos os primogênitos da família eram ofertados à deusa desde o ventre da mãe e preparado para servi-la, isso garantia sua posição de honra e destaque entre os outros sacerdotes em sua grande maioria escolhidos entre os lordes comuns.
Diante da devoção que todos tinham no clã Parã, Dalson sabia que seria tolice tentar explicar a fé sem limites que devotava à pessoa de Joctã Blaster.
-Fique fora disso, Johannes e pouparei sua vida - avisou Dalson.
-Sinto muito, mas só passara daqui por cima do meu cadáver - disse Johannes sacando sua espada.
-Se prefere assim - concedeu Dalson correndo de encontro ao oponente.
***
As espadas tilintavam ao entrar em choque, metal contra metal rugindo, Joctã estancou a entrada da caverna, Dalson e outro homem dançavam uma sinfonia mortal.
Logo atrás dele chegaram Mirles e Isfahan, protegidos pelo outro guarda já de espada em punho. Para o minotauro a cena era espetacular, os dois homens movimentavam-se com agilidade enquanto desferiam golpes violentos um contra o outro. Agiam dentro de certo equilíbrio, golpeavam e aparavam, aparavam e golpeavam sem parar na certeza de que um passo em falso seria fatal.
O combate estendeu-se por alguns minutos, ambos os oponentes eram fortes e bem treinados, mas suas respirações tornavam-se ofegantes. Num dado momento Dalson aparou um golpe frontal de seu rival e gritou para o grupo;
-Fujam, eu o segurarei aqui.
-Não iremos sem você - negou Joctã.
-Se ficarem, todos morreremos.
Apesar da verdade nas palavras do amigo, Joctã não se moveu, não iria abandoná-lo, aquele rapaz era como um filho para ele.
-Philip tire os daqui isso é uma ordem! - gritou Dalson para a outra sentinela.
-Vamos senhor, precisamos fugir - insistiu Philip- O senhor quer que a morte dele seja em vão?
-Ninguém vai morrer aqui hoje, tenha fé em Minerva, filho - disse Joctã colocando a mão sobre o ombro do soldado.
Preocupado com os amigos, Dalson distraiu-se por uma fração de segundo e foi apanhado por um golpe violento que lhe roubou o equilíbrio, o guerreiro tentou equilibrar-se, mas seu oponente aproveitou para investir violentamente contra ele empurrando-o para o fundo da gruta.
-Ajude-o - gritou Joctã para o tal de Philip.
Dalson pisou num pedregulho, ao mesmo tempo em que tentava rechaçar um golpe mortal e foi ao chão caindo de costas.
O inimigo aproveitou para aplica-lhe um golpe no coração, mas foi detido pela lâmina de Philip.
Isfahan avançou em direção do confronto. O soldado de Harã recuou alguns milímetros e investiu contra Dalson novamente, o jovem Philip tentou conte-lo mais uma vez mas não tinha nem a velocidade nem a força necessária para isso e acabou lançado para longe com o impacto do golpe. Philips acabou aterrissando sobre várias estalagmites que se projetavam da parede e que perfuraram - lhe a lateral do corpo.
Livre do empecilho à sentinela atacou novamente Dalson que começava a ficar de pé, derrubou-o projetando-se num ataque fatal.
O chão tremeu com o impacto dos passos velozes da fera, Isfahan aproximou-se dos guerreiros e agarrou o oponente de Dalson por trás contendo seu ataque e suspendendo-o alguns centímetros do chão.
O guerreiro esperneava, mas não encontrava forças suficiente para soltar-se do minotauro que lhe tomou a lâmina e entregou para Dalson que se erguera do chão durante o intervalo.
Mirles e Joctã assistiam abismados, a criatura iria matar aquele homem e eles não podiam fazer nada para impedir.
Isfahan forçou o homem a olhá-lo nos olhos e então soltou um esturro agudo que o fez temer por sua vida, em seguida o recolocou no chão. Desnorteado o guarda deixou-se ficar caído no chão em choque.
Dalson aproximou-se dele e disse:
-Sinto muito não queria que fosse assim - ergueu a espada para desferir um último golpe no pobre homem que olhava para Isfahan desnorteado.
O minotauro, no entanto segurou o braço de Dalson impedindo-o de concretizar seu objetivo.
- O que está fazendo? - perguntou o soldado sem compreender.
Isfahan respondeu num grunhido.
-Ele está certo - disse Joctã se recompondo dos efeitos da cena amedrontadora - Ninguém deve morrer aqui, hoje.
-Ele vai nos entregar se não o matarmos - argumentou Dalson com toda lógica.
-Agora é tarde - disse o inimigo num tom cansado - mesmo que me matem não sairão com vida do pasto, em poucos minutos toda essa prisão estará lotada de soldados.
-Ele tem razão - Philip tentava falar enquanto Mirles procurava estanca-lhe um ferimento na altura do peito - Vocês não podem mais fugir pela saída principal.
-Fique quieto - disse Mirles - essa agitação agrava a hemorragia.
-Philip tem razão, temos que ir por outra saída - Concordou Dalson.
-Mas somente os túneis por baixo da mansão levam a praia e se não chegarmos à praia tudo que fizemos aqui será em vão - esclareceu Joctã.
-Existe outro caminho - avisou Philip - eu posso mostrar.
-Sei a qual caminho você se refere - concordou Dalson - pode dar certo.
-Vocês nunca conseguirão - falou o prisioneiro.
-Cale a boca - disse Dalson acertando-o com a bainha da espada e o levando a nocaute - ele vai viver- disse para o minotauro - E não poderá falar por um bom tempo.
Isfahan nada disse, Dalson aproximou-se de Philip e ajudou-o a levantar-se.
- Este homem vai morrer se o movermos - avisou Mirles.
- Ele tem razão, senhor, sou um peso morto.
Mesmo sabendo que era verdade Dalson jamais abandonaria seu discípulo, Philip era apenas um garoto e só estava metido naquela situação por devoção a ele.
-Ele vem conosco - assegurou Dalson - Ninguém morre hoje e ninguém é deixado para trás! - Sigam-me senhores.
Nas masmorras da ordem sacerdotal de Minerva... Dalson corria freneticamente arrastando consigo o amigo ferido, atrás deles vinham Joctã, Mirles e Isfahan. Ao longe já se ouvia o ressoar dos inúmeros sinos que havia no pasto convocando os guerreiros, era apenas uma questão de tempo até encontrarem seu rastro e por isso ele precisava colocar o máximo de distância possível entre ele e seus perseguidores. O subterrâneo era um intricado de cavernas, um imenso labirinto para aqueles que desconheciam seus segredos, para Dalson, no entanto era sua segunda casa, entrou por uma intersecção, avançou numa espécie de corredor até desembocar noutra gruta. Esta estava ligada a uma bifurcação em cruz, escolheu o caminho da esquerda e prosseguiu avançando cada vez mais para dentro da terra, o solo descia como se fosse uma rampa de barro, as paredes se estreitavam, o ar se tornava rarefeito, os archotes na sua maioria apagados deixavam o ambiente numa penumbra mórbida. Isfah
Nas masmorras da ordem sacerdotal de Minerva... A explosão comprometeu toda a estrutura do túnel, o barulho foi inimaginável quase ensurdeceu Isfahan, o fogo alastrou-se rapidamente lambendo tudo ao seu alcance, o calor queimava, a fumaça sufocava, o cheiro de pólvora mesclou-se ao pouco de ar que ainda havia. Dalson e os outros humanos prenderam a respiração e continuaram a correr naquele breu, somente o som dos passos era seu guia. Continuaram sempre em frente, tateando, escorregando, mas sempre seguindo em frente. Dalson guiava o grupo, mas seu cérebro sem ar, sufocado pela fumaça começava a pregar-lhe peças, felizmente após uma curva encontraram um archote reluzindo, o guerreiro arrancou da parede e pode iluminar o caminho, em sua frente estendia-se uma bifurcação com três prováveis saídas, ele seguiu o do meio. Correram por túneis, grutas sem parar sequer para respirar, passando por várias curvas e bifurcações chegaram pôr fim a o
Litoral de Minerva... Dalson olhou para baixo sem acreditar, o Minotauro os levara a uma provável saída, mas não a que ele procurava. Mirles deixou-se cai junto ao paredão insuflando os pulmões de ar puro enquanto Joctã tentava dialogar com uma fera em pânico. Isfahan, passado o surto inicial, voltara correndo para a segurança do túnel. Seus olhos esbugalhados demonstravam seu pânico, o coração parecia querer saltar pela boca. Por mais que o sacerdote tentasse explicar que estava em segurança a fera parecia não conseguir ouvi-lo, tamanho era seu pavor. -Não adianta insistir com ele, padre - disse Dalson voltando-se para Joctã - Ele deve ser como os bois que enlouquecem quando são tirados do chão. -O que faremos agora? - indagou Mirles juntando-se ao grupo. -Temos que sair daqui - disse Dalson - Os soldados de Harã conhecem as catacumbas tão bem quanto eu e não vão demorar a perceber que estamos tentando chegar à praia, logo eles darão a volta por terra e n
Mar de Minerva... Mirles segurou-se no corrimão para não escorregar, o barco balançava incessantemente, reiniciou a descida com cuidado, fora muito difícil conseguir um comerciante nariano disposto a contrabandear o minotauro para fora de Minerva. Todos tinham muito medo da criatura, a aparência assustadora do minotauro não permitia a mais ninguém ver o que Mirles fora capaz de ver, uma alma boa, assustada, indefesa. Depois de horas de negociação e duma considerável soma em dinheiro que Joctã Blaster pagou sem titubear o negócio foi selado.O minotauro foi colocado no porão ainda preso a correntes muito grossas uma das condições imposta pelo capitão do navio. O padre Mirles era o único com autorização para descer até lá, não que a proibição fosse necessária os outros marinheiros estavam assustados demais para chegar perto do porão. O pequeno barco seguiu viagem, pesado e lento, estava com o porão abarrotado de frut
Cidade de Nara - Castelo Caarano... As ondas batiam contra o casco violentamente, Ulisses tentava manter o barco firme mais era uma proeza além dos seus conhecimentos de marujo. Os marinheiros corriam atemorizados, o cheiro da morte impregnava o ar, chocavam-se em desespero à medida que o barco os sacudia de um lado para o outro. De repente um rochedo apareceu em sua frente, tentou desviar, mas o barco parecia ser puxado em sua direção por uma força superior. O desastre era iminente, os gritos de surpresa e terror cortavam o ar, mas de repente estancaram frente à magnífica visão que se formou diante de seus olhos. Ela era sem dúvida alguma um ser divino, a mulher mais linda que
Porto de Nara... O barco entrou no porto suavemente, o grito do capitão dando ordens varria o espaço, era um frenesi enlouquecedor de mercadorias sendo desembarcadas, Mirles postou-se ao lado do engradado de ferro no qual convencera Isfahan a entrar. Os carregadores olhavam com desconfiança para a caixa de metal que continha uma fera jamais vista naqueles mares. Isfahan ficou quieto sem demonstrar nenhuma atitude que pudesse ser encarada como agressão. Mirles olhava para além do porto como que buscando uma inspiração. A Cidade de Nara era a segunda maior metrópole humana, fundada numa ilha que ficava á quase um mês de viagem daquela onde ficava a cida
Castelo Caarano... Foi assim que Isfahan o Minotauro acabou acolhido em Nara no seio da família Caarano. Ulisses recebeu Isfahan em sua casa contra vontade de sua esposa que tinha medo da fera. Um antigo calabouço que ficava por baixo do castelo foi desativado limpo e mobiliado para servir de quarto para o minotauro e também de sala de aula. Era lá que o clérigo Mirles se dedicava a ensinar a Isfahan a linguagem, história e cultura das civilizações humanas. Mas a fera parecia ser inapta a falar o idioma humano, por mais que o religioso se esforçar-se não conseguia arrancar sequer uma palavra do minotauro. Virgínia, filha mais velha de Ulisses estava fascinada com o minotauro, a criatura embora lhe despertasse medo atiçava sua curiosidade.&n
Castelo Caarano -Eu sei que você está tramando alguma coisa - disparou Matiuska. -Não sei do que você está falando? - respondeu Virginia fazendo-se de boba. -Você anda muito estranha, eu tenho observado - acusou Matiuska. -Isso é por que você se preocupa com tudo menos com o que realmente é da sua conta - respondeu Virginia enfastiada. -Não precisa ser grossa eu só me preocupo com seu bem estar - defendeu-se Matiuska colocando as agulhas de volta sobre a mesinha. -Não necessita sei muito bem cuidar de mim.&nb