O porto encontrava-se entulhado de pessoas, de crianças a idosos, milhares de mercadorias sendo içadas para os navios ou retiradas deles, cães latindo e correndo de um lado para o outro, uma confusão de movimentação e barulho. Maximiliano estava entre seu irmão e sua mãe, amuado, como sempre acontecia quando seu pai e irmão zarpavam em seus navios, Palemon e Diablo, e o deixavam para trás. A desculpa de que ficava para estudar e cuidar de sua mãe não melhorava seu humor. Amava a mãe, mas ela ficaria bem com ou sem ele. E estudar era entediante quando comparado com a promessa de aventuras em alto mar. — Porque não posso ir? — Maximiliano questionou pela enésima vez desde que o pai anunciou a viagem. — Já sou um homem. — Quase um — retrucou Fernando, seu irmão cinco anos mais velho, com sorriso zombeteiro. — Quando fizer quinze — disse o pai, afastando-se para dar uma ordem a um homem corpulento carregando um enorme barril. Fungou, cruzando os braços e contorcendo os lábios em um bi
Pela manhã, enquanto se vestia, Adriano contou a esposa sobre sua conversa com Maximiliano, o relato em torno de Joana e seu noivado petrificando-a. — O que?! Noivos?! — Dalila murmurou aturdida, caindo sentada na manta sobre a cama. Maximiliano casaria com a insípida Joana? Jamais! Não permitiria tamanho absurdo. — Exato! E Maximiliano pediu meu auxílio para seus pais aceitarem ele na família. — Adriano confirmou sentando ao lado dela. — Disse que o ajudaria... — Não pode fazer isso — Bradou encarando-o em choque. — Sei disso. Por mais que tenha memórias com Maximiliano e que prometi ao meu pai pediu para ajudá-lo, não desejo ter nossa família atrelada a ele — Adriano afirmou com desgosto. — Ela passou a noite aqui. A chamarei para uma conversa séria, para que esqueça essa loucura. — Sim, faça isso, meu amor — ela implorou. — Também conhece a fama dele, né? — Adriano perguntou, creditando isso a expressão assustada da esposa. — Sim... Ele a grita aos quatro cantos de Sanmarino
Em busca de notícias dos amigos, junto com Beto e Lucas, Maximiliano seguiu até a casa de Donato, para compartilharem notícias sobre o paradeiro de seus amigos desaparecidos. E, infelizmente, não eram muitas e não levavam para lugar algum que solucionasse o mistério. O advogado narrou tudo que conseguiu juntar nos dias seguintes à apreensão e suposta fuga, trazendo junto relatórios dos locais que visitou e não encontrou resposta para o sumiço de Cristiano, Gilberto e Margô. Também indicou suas suposições, lugares que ainda faltava verificar e o temor que Queiroz houvesse eliminado os três. — Deve ter os escondidos no fundo da prisão — expressou Beto, desconfiado, como os demais, da informação de Queiroz sobre a fuga dos amigos e esperançoso de encontra-los com vida. — O que ganharia escondendo-os por tanto tempo? — Lucas questionou, temendo que Donato estivesse certo sobre a morte dos amigos. — Não sei... — Beto soltou num lamento, a dor acumulando-se em seu peito, mas logo respiro
Como de habitual, acordou cedo, fez sua higiene matinal, penteou o longo cabelo liso e escolheu uma das poucas roupas que deixava no guarda-roupa do dormitório que separavam para ela desde que iniciou o relacionamento com Adriano. Essa era a vantagem dos anos de compromisso, possuir um quarto dentro da mansão, para quando visitava os Orleans em Recanto Dourado. Dessa forma não necessitou ficar com a mesma roupa enquanto aguardava Maximiliano busca-la. Ao entrar na sala de jantar para o café da manhã, encontrou na mesa, além dos três Orleans e seus pais, Bruno Dutra, amigo de Adriano. O homem abriu o mesmo largo e lascivo sorriso, idêntico a todos os outros com que a recepcionava sempre que o encontrava. — Bom dia, filha! — Carmem a saudou com o semblante tenso ao pedir: — Sente-se ao meu lado. Joana mordeu o lábio ao reparar a cadeira vazia entre Carmem e Bruno. A intuição gritou se tratar de uma armadilha. Antes de partir da cidade, diversas vezes Bruno a encheu de pedidos de namo
Joana estava preparada para cada reação, incluindo a surpresa de Kassandra, mas o que viu na face de sua madrinha foi ódio. Nunca imaginou ser alvo de tanta raiva e desprezo como foi ao anunciar seu compromisso com Maximiliano. — Contei aos meus pais ontem que Maximiliano me pediu em casamento e aceitei. — Uma meia verdade, pois nunca houve pedido, apenas uma aceitação carregada de medo a proposta do Gonzalez de substituição de noivas. — Como pode aceitar essa aberração, Iago? — Furiosa Kassandra questionou o marido de sua prima. Encurralado, Iago esfregou a mão pelo rosto, as palavras presas na garganta. Se opôr a viúva podia lhe custar muito dinheiro, mas se ela e Adriano descobrissem sobre Dalila as consequências podiam ser piores. — Joana é de maior, não posso impedi-la — pronunciou tirando a culpa de suas costas. — Como não? É o pai, a autoridade... — Mãe, Iago está certo. Joana é dona da própria vida. Kassandra bateu o punho na mesa, fazendo-a tremer e o copo de café ao la
Por insistência de Donato, mesmo contrariado, por consideração Maximiliano o levou junto para Recanto Dourado. Depois de uma rápida parada para fazer uma compra, dirigiu pelas estradas mal asfaltadas que levavam a maior e mais lucrativa fazenda das redondezas de Sanmarino. Os empregados de início barraram sua passagem, a frente deles o capataz e administrador Tarcísio. Mas Donato, com sua lábia e conhecida amizade com Adriano, o fez concordar em acompanha-los para dentro da mansão. Ao pisar os pés na sala da mansão, Maximiliano ouviu a voz exaltada da viúva, seu conteúdo o alertando que era o foco das queixas que ecoava. Sem aguardar permissão, marchou para a direção da acalorada discussão, sendo seguido por Donato e Tarcísio. Ao atravessar a divisão dos cômodos, foi atingido pela declaração carregada de firmeza de Joana: — Não me rebaixo em nada, amo Maximiliano. Com vocês aprovando ou não, me casarei com ele. Por um louco instante, preso na doçura daquela frase, Maximiliano foi
Desvencilhando-se de sua mãe, Joana levou Maximiliano para o quarto que ocupariam, necessitando falar com ele e convencê-lo que o melhor, o mais seguro era irem embora. Foi exatamente isso que disse assim que fechou a porta. — Max, é melhor voltarmos para a cidade. Longe de atender seu pedido, o olhar dele tornou-se sombrio quando se inclinou sobre ela e pronunciou: — Porque devemos fugir? Só casará comigo se partir daqui? — Maximiliano questionou com os braços fortes cruzados e o olhar sério. — Por prudência — indicou aflita. — Meu pai e Dalila estão arrependidos do que fizeram... Maximiliano soltou um riso rápido e desprovido de humor. — Ou você é muito ingênua ou uma grande mentirosa — disse mordaz. — Aqueles dois só lamentam que você esteja disposta a cumprir a palavra que eles deram. — E vou cumprir... Mas, por favor, vamos embora daqui — Joana insistiu persistente. Embora concordasse com o ódio que a traição e mentiras de seu pai e Dalila desencadearam, não permitiria que
Novas batidas tiraram Joana de seus medos mais profundos. A voz de sua irmã do outro lado da porta, pedindo para conversar com ela jogou sal nas feridas reabertas pelo pavor que tinha de perder outro noivo para a irmã. Mesmo a contragosto, para não causar mais mal estar, Joana deixou a irmã entrar. — Se está aqui para me ofender e mentir é melhor economizar saliva — Joana disse automaticamente na defensiva após fechar a porta. Pálida, com os nervos a flor da pele e irada, a recém-casada tinha aguardado o marido se fechar com Maximiliano e Donato no escritório antes de correr para o quarto ocupado por Joana, para confrontar a irmã e fazê-la desistir de tomar o que considerava seu. — Joana, não pode se casar com alguém como Maximiliano — Dalila declarou tensa. Lamentava que nem em outro país Joana não a deixava em paz, não se tornava o centro das atenções. Agora incluso seu amante estava girando em volta da santa sem altar. A coincidência de estar no mesmo lugar que Maximiliano não