Sem conseguir desviar os olhos dos intimidadores orbes negros fixos em um ponto atrás dela, que sabia se tratar de seu cunhado, Joana engoliu em seco, assustada e desesperada com o que aconteceria. — Maximiliano, que surpresa te ver aqui! — Ouviu o Orleans dizer empolgado. — Quando estava tirando fotos te notei, mas então minha esposa passou mal e tive que cuidar dela. — Ela melhorou? — Maximiliano questionou o tom cáustico não passando despercebido por Joana. — Sim. Minha mãe e os pais da Dalila estão cuidando dela. Como soube do meu casamento? Donato te disse? Ele veio com você? — O fazendeiro questionou amigável olhando ao redor em busca do advogado. Em silêncio, Joana fitou Maximiliano com súplica no olhar, um pedido de piedade gritando em sua mente. O Gonzalez a encarou feroz por um instante, então, para alívio de Joana, no lugar de acusações, disse para o Orleans: — Não vim com Donato, mas ele me disse que estaria aqui — declarou com azedume. Algo que somente Joana notou.
Ainda em choque pela chegada de Maximiliano ao seu casamento com Adriano, Dalila permanecia sentada na cama de seu novo quarto, extremamente pálida e trêmula. Kassandra, Carmem e Iago, que permaneciam ao seu lado, comentavam o ocorrido, buscando aliviar seu mal-estar. Sua mãe lhe deu mais um copo de água, conduzida pela sua declaração que a bebida ou algo que comeu não caiu bem em seu estômago. A pobre já havia lhe dado um remédio para suavizar a indisposição, achando que isso a deixaria bem. O que Dalila sabia que de nada adiantaria. Quase desmaiou de puro medo ao ver os olhos negros e ferozes de seu amante. Obviamente, jamais diria isso. Ouvindo a sugestão de chamarem um médico, Dalila ocultou o que sabia, voltando a associar sua situação às festividades. — Não é necessário, apenas estou muito cansada. — Deve ter sido pela emoção do casamento — Carmem concordou: — Após tantos meses correndo para prepara-lo, principalmente, nos últimos dias. — Talvez... — Kassandra disse observ
No piso inferior, dentro do escritório principal da mansão de Recanto Dourado, Maximiliano se entediava com a narrativa repetitiva de Adriano. Ao longo dos últimos oito anos, desde que o Orleans teve o controle dos negócios da família, sempre que estava na cidade, Adriano o perseguia com propostas de emprego, que sempre recusava. Ser empregado, ainda mais de um Orleans, não o agradava e, ouvindo os planos de Adriano para o futuro, entrelaçados a justificativa de realizar os desejos do falecido pai, Maximiliano lembrou-se de quando acreditou nas promessas bem intencionadas daquela família. ~ Quando chegou a Recanto Dourado, Maximiliano foi recebido com frieza por Kassandra e alegria por Adriano. Esse segundo, assim que teve permissão levou o Gonzalez para o quarto em que ficaria. Sem notar a apatia do amigo, Adriano dizia que não gostava de ser filho único, que era muito solitário, e considerava Maximiliano como um irmão, por isso não conseguia conter a o entusiasmo por poderem fica
Ajeitando-se em sua poltrona, tenso, o fazendeiro encarou Maximiliano a sua frente. Ainda sem acreditar no que acabará de ouvir, porém, a expressão determinada de Maximiliano, suas palavras e o modo que tratou Joana antes de iniciarem aquela conversa eram provas de não ser um engano. Pensando na ex, que sempre foi puritana e avessa a grandes demonstrações de afeto, algo que incomodaria qualquer homem, principalmente um com a fama de Maximiliano, questionou desconfiado: — Quando conheceu Joana? Suponho que antes de encontrá-la em Portugal, já que ela aceitou subir em seu barco e passar dias sem comunicar-se. — Não creio que isso te importe! — Maximiliano revidou aborrecido com a pergunta estúpida e com a acusação que pressentia nela. — Claro que me importa! Quero saber se a conheceu quando ela e eu estávamos comprometidos — insistiu. — Mas a deixou por sua irmã, não é? — Maximiliano relembrou sarcástico, causando o desconforto de Adriano. — Não se preocupe, se não pode me ajudar, n
Aborrecido pela insistência da filha em abrigar um criminoso em sua família, apertando os punhos, Iago segurou-se para não dar uma surra na pequena malcriada. E só não o fazia por receio de chamar a atenção de algum funcionário ou convidado da festa que aparecesse. Nunca planejou aceitar o Gonzalez como genro, nem mesmo aprovou o relacionamento dele com Dalila, só não pode se opor por capricho da filha. Tinha os apresentado só para a filha flertar e arrancar algum dinheiro dele, como fazia com outros ao longo dos últimos dois anos, em que ela descobriu seu vício em jogos e mulheres e usou isso contra ele. Dalila o manipulou para fazer o que quem bem entendesse e, vendo vantagens, usou a ganância dela para ter o perdão de algumas dívidas de jogo, incluindo a que tinha com o Gonzalez. O problema foi ambos não terem percebido que Maximiliano desejava mais que um flerte inconsequente de poucos dias e tivesse ideias de entrar no meio social deles. Tinha contado com a desenvoltura de Dal
À volta a sua cabana não trouxe a satisfação de dever cumprido de outrora. Jogando-se em sua poltrona, Maximiliano fitou a lareira apagada sem vontade de levantar, a mente fixa em Joana, sua noiva. Ainda se arrependia de ter deixado ela em recanto Dourado. Enxergou no rosto de Adriano que, embora tentasse ser amigável, não aprovava o relacionamento da prima e ex-noiva com Maximiliano. Temia que os Orleans tentassem algo para Joana voltar atrás na palavra. Precisava de Joana. E admitia não era só por ser sua passagem para se infiltrar no território inimigo para destruí-lo quando menos esperasse. Necessitava de Joana ao seu lado, seu cheiro, sua suavidade, seus sorrisos e olhos gentis. E mesmo assim... Tinha receio de cometer um erro casando com ela. Joana possuía um bom coração, era gentil e quando amava se tornava zelosa, protetora e capaz de fazer tudo pelo ser amado. Era nesse ponto que residia o problema. Ela estaria disposta a carregar sua aliança, seu sobrenome e se deitar com
O porto encontrava-se entulhado de pessoas, de crianças a idosos, milhares de mercadorias sendo içadas para os navios ou retiradas deles, cães latindo e correndo de um lado para o outro, uma confusão de movimentação e barulho. Maximiliano estava entre seu irmão e sua mãe, amuado, como sempre acontecia quando seu pai e irmão zarpavam em seus navios, Palemon e Diablo, e o deixavam para trás. A desculpa de que ficava para estudar e cuidar de sua mãe não melhorava seu humor. Amava a mãe, mas ela ficaria bem com ou sem ele. E estudar era entediante quando comparado com a promessa de aventuras em alto mar. — Porque não posso ir? — Maximiliano questionou pela enésima vez desde que o pai anunciou a viagem. — Já sou um homem. — Quase um — retrucou Fernando, seu irmão cinco anos mais velho, com sorriso zombeteiro. — Quando fizer quinze — disse o pai, afastando-se para dar uma ordem a um homem corpulento carregando um enorme barril. Fungou, cruzando os braços e contorcendo os lábios em um bi
Pela manhã, enquanto se vestia, Adriano contou a esposa sobre sua conversa com Maximiliano, o relato em torno de Joana e seu noivado petrificando-a. — O que?! Noivos?! — Dalila murmurou aturdida, caindo sentada na manta sobre a cama. Maximiliano casaria com a insípida Joana? Jamais! Não permitiria tamanho absurdo. — Exato! E Maximiliano pediu meu auxílio para seus pais aceitarem ele na família. — Adriano confirmou sentando ao lado dela. — Disse que o ajudaria... — Não pode fazer isso — Bradou encarando-o em choque. — Sei disso. Por mais que tenha memórias com Maximiliano e que prometi ao meu pai pediu para ajudá-lo, não desejo ter nossa família atrelada a ele — Adriano afirmou com desgosto. — Ela passou a noite aqui. A chamarei para uma conversa séria, para que esqueça essa loucura. — Sim, faça isso, meu amor — ela implorou. — Também conhece a fama dele, né? — Adriano perguntou, creditando isso a expressão assustada da esposa. — Sim... Ele a grita aos quatro cantos de Sanmarino