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— Ei cara está me ouvindo?

Rafael chamou sua atenção e só depois olhou na direção em que o moreno olhava fixamente, e encontrou a mulher com um sorriso gracioso. Mas diferente de Nicolas, Rafael não teve o privilégio de reparar melhor no corpo pequeno, porém, deslumbrante, pois logo a moça segurou duas garrafas de água e foi embora. E ali ficaram dois homens olhando para o vazio que ela deixara.

— Nossa! - Rafael exclamou atordoado e ainda buscando achar a visão da mulher entre milhares de cabeças. Logo Nicolas virou-se para ele novamente. — Fiquei encantando aquele corpo... Uau. – Brincou o loiro virando-se para o bar novamente.

Nicolas não disse nada. Olhou a silhueta de a mulher caminhar e desaparece no meio de toda aquela gente. Voltou-se igualmente para o bar e olhou para seus pés, em seguida subiu a visão para o amigo, levando novamente o copo de uísque à boca para saborear.

— Como era bonita – Comentou Rafael.

— Hm... – Nicolas encarou o copo em cima do balcão na sua frente. — Deve ser apenas mais outra prostituta aqui desse lugar asqueroso – Declarou o Santinelli.

— Na verdade não, meu caro senhor – O garçom chamou atenção de ambos. — Emelly é uma aluna da Academia de Dança da esquina. Adora essa boate porque gosta de dançar. Nunca a vi com algum homem, e olha que muitos deles dão em cima esperando conseguir alguma coisa. O negócio dela é apenas a dança, por isso, corta todos que se aproximam, e ninguém nunca sabe por quê.

Ele explicou lentamente, enquanto limpava uma taça vazia com um pano branco.

— Até homens mais sérios, como vocês, que parecem ser de uma classe mais alta, insinuaram em tê-la em sua cama, o que foi em vão.

Os dois se olharam e riram baixinho. De fato, aquilo parecia impressionante para uma beleza exuberante como a menina possuía.

— Emelly de quê? Não tem um sobrenome? – Quis saber Rafael, mais empolgado, tanto pela fama, quanto pelo belo corpo.

— Ninguém aqui sabe. E até acho melhor. Não sabemos muito dela, apenas que gosta de dançar e que é doce e gentil, amável, boa pessoa.

Nicolas deu mais uma olhada para trás, buscava encontrá-la outra vez, se a sua fama fosse realmente essa, se perguntava duramente o que ela fazia em um lugar como aquele? Rafael, mais interessado ainda, procurou saber mais pelo garçom que lhe respondeu segundos atrás. Quando Nicolas voltou sua atenção para o amigo, percebeu que o loiro já falava alto o suficiente para se mandarem.

Botou a mão no bolso de trás em busca de sua carteira, pagou sua bebida e olhou para o amigo.

— Vamos – Ordenou Nicolas roucamente, entregando outra nota a mulher oferecida.

— Parece criança – Rafael sussurrou raivoso. Arriscou uma olhada para Nicolas e se arrependeu ao encontrar um olhar frio e maldoso. Engoliu a seco e virou-se na mesma hora. — É, vamos! Não quero treta com você.

— Ótimo.

Nicolas juntou-se a multidão bem na hora que um grupo excessivo entrou. Infelizmente, um empurra-empurra se instalou no local, Nicolas fechou os olhos para poder reter sua irritação e a vontade de matar Rafael.

— Você devia saber o quanto eu odeio lugares assim – chiou Nicolas.

— Calma! Isto é apenas um contratempo.

Nicolas bufou de raiva. No aperto, infestado por perfumes baratos e sufocantes, o moreno se viu irradiando arrogância e ódio. Uma irritação profunda, capaz de superar todas as pessoas juntas existentes no lugar.

Em meio a aquele turbilhão de irritação, Nicolas sentiu seu coração acalentar-se de repente, o que não podia acontecer quando se estava no meio de uma grande multidão malcheirosa. Mas tudo ficou calmo, o ritmo das batidas foi ficando lento, reconfortante, suportável. Um calafrio passou por seu corpo, e ele se agitou, ajeitando o paletó em seu belíssimo corpo.

 E como se o destino não gostasse dele, – assim ele entendeu – a briga aumentou, tanto para quem queria entrar, quanto para quem suplicava para sair. As pessoas empurravam umas às outras, e foi quando um corpo foi jogado contra o seu. Nicolas xingou alto, porém, diferente da mulher de outrora, essa cheirava agradavelmente bem.

— Rafael – Nicolas chamou olhando para os lados enquanto segurava a pessoa em seus braços. — Rafael?

Ele olhou para frente e pôde serenamente enxergar os olhos doces e esmeraldinos da garota em seu peito, ela apoiou seus braços sobre os dele e parou para repará-lo. Emelly o olhou intensamente, Nicolas era um homem bonito, tão lindo, muito mais que qualquer outro homem. Seu rosto pálido aparentava arrogância e raiva naquele momento, porém, desenhado pelos anjos da guarda, e lábios chamativos como nunca havia visto.

Emelly tomou uma coloração avermelhada em seu rosto, o que deixou Nicolas ainda mais fascinado pela beleza da garota. Apoiou-se ainda mais sobre os braços fortes, e um desejo correu por suas veias. Emelly arfou nervosa. Sentia uma eletricidade passar por seu corpo que a deixou abobalhada por alguns segundos.

Tal como ele.

A voracidade que a eletricidade tomava seu corpo era malévola, tenebrosa e assustadora. Ele pestanejou. Seus olhos dilaceraram os dela tão brilhantes e reluzentes. A garota soltou um grunhido ali. Estavam sendo sugados para um mundo sem nome. Ele frisou seus lábios convidativos, suas mãos desceram até sua cintura consensualmente, sem nunca distanciar ou desviar seu olhar do dela.

Depois que a multidão se dissipou, ele pôde folgar um pouco a distância dos corpos. Nicolas sentiu seu coração todo se incendiar, como nunca tinha acontecido. Um olhar tímido e sensual estava direcionado a ele.

Mesmo sendo tão tentadora, era ao mesmo tempo tímida e gentil.

Já ela estava ali, novamente petrificada e encantada por toda a beleza e masculinidade que ele irradiava. Era alto moreno, e dono de olhos negros tão profundos. Um corpo bem delineado dentro do paletó escuro, contornando sua musculatura estável. Mesmo com a boate escura, eles se viam a cada piscar das luzes eletrônicas. Encaravam-se possessivamente.

Emelly logo voltou ao seu mundo. Olhou a sua volta preocupada, procurando “ele”. Agradeceu por não o ver ali, e voltou a admirar Nicolas.

— Me desculpe – Pediu ela, ajeitando o vestido. Trêmula e intimidada por ele. — Eu me desequilibrei.

— Hm – Nicolas olhava-a sem ter o que dizer, aquela mulher era linda da cabeça aos pés, de fato uma mulher atraente o bastante para que qualquer homem a desejasse.

Até mesmo ele.

— Bom – Emelly estava encantada por ele, um grunhido baixo soou de sua garganta e ela mordeu seu lábio inferior reprimindo mais alguns que queriam vir. — Eu perdi minha amiga.

— Hm – Murmurou ele, sob os seus lábios tentadores para a pequena e delicada mulher a sua frente.

Emelly ficou olhando para aquele homem tenebroso, bonito e intrigante. Um pensamento devasso passou por sua pequena mente e ela riu saindo de perto dele. A eletricidade que percorreu suas correntes sanguíneas ao se tocarem não se dissipou quando ambos se distanciaram.

Nicolas olhou ao seu redor e viu que mais gente entrava. Procurou por seu amigo e nada lhe apareceu, voltou a olhar para sua frente e também já tinha perdido a mulher de vista. Seu olhar passou de desejo para um ódio, ódio tão grande de Rafael, que talvez ele mesmo não fosse suportar. Mas, quando deu o primeiro passo para tentar sair daquele lugar repulsivo, ele parou, e brevemente lembrou-se das últimas palavras da menina:

“— Eu perdi minha amiga”. Ou seja, ela estava sozinha e pior, sozinha naquele lugar.

— Droga.

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