Aborrecido pela insistência da filha em abrigar um criminoso em sua família, apertando os punhos, Iago segurou-se para não dar uma surra na pequena malcriada. E só não o fazia por receio de chamar a atenção de algum funcionário ou convidado da festa que aparecesse. Nunca planejou aceitar o Gonzalez como genro, nem mesmo aprovou o relacionamento dele com Dalila, só não pode se opor por capricho da filha. Tinha os apresentado só para a filha flertar e arrancar algum dinheiro dele, como fazia com outros ao longo dos últimos dois anos, em que ela descobriu seu vício em jogos e mulheres e usou isso contra ele. Dalila o manipulou para fazer o que quem bem entendesse e, vendo vantagens, usou a ganância dela para ter o perdão de algumas dívidas de jogo, incluindo a que tinha com o Gonzalez. O problema foi ambos não terem percebido que Maximiliano desejava mais que um flerte inconsequente de poucos dias e tivesse ideias de entrar no meio social deles. Tinha contado com a desenvoltura de Dal
À volta a sua cabana não trouxe a satisfação de dever cumprido de outrora. Jogando-se em sua poltrona, Maximiliano fitou a lareira apagada sem vontade de levantar, a mente fixa em Joana, sua noiva. Ainda se arrependia de ter deixado ela em recanto Dourado. Enxergou no rosto de Adriano que, embora tentasse ser amigável, não aprovava o relacionamento da prima e ex-noiva com Maximiliano. Temia que os Orleans tentassem algo para Joana voltar atrás na palavra. Precisava de Joana. E admitia não era só por ser sua passagem para se infiltrar no território inimigo para destruí-lo quando menos esperasse. Necessitava de Joana ao seu lado, seu cheiro, sua suavidade, seus sorrisos e olhos gentis. E mesmo assim... Tinha receio de cometer um erro casando com ela. Joana possuía um bom coração, era gentil e quando amava se tornava zelosa, protetora e capaz de fazer tudo pelo ser amado. Era nesse ponto que residia o problema. Ela estaria disposta a carregar sua aliança, seu sobrenome e se deitar com
O porto encontrava-se entulhado de pessoas, de crianças a idosos, milhares de mercadorias sendo içadas para os navios ou retiradas deles, cães latindo e correndo de um lado para o outro, uma confusão de movimentação e barulho. Maximiliano estava entre seu irmão e sua mãe, amuado, como sempre acontecia quando seu pai e irmão zarpavam em seus navios, Palemon e Diablo, e o deixavam para trás. A desculpa de que ficava para estudar e cuidar de sua mãe não melhorava seu humor. Amava a mãe, mas ela ficaria bem com ou sem ele. E estudar era entediante quando comparado com a promessa de aventuras em alto mar. — Porque não posso ir? — Maximiliano questionou pela enésima vez desde que o pai anunciou a viagem. — Já sou um homem. — Quase um — retrucou Fernando, seu irmão cinco anos mais velho, com sorriso zombeteiro. — Quando fizer quinze — disse o pai, afastando-se para dar uma ordem a um homem corpulento carregando um enorme barril. Fungou, cruzando os braços e contorcendo os lábios em um bi
Pela manhã, enquanto se vestia, Adriano contou a esposa sobre sua conversa com Maximiliano, o relato em torno de Joana e seu noivado petrificando-a. — O que?! Noivos?! — Dalila murmurou aturdida, caindo sentada na manta sobre a cama. Maximiliano casaria com a insípida Joana? Jamais! Não permitiria tamanho absurdo. — Exato! E Maximiliano pediu meu auxílio para seus pais aceitarem ele na família. — Adriano confirmou sentando ao lado dela. — Disse que o ajudaria... — Não pode fazer isso — Bradou encarando-o em choque. — Sei disso. Por mais que tenha memórias com Maximiliano e que prometi ao meu pai pediu para ajudá-lo, não desejo ter nossa família atrelada a ele — Adriano afirmou com desgosto. — Ela passou a noite aqui. A chamarei para uma conversa séria, para que esqueça essa loucura. — Sim, faça isso, meu amor — ela implorou. — Também conhece a fama dele, né? — Adriano perguntou, creditando isso a expressão assustada da esposa. — Sim... Ele a grita aos quatro cantos de Sanmarino
Em busca de notícias dos amigos, junto com Beto e Lucas, Maximiliano seguiu até a casa de Donato, para compartilharem notícias sobre o paradeiro de seus amigos desaparecidos. E, infelizmente, não eram muitas e não levavam para lugar algum que solucionasse o mistério. O advogado narrou tudo que conseguiu juntar nos dias seguintes à apreensão e suposta fuga, trazendo junto relatórios dos locais que visitou e não encontrou resposta para o sumiço de Cristiano, Gilberto e Margô. Também indicou suas suposições, lugares que ainda faltava verificar e o temor que Queiroz houvesse eliminado os três. — Deve ter os escondidos no fundo da prisão — expressou Beto, desconfiado, como os demais, da informação de Queiroz sobre a fuga dos amigos e esperançoso de encontra-los com vida. — O que ganharia escondendo-os por tanto tempo? — Lucas questionou, temendo que Donato estivesse certo sobre a morte dos amigos. — Não sei... — Beto soltou num lamento, a dor acumulando-se em seu peito, mas logo respiro
Como de habitual, acordou cedo, fez sua higiene matinal, penteou o longo cabelo liso e escolheu uma das poucas roupas que deixava no guarda-roupa do dormitório que separavam para ela desde que iniciou o relacionamento com Adriano. Essa era a vantagem dos anos de compromisso, possuir um quarto dentro da mansão, para quando visitava os Orleans em Recanto Dourado. Dessa forma não necessitou ficar com a mesma roupa enquanto aguardava Maximiliano busca-la. Ao entrar na sala de jantar para o café da manhã, encontrou na mesa, além dos três Orleans e seus pais, Bruno Dutra, amigo de Adriano. O homem abriu o mesmo largo e lascivo sorriso, idêntico a todos os outros com que a recepcionava sempre que o encontrava. — Bom dia, filha! — Carmem a saudou com o semblante tenso ao pedir: — Sente-se ao meu lado. Joana mordeu o lábio ao reparar a cadeira vazia entre Carmem e Bruno. A intuição gritou se tratar de uma armadilha. Antes de partir da cidade, diversas vezes Bruno a encheu de pedidos de namo
Joana estava preparada para cada reação, incluindo a surpresa de Kassandra, mas o que viu na face de sua madrinha foi ódio. Nunca imaginou ser alvo de tanta raiva e desprezo como foi ao anunciar seu compromisso com Maximiliano. — Contei aos meus pais ontem que Maximiliano me pediu em casamento e aceitei. — Uma meia verdade, pois nunca houve pedido, apenas uma aceitação carregada de medo a proposta do Gonzalez de substituição de noivas. — Como pode aceitar essa aberração, Iago? — Furiosa Kassandra questionou o marido de sua prima. Encurralado, Iago esfregou a mão pelo rosto, as palavras presas na garganta. Se opôr a viúva podia lhe custar muito dinheiro, mas se ela e Adriano descobrissem sobre Dalila as consequências podiam ser piores. — Joana é de maior, não posso impedi-la — pronunciou tirando a culpa de suas costas. — Como não? É o pai, a autoridade... — Mãe, Iago está certo. Joana é dona da própria vida. Kassandra bateu o punho na mesa, fazendo-a tremer e o copo de café ao la
Por insistência de Donato, mesmo contrariado, por consideração Maximiliano o levou junto para Recanto Dourado. Depois de uma rápida parada para fazer uma compra, dirigiu pelas estradas mal asfaltadas que levavam a maior e mais lucrativa fazenda das redondezas de Sanmarino. Os empregados de início barraram sua passagem, a frente deles o capataz e administrador Tarcísio. Mas Donato, com sua lábia e conhecida amizade com Adriano, o fez concordar em acompanha-los para dentro da mansão. Ao pisar os pés na sala da mansão, Maximiliano ouviu a voz exaltada da viúva, seu conteúdo o alertando que era o foco das queixas que ecoava. Sem aguardar permissão, marchou para a direção da acalorada discussão, sendo seguido por Donato e Tarcísio. Ao atravessar a divisão dos cômodos, foi atingido pela declaração carregada de firmeza de Joana: — Não me rebaixo em nada, amo Maximiliano. Com vocês aprovando ou não, me casarei com ele. Por um louco instante, preso na doçura daquela frase, Maximiliano foi